Por Dr. Mercola
Sabe-se que várias substâncias químicas encontradas em produtos plásticos atuam como desreguladores endócrinos. Alguns dos mais difundidos e conhecidos são os ftalatos e o bisfenol A (BPA). Por terem uma estrutura semelhante a de hormônios sexuais naturais, essas substâncias químicas interferem no funcionamento normal de tais hormônios.
Isso é especialmente problemático para as crianças, que ainda estão crescendo e se desenvolvendo, pois as glândulas do sistema endócrino e os hormônios liberados influenciam quase todas as células, órgãos e funções do corpo.
Seu sistema endócrino como um todo é fundamental para regular o humor, o crescimento e o desenvolvimento, a função e o metabolismo dos tecidos, bem como a função sexual e os processos reprodutivos. E as substâncias químicas que causam desregulação endócrina estão associadas a vários problemas relacionados à saúde reprodutiva.
Pete Myers, Ph.D., professor adjunto de química da Universidade Carnegie Mellon e fundador, CEO e cientista chefe de Ciências da Saúde Ambiental, é especialista em substâncias plásticas e seu impacto no sistema endócrino humano.
De acordo com Myers, há evidências de que as substâncias plásticas estão prejudicando a saúde das gerações futuras por meio da interrupção endócrina intergeracional de tal forma que não se trata de uma preocupação sem importância.
Curiosamente, Myers atribui o nascimento prematuro de sua própria neta a incêndios ocorridos nos meses anteriores ao parto na região onde sua filha morava. Conforme relatado pela Environmental Health News:
"Muitas casas, cheias de plástico, foram queimadas no incêndio, liberando contaminantes como o bisfenol-A (BPA) e ftalatos, que estão associados 'à mesma condição que forçou esse nascimento prematuro', disse Myers."
Myers também ressalta que a segurança de nenhum plástico existente já foi exaustivamente testado, e que o teste usado se baseia nos "princípios do século XVI".
Para lidar com os danos conhecidos e desconhecidos dos plásticos, Myers está exigindo uma reformulação para garantir que o plástico seja atóxico e uma reforma regulatória que leve em conta o fato de que mesmo doses baixas podem causar danos.
Os efeitos dos ftalatos e BPA para a saúde
A exposição ao ftalato foi associada a uma ampla variedade de problemas de saúde, incluindo, entre outros:
- Defeitos congênitos e aborto espontâneo
- Baixa contagem de espermatozoides
- Ovário policístico
- Puberdade precoce ou tardia
- Comportamento autista, redução do QI e diminuição da função cerebral em crianças
Da mesma forma, o BPA, que imita o hormônio estrogênio, está associado a:
Perturbações neurológicas por neurotoxicidade |
Hiperatividade, aumento da agressividade e diminuição do aprendizado |
Aumento da formação de gordura e risco de obesidade em crianças e adultos |
Alteração da função imunológica |
Nascimento prematuro |
Cânceres associados a hormônios |
Perturbação da produção de hormônios sexuais femininos, toxicidade ovariana e diminuição da fertilidade devido à viabilidade reduzida dos óvulos |
Estimulação de células cancerígenas da próstata, aumento do tamanho da próstata, diminuição da produção de espermatozoides e hipospadia (deformação do pênis) |
Doenças cardíacas |
Pressão alta |
Eficácia reduzida do tratamento quimioterápico |
Disfunção erétil |
De acordo com um relatório da Organização Mundial da Saúde e do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, intitulado "State of the Science of Endocrine Disrupting Chemicals", publicado em 2014, pode ser preciso banir os desreguladores endócrinos (DE) para proteger a saúde das gerações futuras.
Da mesma forma, uma força-tarefa da Sociedade Endócrina emitiu uma declaração científica sobre os DEs em 2015, observando que os efeitos dos desreguladores endócrinos são tais que todos precisam tomar medidas proativas para evitá-los.
Desregulares endócrinos como o BPA e os ftalatos são especialmente preocupantes para grávidas e crianças pequenas, pois podem interferir na fisiologia e maturação normais, mesmo em quantidades extremamente mínimas.
Os substitutos do BPA são igualmente perigosos
À medida que os danos do BPA se tornaram mais conhecidos, muitas empresas começaram a substituí-lo por outros produtos químicos. No entanto, esses substitutos também não têm registro de segurança e, com o passar do tempo, descobrimos que são tão perigosos quanto o BPA.
