Por Dr. Mercola
Sua idade biológica pode dar uma boa pista sobre a sua longevidade, muito mais do que a sua idade cronológica. Sua idade biológica refere-se ao estado das suas células — elas podem ser mais jovens ou mais velhas do que a sua idade cronológica, o que significa que você está envelhecendo mais devagar ou mais rápido do que o esperado.
As exposições ambientais têm muito a ver com o envelhecimento biológico ou celular e, de acordo com um estudo de dezembro de 2019 publicado no Journals of Gerontology, o chumbo, o mercúrio e o ácido perfluorooctanossulfônico (PFOS) são as três toxinas que mais demonstram impacto na sua expectativa de vida.
Embora o glifosato não tenha sido incluído nesse estudo, meu palpite é que ele provavelmente seja um dos principais candidatos, considerando que ele perturba as funções normais do corpo, especialmente do intestino, e parece aumentar os efeitos prejudiciais de outras toxinas.
De acordo com Stephanie Seneff, Ph.D., cientista pesquisadora do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o glifosato piora praticamente todas as doenças modernas o que, é claro, encurta sua vida. Dito isto, o chumbo, o mercúrio e os PFOS foram repetidamente identificados por contribuírem para problemas crônicos de saúde e certamente estão entre as toxinas mais difundidas e preocupantes que existem no mercado.
Os perigos do chumbo já são bem conhecidos
Como era de se esperar, o estudo de dezembro de 2019 descobriu que "em pessoas que sofriam de doenças crônicas, a idade biológica era elevada em relação à idade real", enquanto aquelas que participaram de um programa de bem-estar mostravam sinais de um envelhecimento lento.
"Essa observação sugere que o envelhecimento biológico é modificável", observam os pesquisadores, e que diminuir a taxa de envelhecimento biológico é "um sinal de envelhecimento saudável". Fortes preditores da idade biológica incluem a medição da saúde metabólica, da inflamação e do acúmulo de toxinas, sendo o chumbo, o mercúrio e os PFOS os preditores de maior influência.
No artigo “The Heroes Who Sunk Lead”, eu falo da história do chumbo e seu impacto na função dos órgãos, especialmente o cérebro. É importante ressaltar que não existe uma exposição segura conhecida ao chumbo, o que geralmente afeta mais as crianças mais jovens e os grupos socioeconômicos mais baixos.
Estudos epidemiológicos revelaram que as crianças afro-americanas têm uma maior incidência de intoxicação por chumbo, possivelmente por uma forma ligeiramente diferente de metabolizar o metal pesado.
O chumbo e o cálcio são quimicamente muito semelhantes, o que torna o chumbo seu concorrente a nível celular e perturba muitos sistemas corporais diferentes. No sistema neurológico, isso pode perturbar os neurônios que usam o cálcio para transmitir informações.
A presença do chumbo faz com que alguns neurônios se disparem mais e diminui os sinais de outros. Isso pode alterar o desenvolvimento neurológico no cérebro das crianças que absorveram chumbo através de seu ambiente.
A exposição ao chumbo continua sendo uma preocupação
Acabar com a gasolina com chumbo não foi suficiente para eliminar toda a exposição ao metal pesado. Conforme observado em um artigo de 26 de junho de 2019 no Guardian, "centenas de milhares de crianças nos EUA permanecem em risco de exposição ao chumbo, o que causa déficits cognitivos e comportamentais".
Dos 31 estados norte-americanos que relataram estatísticas sobre a porcentagem de crianças com níveis elevados de chumbo, Louisiana e Kentucky estão entre os piores. O Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos EUA estima que 24 milhões de residências construídas antes de 1978 no país ainda apresentem riscos relacionados ao chumbo, e, em junho de 2019, foram anunciados US$ 330 milhões em subsídios para remover o chumbo e outros riscos à segurança nas comunidades de baixa renda.
Um estudo de 2017 também observou que muitas crianças com níveis elevados de chumbo permanecem sem diagnóstico. Acredita-se que tenha havido cerca de 1,2 milhão de casos de níveis elevados de chumbo no sangue entre 1999 e 2010, mas apenas 606.709 foram relatados aos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA durante esse período, sugerindo uma considerável subnotificação.
Segundo os autores, “com base nas melhores estimativas disponíveis, a subestimação dos níveis sanguíneos de chumbo por parte dos pediatras parece ser endêmica em muitos estados". De fato, muitos pediatras provavelmente ignoram fatores como a exposição ao chumbo quando se deparam com crianças com problemas neurológicos. Isso é uma vergonha, pois a condição da criança certamente continuará regredindo, a menos que se trate o acúmulo de chumbo, reduzido-o através de um programa completo de desintoxicação.
