Por Dr. Mercola
Talvez você conheça a gordura visceral por outro nome — a gordura da barriga. Na verdade, ela é chamada por vários nomes, como "barriga de cerveja" e "propagação da meia-idade". Embora muitos a vejam como um problema de estética, o peso extra no meio do seu corpo pode causar efeitos significativos na sua saúde física, inclusive na saúde cerebral.
Temos dois tipos básicos de gordura. A gordura subcutânea é encontrada logo abaixo da pele, e é do tipo que balança e forma covinhas. A gordura visceral é encontrada sob os músculos abdominais, envolvendo seus órgãos internos. Esse tipo de gordura é mais perigoso, pois está associado à produção de citocinas inflamatórias e é considerado biologicamente ativo.
A gordura visceral também aumenta a resistência à insulina e os riscos de síndrome metabólica. Além disso, ela influi no desenvolvimento da diabetes tipo 2, doenças cardíacas, câncer de mama, câncer colorretal e mal de Alzheimer.
Embora muitos consideram o índice de massa corporal (IMC) como um indicador para saber se estão nas categorias acima do peso ou obesidade, o melhor indicador para uma boa saúde é a medida da sua cintura em conjunto com a sua relação cintura-quadril.
Essas medidas da gordura visceral ajudam a avaliar os possíveis riscos de doenças crônicas, ou até de morte. Os locais onde as gorduras se depositam no seu corpo causam impactos distintos na sua saúde. Depósitos de gordura nos quadris e coxas resultam em um corpo com formato de pera, com riscos de doenças crônicas menores do que depósitos de gordura no abdômen, que é descrito como um formato de maçã.
A gordura visceral está associada à demência
Um dos primeiros estudos nos quais os pesquisadores avaliaram a associação entre a gordura da barriga e a demência foi publicado em 2008. Nele foi conduzida uma análise em 6.583 pessoas do norte da Califórnia. Suas medidas abdominais foram registradas e, 36 anos depois, os pesquisadores avaliaram o registro de diagnósticos de demência entre os participantes.
Ao todo, 15,9% foram diagnosticados com demência. Os pesquisadores compararam os indivíduos com as menores circunferências abdominais com aqueles com as maiores circunferências, e descobriram que estes últimos tinham riscos três vezes maiores de desenvolver demência.
Na última década, os termos "obesidade metabólica do peso normal", "gordura magra" e "obesidade do peso normal" foram utilizados para descrever indivíduos que possuem IMCs normais, mas apresentam características metabólicas de pessoas obesas. Estes indivíduos possuem um excesso de gordura na barriga.
Um dos riscos associados a altos valores da relação cintura-quadril, até mesmo quando o peso está normal, é o declínio das funções cognitivas. Mas nem todos os estudos produzem resultados diretos vinculando as duas condições. Em um estudo transversal de autópsia, os pesquisadores avaliaram 234 participantes com gordura abdominal visceral medidas por autópsia.
Eles procuraram por associações entre a gordura visceral e os problemas cognitivos definidos pela demência clínica. Mas o que eles descobriram é que aqueles com maiores quantidades de obesidade central têm riscos menores de desenvolver demência em idades posteriores.
Como os autores de outros estudos haviam encontrado uma relação entre a obesidade e problemas cognitivos, os pesquisadores esperavam descobertas na mesma linha, já que as medidas foram feitas na mesma época, e as amostras foram principalmente de adultos mais velhos. Em estudos mais antigos, os cientistas demonstraram uma relação entre a obesidade e maiores riscos de declínio da função cognitiva, mas quando as medidas são tiradas em idades mais avançadas, os resultados são contraditórios.
Os pesquisadores relataram vários estudos que utilizaram uma medida direta da gordura abdominal visceral e demonstraram a mesma relação descoberta neste estudo. Em um deles, uma redução considerável no IMC em idades avançadas aumentou em 118% os riscos de desenvolvimento de demência nos três anos seguintes.
