Por Dr. Mercola
A apneia do sono é um problema comum que afeta até 53% dos homens e 26% das mulheres. Apneia é uma palavra grega que significa "desejo de respirar". A apneia do sono é a incapacidade de respirar adequadamente, ou a limitação do fôlego ou respiração, durante o sono, podendo gerar graves consequências à saúde.
A apneia central refere-se à incapacidade de puxar o ar adequadamente, enquanto a apneia obstrutiva está relacionada ao fechamento da via aérea durante o sono, impedindo a respiração por períodos que podem durar vários segundos. A apneia mista é uma combinação das duas.
O ronco é um problema associado, causado pela restrição na via aérea originado na passagem de ar pela garganta ou nariz. O que causa o ronco são as vibrações do ar, que tenta passar pelo palato mole, úvula, língua, amígdalas e/ou músculos na parte posterior da garganta.
Não só essas interrupções na respiração interferem no sono, deixando você excepcionalmente cansado no dia seguinte, como também reduzem a quantidade de oxigênio no sangue, podendo prejudicar a função dos órgãos internos e/ou piorar outros problemas de saúde que você possa ter.
Isso inclui o declínio cognitivo e a demência, conforme mostrado em um novo estudo.
Apneia do sono pode acelerar a perda de memória e o mal de Alzheimer
Publicado no periódico Neurology, o estudo revelou que os pacientes com apneia do sono e/ou ronco foram diagnosticados com leve deficiência cognitiva mais de dez anos antes do que aqueles sem apneia do sono.
Em média, aqueles com apneia do sono não tratada começaram a sofrer deficiência cognitiva aos 77 anos, em comparação aos 90 anos daqueles sem problemas de respiração.
Os que utilizavam um aparelho CPAP para tratar a apneia do sono começaram a ter um declínio mental na mesma idade que aqueles que não tinham o problema.
O surgimento do mal de Alzheimer também foi mais rápido entre aqueles com apneia do sono não tratada. Eles foram diagnosticados, em média, cerca de cinco anos antes do que aqueles que dormiam bem. Segundo o coautor Dr. Andrew Varga:
"Este estudo soma-se ao novo relato de que a apneia do sono pode contribuir, de alguma forma, para a aceleração do declínio cognitivo à medida que você envelhece, e essa é talvez outra boa razão para obter uma avaliação e tratamento".
Os níveis reduzidos de oxigênio não são o único motivo por que a apneia do sono pode acelerar o declínio cognitivo. A falta de sono também estimula o Alzheimer ao evitar a desintoxicação essencial. Em resumo, o sistema de limpeza de resíduos do cérebro, conhecido como sistema glinfático, só funciona durante o sono profundo.
O sistema glinfático permite que seu cérebro elimine toxinas, inclusive proteínas nocivas (chamadas beta-amiloide), cujo acúmulo tem sido associado ao Alzheimer. Sem o sono adequado, os resíduos prejudiciais começam a se acumular no cérebro.
Não está dormindo bem? Verifique sua respiração...
Infelizmente, a apneia do sono geralmente não é diagnosticada e tratada. Conforme informado pela NBC News:
"A mensagem deve ser clara e firme para os médicos de família, clínicos gerais e ginecologistas-obstetras de que a apneia do sono deve ser examinada", concorda o Dr. Alon Avidan, professor de neurologia... e diretor do Centro de Distúrbios do Sono da UCLA.
"Infelizmente, a apneia do sono não dói como uma dor no peito. Ela não apresenta uma queixa específica. O paciente pode ficar com um pouco de sono ou confuso. As pessoas normalmente falham ao fazer a correlação de que o sono durante o dia pode estar associado ao sono interrompido à noite", acrescenta Avidan.
Então, quais as indicações de que você possa estar sofrendo com a apneia do sono? Um modo de descobrir é verificar as compensações de postura. É mais fácil pedir ao parceiro que observe como você fica deitado enquanto dorme.
À noite, seu corpo se mexe constantemente e tenta compensar para mantê-lo respirando. Um sinal de que você está tendo problemas para respirar é quando o seu corpo tenta compensar com uma postura de cabeça inclinada para frente durante o sono.
