Por Dr. Mercola
A vitamina D é um hormônio esteróide que influencia praticamente todas as células do seu corpo. Por isso, manter níveis saudáveis dessa vitamina é importante não apenas para os ossos, mas também para a saúde do coração e do cérebro, para função imunológica e prevenção geral de doenças. Na verdade, há uma conexão importante entre a deficiência de vitamina D e a resistência à insulina, síndrome metabólica e diabetes (tanto o tipo 1 quanto o 2).
De acordo com a coautora Eliana Aguiar Petri Nahas, professora de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da USP, "quanto menor o nível de vitamina D no sangue, maior a ocorrência de síndrome metabólica". Esse resultado sugere que manter níveis adequados de vitamina D pode diminuir o risco da doença em mulheres que já passaram pela menopausa".
O que é a síndrome metabólica?
A síndrome metabólica caracteriza-se por diversos fatores, incluindo:
- Colesterol HDL (lipoproteína de alta densidade) baixo
- Alta contagem de triglicerídeos
- Circunferência alargada da cintura (indicando altos níveis de gordura visceral ao redor dos órgãos)
- Pressão alta
- Altos níveis de açúcar no sangue e/ou resistência à insulina
Considera-se três ou mais desses fatores em um determinado nível como evidência de disfunção metabólica, que prepara o cenário para doenças crônicas, incluindo Diabetes tipo 2, doenças cardíacas, AVC, gota, câncer, doença de Alzheimer, esteatose hepática não alcoólica (DHGNA), entre outras. Evidências convincentes sugerem que a deficiência de vitamina D desempenha um papel importante no desenvolvimento desses fatores de risco.
Baixos níveis de vitamina D aumentam o risco de síndrome metabólica e doenças relacionadas
Das 463 mulheres incluídas no estudo em questão, quase 33% tinham insuficiência de vitamina D, caracterizada como um nível entre 20 e 29 nanogramas por mililitro (ng/mL). Mais do que 35% apresentavam um quadro de deficiência (um nível de vitamina D inferior a 20 ng/mL). Apenas 32% das participantes apresentaram níveis “suficientes” (30 ng/mL ou mais).
Como você provavelmente notou, “suficiente” está entre aspas. Há evidências científicas recentes de que 40 ng/mL é um novo ponto de corte da suficiência e que níveis adequados para prevenção de doenças ficam entre 60 e 80 ng/mL.
Daqueles com níveis insuficientes ou deficientes de vitamina D, quase 58% tinham fatores de risco que os qualificaram para o diagnóstico de síndrome metabólica.
Aqui, os parâmetros para síndrome metabólica incluem circunferência da cintura maior do que 88 centímetros, pressão arterial acima de 130/85 mmHg, glicemia em jejum acima de 100 miligramas por decilitro (mg/dL), triglicérides acima de 150 mg/dL e colesterol abaixo de 50 mg/dL. Um diagnóstico de síndrome metabólica é cogitado na presença de três ou mais desses critérios.
"A explicação mais plausível para essa associação é que a vitamina D influencia a secreção e a sensibilidade à insulina, que desempenham um papel importante na [síndrome metabólica]", explica o EurekAlert. “O receptor de vitamina D é expresso em células beta pancreáticas secretoras de insulina e em tecidos alvos periféricos, como o tecido músculo esquelético e adiposo. A deficiência de vitamina D pode comprometer a capacidade das células beta de converter pró-insulina em insulina...
De acordo com Nahas, o envelhecimento é um fator importante na deficiência de vitamina D. “A exposição ao sol ativa uma espécie de pré-vitamina D no tecido adiposo… O envelhecimento leva à perda de massa muscular e a mudanças na composição corporal que fazem com que essa pré-vitamina D se perca. É por isso que idosos produzem menos vitamina D mesmo que tomem muito sol.
Segundo ela, mulheres que passaram da menopausa merecem e demandam cuidados mais específicos. Elas deveriam procurar orientação médica sobre uma possível suplementação de vitamina D. "A hipovitaminose pode ter repercussões relacionadas ao câncer de mama, doença vascular ou síndrome metabólica", disse ela.
A raiz da síndrome metabólica é a resistência à insulina
A síndrome metabólica também poderia ser chamada de síndrome de resistência à insulina, já que a resistência à insulina está no cerne de todos os fatores de risco para a síndrome metabólica. Além disso, visto que a secreção de insulina é a principal medida para a resistência à insulina, aferir seu nível de insulina — particularmente após uma refeição (pós-prandial) — fornecerá as informações necessárias sem ter que avaliar esses outros parâmetros da síndrome metabólica.