Isso inclui o bisfenol S (BPS), bisfenol F (BPF) e bisfenol B (BPB). A julgar apenas pelos nomes, você pode dizer que esses produtos pertencem à mesma família do BPA e, conforme observado pela Environmental Health News, "substituir o BPA por substâncias químicas semelhantes não atenua em nada os danos causados pela exposição da nossa saúde a tais substâncias".
Por exemplo, um estudo recente que mediu os níveis de BPA, BPS e BPF em crianças e adolescentes descobriu que 97,5% apresentavam níveis detectáveis de BPA na urina; 87,8% tinham BPS; e 55,2% apresentavam BPF.
Todos os três se correlacionaram com um risco aumentado de obesidade, mesmo depois que os pesquisadores controlaram a ingestão calórica. Conforme observado pela autora principal do estudo, Melanie Jacobson, cientista da NYU School of Medicine:
"Embora a alimentação e exercício físico ainda sejam entendidos como os principais fatores da obesidade, esta pesquisa sugere que exposições químicas comuns também podem desempenhar um papel, especificamente entre as crianças."
Outra revisão científica, publicada em 16 de outubro de 2019, constatou que o BPB (assim como o BPA) têm efeitos de desregulação endócrina. Estudos que analisaram a ingestão subcrônica constataram que esta afetava a função reprodutiva, danificando os espermatozoides e diminuindo a produção de óvulos.
Outros descobriram uma redução na produção de testosterona e uma atividade estrogênica "semelhante ou maior que os BPAs". Segundo os revisores, "os dados disponíveis in vivo, ex vivo e in vitro... indicam coerentemente que o BPB atende à definição da OMS de desregulação endócrina que é atualmente usada para fins regulatórios".
A moram de história é que o rótulo “livre de BPA” não garante que o plástico em questão esteja livre de desreguladores endócrinos. Provavelmente, eles simplesmente substituíram o BPA por um dos outros bisfenóis, que provavelmente têm efeitos semelhantes na desregulação endócrina.
Coca-Cola é nomeada a "marca mais poluente"
Até o início dos anos 80, a Coca-Cola ainda era vendida em garrafas de vidro, pelas quais o cliente pagava um depósito. A pessoa recebia seu depósito de volta quando devolvia as garrafas vazias.
Ao trocar para garrafas de plástico que não exigiam depósito nem devolução, a Coca-Cola terceirizou o problema e os custos da poluição para consumidores e contribuintes. Conforme relatado em um artigo de outubro de 2019 no Intercept:
"Pelo segundo ano consecutivo, a Coca-Cola Co. foi considerada a marca mais poluente de todas por uma auditoria global sobre lixo plástico conduzida pelo movimento global Break Free From Plastic (em tradução livre, "Liberte-se dos plásticos"). A gigante dos refrigerantes foi responsável por mais lixo plástico do que os três maiores poluidores seguintes juntos…
Depois da Coca-Cola, as empresas que mais contribuem para a poluição plástica segundo a auditoria são: Nestlé, PepsiCo, Mondelez International — fornecedora de marcas de salgadinhos como Oreo, Ritz, Nabisco e Nutter Butter — e Unilever…
A Coca-Cola foi a principal fonte de plástico na África e na Europa e a segunda maior fonte na Ásia e na América do Sul. Na América do Norte, a empresa responsável pelo maior número de plásticos encontrados nas limpezas foi a Nestlé, seguida pela Solo Cup Company... e Starbucks. A Coca-Cola ficou em quinto lugar entre as empresas responsáveis por resíduos de plástico na América do Norte."
Coca-Cola enfraquece os esforços de reciclagem
Em resposta ao relatório Break Free From Plastic, a Coca-Cola afirma que está “trabalhando para resolver esse importante problema global, tanto para ajudar a impedir que os resíduos plásticos entrem em nossos oceanos quanto para ajudar a limpar a poluição existente" e que está "investindo localmente em todos os mercados para aumentar a recuperação de nossas garrafas e latas…"
A Coca-Cola também diz que está investindo em novas tecnologias de redução de lixo, como "tecnologias aprimoradas de reciclagem que nos permitem reciclar plástico PET de baixa qualidade".
