Para evitar venenos, opte por alimentos orgânicos


Alimento Orgânico

Resumo da matéria -

  • Um dos argumentos de venda mais fortes para comer alimentos orgânicos é o fato de que isso pode reduzir significativamente a exposição a pesticidas e outros produtos químicos usados na agricultura tradicional
  • A Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia e uma força-tarefa da Sociedade Americana de Endocrinologia alertam que os pesticidas representam uma grande ameaça à saúde humana e devem ser evitados por todos
  • Estudos recentes confirmam que ter uma alimentação orgânica pode reduzir significativamente sua carga tóxica

Por Dr. Mercola

Um dos argumentos de venda mais fortes para comer alimentos orgânicos é o fato de que isso pode reduzir significativamente a exposição a pesticidas e outros produtos químicos usados na agricultura tradicional.

Uma vez que os padrões orgânicos proíbem o uso de pesticidas e herbicidas sintéticos, é lógico que os alimentos orgânicos apresentariam menos contaminação e os estudos têm confirmado que as pessoas com uma alimentação primordialmente orgânica têm menos toxinas em seu sistema.

Considerando o fato de que a exposição de longo prazo a pesticidas tem sido associada à infertilidade, defeitos de nascença, problemas endócrinos, distúrbios neurológicos e câncer, também é uma conclusão unânime que ter menos produtos químicos tóxicos no corpo pode resultar em mais saúde.

Na verdade, uma parte importante da alimentação saudável e do estilo de vida em geral é a ausência de produtos químicos tóxicos.

Exposição a pesticidas é reconhecida como grande ameaça à saúde

Em dezembro de 2014, entrevistei André Leu sobre seu livro The Myths of Safe Pesticides (Os mitos dos pesticidas seguros).

Recentemente, um relatório da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (International Federation of Gynecology and Obstetrics, FIGO), que representa obstetras e ginecologistas em 125 países, alertou que a exposição a produtos químicos representa agora uma grande ameaça à saúde e reprodução humana.

Os pesticidas são uma das várias categorias de toxinas incluídas no relatório. Os pesticidas também foram incluídos em uma nova declaração científica sobre produtos químicos causadores de problemas endócrinos pela força-tarefa da Sociedade de Endocrinologia.

Essa força-tarefa alerta que o impacto na saúde causado pelos produtos químicos causadores de problemas hormonais é de tal grandiosidade que todos precisam tomar medidas proativas para evitá-los — principalmente as mulheres grávidas, as que pretendem engravidar e as crianças pequenas.

Quando as crianças comem produtos orgânicos, os níveis de pesticidas caem

Um dos estudos mais recentes sobre alimentos orgânicos e seu impacto na carga de pesticidas foi publicado na edição de outubro da Environmental Health Perspectives. O estudo contou com 20 crianças residentes em Oakland, Califórnia, e outras 20 residentes em Salinas, Califórnia, sendo esta última uma importante comunidade agrícola.

Nos primeiros quatro dias, todas as crianças tiveram uma alimentação convencional. Nos sete dias seguintes, elas comeram apenas alimentos orgânicos, seguidos por mais cinco dias de alimentos convencionais. Conforme publicado no The New York Times:

"Cerca de 72% das amostras de urina, coletadas diariamente, continham evidências de pesticidas.

Entre os seis pesticidas detectados com maior frequência, dois deles caíram quase 50% quando as crianças tiveram uma alimentação orgânica, e os de um herbicida comum caíram 75%.

Outros três pesticidas detectados com frequência não caíram muito com a alimentação orgânica. Os níveis estavam mais altos em geral nas crianças de Salinas do que nas crianças de Oakland".

Pessoas que seguem uma alimentação orgânica têm níveis 65% menores de organofosfatos

Os organofosfatos (OF) estão entre os pesticidas mais comuns utilizados nas fazendas americanas. Em um dos maiores estudos na área, os pesquisadores estudaram a alimentação de quase 4.500 pessoas residentes em seis cidades americanas, avaliando o nível de exposição a organofosfatos através dos alimentos.

Os níveis de organofosfatos dos participantes foram estimados usando os dados do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) sobre os níveis médios de resíduos de pesticidas encontrados nas frutas e hortaliças que cada indivíduo informou ter ingerido.

Para verificar a precisão das estimativas, eles compararam o cálculo de exposições a pesticidas aos níveis reais de metabólitos de pesticidas excretados na urina de um subconjunto de 720 participantes.

Conforme esperado, aqueles que comeram produtos agrícolas cultivados de modo convencional tiveram altas concentrações de metabólitos de OF, enquanto os que comeram alimentos orgânicos tiveram níveis significativamente menores.

Aqueles que comeram produtos orgânicos "com frequência ou sempre" tiveram níveis 65% menores de resíduos de pesticidas em comparação àqueles que comeram a menor quantidade de produtos agrícolas orgânicos.