Estratégias para evitar a intoxicação por chumbo
A prevenção da intoxicação por chumbo é uma questão de urgência, quer tenha crianças pequenas em casa ou não. A Harvard Medical School oferece as seguintes sugestões para proteger você e sua família contra a exposição ao chumbo:
- Sua casa foi construída antes de 1978? Em caso afirmativo, inspecione-a para determinar se há alguma tinta com chumbo
- A remoção da tinta com chumbo deve ser feita por um profissional qualificado para garantir a segurança. Seu pó é altamente tóxico. Para mais informações, consulte a página “Lead-Based Paint Activities Professionals” da Agência de Proteção Ambiental dos EUA
- Teste a presença de chumbo na sua água
- Lembre-se de que certos objetos domésticos podem conter chumbo. Para mais informações sobre produtos que contêm chumbo e sua recolha, consulte o site da Comissão de Segurança de Produtos de Consumo dos EUA
- Teste os níveis de chumbo de seus filhos. O ideal é fazer esse exame em todas as crianças de 1 e 2 anos, repetindo aos 3 e 4 anos, se você mora numa casa mais antiga. Também é recomendável repetir o exame em seus filhos sempre que houver uma preocupação com a exposição. Resultados de 5 mcg/dL ou superior são considerados perigosos
Os perigos de mercúrio
Em se tratando do mercúrio, as duas fontes mais predominantes são o amálgama dental e os frutos do mar. O amálgama emite vapor de mercúrio mesmo depois de implantado no corpo. Esse mercúrio é bioacumulativo e também atravessa a placenta, acumulando-se nos fetos. O mercúrio presente no amálgama dental é um risco para a saúde, especialmente para crianças, fetos, lactentes e pessoas com insuficiência renal.
A amálgama dental à base de mercúrio também polui a água através dos resíduos das clínicas odontológicas e dos dejetos humanos; polui o ar através da cremação, de emissões das clínicas odontológicas, da incineração de logo e da respiração; e polui a terra através de aterros, enterros e fertilizantes. Uma vez no ambiente, o mercúrio se converte em sua forma ainda mais tóxica: o metilmercúrio e se torna uma importante fonte de mercúrio nos peixes consumidos pelas pessoas.
Há vários anos, trabalho com Charlie Brown e a Consumers for Dental Choice para acabar com uso de amálgama nos EUA e no mundo. A partir de 1º de julho de 2018, a Europa abriu o caminho para a mudança global ao proibir o uso de restaurações de amálgama em grávidas, lactantes e crianças com menos de 15 anos.
Nos EUA, a Food and Drug Administration tem se demorado, mas finalmente está dando sinais de movimento. Em 13 de novembro de 2019, um painel consultivo se reuniu para revisar a ciência relacionada ao mercúrio. A Consumers for Dental Choice levou vários oradores talentosos para contribuir.
O comitê científico, por consenso, pediu que a FDA desse fim a seu silêncio sobre o amálgama e começasse a distribuir informações sobre os riscos do amálgama para os pacientes americanos, especialmente para as populações mais vulneráveis.
A questão agora é se a agência continuará protegendo o amálgama às custas da saúde pública — o que vem fazendo há décadas —, ignorando as conclusões de seu próprio corpo científico. Para saber mais sobre o assunto e descobrir como enviar um comentário público ao FDA, consulte o artigo "Dentists Are Breaking Toxic Mercury Laws".
Evite o amálgama a todo custo
Independentemente da decisão do FDA, é de vital importância evitar o amálgama se você quiser proteger sua saúde e a de seus filhos. Aqui estão algumas dicas e orientações gerais:
1. Encontre outro plano de saúde que arque com as restaurações isentas de mercúrio em todos os dentes, sem exceções ou cláusulas.
2. Se o seu dentista ainda estiver fazendo uso de mercúrio em sua clínica — mesmo que também ofereça opções sem mercúrio — procure um dentista que ofereça apenas restaurações sem mercúrio para todos os pacientes. E não se esqueça de informar ao seu dentista o motivo de escolher outro profissional.
Isso porque os dentistas que ainda usam amálgama acabam o usando em pessoas que raramente têm outra opção, seja porque não podem pagar a diferença ou porque seu benefício determina que só podem receber obturações de mercúrio.