No entanto, embora a Coca-Cola tenta se esforçado para desenvolver e manter uma imagem ecológica, com promessas de reduzir o lixo plástico e melhorar a reciclagem, o comportamento da empresa no mundo real sugere que essas promessas são praticamente vãs.
É importante ressaltar que a empresa foi pega, repetidas vezes, atuando contra os esforços para reduzir a poluição por plásticos. Foi até pega enfraquecendo os esforços de reciclagem. Conforme relatado pelo Intercept em 18 de outubro de 2019:
“O audio de uma reunião de líderes da reciclagem... revela como a filantropia "verde" da gigante do refrigerante ajudou a reprimir o que poderia ter sido uma ferramenta importante no combate à crise plástica — e revela as táticas que as empresas de bebidas e plásticos vêm utilizando discretamente há décadas, por debaixo dos panos, para evitar a responsabilidade pelo lixo que produzem... Uma possível saída para aumentar as taxas de reciclagem (depósito para recipientes de bebidas) estava fora de cogitação."
Leis sobre depósitos para recipientes de bebida melhoram as taxas de reciclagem
As leis de depósito para recipientes de bebida, são basicamente um retorno às práticas do passado: as empresas precisam adicionar uma taxa às bebidas, que é reembolsada quando a garrafa é devolvida. De acordo com o Intercept:
“Os estados que adotam essa prática reciclam cerca de 60% de suas garrafas e latas, contra 24% em outros estados. E os estados que aderem à prática também têm em média 40% menos lixo provenientes de bebidas no litoral, de acordo com um estudo de 2018 nos EUA e na Austrália..."
No entanto, esses tipos de política também colocam uma parte da responsabilidade e do custo da reciclagem nas empresas que vendem as garrafas. Sem dúvida, é por isso que a Coca-Cola e outros fabricantes de bebidas continuam combatendo essas políticas sempre que estas surgem.
Assim, embora a Coca-Cola prometa melhorar a reciclagem e ajudar a reduzir o lixo plástico, continua trabalhando na direção oposta, usando plástico virgem (os chamados nurdles, que são um importante poluente plástico) na fabricação de garrafas em vez de materiais reciclados e combatendo toda e qualquer legislação que possa forçá-la a compensar seu ato ou pagar um preço.
Como reduzir sua exposição ao plástico
Pode ser extraordinariamente difícil evitar o plástico e provavelmente não é possível evitar toda a exposição, considerando que as rotas de exposição incluem o ar, a poeira, água, alimentos, garrafas e embalagens de alimentos, e inúmeros materiais domésticos. Até os recibos de caixa são uma fonte de BPA, que pode entrar na corrente sanguínea através da pele.
No entanto, você certamente pode minimizar sua exposição tomando algumas precauções com bom senso. Uma estratégia básica é optar por produtos vendidos em recipientes de vidro em vez de plástico sempre que possível. Outra é procurar alternativas sem plástico para itens comuns, como brinquedos e escovas de dente. Outras sugestões oferecidas pelo Consumer Reports incluem:
- Beba água filtrada em vez de água mineral — a água em garrafa de plástico tende a ter quantidades muito mais altas de detritos plásticos do que a água da torneira. Recomendo filtrar a água da torneira, não apenas para eliminar possíveis detritos plásticos, mas também para evitar muitas das substâncias químicas e metais pesados poluentes encontrados na maioria dos abastecimentos de água.
- Evite reaquecer alimentos em recipientes de plástico — em vez disso, aqueça a comida numa panela no fogão, numa panela que possa ir ao forno ou em um recipiente de vidro se estiver usando um micro-ondas.
- Armazene os alimentos em vidro e não em plástico — o Consumer Reports adverte especificamente contra o uso de recipientes plásticos marcados com os códigos de reciclagem 3, 6 e 7, pois contêm ftalatos, estireno e bisfenóis.
- Troque os alimentos processados por alimentos frescos — a maioria dos invólucros e embalagens de alimentos, incluindo latas, contém plástico.
- Aspire o pó regularmente — substâncias plásticas e micro plásticos são encontrados na maioria da poeira doméstica e podem acabar sendo digeridos ou inalados. Portanto, é recomendável manter sua casa o mais livre de poeira possível, especialmente se você tiver crianças pequenas que passam muito tempo no chão. Idealmente, use um aspirador equipado com um filtro HEPA.