Segundo a principal autora Cynthia Curl:

"Se você me disser o que você come normalmente, eu posso lhe dizer qual é o seu grau provável de exposição a pesticidas. O estudo indica que o consumo de versões orgânicas desses alimentos com alto grau de resíduos de pesticidas pode fazer uma boa diferença".

Herbicida mais usado foi considerado carcinogênico

O glifosato, ingrediente ativo do herbicida Roundup, campeão de vendas da Monsanto, é um dos herbicidas mais usados em todo o mundo, seja em culturas convencionais ou geneticamente modificadas. Estima-se que sejam pulverizadas 450 mil toneladas por ano nas plantações americanas, fazendo com que cada cidadão comum coma centenas de kg de alimentos contaminados com glifosato todos os anos.

Em março, o glifosato foi reclassificado como um "provável carcinógeno" de Classe 2A pela Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer (IARC), uma divisão da Organização Mundial da Saúde (OMS). A Agência de Proteção Ambiental (EPA) da Califórnia seguiu o exemplo e emitiu recentemente um aviso de intenção de rotular o glifosato como "causador de câncer".

Trabalhadores agrícolas processam Monsanto por exposição ao glifosato

Depois da determinação da IARC, os trabalhadores agrícolas começaram a processar a Monsanto por exposição prévia ao glifosato. O fazendeiro americano Enrique Rubio alega que os nove anos de aplicação de glifosato usando nada mais do que uma máscara de papel para proteção causaram seu câncer ósseo, e Judi Fitzgerald, auxiliar de horticultura, processou a empresa também alegando que teve um papel na sua leucemia.

Os processos jurídicos acusam a Monsanto de "fraude científica" no marketing e venda do Roundup, enganando propositalmente os reguladores sobre os perigos do herbicida e falhando em alertar devidamente os usuários sobre seu potencial carcinogênico. Segundo a Bloomberg:

"Uma auditoria da Agência de Proteção Ambiental dos Laboratórios de Testes Biológicos — firma contratada pela Monsanto para testar a toxicidade do Roundup nos anos 70 — revelou 'falsificação rotineira dos dados' no laboratório, invalidando os estudos do produto da Monsanto, segundo as reclamações.

Fitzgerald e Rubio também alegam que o proprietário da Craven Laboratories — outra firma contratada pela Monsanto nos anos 90 — foi condenado por práticas de laboratório fraudulentas no teste de pesticidas e herbicidas, tais como o Roundup".

A queixa de Rubio afirma que: "A Monsanto garantiu ao público que o Roundup era inofensivo. Para provar isso, ela defendeu dados falsificados e atacou estudos legítimos que revelavam o seu perigo".

EPA condenada por violação legal ao aprovar potente inseticida

Os pesticidas ameaçam não só a saúde humana, mas também podem ser devastadores para os preciosos agentes de polinização. As abelhas e as borboletas-monarcas são duas espécies que têm desaparecido devido ao uso em excesso de pesticidas. Os neonicotinoides foram identificados como especialmente nocivos a esses insetos importantes, porém pouco foi feito para refrear seu uso nos Estados Unidos.

Dois anos atrás, a Agência Americana de Proteção Ambiental (EPA) aprovou o neonicotinoide Sulfoxaflor — uma decisão que gerou grande preocupação para os grupos comerciais de apicultura, entre eles a Associação Americana de Produtores de Mel e a Federação Americana de Apicultura.

Depois de analisar os dados do registro, a EarthJustice descobriu que a agência não havia cumprido com suas próprias diretrizes ao aprovar o inseticida, e um processo foi aberto contra a EPA.

Conforme informado pela PRI.org:

"Os tribunais geralmente concedem à EPA alto grau de deferência nessas questões porque elas envolvem um alto nível de conhecimento científico; os tribunais não querem criticar a ciência normalmente. Porém, no caso do Sulfoxaflor, [o advogado da equipe da EarthJustice, Greg] Loarie, afirma: 'a ciência estava tão carente de dados e era tão claro que a EPA não tinha essas informações fundamentais que o tribunal decidiu que o registro teria que ser revertido a menos que e até que essas informações fossem apresentadas".

Por enquanto, o Sulfoxaflor está fora do mercado, mas é estarrecedor o fato de que a EPA teria sido tão imprudente em aprovar um pesticida sem os testes de segurança adequados quando a extinção das abelhas representa uma ameaça gravíssima à produção de alimentos. Isso só mostra até que ponto os lucros corporativos vêm antes da sustentabilidade em longo prazo e da sobrevivência humana.

