Por Dr. Mercola
As pimentas são conhecidas por seu sabor picante. Elas são usadas principalmente como tempero em uma infinidade de pratos e molhos. Existem diversas espécies de pimentas com diferentes níveis de ardência na família Solanaceae.
As pimentas são nativas das Américas, mas são cultivadas hoje em regiões de clima quente por todo o mundo. Alguns dos cultivos mais comuns incluem Caiena, Jalapeño, Serrano, Habanero e Pimenta Tailandesa.
Uma das pimentas mais picantes do mundo é a pimenta malagueta 7 Pot Douglah, com 1.8 milhões de unidades na escala de picância Scoville, enquanto as pimentas mais comumente usadas, como a Jalapeño, possuem índice de picância Scoville na faixa de 2.500 a 8.000 unidades.
A ardência da pimenta é classificada na escala de unidades de picância Scoville, variando de zero a milhões, e é medida pela quantidade de água com açúcar necessária para diluir o tempero da pimenta até que você não consiga sentir a ardência.
A capsaicina nas pimentas é responsável pela ardência
As pimentas podem ser consumidas frescas ou secas e costumam ser usadas para temperar currys, churrasco e molhos picantes. A capsaicina é o composto vegetal bioativo responsável pelo seu sabor quente e picante. O composto se concentra na parte branca no interior da pimenta e não nas suas sementes como muitos acreditam.
Essa área, chamada de placenta, pode ser removida para reduzir a ardência da pimenta. As sementes também podem estar cobertas pelo óleo da pimenta, então removê-las também ajudará a reduzir a ardência.
A pimenta pertence à família Solanaceae. Esta família de frutas e vegetais inclui algumas plantas tóxicas como a beladona. Outras, no entanto, são comumente cultivadas e consumidas por todo o mundo, incluindo tomates, berinjelas, batatas-inglesas e algumas espécies de pimenta como a Caiena.
A sensação de ardor que a capsaicina oferece não é exatamente um sabor. Ela é causada por uma ativação das terminações nervosas, que envia ao cérebro mensagens de estímulo e calor intensos. A sensação de queimação se deve à combinação dessas duas mensagens.
A capsaicina pode reduzir metástases pulmonares
A capsaicina foi associada a uma redução na disseminação do câncer de pulmão. Os resultados deste estudo foram apresentados durante a Reunião de Biologia Experimental de 2019, realizada em Orlando, Flórida. Os pesquisadores estavam interessados em avaliar a capacidade da capsaicina de reduzir a metástase no adenocarcinoma de pulmão, responsável pela maioria dos cânceres de pulmão de células não pequenas.
Segundo os pesquisadores, um número substancial de pacientes com adenocarcinoma de pulmão apresentou metástase local e distante no momento em que foram diagnosticados. O objetivo a longo prazo do pesquisador era identificar estratégias baseadas na nutrição para suprimir o crescimento metastático de vários tipos de câncer, incluindo melanoma, câncer de próstata e colangiossarcoma.
Utilizando camundongos, foram comparadas as atividades antimetastáticas da capsaicina contra dois outros compostos naturais não-pungentes semelhantes à capsaicina, o capsiato e capsiconiato. Foi demonstrado que a aplicação de capsaicina pode induzir a apoptose em células cancerígenas em estudos anteriores.
Ainda assim, os pesquisadores acreditavam que o uso clínico da capsaicina era limitado devido a um “perfil desagradável de efeitos colaterais”.
Os pesquisadores testaram a capsaicina em três linhas de cultura de células humanas de câncer de pulmão de células não pequenas e alimentaram ratos com câncer de pulmão com uma dieta rica em capsaicina. Eles descobriram que os ratos que consomiram uma dieta com capsaicina tiveram um número menor de células metastáticas quando comparados àqueles que não receberam o tratamento.
Além disso, experimentos in vitro levaram à descoberta de que a capsaicina suprime a metástase ao bloquear a ativação de uma proteína-chave que regula a proliferação e a motilidade das células cancerígenas, a proteína SRC. O Ph.D. Jamie Friedman, autor principal do estudo, comentou:
“O câncer de pulmão e outros cânceres frequentemente geram metastases em locais secundários como o cérebro, fígado ou ossos, tornando-os difíceis de tratar. Nosso estudo sugere que o composto natural capsaicina presente na pimenta pode representar uma nova terapia para combater a metástase em pacientes com câncer de pulmão. Um dia, a capsaicina pode ser usada em combinação com outros quimioterápicos para tratar uma série de cânceres de pulmão”.
