Por Dr. Mercola
O primeiro alimento geneticamente modificado a ser comercializado já está no mercado, mas os consumidores não sabem onde ele está sendo vendido ou se comeram algum alimento no qual ele foi utilizado. Um óleo de soja geneticamente modificado, criado pela empresa de biotecnologia Calyxt, já tem sua primeira adepta: uma empresa do centro-oeste norte-americano que conta com restaurantes e serviços alimentares. Ele já está sendo utilizado em frituras e molhos.
O óleo de soja da Calyxt, o Calyno, contém dois genes inativos, resultando em um óleo sem gorduras trans e com maior teor de ácido oleico, que faz bem para o coração e tem uma vida útil mais longa. Além de se recusar a identificar o comprador de seu óleo de soja geneticamente modificado e de alto teor oleico, a Calyxt está comercializando seu produto como se não fosse geneticamente modificado.
A empresa tem usado semântica para ocultar os OGMs
Embora sejam geneticamente modificados, os alimentos com genes editados não são comercializados como OGMs e nem rotulados como tal. A diferença se resume a uma questão de semântica.
A Calyxt usou o Nucleases com Efetores do Tipo Ativador Transcricional (TALEN) para encontrar e editar sequências de DNA na produção de seu óleo de soja, um processo que um porta-voz da empresa chegou a dizer que poderia acontecer na natureza. Em uma entrevista para a Forbes, eles declararam:
"[A]o contrário dos OGMs, simplesmente editamos os genes existentes nos cultivos usando nossa tecnologia para acelerar um processo que, de outra forma, teria acontecido na natureza.
Através deste processo, somos capazes de fornecer resultados de forma rápida, eficiente e econômica para o povo americano, para todos possam ter ingredientes mais saudáveis sem comprometer o sabor que eles já amam. Nenhum DNA externo é adicionado ao produto".
Infelizmente, eles conseguiram introduzir um óleo geneticamente modificado na cadeia de abastecimento dos EUA sem o conhecimento ou consentimento do povo americano. O atrativo aos fabricantes de alimentos é claro: O óleo da Calyxt, com zero gorduras trans e vida útil longa, atrairá empresas interessadas em substituir suas gorduras trans.
Em um anúncio feito através da Bloomberg, a Calyxt disse que esse óleo altamente oleico contém "aproximadamente 80% de ácido oleico e até 20% menos de gorduras saturadas". A Calyxt também disse que acabou de fechar a primeira venda comercial da empresa de uma farinha de soja "premium", altamente oleica, como aditivo alimentar de gado, que seria um "benefício adicional" para a criação.
Mas o público pode ter outra opinião sobre o assunto, especialmente porque é cada vez maior a procura por alimentos integrais reais em vez de OGMs. Uma pesquisa descobriu que apenas 32% dos americanos se sentem confortáveis com os OGMs em sua alimentação.
Ao se esconder atrás do rótulo da edição genética, eles podem fazer seu óleo geneticamente modificado, o Calyno, se passar por natural quando claramente não é. Mais de 100 agricultores no centro-oeste norte-americano declararam estar plantando a soja de alto teor oleico da Calyxt em mais de 34.000 acres.
Já existem frangos com genes editados
Caso você se sinta uma cobaia de laboratório ao consumir óleo de soja geneticamente modificado, também pode ficar igualmente desconfortável ao saber que frangos com genes editados também são uma tendência atual. No Instituto Roslin da Universidade de Edimburgo, na Escócia, frangos foram modificados para resistir à gripe, que se espalha rapidamente entre aves em CAFO (Operações de Engorda de Animais em Confinamento) e tem o potencial de ser transmitida para humanos.
Para criar os frangos transgênicos, os cientistas usaram a tecnologia de edição de genes conhecida como CRISPR, ou repetições palindrômicas curtas agrupadas e regularmente espaçadas. Eles visaram parte do gene ANP32, que codifica uma proteína da qual o vírus da gripe depende e as células sem o gene ficaram resistentes à gripe.
O Instituto Roslin também usou a edição genética para criar porcos resistentes a uma doença chamada Síndrome Reprodutiva e Respiratória Porcina, ou PRRS, edições que são permanentes e transmitidas a outras gerações.
Outras empresas estão usando a edição de genes para remover genes que produzem chifres em gado leiteiro, o que lhes permite contornar o processo desumano de remoção de chifres de gado criado em regime de confinamento sem alívio da dor.
Diz-se que usar primeiro a edição de genes para aliviar o sofrimento dos animais ou combater doenças agrícolas pode amolecer a postura dos reguladores e criar um perfil mais favorável ao público.Mas, em última análise, a tecnologia será inevitavelmente usada cada vez mais para gerar lucros.
Tendo isso em mente, o Departamento de Agricultura dos EUA adicionou o gene SRY ao gado, que resulta em vacas que se transformam em machos completos, com músculos maiores, um pênis e testículos, mas nenhuma capacidade de produzir espermatozoides.
O gado macho (ou de tipo masculino) é mais valioso para a indústria da carne bovina, porque cresce mais rapidamente, permitindo que as empresas lucrem mais em menos tempo.
O FDA propôs a classificação de animais com DNA modificado ou editados como drogas, o que levou a uma reação negativa da indústria de biotecnologia, que não quer que tais alimentos sejam rotulados. O Instituto Roslin também lançou uma pesquisa para avaliar as opiniões das pessoas sobre a edição de genes e se elas comeriam ou não animais geneticamente modificados.
