Por Dr. Mercola
Ao longo dos últimos 40 anos, dermatologistas têm divulgado a ideia de que você nunca deveria ficar diretamente exposto(a) à luz solar porque ela danificará sua pele e causará câncer de pele.
Você deve perguntar-se: bem, e a vitamina D? Sem problemas, pois de acordo com a Academia Americana de Dermatologia, a deficiência em vitamina D pode ser facilmente tratada com suplementos.
O que eles não entendem e reconhecem é que quando você está exposto(a) à luz solar, diversos processos biológicos importantes ocorrem na pele, não somente a produção de vitamina D.
Isto é diferente do consumo de vitamina D via oral, que é importante, porém de acordo com vários especialistas é claramente uma alternativa inferior. Embora vá melhorar a situação dos níveis de vitamina D, você acaba renunciando os diversos benefícios oferecidos pela luz solar além da produção de vitamina D.
Colocando na Balança os Riscos e os Benefícios da Exposição ao Sol
Infelizmente, todo o foco da maioria dos dermatologistas é a prevenção dos danos à pele, o que significa ignorar o outro lado — os benefícios — da equação da exposição ao sol.
Isto inclui proteção elevada contra uma série de cânceres internos e outras doenças crônicas, incluindo doenças cardíacas, que matam muito mais pessoas do que o melanoma.
Ironicamente, pesquisa realizada recentemente mostra que a vitamina D também melhora os resultados de sobrevivência de pacientes com melanoma. Ela é também importante para a saúde cognitiva, para a função imunológica, para uma gravidez saudável e para o desenvolvimento de bebês, além de promover ossos fortes e saudáveis; isso só para listar alguns benefícios.
Evitar o Sol Reduz os Riscos de Desenvolvimento de Melanoma, Porém Aumenta a Mortalidade Geral
Um estudo recente trazendo à tona estes benefícios foi concluído na Suécia. Mais de 25.500 mulheres Suecas com idades entre 25 e 64 anos foram acompanhadas por 20 anos. Informações detalhadas sobre seus hábitos de exposição ao sol e fatores gerais foram obtidos e analisados em um cenário de “risco competitivo”.
De forma geral, mulheres que ficaram regularmente expostas ao sol tinham menor risco de mortalidade geral — provavelmente devido a seu elevado nível de vitamina D.
Mulheres com hábitos ativos de exposição ao sol acabaram tendo menor risco de doenças cardiovasculares e morte por causa diferente de câncer do que aquelas que evitaram o sol.
Outra Pesquisa que Coloca o Risco de Desenvolvimento de Melanoma em Perspectiva
Pesquisa realizada anteriormente mostrou que quando a luz solar atinge sua pele, libera-se óxido nítrico na corrente sanguínea e o óxido nítrico é um poderoso composto redutor da pressão arterial.
Isto levou pesquisadores a concluir que a exposição ao sol pode prolongar sua vida significativamente cortando os riscos de ataques cardíacos/AVCs. Um estudo realizado em 2013 menciona uma estatística absolutamente surpreendente.
Para cada morte por câncer de pele ocorrida na Europa Setentrional, entre 60 a 100 pessoas morreram por causa de AVC ou doença cardíaca relacionada à hipertensão. Saber que o risco de morte por doença cardíaca ou AVC é 80 vezes maior, em média, do que o risco de morte por câncer de pele realmente coloca isso em perspectiva.
Embora os níveis de vitamina D estejam correlacionados com menores taxas de doenças cardiovasculares, vitamina D administrada oralmente via suplementos não parece beneficiar a pressão arterial e o fato de os suplementos não aumentarem o óxido nítrico pode ser o motivo para isso ocorrer.
A Falta de Exposição ao Sol Pode Estar Desencadeando Epidemia de Tuberculose
Doenças cardiovasculares não são as únicas influenciadas pela exposição ao sol que mata mais pessoas do que o melanoma. Você sabia que em torno de 4.100 pessoas morrem de tuberculose (TB) TODO ano no mundo?
Em 2014, ocorreu 1,5 milhão de mortes relacionadas à TB mundialmente. Comparando-se com 438.000 mortes por malária — doença infecciosa bem conhecida mundialmente — e 55.100 mortes por melanoma todo ano (mundialmente).
Reveladoramente, as taxas de TB são particularmente altas entre mineiros e prisioneiros, duas populações muito menos expostas ao sol do que uma a média. Mineiros africanos possuem a maior incidência de TB no mundo.
Um dos motivos pelos quais a TB não está no radar de todos é que ela está ativa por centenas de anos e a doença (espalhada por bactérias suspensas no ar que se estabelecem nos pulmões resultando em infecções longas) não evoca o mesmo drama que o HIV e o Ebola evocam.