O vídeo acima mostra o falecido Dr. Joseph Kraft, que escreveu o livro "Diabetes Epidemic and You: Should Everyone Be Tested?". Com base em dados de 14.000 pacientes, Kraft desenvolveu um teste que é um poderoso indicador de diabetes.
Ele dava ao paciente 75 gramas de glicose e, em seguida, media sua resposta à insulina em intervalos de meia hora por até cinco horas. Esse é o teste de resistência à insulina mais sensível conhecido até hoje, muito mais preciso do que o exame em jejum.
Kraft notou cinco padrões distintos que sugeriam que a maioria das pessoas já eram diabéticas, mesmo que sua glicose em jejum estivesse normal. Na verdade, 90% dos pacientes com hiperinsulinemia (que é quando você tem excesso de insulina no sangue em relação ao nível de glicose) passaram no teste de glicemia em jejum e 50% passaram no teste de tolerância à glicose.
Apenas 20% dos pacientes tinham um padrão indicativo de sensibilidade à insulina pós-prandial saudável, o que significa que 80% eram realmente resistentes à insulina e com risco aumentado de diabetes tipo 2. Uma das mensagens importantes que isso nos oferece é que a resistência à insulina e a hiperinsulinemia são dois lados da mesma moeda, visto que se promovem mutuamente.
Em outras palavras, se você tem hiperinsulinemia, é essencialmente resistente à insulina e está em risco de ter diabetes, a menos que mude seu estilo de vida, começando pela alimentação.
Resistência à insulina e hiperinsulinemia levam ao mesmo fim
Hiperinsulinemia significa que há mais insulina nas células adiposas, o que gera um desvio maior de energia para essas células (afinal, é isso que a insulina faz). A resistência à insulina está claramente associada ao ganho de peso, e embora muitos acreditem que ela seja causada por ele, o Dr. Robert Lustig defendeu o contrário, afirmando que a insulina é a causadora do ganho de peso.
Quando o fígado transforma o excesso de açúcar em gordura e torna-se resistente à insulina, isso gera hiperinsulinemia, que promove o armazenamento de energia na gordura corporal.
À medida que a gordura do fígado aumenta, isso gera um aumento da insulina no sangue e nas vias mecanicistas associadas que transportam lipídios (gorduras) para as paredes vasculares, o que é uma característica da aterosclerose. Isso também leva ao aumento da glicose, particularmente da glicose pós-prandial, que também tem vias mecanicistas que promovem a aterosclerose.
A hipertensão é outro efeito colateral da resistência à insulina que favorece a aterosclerose, exercendo estresse sobre suas artérias. Acredita-se que a maioria dos casos de hipertensão idiopática (pressão alta sem causa conhecida) seja causada por hiperinsulinemia.
A hiperinsulinemia/resistência à insulina também promove inflamação, fazendo com que a gordura visceral libere citocinas inflamatórias e moléculas sinalizadoras sistêmicas. Com o tempo, a gordura visceral torna-se cada vez mais resistente à insulina, fazendo com que a sinalização sistêmica falhe.
Esse efeito em cascata causa dislipidemia aterogênica, caracterizada pelo colesterol HDL (lipoproteína de baixa densidade), LDL e triglicéridos oxidados, e HDL baixos. Por fim, esses fatores levam ao desenvolvimento de doenças cardíacas, mas todas elas estão predicadas à resistência à insulina e, portanto, a meta deve ser o tratamento da resistência à insulina. É aí que a alimentação entra em cena.
As evidências não mentem: a resistência à insulina é o resultado de uma dieta rica em açúcar (especialmente a frutose processada, que tem efeitos metabólicos mais prejudiciais do que a glicose).
Por exemplo, um artigo publicado no JAMA Internal Medicine em 2014 analisou o consumo de açúcar por duas décadas como uma porcentagem do total de calorias, concluindo que ele contribuiu significativamente para mortes cardiovasculares. Pessoas que consumiram 30% de suas calorias diárias como adições de açúcar demonstraram um risco quatro vezes maior de desenvolver doenças cardíacas.
Adoçantes artificiais também prejudicam seu metabolismo
Em uma notícia relacionada, os pesquisadores associaram o consumo regular da sucralose a um aumento do risco de síndrome metabólica. Segundo uma reportagem do MedPage Today, “a nível celular, pessoas que consomem sucralose apresentam aumento na captação de glicose, inflamação e adipogênese — todos mais proeminentes em pessoas obesas”. Os resultados foram apresentados na reunião anual da Sociedade de Endocrinologia em Chicago.
