Por Dr. Mercola
Cientistas de plantas da Purdue University em West Lafayette, Indiana, deram o próximo passo na descoberta de como os compostos encontrados em especiarias mediterrâneas, incluindo tomilho e orégano, podem ser desenvolvidos em produtos farmacêuticos, podendo ajudar a suprimir o desenvolvimento de tumores.
A pesquisa foi publicada em dezembro de 2021, na revista Proceedings of the National Academy of Sciences. Os pesquisadores analisaram os álcoois monoterpenos encontrados no tomilho, orégano e outras ervas da família Lamiaceae.
A grande parte dos membros da família são ervas anuais ou perenes com óleos voláteis perfumados. Outras ervas da família incluem alecrim, manjericão, catnip e sálvia. Segundo a American Cancer Society, especialistas estimam 1,9 milhão de novos casos em 2021 e 608.570 mortes no mesmo ano.
Muitos dos fatores de risco para o câncer são modificáveis. Isso significa que você possui controle sobre sua exposição a fatores de risco que podem aumentar seu potencial de desenvolver câncer. Os fatores de risco para o desenvolvimento de câncer incluem: má alimentação, inatividade física, consumo de álcool, excesso de peso corporal e fumar.
Pesquisadores do estudo em destaque, estavam interessados em identificar os compostos e determinar a biossíntese em tomilho, orégano e outras ervas da família Lamiaceae, que podem ter impacto na repressão do crescimento do tumor. A pesquisa segue estudos anteriores, onde demonstraram que ervas e especiarias possuem um papel na prevenção e tratamento do câncer.
Cientistas de plantas encontraram uma receita para composto de ervas
Os sabores distintos do orégano e do tomilho são de timol, carvacrol e timo hidroquinona. Timol é o extrato primário de tomilho. A erva é muito utilizada no chá, responsável no tratamento de resfriados e tosses, valorizada pelas propriedades secrolíticas, antiespasmódicas e antibacterianas. O orégano apresenta níveis mais elevadosde carvacrol. Os compostos são produzidos e estão na planta através de diversas etapas.
Cientistas ficaram intrigados com as propriedades anticancerígenas da timo hidroquinona. Em colaboração com duas outras universidades, eles conseguiram determinar como os precursores, timol e carvacrol, foram formados.
Pesquisadores determinaram que essas descobertas alteram dados anteriores de como os cientistas acreditavam que o timol e o carvacrol são formados. O estudo também identificou as enzimas envolvidas na produção dos monoterpenos, que podem fornecer novos alvos de pesquisa para terpenos de engenharia metabólica, considerados de grande importância para as plantas.
Determinado o caminho utilizado para desenvolver esses compostos, os cientistas agora acreditam que podem reproduzir seletivamente plantas para produzir quantidades mais elevadas, ou incorporar a produção em outros microrganismos, como leveduras. Utilizar esse método para colher os compostos, exigiria a fermentação. Para dar prosseguir para próxima etapa, a equipe garantiu uma doação de US$ 5 milhões da National Science Foundation.
Em outra pesquisa, os cientistas descobriram que a incidência geral de câncer é menor em países que utilizam dietas mediterrâneas, o que eles acreditam estar correlacionado com um risco reduzido. Alguns aspectos identificados da dieta responsáveis pela redução do risco são: maior consumo de frutas e hortaliças, e o consumo reduzido de carnes processadas.
Cientistas da Universidade de Purdue, procuraram identificar os compostos nas ervas mediterrâneas que poderiam suprimir o desenvolvimento de tumores e determinar como eles poderiam ser utilizados em tratamentos de medicamentos farmacêuticos. O estudo foi projetado para mapear a via biossintética molecular, ou "receita", e identificar as etapas que podem ser necessárias para reproduzir os compostos no laboratório.
Para identificar o caminho, os pesquisadores utilizaram o sequenciamento de RNA e rastrearam mais de 80.000 genes das amostras de plantas. Eles determinaram os genes que as plantas utilizaram para produzir a timo hidroquinona e, a partir dessa e de pesquisas anteriores, identificaram o mapeamento molecular. Uma das pesquisadoras, Natalia Dudareva, do departamento de química, comentou em um comunicado à imprensa:
“Essas plantas contêm compostos importantes, porém a quantidade é muito baixa e a extração não será suficiente. Ao entender como esses compostos são desenvolvidos, abrimos um caminho para a engenharia de plantas com níveis mais elevados ou para a síntese dos compostos em microrganismos para uso medicinal.