O motivo pelo qual ela deveria estar no radar de todos é que agora ela é doença infeciosa n°1 ao nosso redor.
Ninguém está livre dela e com o aumento da resistência a antibióticos, é somente uma questão de tempo até que a TB não possa mais ser tratada com antibióticos, caso em que o número de mortes aumentará ainda mais — especialmente se a evitação ao sol continuar sendo agressivamente promovida.
Tuberculose — Ameaça Global à Saúde Que Pode Ser Combatida com Exposição ao Sol
O que as pessoas parecem ter esquecido é que, tradicionalmente, a TB era tratada com a luz solar e é fato bem estabelecido que a luz UV é anti-infecciosa. Por exemplo, um estudo realizado em 2009 concluiu que a luz UV pode reduzir a dispersão da tuberculose em enfermarias e salas de espera hospitalares em 70%.
Outros estudos similarmente concluíram que a luz UV e a luz azul possuem atividade antibiótica potente. Ela pode até mesmo ser usada para desinfetar água no lugar de produtos químicos desinfetantes mais severos como cloro. Em 2012, pesquisadores anunciaram que a luz UV ajuda a matar 90% das bactérias resistentes a medicamentos em salas de hospitais.
A vitamina D proveniente da exposição ao sol também aumenta a produção de peptídeos antimicrobianos naturalmente ocorrentes no organismo que destroem as paredes celulares de vírus e bactérias. A exposição ao sol também aumenta os níveis sanguíneos de linfócitos destruidores de germes (células brancas).
Auguste Rollier começou a usar a terapia da luz solar para tratar TB na Suíça em 1903. O tratamento foi tão bem sucedido que durante os 40 anos seguintes seus métodos foram adotados em hospitais no mundo todo, inclusive nos Estados Unidos.
Dos 2.167 pacientes que estavam sob seus cuidados para tratamento de tuberculose após a II Guerra Mundial, 1.746 recuperaram completamente sua saúde, número incrível para a época, sendo que as únicas falhas ocorreram em pessoas que já estavam no nível mais avançado da doença.
Suplementos de Vitamina D Podem Também Ajudar no Combate à TB Resistente a Medicamentos
Estudos realizados mostraram que o metabolismo da vitamina D pode restringir o crescimento da tuberculose dentro das células. Em um estudo, cientistas indonésios concluíram que o tratamento de pacientes com tuberculose com 10.000 unidades de vitamina D diariamente (em vez da quantidade muito menor usualmente defendida pela medicina convencional) levou à cura de 100% — todos participantes do estudo. Realmente bastante impressionante!
Outra pesquisa realizada recentemente sugere que a vitamina D pode melhorar a capacidade do organismo de matar a TB resistente a medicamentos — efeito que acredita-se estar relacionado ao fato de que a vitamina D ajuda na redução de inflamações no organismo.
A tuberculose não é a única doença documentada sendo influenciada pela vitamina D e pela radiação UV. A luz solar também demonstrou ser eficaz contra anthrax, cólera, E. coli, disenteria, influenza, staphylococcus, Streptococcus e outras doenças infecciosas.
A honrada tradição da época de pendurar as roupas ao ar livre para secar funciona até mesmo como germicida natural para matar patógenos potenciais. Isto é especialmente importante para as roupas de cama e se você tem habilidade, altamente recomendo pendurar as roupas ao ar livre quando o clima permitir.
A Exposição ao Sol é Vital
Continua-se observando que a deficiência em vitamina D está generalizada, pois cerca de 70% das crianças podem estar com níveis insuficientes, e relaciona uma série de efeitos contra a saúde devidos à essa deficiência, incluindo os relacionados abaixo.
Observa-se também que “bebês que nascem de mães deficientes em vitamina D e permanecem deficientes pelos primeiros meses após o nascimento têm maior risco de desenvolvimento de obesidade e doenças crônicas mais tarde”.
Tomado do meu próprio boletim: “A maioria das pessoas ouviu falar sobre os estudos que associam a exposição ao sol ao câncer de pele. Porém, existem diversos estudos que sugerem que a exposição ao sol (e o aumento dos níveis de vitamina D) atua na redução dos riscos de desenvolvimento de, pelo menos, 16 tipos diferentes de câncer incluindo os de pulmão, pâncreas, mama, ovários, próstata e cólon.
Sem questionar se a exposição ao sol e a vitamina D são vitais à saúde, mas quanto deles precisamos? Alguns especialistas recomendam níveis de soro no sangue em torno de 75 ng/ml. O Institute of Health (Instituto da Saúde) recomenda níveis de soro no sangue em torno de 40 ng/ml, quantidade que atende às necessidades da maioria das pessoas. Usando qualquer dos valores, muitos americanos têm deficiência de vitamina D.