No geral, a sucralose mostrou-se “dependente da dosagem, relacionada à regulação positiva de genes relacionados à adipogênese”. Quanto mais exposição, mais proeminente a ativação do gene. O GLUT4, um transportador de glicose (ou seja, uma proteína que ajuda a levar glicose para a célula), estava 250% mais proeminente nos participantes obesos, o que resulta no acúmulo de gordura corporal. Os genes receptores do paladar também estavam entre 150 a 180% mais proeminentes.
Pessoas obesas que consumiram sucralose também tiveram um aumento da resposta insulínica e níveis mais altos de triglicérides do que indivíduos obesos que não consumiram adoçantes artificiais. Como apontado pelo co-autor Dr. Sabyasachi Sen, que recomenda que os profissionais de saúde instruam seus pacientes obesos a evitar bebidas açucaradas e adoçadas artificialmente:
"A única parte das bebidas adoçadas artificialmente que não está presente é as calorias. O adoçante artificial não adiciona calorias, mas faz todo o resto que a glicose faz. A sucralose não devia ser um substituto para bebidas adoçadas, pois está obviamente causando inflamação, formação de gordura, etc. Mas os adoçantes artificiais causam alguma inflamação, mais do que a glicose? Acho que é possível, mas não posso confirmar".
Como reverter a resistência à insulina
Em suma, a síndrome metabólica está profundamente vinculada à resistência à insulina, e a maioria das pessoas — provavelmente 8 a cada 10 americanos — tem algum nível de resistência à insulina que a predispõe ao diabetes tipo 2 e problemas de saúde relacionados, incluindo doenças cardíacas, câncer e Alzheimer.
Com base nessas estatísticas, todo mundo precisa melhorar sua rotina de atividades físicas e alimentação, pois esses dois fatores são os mais importantes e eficientes na prevenção e tratamento. A boa notícia é que a resistência à insulina é simples de tratar, prevenir e reverter. O mesmo é verdade no caso do diabetes tipo 2.
Originalmente, eu escrevi meu livro "Fat for Fuel" para pacientes com câncer, mas as recomendações contidas nele são ainda mais eficientes para resistência à insulina, diabetes e síndrome metabólica. O câncer é um problema mais complexo e desafiador, que requer muito mais do que uma simples mudança na alimentação.
Confira um breve resumo das orientações mais importantes. Em conjunto, esse plano diminuirá seu risco de diabetes e doenças crônicas relacionadas, além de ajudar a prevenir a deterioração da sua saúde.
Limite adições de açúcar a um máximo de 25 gramas por dia. Se você for resistente à insulina ou diabético, reduza sua ingestão total de açúcar para 15 gramas por dia até que a resistência à insulina/leptina seja revertida (nesse momento, a ingestão pode voltar a 25 gramas) e comece a praticar o jejum intermitente o mais cedo possível.
Evite também adoçantes artificiais encontrados em alimentos, lanches ou bebidas. |
Limite os carboidratos líquidos (carboidratos totais menos o total de fibras) e proteínas, substituindo ambos por maiores quantidades de gorduras saudáveis de alta qualidade, como sementes, nozes, manteiga de animais terminados a pasto, azeitonas, abacate, óleo de coco, ovos de galinhas criadas livres e gorduras animais, incluindo ômega-3 de origem animal.
Evite alimentos processados, incluindo carnes. Para uma lista de alimentos que são particularmente benéficos para diabéticos, consulte o artigo “Nove Superalimentos para Diabéticos". |
Exercite-se regularmente toda semana e movimente-se durante todo o dia, visando não ficar sentado mais do que três horas ao dia. |
Durma o suficiente. A maioria das pessoas precisa dormir entre seis e oito horas por noite. Isso ajuda a normalizar o sistema hormonal. Pesquisas demonstraram que a privação de sono impacta significativamente sua sensibilidade à insulina. |
Otimize seus níveis de vitamina D, idealmente através da exposição ao sol. Caso esteja tomando suplementos orais de vitamina D3, aumente também sua ingestão de magnésio e vitamina K2, pois esses nutrientes funcionam em conjunto. |
Otimize sua saúde intestinal consumindo alimentos fermentados e ou tomando um probiótico de alta qualidade. |