Pesquisas anteriores mostram que a capsaicina pode reduzir o risco de outros tipos de câncer
Este não foi o primeiro estudo a demonstrar o potencial da capsaicina contra o câncer. O câncer de mama é uma das formas mais prevalentes de câncer em mulheres de todo o mundo. Em 2018, houve mais de 2 milhões de novos casos no mundo, segundo o Instituto Americano de Pesquisa do Câncer.
Uma equipe de pesquisa da Alemanha estudou os efeitos da capsaicina contra potenciais canais de receptores transitórios conhecidos por contribuir para a regulação do cálcio intracelular e promover o câncer. Usando amostras de tecido de câncer de mama de um subtipo particularmente agressivo, os pesquisadores descobriram que a capsaicina reduziu esses sinais e causou uma inibição significativa do crescimento de células cancerígenas.
A pesquisa também avaliou, in vitro, o efeito da capsaicina em células colorretais humanas cancerosas. Os pesquisadores descobriram que o tratamento com capsaicina diminuiu os níveis enzimáticos, sugerindo que a capsaicina pode ser útil contra o câncer colorretal. Outro estudo descobriu que a capsaicina tem como alvo múltiplas vias de sinalização e genes supressores de tumor.
Nos EUA, o câncer colorretal é a terceira principal causa de mortes relacionadas ao câncer e a segunda causa mais comum de mortes por câncer quando combinados homens e mulheres.
Embora o estudo apresentado tenha analisado o adenocarcinoma de pulmão de células não pequenas, pesquisas anteriores avaliaram, in vitro e in vivo, o efeito da capsaicina contra o câncer de pulmão de pequenas células. Pesquisadores descobriram que, combinados, seus dados forneciam informações sobre o mecanismo subjacente à atividade apoptótica da capsaicina e oferecia novas vias e oportunidades de estudo.
A Capsaicina possui propriedades analgésicas e anti-inflamatórias
A capsaicina é um potente inibidor da substância P, um neuropeptídio que os pesquisadores descobriram estar associado a um processo inflamatório. Ela funciona ocupando os nervos receptores da substância p, o que interfere na percepção da dor.
As variedades mais picantes e de fácil acesso no mercado são as Habanero e Scotch Bonnet. As Jalapeños são as próximas no índice de picância Scoville, seguidas pela pimenta espanhola, Anaheim e pimentas-cereja húngaras.
Em um estudo em animais que avaliou os efeitos analgésicos da substância, os pesquisadores compararam a capsaicina contra o efeito de drogas anti-inflamatórias não-esteroidais (AINEs), e descobriram que a capsaicina produzia efeitos anti-inflamatórios comparáveis ao diclofenaco.
Em outro estudo, pesquisadores descobriram que o efeito induzido pela capsaicina pode ser o resultado da inibição da produção de citocinas pró-inflamatórias. Estudos avaliando o uso de capsaicina para a osteoartrite também demonstraram resultados positivos.
Em um estudo, 80% dos pacientes tratados com capsaicina tiveram uma redução na dor após duas semanas. Em outro, o tratamento tópico com capsaicina foi considerado eficiente na redução da intensidade da dor, independentemente do local de aplicação e dose, em pacientes com dor moderada. O tratamento foi considerado seguro e bem tolerável.
Chili Peppers pode auxiliar seu sistema imunológico e a saúde do coração
Pimentas de coloração vermelha brilhante possuem um alto teor de betacaroteno. De acordo com a WH Foods, 2 colheres de chá fornecem cerca de 6% da sua dose diária recomendada de vitamina C, e mais de 10% da vitamina A. A vitamina A é vital para a saúde das mucosas que revestem suas passagens nasais, pulmões e trato intestinal.
A suplementação de capsaicina também pode reduzir o risco de doença arterial coronariana (DAC). Em um estudo, os pesquisadores avaliaram os efeitos da capsaicina no perfil lipídico sérico em indivíduos com baixa lipoproteína de alta densidade (HDL).