Estudo descobre uma maneira pela qual a gordura visceral afeta a cognição
Só saber que a relação existe não é o bastante. Os cientistas também querem saber o que ocorre a nível molecular. Pesquisadores da Universidade de Augusta publicaram recentemente um estudo que mostrou, pela primeira vez, uma via que a gordura visceral pode utilizar para danificar as células cerebrais.
O efeito influencia a microglia, que são as células imunológicas do cérebro, a mudar de comportamento e causar danos funcionais aos neurônios. Os resultados são importantes, como um dos pesquisadores comentou em um comunicado de imprensa da Universidade:
"Nós fomos além das correlações dizendo que 'tem muita gordura visceral aqui, e está ocorrendo declínio cognitivo, então um deve ter relação com o outro'. Identificamos um sinal específico que é gerado na gordura visceral e liberado no sangue que passa pela barreira hematoencefálica para o interior do cérebro, onde ativa a microglia e causa problemas de cognição."
O sinal é uma proteína pró-inflamatória chamada interleucina 1 beta, que não costuma entrar no cérebro. No entanto, a gordura visceral "gera altos níveis crônicos do sinal que, por sua vez, ativa em demasia a normalmente defensiva microglia, que são as células imunológicas que residem no cérebro". A pesquisa demonstrou que estas reações são problemáticas e ofereceu evidências de como elas causam problemas.
Utilizando um modelo animal, os pesquisadores estudaram seus efeitos sobre a função cognitiva e a inflamação. Estas descobertas ajudam a montar o quebra-cabeça de como a interleucina 1 beta pode afetar as ações no sistema nervoso central.
Gordura no estômago afeta a saúde mental
O tecido adiposo visceral também está ligado à doenças mentais, como a depressão e a ansiedade. Em um estudo realizado em mulher na pós-menopausa, aquelas com obesidade abdominal tinham mais chances de sofrer depressão do que as não obesas. Isso levou os pesquisadores a concluir que "o acúmulo de gordura visceral é um fator independente e positivo significativamente associado à presença de sintomas depressivos".
Homens também sofrem maiores riscos de depressão se tiverem obesidade abdominal, como foi demonstrado em um estudo de 2.502 homens e mulheres. Os pesquisadores mediram os níveis de leptina e gordura visceral dos participantes, e utilizaram ou uma escala de avaliação, ou a prescrição de antidepressivos para medir a depressão. Eles descobriram que níveis mais altos de leptina aumentam os riscos de depressão em homens, levando-os a concluir:
"Em homens mais velhos, o alto nível de leptina foi associado a um aumento no aparecimento de sintomas depressivos, principalmente na presença de obesidade abdominal, sugerindo que a resistência à leptina pode influenciar na relação.
Diferenças nos níveis de gordura visceral e consequências metabólicas podem explicar a abstinência desta associação em mulheres. Estas descobertas sugerem uma possível relação biológica entre a depressão, a obesidade e a associação conjunta das duas causando impactos negativos à saúde."
A relação entre a obesidade abdominal e a depressão pode estar relacionada à resposta inflamatória que ativa os gatilhos da gordura. A inflamação está associada à depressão, como já foi demonstrado em vários estudos. Uma uma revisão bibliográfica de 30 estudos com 1.610 participantes, os pesquisadores descobriram que agentes anti-inflamatórios reduzem os sintomas da depressão quando comparados a um placebo.
Estes resultados sustentam outras evidências de uma relação entre a inflamação e a depressão. Infelizmente, exames de saúde mental podem ignorar este fator.
Avalie seus riscos através da relação cintura-quadril
Como demonstrado neste pequeno vídeo, a relação cintura-quadril é um indicador mais confiável dos futuros riscos de doenças crônicas, cardíacas e mentais. Uma relação de valor mais alto sugere um maior acúmulo de gordura visceral ao redor dos órgãos abdominais, o que é muito mais prejudicial para a saúde do que a gordura subcutânea localizada diretamente sob a pele.
Para determinar sua relação cintura-quadril, é preciso medir ambas as regiões. Comece medindo sua cintura utilizando uma fita métrica retrátil ou de costura. Encontre sua cintura, que é o ponto médio entre a última costela e a crista ilíaca. A crista ilíaca são os ossos da parte da frente do abdômen, como mostrado no vídeo.