Essa prática injusta precisa ter fim, e quanto mais rápido conseguirmos que todos os dentistas ofereçam tratamentos 100% isentos de mercúrio, mais cedo esses programas serão forçados a mudar. Portanto, escolher um dentista que ofereça tratamentos 100% livres de mercúrio é uma opção altruísta da sua parte, que ajudará aqueles cuja voz muitas vezes é ignorada.
3. Se você tiver obturações de mercúrio, procure um dentista holístico, especializado na remoção segura do amálgama. Para mais informações e orientações, consulte o artigo "How to Find a Biological Dentist That Can Treat You Holistically".
A contaminação por PFOS é generalizada
As substâncias per e polifluoroalquil (PFAS) são produtos químicos amplamente utilizados para tornar outros materiais resistentes à água, óleo, graxa e manchas. Eles também são usados na espuma dos extintores. O ácido perfluorooctanóico (PFOA) é comumente encontrado nas panelas antiaderentes mais antigas.
O PFOA e seu primo PFOS estão associados a uma ampla variedade de problemas de saúde, incluindo câncer, disfunção imunológica e da tireoide, baixo peso ao nascer e mais. Para piorar a situação, esses produtos químicos levam milhares de anos para se decompor e são encontrados nos lençóis freáticos de todo o país. Como tal, são uma importante ameaça ambiental.
Uma pesquisa dos Centros para Controle e Prevenção de Doenças nos EUA, publicada em 2007, encontrou PFAS no sangue de mais de 98% dos americanos examinados. O PFOS começou a ser eliminado gradualmente a partir dos anos 2000. No entanto, graças à sua persistência no meio ambiente, a substância continua aparecendo nos lugares mais inusitados — incluindo os alimentos.
Como eles vão parar na sua comida? Uma das formas é através do lodo de esgoto aplicado em terras agrícolas. Documentos obtidos pelo Intercept revelam 44 amostras de lodo de esgoto testadas pelo Departamento de Proteção Ambiental do Maine, todas contendo pelo menos uma substância química PFAS.
Outra forma se dá através das embalagens de alimentos antiaderentes. Pesquisas publicadas em 2017 revelaram que 33% dos invólucros e embalagens de fast food contêm flúor, o que sugere que substâncias perfluoradas (PFCs) foram usadas para conferir uma superfície lisa ao papel, e estudos anteriores confirmaram que as substâncias fluoradas podem migrar da embalagem para os alimentos.
Mais recentemente, testes de alimentos realizados pelo FDA (em 2017 como parte do Total Diet Study e apresentados na reunião de 2019 da Sociedade de Toxicologia e Química Ambiental) revelam que as substâncias PFAS estão presentes no suprimento de alimentos dos EUA e em níveis muito superiores ao limite aconselhado para PFOA e PFAS na água potável (atualmente não há limites estabelecidos para os alimentos).
Dos 91 alimentos testados em busca de 16 tipos de PFAS, 10 foram encontrados, conforme relatado pela PBS:
“O PFOS, uma forma mais antiga de PFAS que não é mais fabricada nos EUA, apresentou níveis que variam de 134 partes por trilhão a 865 partes por trilhão em tilápia, frango, peru, carne bovina, bacalhau, salmão, camarão, cordeiro, peixe-gato e salsicha".
Viva mais tempo diminuindo sua idade biológica
Se você estiver interessado em viver saudável por mais tempo, diminuir ao máximo a exposição a toxinas é um fator crucial, e as três toxinas analisadas aqui — chumbo, mercúrio e PFOS — parecem ter o maior impacto no envelhecimento biológico. Dito isso, outros fatores básicos da vida, como a alimentação, não podem ser esquecidos.
Como demonstrado no estudo apresentado no Journals of Gerontology, fatores como a hemoglobina glicada ou HbA1c também desempenham um papel importante. Uma elevação da HbA1c pode indicar resistência à insulina e diabetes tipo 2, os quais afetam enormemente a saúde e a longevidade.
A resistência à insulina está no cerne da maioria das doenças crônicas e, quando se transforma em diabetes, você fica vulnerável a uma série de complicações, incluindo um aumento no risco de doenças cardíacas e Alzheimer. Portanto, além de evitar as substâncias tóxicas e os metais pesados, você também deve evitar alimentos ricos em açúcar e substancias sintéticas.
Isso significa trocar os alimentos processados e a maioria das comidas de restaurante por alimentos caseiros, idealmente orgânicos. Você também pode melhorar sua sensibilidade à insulina com treinos de resistência (o treino com restrição do fluxo sanguíneo é especialmente eficaz) e restringindo sua janela de alimentação.