Como não contêm material genético externo, os alimentos produzidos por edição genética não estão sujeitos à regulamentação do Departamento de Agricultura dos EUA ou outras agências regulatórias. Embora um conselho consultivo tenha recomendado que os alimentos geneticamente modificados não possam ser rotulados como orgânicos.
A edição genética foi utilizada para criar trigo com alto teor fibras e batatas alteradas
Até hoje, a edição de genes tem sido usada não apenas para produzir grãos de soja com perfis alterados de ácidos graxos, mas também batatas que demoram mais para ficarem marrons e batatas que permanecem mais frescas por mais tempo e não produzem substâncias cancerígenas quando fritas.
Outros usos para edição genética em alimentos incluem a criação de trigo com baixo teor de glúten, cogumelos que não se tornam marrons e tomates que podem ser produzidos em áreas com estações de cultivo mais curtas.
A tecnologia pode até mesmo ser usada para criar plantas que resistem a secas e doenças, ou sementes que podem ser personalizadas para condições únicas de cultivo. A Calyxt também desenvolveu um trigo com alto teor de fibras que foi declarado um "artigo não regulado" pelos Serviços Regulatórios de Biotecnologia do Serviço de Inspeção de Saúde Animal e Vegetal (APHIS) do USDA. O trigo está na fase 1 de desenvolvimento e pode ser lançado em 2020 ou 2021.
A Calyxt tem planos de expansão e também está trabalhando em batatas geneticamente modificadas, que podem ser armazenadas a frio, e óleo de canola com composição melhorada, e espera eventualmente criar produtos com várias edições genéticas. De acordo com a empresa:
"Em particular, com o tempo, podemos explorar oportunidades de aplicar nossa estratégia comercial em outras partes do mundo e alavancar nossos produtos na América do Norte para segmentar regiões onde há necessidades não atendidas dos consumidores ou agricultores.
Também pretendemos explorar a capacidade de agregar valor através de nossos candidatos a produtos existentes, uma vez que eles são comercializados pela combinação de características no mesmo cultivo, o que pode nos permitir criar produtos com benefícios adicionais, sem acrescentar um custo significativo."
A edição genética nem sempre é precisa e gera riscos consideráveis
Embora os alimentos geneticamente modificados já tenham sido libertados para consumo, sua segurança é amplamente desconhecida. O que se sabe, porém, é que a edição genética não é uma ciência perfeita, e edições não pretendidas podem causar alterações não intencionais ao DNA, com consequências que poderiam incluir perturbações de crescimento, exposição a doenças vegetais ou introdução de alergias ou toxinas.
Em animais, a edição genética levou a efeitos colaterais inesperados, incluindo aumento do volume de línguas e vértebras. Muitas vezes, os pesquisadores não sabem a extensão das funções de um gene até tentar ajustá-lo, e algo como uma vértebra extra se revela. O Dr. Greg Licholai, da Yale Insights, empresário do setor de biotecnologia, explicou alguns dos riscos reais do CRISPR e de outras tecnologias de edição de genes:
"Um dos maiores riscos da CRISPR é a chamada condução genética. O que isso significa que, como você está, na verdade, manipulando genes e eles são incorporados ao genoma, a enciclopédia que se situa dentro das células, esses genes podem ser transferidos para outros organismos.
E uma vez que sejam transferidos para outros organismos, ao se tornarem parte do ciclo, esses genes estarão no ambiente.
Esse é provavelmente o maior risco da CRISPR. Os seres humanos manipulam o código genético e essas manipulações passam de geração para geração. Nós achamos que sabemos o que estamos fazendo, que estamos avaliando exatamente quais alterações estamos fazendo nos genes, mas há sempre a possibilidade de não percebermos algo ou nossa tecnologia não ser capaz de captar outras alterações que foram feitas de forma não orientada.
E o medo, então, é que essas mudanças levem à resistência a antibióticos ou outras mutações que atinjam a população e sejam muito difíceis de controlar. Isso poderia criar doenças incuráveis ou outras mutações potenciais sobre as quais não teríamos controle".
Os alimentos orgânicos não são geneticamente modificados
Sem uma exigência de rótulo, não há como os consumidores saberem se estão comendo óleo de soja geneticamente modificado ou um dos muitos futuros produtos geneticamente modificados que provavelmente chegarão ao mercado. Por enquanto, contudo, os alimentos geneticamente modificados não podem ser rotulados como orgânicos, o que é mais uma razão pela qual a busca de alimentos orgânicos e, melhor ainda, biodinâmicos, é tão importante.
Pode não ser o caso para sempre, no entanto, como alguns proponentes orgânicos afirmaram que a edição genética está dentro do domínio da orgânica se usada de uma maneira que imita a natureza. Dito isto, quando o Conselho de Normas Orgânicas Nacionais votou (por unanimidade) para adicionar CRISPR à lista de métodos excluídos, um membro do conselho disse:
"É muito claro que é um método de OGM e não tem histórico de variedades melhoradas para avaliar os efeitos não intencionais que a tecnologia pode ter sobre o meio ambiente, assim como todos os OGMs lançados no meio ambiente tiveram efeitos não intencionais que não se mostram por vários anos".
Ainda resta saber se o governo dos Estados Unidos finalmente decidirá classificar os alimentos com genes editados de forma semelhante aos alimentos transgênicos ou convencionais ou deixá-los sob o rótulo orgânico, mas, por enquanto, a melhor maneira de evitar alimentos com genes editados é preferindo comprar os orgânicos.