É um momento incrível para a ciência das plantas visto nos dias atuais. Nós temos ferramentas que são mais rápidas, baratas e fornecem muito mais dados. É como observar de perto o que de fato acontece; é quase inacreditável."
As ervas suprimem o crescimento e o desenvolvimento de tumores
A fitoterapia desempenha um papel importante em quase todas as áreas do mundo. Foi praticado em culturas antigas e viu um ressurgimento da popularidade na cultura ocidental. Produtos naturais isolados de ervas utilizadas na medicina chinesa, também demonstraram apoptose, supressão da angiogênese e retardo de metástase.
Um artigo revisou o potencial terapêutico de compostos isolados dessas ervas, incluindo flavonóides, terpenos e quinonas. Um dos terpenos, a artemisinina, derivada do absinto doce, mostrou ter um excelente potencial anticancerígeno.
Mais recentemente, esse composto demonstrou eficácia contra o SARS-CoV-2, o vírus responsável pelo COVID-19. Os medicamentos fitoterápicos chineses, também têm sido utilizados para suavizar os efeitos colaterais da quimioterapia. Uma revisão Cochrane da literatura, descobriu que apesar da baixa qualidade do estudo, os resultados sugeriram que as decocções de Huangqi, também conhecido como astrágalo, poderiam reduzir os efeitos colaterais da quimioterapia.
Dois artigos foram publicados em 2021, onde avaliaram o efeito que o carvacrol e o timol apresentavam contra células cancerígenas. Em uma revisão de literatura de estudos publicados de 2003 a 2021, os resultados revelaram que tanto o carvacrol quanto o timol, possuem atividade antitumoral e antiproliferativa.
Um segundo artigo, avaliou o efeito do carvacrol e do timol contra a leucemia mieloide aguda e encontrou uma combinação dos compostos, onde induziu a morte de células tumorais com baixa toxicidade para células normais.
Outro estudo realizado em laboratório publicado em 2020, descobriu que o timol e o carvacrol induziram a apoptose em células cancerígenas no ovário de maneira dependente do tempo e da dose. A combinação de monoterpenos também demonstrou propriedades antiproliferativas. A linhagem celular utilizada nesse estudo de laboratório foi mais sensível ao timol do que ao carvacrol.
Além da supressão do crescimento ou desenvolvimento de células tumorais, os efeitos anti-inflamatórios dos monoterpenos também podem ajudar a reduzir os riscos de câncer. A inflamação tem sido associada à progressão das células cancerígenas, portanto, direcionar a inflamação crônica pode ser uma estratégia eficaz na prevenção e tratamento.
Um artigo publicado no Frontiers in Pharmacology, detalhou as características farmacológicas do timol, incluindo propriedades anti-inflamatórias, antiespasmódicas, de eliminação de radicais livres e antitumorais e antifúngicas.
Alimentos processados causam câncer e morte prematura
A antítese de alimentos saudáveis e integrais, como ervas, são alimentos embalados altamente processados. Estudos têm demonstrado repetidamente que, quando pessoas trocam uma dieta de alimentos integrais para uma rica em alimentos processados (que contém farinhas refinadas, açúcar processado e óleos vegetais nocivos à saúde), o resultado inevitável é o surgimento de doenças.
A sociedade está se movendo em direção a alimentos processados, em vez de dos integrais, à medida que os fabricantes de alimentos investem mais dinheiro na publicidade do "sabor" e "conveniência" de seus produtos. Quase 80% disso é gasto na promoção de bebidas contendo excesso de açúcar, lanches não saudáveis e "fast food". A publicidade gasta em produtos alimentícios não saudáveis supera os US$ 1 bilhão gastos em promoção e prevenção da saúde para todas as doenças crônicas pelo CDC.
A dieta da maioria dos americanos consiste em 57,9% de alimentos ultraprocessados, produtos no extremo do espectro de alimentos processados, muito parecidos com o que você encontraria em um posto de gasolina ou loja de conveniência. O mundo desenvolvido em geral, consome quantidades significativas de alimentos processados, um aumento seguido por uma maior incidência de doenças crônicas.
Em 2013, estimou-se que até 40% do dinheiro investido em saúde nos EUA são gastos em doenças diretamente relacionadas ao consumo excessivo de açúcar. Esse fator quase aumentou nos 10 anos desde que essa estimativa foi observada. A diferença na quantidade de açúcar entre os alimentos ultra processados e minimamente processados é enorme.