Quanto pior fica a apneia, mais pronunciada fica essa postura para frente, pois colocar a cabeça assim ajuda a compensar a falta de espaço atrás da parte posterior da língua.
Outra compensação comum que pode indicar a apneia do sono é a frequente tosse e movimentação à noite, pois quando você está deitado de costas, a gravidade puxa a mandíbula e a língua em direção à garganta, podendo obstruir a respiração.
O ronco também pode ser uma indicação de apneia do sono, assim como acordar com palpitações cardíacas e uma sensação de angústia, como se você estivesse se engasgando ou sendo sufocado.
Um teste simples para saber se você está respirando bem ou não é encostar as costas na parede, com os calcanhares, nádegas, omoplatas e cabeça tocando a parede.
Diga "Olá", engula e respire. Se você conseguir falar, engolir e respirar de modo fácil e confortável nesta posição, então sua boca e garganta estão bem. Se você não conseguir realizar essas três funções, sua respiração provavelmente está obstruída, podendo piorar ao deitar-se para dormir.
Outras dicas úteis
Existem também tecnologias disponíveis que podem ajudá-lo a saber se você tem um problema de respiração ou não, o que pode exigir uma consulta com um especialista. Por exemplo, você pode:
- Avaliar seu ronco com aplicativos de iPhone
- Gravar os sons do seu sono com o Audacity, um software gratuito disponível na Internet
- Medir os níveis de oxigênio no sangue com um oxímetro. Geralmente, se você tem apneia do sono, você terá uma queda no nível de oxigênio no sangue. Quando ele cai para um determinado nível, isso indica que você tem um problema
Opções de tratamento
Se você suspeita estar sofrendo de apneia do sono, o próximo passo é encontrar um especialista em sono. Vale a pena fazer seu tema sobre este assunto, uma vez que muitos não têm nada em seu kit de ferramentas além do tratamento convencional com um aparelho CPAP, que é nada mais do que um curativo.
O CPAP (sigla de "continuous positive airway pressure", ou pressão positiva contínua nas vias aéreas) é um aparelho que abre sua via aérea mecanicamente, usando a pressão aérea de modo que você possa respirar. Porém, embora ofereça alívio dos sintomas, ele de forma alguma trata a causa básica do problema.
Várias pessoas acham difícil usar, limpar e mantê-lo, sem falar que é preciso se acostumar a dormir com uma máscara presa ao rosto. Os companheiros de quarto também podem ser perturbados pelo barulho. Com isso, para a apneia do sono grave, o CPAP pode ser uma escolha inteligente, pelo menos para começar.
O ideal é que você encontre um especialista que possa ajudá-lo a tratar a apneia do sono em seu nível básico. A obesidade pode ser um fator colaborador significativo, mas não é o único. Uma causa cada vez mais comum hoje em dia está relacionada ao formato e tamanho da boca e ao posicionamento da língua.
A alimentação também é importante. O trabalho pioneiro do Dr. Weston Price mostrou como a alimentação pode afetar toda a sua boca, e não só os dentes.
Segundo o Dr. Arthur Strauss, dentista e diplomata do Conselho Americano de Odontologia do Sono, nossas bocas ficaram cada vez menores com o passar das gerações devido à falta de amamentação e à má nutrição.
A amamentação, na verdade, ajuda a ampliar o tamanho do palato da criança e a empurrar a mandíbula para frente, dois fatores que ajudam a evitar a apneia do sono, criando mais espaço para a respiração.
Se a apneia do sono estiver relacionada à posição da língua ou da mandíbula, dentistas especializados poderão elaborar um aparelho oral personalizado para tratar o problema. Entre eles estão dispositivos de reposicionamento mandibular, projetados para colocar sua mandíbula para frente. Outros ajudam a manter sua língua para frente sem movimentar a mandíbula.
A abordagem de aparelhos orais é reconhecida como parte do padrão de tratamento da apneia do sono desde 1995 aproximadamente, e os aparelhos são geralmente recomendados como a primeira linha de tratamento para a apneia do sono leve a moderada.