Usando um ensaio clínico randomizado, duplo-cego, controlado, com 42 participantes, metade foi designada para tomar capsaicina diariamente, enquanto a outra metade serviu como grupo controle. Os que pertenciam ao grupo experimental demonstraram uma redução nos triglicerídeos e proteína C-reativa.
A capsaicina pareceu melhorar os fatores de risco naqueles que tinham baixo HDL e os pesquisadores concluíram que isso pode contribuir para a prevenção e tratamento da doença coronariana. Outro estudo publicado no periódico Circulation, da American Heart Association, descobriu que indivíduos que usam um analgésico de venda livre contendo capsaicina podem possuir risco reduzido de danos ao coração durante um ataque cardíaco. Keith Jones, Ph.D. e pesquisador neste estudo, comentou:
“Os efeitos tanto deste quanto da capsaicina demonstraram funcionar através de mecanismos neurológicos semelhantes. Estes são os efeitos cardioprotetores mais poderosos registrados até o momento. Esta é uma forma de cardioproteção remota, usando um estímulo cutâneo que ativa a cardioproteção muito antes da artéria coronária bloqueada ser aberta.”
As pimentas afetam seu metabolismo e função cognitiva
Ingerir comida apimentada aumenta o gasto energético e gera um aumento na termogênese e no consumo de oxigênio por mais de 20 minutos após comer. Em um estudo, os pesquisadores descobriram um equilíbrio energético negativo de 20,5% após consumir 2,56 miligramas de capsaicina por refeição. Isso promoveu a oxidação da gordura e não aumentou significativamente a pressão arterial.
Em uma meta-análise, pesquisadores avaliaram se o consumo de pimenta pode reduzir o peso corporal. Um dos estudos prospectivos incluídos na análise investigou os efeitos sobre a ingestão de energia, indicando que a adição de pimenta vermelha no café da manhã diminuiu a ingestão de proteína e gordura no almoço, além de reduzir significativamente a ingestão de carboidratos durante o almoço.
Eles concluíram que a capsaicina desempenha um papel importante na saúde metabólica, especialmente para a perda de peso em pessoas que sofrem de obesidade. Reduzir o risco de obesidade também pode reduzir os fatores de risco que levam ao diabetes tipo 2. Além disso, as pimentas podem ajudar a controlar o nível de açúcar no sangue. Um estudo concluiu que o consumo regular ajuda a reduzir o risco de níveis de insulina altos.
A capsaicina também mostrou ser capaz de reduzir as alterações associadas ao Alzheimer no hipocampo de ratos diabéticos. Os resultados demonstraram que a presença de capsaicina na dieta preveniu a formação da proteína Tau, associada ao mal de Alzheimer, podendo ter um uso potencial na prevenção da doença de Alzheimer em diabéticos.
Um segundo estudo também concluiu que “uma dieta rica em capsaicina pode ter efeitos favoráveis sobre os biomarcadores sanguíneos [da doença de Alzheimer] e função cognitiva em adultos de meia-idade e idosos”.
Ainda outro estudo com animais utilizando extratos de pimenta vermelha e descobriu que ele evitava o déficit de memória e a exacerbação da resistência à insulina em ratos diabéticos, sugerindo que a capsaicina pode ser uma intervenção eficiente para prevenir o déficit de memória relacionado à idade.
Usando pimentas na cozinha
A pimenta possui tem um número significativo de benefícios para a saúde, incluindo a adição de tempero e picância para as suas receitas. Ela pode ser utilizada seca, em pó, em conserva ou consumida fresca, direto do jardim.
As pimentas são plantas relativamente fáceis de cultivar e cuidar, e sua cor vermelha ou verde brilhante é um belo complemento para seu jardim ou horta. Caso você não tenha espaço em seu próprio jardim, a feira ou o comércio de um agricultor local poderá suprir sua demanda.
Se você gosta do sabor, mas quer um pouco menos picância, considere retirar as sementes, remover a placenta e deixar a pimenta de molho na vodca ou cachaça por um ou dois dias. Para conhecer ainda mais benefícios e diversas receitas para experimentar em casa, veja meu artigo anterior, “Os benefícios mais "quentes" das pimentas para a saúde”.