Pesquisas demonstraram que 21,1% das calorias dos alimentos ultraprocessados são derivadas do açúcar, enquanto os alimentos não processados não contêm açúcar refinado ou adicionado. Em um estudo transversal realizado com 9.317 participantes, os pesquisadores concluíram que "Reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados pode ser uma forma eficaz na redução da ingestão excessiva de açúcares adicionados, nos EUA."
Um estudo acompanhou 44.000 pessoas durante 7 anos e descobriu que o consumo de alimentos ultraprocessados aumenta o risco de morte precoce. Essa proporção resistiu mesmo após a exclusão de fatores como tabagismo, obesidade e baixo nível educacional. Como esperado, o principal fator causador de morte prematura envolve as doenças crônicas como câncer e problemas cardíacos.
Como o estudo apresentado ilustra, sua dieta é crucial para determinar sua saúde e longevidade. Outro estudo de 2017 apoiou pesquisas anteriores, descobrindo que uma má alimentação está relacionada a um risco elevado de mortalidade cardiometabólica ou morte por doença cardíaca, acidente vascular cerebral ou diabetes tipo 2.
No meu ponto de vista, consumir uma dieta que consista em 90 de alimentos reais e 10 processados é um objetivo possível para a maioria das pessoas e pode trazer mudanças significativas no seu peso e saúde geral.
Ervas auxiliar no combate de vírus respiratórios, pressão alta, entre outros
A medicina tradicional à base de plantas também utilizou ervas para ajudar a normalizar a pressão arterial. A pressão arterial elevada aumenta o risco de ataque cardíaco, doença renal, perda de visão, acidente vascular cerebral e vasos sanguíneos danificados.
Uma equipe de pesquisa recrutou 63 pessoas, apresentando fatores de risco conhecidos para doenças cardíacas em um estudo de alimentação controlada. Pesquisadores mediram o efeito do consumo de níveis variados de ervas e especiarias na pressão arterial.
Entre as ervas e especiarias incluíam manjericão, tomilho, canela e açafrão. Eles descobriram que usar um pouco de tempero em sua comida estava associado a medições mais baixas de pressão arterial, após apenas 4 semanas. O Penny M. Kris-Etherton, professor de ciências nutricionais da Penn State Evan Pugh University, disse em um comunicado à imprensa:
“Acho significativo que os participantes tenham consumido uma dieta americana média ao longo do estudo e ainda conseguimos obter esses resultados. Não diminuímos o sódio, não aumentamos as frutas e vegetais, apenas adicionamos ervas e especiarias. A próxima pergunta é que, se alterássemos a dieta dessa forma, o quanto seriam melhores os resultados?”
Testado por conta própria, o tomilho também foi observado como sendo responsável na redução da pressão arterial. O tomilho também é um dos principais antivirais e ervas imunoestimulantes, em uma revisão das melhores ervas para resfriados, gripes e COVID-19.
Uma pesquisa publicada no início de 2021, investigou o uso do tomilho contra o COVID-19. Os pesquisadores envolveram 83 pacientes apresentando COVID-19. Eles forneceram aos participantes um questionário a respeito de seus sintomas, antes de receber o tomilho e uma semana depois. Após uma semana, os participantes que consumiram tomilho tiveram redução da febre, tontura, tosse, falta de ar, dor de cabeça, dores musculares, anorexia, fraqueza, dor na parede torácica e fadiga, sugerindo:
“A planta de tomilho, possuindo altas propriedades antioxidantes, fortalece o sistema imunológico e induz o efeito antiviral, podendo reduzir os sintomas do coronavírus; portanto, é recomendado para reduzir os sintomas do COVID-19.”
Câncer, doenças cardíacas, derrame, gripe e pneumonia estão entre as 10 principais causas de morte nos EUA, sendo o Timol e carvacrol, dois compostos encontrados no tomilho e orégano que podem apresentar um efeito positivo na pressão arterial, infecções virais e supressão de tumores e prevenção. As ervas possuem diversos componentes benéficos que funcionam de maneira sinérgica.
Como compostos biologicamente ativos encontrados em medicamentos, os compostos naturais encontrados em ervas podem interagir com produtos farmacêuticos. Isso pode representar algum risco quando os compostos são consumidos como extratos e os indivíduos também estão utilizando outros medicamentos ou compostos naturais.
Para melhores resultados, consulte um especialista em cuidados com a saúde natural, que pode orientá-lo sobre soluções fitoterápicas apropriadas para suas circunstâncias, uma vez que trabalhar com plantas pode ser complicado.