Por Dr. Mercola
Marc Sorenson, fundador do Sunlight Institute e doutor em educação, escreveu o excelente livro "Embrace the Sun" (Abraçando o Sol), no qual revela por que a luz do sol é fundamental para a saúde e a longevidade. Embora os suplementos de vitamina D obviamente tenham sua utilidade, não é possível obter todos os benefícios provenientes da exposição ao sol apenas dessa forma.
Por exemplo, muitos dos benefícios da luz solar, como a redução do risco de doenças cardíacas, estão associados à capacidade de aumentar a produção de óxido nítrico (ON) em seu corpo. Tanto os espectros de luz ultravioleta A (UVA) quanto os próximos ao infravermelho aumentam o ON, de forma que você obtém esse benefício de ambas as extremidades do espectro luminoso. 50% da luz solar é de espectros próximos ao infravermelho.
A luz próxima ao infravermelho também aumenta a citocromo c oxidase (COO), o quarto citocromo na mitocôndria, e nenhum desses benefícios pode ser obtido através de comprimidos. É muito importante notar que seu corpo foi projetado para se beneficiar da exposição ao sol e, se você for diabético ou tiver uma doença cardíaca, este pode ser um dos fatores ausentes na sua vida.
Como surgiu a conspiração da privação solar
É importante ressaltar que, para cada morte causada por doenças relacionadas à exposição excessiva ao sol — como cânceres de pele comuns (carcinomas basocelular e espinocelular), bem como outras doenças incomuns — há 328 mortes causadas por doenças relacionadas à privação da luz solar, de acordo com dados do próprio Sorenson.
Segundo um estudo de 2013, para cada caso de morte por câncer de pele no norte da Europa, entre 60 e 100 pessoas morrem de acidente vascular cerebral ou doenças cardíacas relacionadas à hipertensão. Saber que seu risco de morrer de doenças cardíacas ou derrame é 80 vezes maior, em média, do que de câncer de pele coloca os fatos em perspectiva. Evidentemente, evitar o sol não é o hábito salvador de vidas que os dermatologistas fazem parecer.
Eu sempre me perguntei por que havia uma aversão tão ávida à exposição solar dentro da comunidade dermatológica. Simplesmente não fazia sentido — até eu ler o livro de Sorensen, no qual ele destrincha a motivação por trás dessa postura. Ele explica:
“As forças das trevas, como eu os chamo, apoiam fortemente a indústria de filtros solares. Cerca de 70% do seu financiamento vem da indústria de proteção solar. É claro que, sendo uma sociedade dermatológica, eles apoiam aqueles que produzem protetores solares”.
Sobre o câncer de pele
Existem dois tipos básicos de câncer de pele: melanoma e não-melanoma. É importante ressaltar que 75% dos melanomas ocorrem em áreas do corpo que nunca veem o sol, observa Sorenson, e aqueles que trabalham em ambientes fechados têm o dobro da taxa de melanoma letal do que os que trabalham ao ar livre.
Um fator de risco primário para o melanoma parece ser a exposição solar intermitente e a queimadura solar, especialmente durante a juventude. Segundo dados apresentados em seu livro, em 1935, cerca de 1 em 1.500 pessoas contraiu melanoma. Em 2002/2003, essa taxa era de 1 em 50. Entre 2006 e 2015, as taxas de melanoma aumentaram 3% ao ano.
Portanto as taxas continuam subindo. Como observado por Sorenson, o sol na verdade protege você do melanoma. No entanto, ele não protege contra os cânceres da pele mais comuns. Porém, a proteção desses pode ser obtida a partir de uma dieta rica em antioxidantes.
Evitar o sol mata muito mais do que doenças relacionadas à exposição solar
Os cânceres de pele não-melanoma são divididos principalmente em câncer de células basais e células escamosas, e a exposição solar aumenta o risco desses cânceres. Porém, é importante lembrar que esses tipos de câncer são tipicamente não letais. A segurança do sol relativa o câncer de pele é, no entanto, escondida astutamente combinando-se as estatísticas para câncer de pele fatal e não-fatal.