Para pessoas saudáveis, exposição ao sol moderada (2 a 4 vezes por semana de 15 a 30 minutos) não é problema. Apenas tão importante quanto não evitar o sol de uma vez, é importante não fritar-se no sol. Em vez disso, siga dicas para banhos de sol saudáveis.
Os benefícios que recebemos do sol focaram primariamente em sua capacidade de estimular a produção de vitamina D, porém podem existir outros benefícios oferecidos pelo sol que ainda nem foram estudados. Mesmo que você consuma suplementos de vitamina D, ainda é boa ideia tomar sol também”.
Dicas para Banhos de Sol Saudáveis
As “dicas para banhos de sol saudáveis” também seguem as mesmas orientações que promovi por muitos anos, incluindo:
• Somente exponha-se ao sol de forma sensata e evite queimadura pelo sol
• Estabeleça sua tolerância começando cedo na primavera e gradualmente aumentando o tempo que passa sob o sol para evitar queimar-se. Uma vez estabelecida sua tolerância, crie uma meta de 15 a 30 minutos de exposição sem proteção, duas a quatro vezes por semana, para aumentar a produção de vitamina D
• Exponha a maior parte da pele que puder, não somente braços e rosto
• Evite queimaduras
• Aumente seu “protetor solar interno” consumindo alimentos ricos em antioxidantes e gorduras saudáveis. Conforme observado “Estes alimentos fortalecem as células dérmicas, ajudando na proteção contra danos provocados pelo sol.
O consumo regular de diversas porções de legumes e frutas como mirtilos, framboesa e suplementar com misturas verdes em pó (erva do trigo, erva da cevada, alga marinha em pó, etc.) e óleos de peixe são ótimas opções quando for tomar sol”.
Como regra geral, a melhor hora para expor-se ao sol e melhorar os níveis de vitamina D é próximo ao meio-dia solar que é em torno de 13 horas nos estados que aplicam o Horário de Verão. Portanto, entre 10 da manhã e 3 horas da tarde de outubro a fevereiro.
De abril a agosto, você não estará produzindo vitamina D se viver em estados do sul e mesmo na latitude norte você estará produzindo de 10 a 20% relação ao período de verão.
Durante os meses de inverno, sua alternativa é usar camas de bronzeamento ou consumir suplementos de vitamina D3 via oral. Se optar por suplemento, lembre-se de que precisará também melhorar o consumo de vitamina K2.
Fortemente recomendo testar os níveis de vitamina D, pelo menos, duas vezes ao ano, ou seja, durante o inverno e o verão, para certificar-se de que sua estratégia escolhida está oferecendo vitamina D suficiente. Idealmente você vai querer que seus níveis fiquem entre 40 e 60 ng/ml durante o ano todo.
Exposição ao Sol Para Vitamina D e Mais
Se você observar o espectro da luz solar que chega à superfície da Terra, a radiação UVB é responsável pela produção da vitamina D. Porém, o UVA, embora seja o responsável pela maior parte dos danos à pele, também ajuda na modulação do sistema imunológico, e o UVA em combinação com o UVB melhora a produção de beta-endorfina na pele que faz com que você sinta-se bem.
A exposição ao sol na pele nua produz óxido nítrico e monóxido de carbono que promovem relaxamento vascular, melhoram a cura de feridas e ajudam no combate a infecções entre outros processos biológicos.
O monóxido de carbono liberado pelas hemoglobinas em resposta à radiação UV também age como neurotransmissor e promove efeitos benéficos no sistema nervoso. Como o óxido nítrico, ele promove relaxamento e possui atividade anti-inflamatória.
O comprimento de onda azul da luz solar é particularmente importante para a regulação do ritmo circadiano e inibição dos níveis de melatonina; ele ajuda a melhorar a disposição e reduz sintomas depressivos. A terapia da luz demonstrou ser eficaz não somente contra transtornos afetivos sazonais (SAD), mas também contra depressão maior não sazonal.
Em resumo, a exposição ao sol promove uma riqueza de benefícios à saúde além da mera produção de vitamina D, embora seja uma grande responsável pelo processo.
Claramente, quando você coloca na balança os riscos e os benefícios, a exposição sensata ao sol promove mais benefícios do que danos e fico gratificado em ver uma pressão contra o conselho errôneo de ficar longe do sol apenas para reduzir os riscos de desenvolvimento de melanomas.
No fim do dia, seus riscos de morrer por melanoma são MUITO menores do que os riscos de morrer por outras doenças relacionadas à evitação da exposição ao sol, como TB e doenças cardíacas, por exemplo.