Meça a região do meio, sem apertar a fita para ficar com medida menor. Faça mais de uma medida, descansando por 30 segundos entre cada uma delas, para permitir que sua pele e tecido subcutâneo voltem ao normal. Mas certifique-se de realizar todas as medidas no mesmo lugar. Utilizando apenas a circunferência da sua cintura, suas categorias de risco são:
Categoria de risco |
Feminino |
Masculino |
Muito baixo |
< 70 cm |
< 80 cm |
Baixo |
70 - 89 cm |
80 - 99 cm |
Alto |
90 - 109 cm |
100 - 120 cm |
Muito alto |
> 110 cm |
> 120 cm |
O quadril é medido na parte mais larga das suas nádegas, novamente sem apertar demais a fita, e medindo pelo menos duas vezes para garantir um valor mais preciso. Para descobrir sua relação cintura-quadril, divida a medida da cintura pela medida do quadril. Estas são as normas para a relação cintura-quadril:
Relação cintura-quadril |
Homens |
Mulheres |
Ideal |
0.8 |
0.7 |
Baixo risco |
<0.95 |
<0.8 |
Risco moderado |
0,96 - 0,99 |
0,81 - 0,84 |
Alto risco |
> 1,0 |
> 0,85 |
Maneiras de tratar a gordura da barriga
Como escrevi em outros artigos, praticar exercícios de gordura localizada não queimará a gordura subcutânea ou abdominal. Talvez fortaleça seus músculos do core, mas eles ainda ficarão escondidos sob a gordura subcutânea. As pessoas utilizam o termo "gordura localizada" para se referir à ideia de que é possível afetar as camadas de gordura de uma região do corpo através do exercício dos músculos da tal região.
A gordura visceral é mais perigosa que a gordura subcutânea, mas também é mais fácil de ganhar e de perder. Além de praticar um jejum intermitente e se alimentar com uma dieta cetogênica para auxiliar sua saúde mitocondrial e seus esforços para perder peso, as estratégias a seguir também podem ajudar a perder ambas as gorduras subcutânea e visceral:
• Redução do estresse — As glândulas adrenais estão localizadas no topo de cada um dos rins. O cortisol é um esteroide produzido por essas glândulas, e está relacionado dom sua reação de "luta ou fuga”.
Quando está sob estresse crônico, o cortisol aumenta a distribuição de gordura para sua região abdominal.
• Mantenha-se hidratado — Beber água pode ser uma das formas mais fáceis de reduzir o estresse físico e psicológico. Seu corpo é feito por mais de 60% de fluidos, e seus rins necessitam de fluidos para eliminar as toxinas do corpo. A desidratação afeta a liberação do cortisol e altera o metabolismo. É possível saber se está desidratado através da coloração da sua urina, que deve estar levemente amarelada.
• Sono de qualidade — Manter quantidades adequadas de sono de qualidade ajudar a controlar o estresse. A perda de sono poda alterar a produção de hormônios, incluindo o cortisol, aumentando a vulnerabilidade aos efeitos do estresse diário. A privação de sono pode causar um aumento no cortisol, causando o comprometimento do sistema imunológico, perturbação do metabolismo e problemas cognitivos.
• Controle do nível de insulina — Seu corpo produz insulina em resposta ao consumo de carboidratos, e trabalha junto com o cortisol para ajudar a regular os níveis glicêmicos. Ao reduzir o consumo de carboidratos, você reduzirá a secreção de insulina, podendo ajudar a reduzir o acúmulo de gordura visceral.
• Otimize a vitamina C — A vitamina C oferece resiliência contra o estresse e influi na estabilização da glicemia, o que contribui para a produção e liberação do cortisol. Ao consumir várias porções de vegetais e frutas por dia, você ajuda a manter seus níveis de vitamina C. Mas lembre-se, produtos frescos tendem a conter maiores concentrações de vitaminas.