A maioria das mortes atribuídas aos cânceres de pele não-melanoma (células basais e escamosas), que chegam a 4.420 por ano, de acordo com o cancer.net, se encontram em indivíduos que possuem o sistema imunológico gravemente comprometido. O melanoma, no entanto, mata cerca de 7.230 pessoas por ano nos EUA.
Também é importante perceber que o câncer de pele comum não se transforma no melanoma, mais mortal. Ao considerar as estatísticas, parece claro que evitar o sol está realmente aumentando o risco de câncer de pele letal e que, expondo sua pele ao sol, você diminuirá o risco de melanoma.
Além disso, evitar o sol também aumentará o risco de câncer interno, juntamente a uma longa lista de doenças crônicas, cujas taxas de mortalidade são muito mais alarmantes do que as do melanoma. Como mencionado anteriormente, para cada morte relacionada ao sol há 328 mortes por doenças relacionadas à sua deficiência.
O livro de Sorenson também cita uma pesquisa iraniana que mostra que as mulheres que se cobrem completamente têm um risco 10 vezes maior de câncer de mama quando comparado com as mulheres que não se cobrem completamente. Esse é um risco de 1.000% maior de câncer de mama. No entanto, as mulheres são orientadas a evitar a exposição ao sol a todo custo para proteger sua saúde.
Você pode se beneficiar da exposição ao sol durante o ano inteiro
Durante o inverno, em latitudes acima de 22 graus, você não obterá exposição suficiente à radiação ultravioleta B (UVB) para aumentar significativamente os seus níveis de vitamina D, a não ser que esteja em grandes altitudes nas montanhas.
No entanto, você ainda estará obtendo outros fotoprodutos, como o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), ON, entre outros. Eles serão produzidos mesmo no inverno, quando a luz do sol é muito fraca para provocar a produção de vitamina D.
Evite a todo custo queimaduras solares
Naturalmente, independentemente da estação, você deve evitar sofrer queimaduras solares. Assim que sua pele começar a ficar rosada, vá para a sombra ou coloque roupas e um chapéu para se cobrir. A partir desse ponto, não há benefício, apenas riscos de danos à pele. Como observado por Sorenson:
“Nesse ponto, seu corpo desliga. Na verdade, seu corpo vai encerrar sua produção de vitamina D, assim como quaisquer outras coisas que não queira mais. Há uma pesquisa muito interessante (…) que mostra que indivíduos que usam protetor solar têm entre três e seis vezes o risco de queimaduras solares.
Outro foi uma grande meta-análise, que mostrou que não havia nenhum benefício em usar protetores solares. Nenhum mesmo. De fato, houve um ligeiro aumento no risco de todos os cânceres de pele combinados.”
A exposição solar diminui o risco de doenças autoimunes
Além de diminuir o risco de vários tipos de câncer, incluindo o melanoma, a exposição ao sol também diminui radicalmente o risco de doenças autoimunes. (Doenças em que seu corpo identifica proteínas e outras estruturas produzidas pelo próprio corpo como estranhas, e as destrói). Dois exemplos clássicos são a esclerose múltipla (EM) e o diabetes tipo 1.
Sorenson cita uma pesquisa da Finlândia, mostrando que a suplementação de vitamina D diminuiu o risco de diabetes tipo 1 em cinco a seis vezes. Quando comparadas às crianças venezuelanas, que recebem ampla exposição ao sol, as crianças finlandesas tinham 400 vezes mais risco de diabetes tipo 1.
Pesquisadores também descobriram uma relação inversa entre o estado de vitamina D e risco de EM, e estudos confirmaram que a EM é muito menos prevalente em áreas próximas à linha do Equador, como o próprio Equador, onde a prevalência varia de 0,75 por 100.000 habitantes no Sul, a um máximo de 5,05 por 100.000 na capital Quito.
Quais são os níveis saudáveis de vitamina D?
A ciência mostra que 20 ng/mL (50 nmol/L), tipicamente considerado como o ponto de corte para a suficiência de vitamina D, é inadequado e perigoso para a saúde. Para uma proteção ideal contra doenças, é necessário um nível de vitamina D no sangue entre 60 e 80 ng/mL (150 a 200 nmol/L).