Uma fonte onde é possível encontrar especialistas de tratamento familiares com aparelhos orais é a Academia da Odontologia do Sono.
Como a terapia miofuncional orofacial pode melhorar a apneia do sono
O alívio para o problema também pode ser encontrado na forma de terapia miofuncional orofacial, uma forma de terapia para os músculos faciais que ajuda a "remodelar" a cavidade oral e promove o posicionamento correto da língua. Ele também trata a postura funcional e todos os músculos faciais, inclusive os músculos da cabeça e do pescoço.
O importante é que ele ensina você a respirar pelo nariz, repousando a língua contra o céu da boca.
Apertar ou ranger os dentes é um sinal comum que indica um distúrbio do sono e/ou a necessidade de treinar novamente os músculos orofaciais. Apertar os dentes é especificamente uma indicação de obstrução da via aérea superior. Seu corpo tenta compensar movimentando a mandíbula para ajudar a abrir a via aérea.
Ter os músculos orofaciais e do pescoço funcionando corretamente pode fazer uma enorme diferença neste caso. Em uma análise recente combinada de nove estudos com o total de 120 pacientes com apneia obstrutiva do sono, a terapia miofuncional reduziu a gravidade da apneia do sono em cerca de 50% em adultos, e 62% em crianças.
Outro estudo pediátrico recente revela por que tratar a língua é tão importante na resolução da apneia do sono. Conforme explicado neste estudo, ter um frênulo lingual estranhamente curto pode resultar em crescimento orofacial prejudicado na primeira infância, diminuindo a largura da via aérea superior.
A via aérea superior é muito flexível e isso aumenta o risco de fechamento durante o sono. Descobriu-se que as crianças com frênulo curto não tratado desenvolveram uma função anormal da língua no início da vida, o que causou impacto no crescimento orofacial e levou a distúrbios da respiração durante o sono.
Os pesquisadores sugerem que os pediatras e otorrinolaringologistas devem examinar sistematicamente o frênulo lingual nas crianças que apresentam dificuldades como problemas de sucção, impedimentos da fala, ronco ou outros problemas respiratórios.
Eles também observam que embora a frenectomia (remoção do freio) seja útil, ela é geralmente insuficiente para resolver todos os padrões anormais de respiração, e recomendam incorporar a terapia miofuncional orofacial após a cirurgia para restaurar a respiração nasal normal.
Para encontrar um terapeuta qualificado, consulte o site da Academia de Terapia Miofuncional Orofacial (Academy of Orofacial Myofunctional Therapy, AOMT).
Aprender a respirar corretamente (enquanto está acordado) também pode ser útil
O Método de respiração Buteyko — que ganhou este nome devido ao médico russo que desenvolveu a técnica — é outra abordagem avançada para reverter problemas de saúde associados à respiração incorreta, incluindo a apneia do sono. Depois de aprender a respirar continuamente pelo nariz em vez da boca, o volume respiratório voltará ao normal.
Isso permite o nível ideal de oxigenação dos tecidos e órgãos, inclusive do cérebro.
Quando se trata do modo como você respira, a alimentação pode exercer um papel novamente. Alimentos processados, que tendem a acidificar o sangue em uma tentativa de manter o pH normal, fazem você respirar com mais dificuldade e podem levar à hiperventilação crônica. (O motivo para isso é que uma das funções do dióxido de carbono, presente no sangue, é regular o pH.)
Além da água, frutas, verduras e legumes crus têm pouquíssimo impacto na sua respiração, seguido das verduras e legumes cozidos. Refeições processadas ricas em proteína e em grãos têm o maior efeito negativo possível no modo como você respira.
Entre as características típicas de hiperventilação estão respiração pela boca, respiração toráxica superior, suspiros, respiração perceptível durante o repouso e respiração profunda antes de falar. Se você reconhece algum desses sinais, sugiro dar uma olhada no método de respiração Buteyko, pois se você não está respirando corretamente enquanto está acordado, terá mais riscos de problemas de respiração ao dormir também.