Maioria dos países da União Europeia opta por não cultivar OGMs

Embora um dos argumentos de venda das plantas geneticamente modificadas (GM) tenha sido de que elas reduziriam o uso de pesticidas, essas promessas acabaram sendo totalmente equivocadas. Desde a introdução das culturas GM, o uso de pesticidas aumentou drasticamente e, com isso, a exposição a pesticidas através dos alimentos, já que essas safras são mais contaminadas.

As culturas Bt foram até mesmo projetadas para produzir a toxina Bt internamente, e as próprias plantas são registradas como pesticida.

As culturas GM também promovem destruição ambiental ao piorar a qualidade do solo e reduzir a biodiversidade, princípios básicos da agricultura sustentável e da segurança dos alimentos. A Europa tem sido mais resistente, em geral, em relação aos organismos geneticamente modificados (OGMs), e essa resistência não parece estar diminuindo.

Na verdade, 19 dos 28 países-membros da União Europeia solicitaram a eliminação do plantio de culturas GM — ideia que foi aprovada como lei em março.

Entre os países que se recusaram a plantar OGMs em partes de seu território estão: Áustria, Bélgica (na região da Valônia), Grã-Bretanha (na Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte), Bulgária, Croácia, Chipre, Dinamarca, França, Alemanha, Grécia, Hungria, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Países Baixos, Polônia e Eslovênia.

Conforme divulgado pela Reuters:

"A lei foi introduzida para acabar com os vários anos de impasse já que as culturas geneticamente modificadas dividem a opinião na Europa. Embora cultivadas amplamente nas Américas e na Ásia, a oposição pública é forte na Europa e os ambientalistas têm levantado questões sobre o impacto na biodiversidade...

Conforme a nova lei, a Comissão Europeia é responsável pelas aprovações, mas solicitações de exclusão também precisam ser enviadas à empresa que está fazendo o pedido. Em resposta às primeiras solicitações de exclusão da Letônia e Grécia em agosto, a Monsanto disse que estava obedecendo-as, embora as tenha considerado não científicas".

Mais uma boa notícia: Academia Americana de Pediatria põe fim à parceria com Monsanto

A exclusão do cultivo de OGMs na Europa talvez não beneficie os americanos diretamente, mas ela com certeza desacelera a tentativa mundial de domínio do setor de biotecnologia, e oferece esperança de que ainda possamos mudar as coisas nos Estados Unidos também. A Monsanto há muito tempo tem passe livre para exercer seu poder à vontade nos Estados Unidos, mas já se podem ver sinais de mudança aqui também.

Por exemplo, a Academia Americana de Pediatria (AAP) confirmou agora que está cortando os laços com a gigante de tecnologia química depois de uma campanha de sucesso movida por mães preocupadas. (A Academia também cortou sua relação com a Coca-Cola — outra "vitória" das crianças e famílias de todos os Estados Unidos.)

Quais alimentos orgânicos são os mais importantes para comprar?

Todos nós podemos ser prejudicados por pesticidas, mas se você é uma mulher em idade fértil ou tem crianças pequenas, é muito importante que você tome medidas para diminuir a exposição. O ideal é que todos os alimentos que você e sua família consomem sejam orgânicos. No entanto, nem todos têm acesso a uma ampla variedade de produtos agrícolas orgânicos e, às vezes, isso pode ser mais caro do que comprar os alimentos convencionais.

Um modo de economizar e, ao mesmo tempo, diminuir o risco é comprar determinados itens orgânicos e "aceitar" outros de plantio convencional. Produtos de origem animal, como carne, manteiga, leite e ovos são os mais importantes que devem ser adquiridos como orgânicos, uma vez que eles tendem a acumular biologicamente toxinas das rações contaminadas com pesticidas, apresentando concentrações maiores do que as encontradas nas hortaliças.

Diferentemente das frutas e hortaliças, em que as etapas de descascar e lavar podem reduzir a quantidade dessas toxinas, os pesticidas e as drogas aos quais esses animais são expostos durante a vida toda podem ficar incorporados nos tecidos, principalmente na gordura. Portanto, se você está com o orçamento apertado, escolha primeiro alimentos orgânicos de origem animal.

Além dos alimentos de origem animal, a carga de pesticidas de diferentes frutas e hortaliças pode variar muito. A Consumer Reports analisou 12 anos de dados do Programa de Dados de Pesticidas do USDA para determinar as categorias de risco (de muito baixo a muito alto) dos diferentes tipos de produtos agrícolas.

Como as crianças são especialmente vulneráveis aos efeitos de produtos químicos ambientais, como os pesticidas, a avaliação de risco baseou-se em uma criança de 3 anos e meio. A recomendação foi comprar todos os produtos agrícolas orgânicos que ficassem dentro das categorias de risco média ou superior, restando os seguintes exemplos de alimentos que você deve sempre tentar comprar a versão orgânica.

PêssegoCenoura
Morango Vagem
Pimentão Pimenta
Tangerina Nectarina
Amora Batata-doce