Uma vez que você se mantenha acima de 60 ng/mL, o risco de câncer e outras doenças crônicas diminui drasticamente — em mais de 80% no caso do câncer de mama, por exemplo.
Parece haver variações no nível ideal, no entanto, dependendo da condição em questão. Sorenson cita pesquisas mostrando que o desempenho atlético e o risco de lesões devido a quedas entre indivíduos não-atletas melhoraram até eles atingirem um nível de cerca de 63 ng/mL (158 nmol/L), a partir do qual o desempenho e a resistência a lesões voltam a diminuir ligeiramente.
Por outro lado, no caso do câncer de mama, que é uma grande preocupação para grande parte das mulheres, os níveis acima de 80 ng/mL (200 nmol/L) parecem oferecer a maior proteção. No entanto, ao visar esses níveis mais elevados, eu acredito que obter sua vitamina D da luz solar se torne ainda mais importante, especialmente se você está procurando proteção contra doenças como doenças cardíacas.
Porque, lembre-se, a suplementação de vitamina D não desencadeará a produção de ON como a exposição ao sol, e o aumento do ON parece ser uma maneira significativa pela qual a exposição ao sol diminui o risco de doenças cardíacas. A luz solar também aumenta os seus níveis de serotonina, um neurotransmissor que acredita-se desempenhar um papel importante contra a depressão.
Em seu livro, Sorenson cita uma pesquisa que mostra que passar o dia inteiro sob a luz do sol aumenta seus níveis de serotonina em 800%. Um precursor da serotonina — a melatonina — também é crucial para uma boa qualidade do sono e prevenção do câncer.
Luz solar e acuidade visual
A miopia, em pessoas que precisam de óculos desde jovens, e a presbiopia, que é quando são necessários óculos de leitura, também estão aumentando, e isso também pode ser um efeito colateral da exposição insuficiente ao sol.
Quanto à degeneração macular relacionada à idade (DMRI), que é a principal causa de cegueira entre os idosos, a pesquisa do Dr. Chris Knobbe, um oftalmologista que escreveu um livro sobre os fatores de risco de DMRI, que eu entrevistarei para falar sobre este tópico, compilou grandes quantidades de dados mostrando que a DMRI não existia antes de 1930, e isso parece estar fortemente relacionado ao consumo de alimentos processados, especialmente óleos vegetais.
O açúcar, claro, também não ajuda. Essa combinação provoca uma degeneração massiva da sua visão, que se torna muito difícil de reverter em estágios avançados. No entanto, se identificada em um estágio inicial, pode ser revertida através de mudanças na dieta.
Para a presbiopia, recomendo não usar óculos escuros e evitar óculos de leitura. À medida que você envelhece, há uma tendência de aumentar a fonte para enxergar melhor o texto, mas recomendo resistir a essa tentação, pois isso só piorará as coisas.
Além disso, evite apertar os olhos, e simplesmente pisque. Pisque várias vezes até que o texto fique claro, depois relaxe os olhos para refocalizar. Uma luz mais brilhante também pode ajudá-lo a ler sem usar óculos de leitura nem aumentar o tamanho da fonte em seu tablet ou computador.
Luz solar para a saúde dos ossos
Sorenson também relata alguns dados históricos que sustentam a ideia de que a exposição solar beneficia a saúde de maneiras importantes e aumenta o desempenho atlético. Além da saúde da mama, pesquisas mostram que a exposição ao sol também ajuda a prevenir a osteoporose, que é outra grande preocupação especialmente para as mulheres. Sorenson diz:
“Na Espanha, mulheres que buscavam sol, aquelas que sempre estavam do lado de fora, tentando se bronzear (...) tanto quanto possível, essas mulheres tiveram 1/11 do risco de ter fraturas de quadril comparado a mulheres que evitavam o sol. Só esse ponto deveria levar todas as mulheres a tomar sol, pois todas têm medo não apenas do câncer de mama, mas também da osteoporose.
As mulheres precisam de luz solar para evitar isso. Não estou convencido de que a suplementação de vitamina D resolva. Eles não prescrevem vitamina D suficiente, então é difícil dizer pela pesquisa. Mas sabemos que a luz solar funciona para prevenir fraturas de quadril. E essa é uma ótima notícia para mim...”