Como os OGMs e o Glifosato Afetam a Biologia do Solo


Solo – OGM

Resumo da matéria -

  • O glifosato anula a síntese de aminoácidos, seguida da inibição da síntese de proteínas, necessárias para o crescimento da planta. Quando isso ocorre, a planta fica mais suscetível aos patógenos do solo
  • O glifosato atua também como um quelante de minerais, e minerais como zinco, cobre e manganês, atuam como fatores auxiliares em diversas enzimas. Essa supressão mineral expõe a planta a doenças
  • Quando os minerais se ligam ao glifosato na planta, eles não são disponibilizados ao seu corpo quando você come. Em vez disso, esses minerais são excretados ou armazenados no corpo juntamente com o glifosato

Por Dr. Mercola

Robert Kremer, Phd. e coautor do livro Principles in Weed Management (Princípios no controle de ervas daninhas), é um cientista do solo com certificação e professor de Microbiologia do Solo na Universidade de Missouri. Ele se aposentou recentemente do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), onde trabalhou como microbiologista por 32 anos.

Robert Kremer iniciou uma pesquisa em 1997 sobre safras geneticamente modificadas (GM), e, nesta entrevista, ele revela como as safras GM e o glifosato afetam a ecologia e biologia do solo.

Roundup causa acúmulo de patógenos nas raízes

Antes do surgimento das safras geneticamente modificadas (GM), seus projetos de pesquisa concentravam-se na interação de plantas e micro-organismos no solo. Sabia-se que um dos mecanismos de ação secundários do glifosato era que ele tinha a tendência de fazer com que a planta fosse infectada por patógenos oportunistas do solo.

Quando surgiram as primeiras plantas transgênicas por volta de 1996, a equipe de Kremer decidiu investigar se o uso do glifosato na soja geneticamente modificada poderia atrair determinados patógenos do solo, como o Fusarium.

Embora geralmente considerado um patógeno, várias espécies do gênero Fusarium podem ser benéficas ao meio ambiente, pois elas intermediam a decomposição de substâncias orgânicas no solo. Outras espécies são oportunistas e, se a planta apresentar as condições ideais, elas atacam-na e se tornam patogênicas (infecciosas) nessas circunstâncias.

O que eles descobriram foi que após a aplicação do Roundup (cujo ingrediente ativo é o glifosato), havia sempre o acúmulo de Fusarium nas raízes de soja e milho durante a temporada.

"Quando você vê aquela quantidade de Fusarium acumulada em uma raiz, você suspeita que exista um potencial para o desenvolvimento de doenças nas condições ideais", diz Kremer.

"Assim como com a soja e o milho, identificamos quatro ou cinco espécies principais. Descobrimos espécies patogênicas causadoras de doenças em apenas 10 a 20% das amostras de raízes que foram examinadas.

Uma é o agente causador da síndrome de morte súbita da soja, que faz com que ela definhe e a raiz apodreça, principalmente em condições de solo úmido.

Nossa conclusão principal foi que essas variedades de soja, devido à modificação genética e ao tratamento com glifosato, ofereciam um ambiente de solo bastante propício à proliferação do Fusarium, criando assim um bom potencial para o rápido desenvolvimento de doenças caso as condições fossem adequadas para que isso acontecesse.

Isso aconteceu porque o inóculo necessário para o avanço da doença já estava estabelecido nas raízes e pronto para infectar conforme permitido pelas condições, enquanto que a soja não transgênica não apresentou esse potencial de doenças".

Como o glifosato atrapalha o crescimento da planta

Conforme descrito por Kremer, o modo de ação principal do glifosato é a anulação da síntese de aminoácidos, seguida da inibição da síntese de proteínas, necessária para o crescimento da planta.

Um modo de ação complementar é que quando isso acontece, ele faz com que a planta fique mais suscetível aos micróbios (e patógenos) no solo.

A razão para isso é porque os aminoácidos também são blocos de construção de outros compostos que têm funções defensivas contra patógenos do solo — como o Fusarium. Consequentemente, a planta fica mais suscetível a ataques e infecções causados por vários micro-organismos do solo.

O glifosato atua também como um quelante de minerais, como zinco, cobre e manganês, que atuam como fatores auxiliares essenciais em diversas enzimas humanas e de plantas. A quelação ou remoção desses minerais das plantas é amplamente responsável por prejudicar a síntese de proteínas, já que as enzimas envolvidas na síntese exigem que os minerais funcionem.

Isso então expõe a planta a ataques.

O glifosato é sistêmico, e isso é parte do problema

Normalmente pensamos no glifosato como mais um herbicida que é aplicado de modo tópico, mas é importante perceber que uma das suas propriedades é que quando ele entra na planta, torna-se sistêmico e não pode ser removido com água como vários outros herbicidas.

Ele torna-se integrado a todas as células da planta, principalmente as células de desenvolvimento mais rápido. Conforme explicado por Kremer:

"Ele é transferido de um lugar para o outro em toda a planta, principalmente em direção aos pontos de crescimento da planta, o tecido meristemático, e um dos pontos de crescimento mais ativos da planta são as pontas jovens da raiz.

Grande parte do glifosato aplicado na planta entra nela. Ele vai até os meristemas e as sementes em desenvolvimento. Mas uma boa quantidade é transportada até as raízes, e grande parte dela entra na raiz, no solo...

Quando o glifosato é liberado ali...ele entra em contato com nutrientes que estão na solução do solo e realizam sua quelação ou imobilização, amarrando-os e tornando-os indisponíveis à planta.

Os nutrientes também são indisponibilizados aos micro-organismos benéficos presentes na rizosfera. Eles não conseguem obter esses micronutrientes. Você tem um efeito bidirecional aqui.Você tem um efeito na planta, já que ela não consegue obter esses nutrientes essenciais para intermediar as reações das enzimas, onde esses micronutrientes são necessários.

Além disso, os micro-organismos que têm enzimas para essas plantas, não conseguem realizar seu metabolismo também".

Depois de Ligados ao Glifosato, os Micronutrientes Também Ficam Indisponíveis ao Corpo

O interessante é que se você faz uma análise do tecido de uma planta GM procurando por micronutrientes, o teste pode revelar que existem quantidades suficientes de manganês e outros minerais presentes. No entanto, a análise do tecido não diz quanto desse manganês está atado e, portanto, indisponibilizado pelo glifosato na planta...

Além disso, se os minerais são ligados ao glifosato na planta, seu corpo não tem como dissociar essa ligação para disponibilizar os nutrientes quando você for comer. Em vez disso, esses minerais são simplesmente excretados de volta ou, o que é pior, armazenados no seu corpo juntamente com o glifosato.

Para piorar ainda mais, as fórmulas de glifosato, como o Roundup, são, de modo sinérgico, ainda mais tóxicas do que o próprio glifosato. Por exemplo, as substâncias químicas surfactantes prejudicam as membranas celulares da planta, facilitando bastante a absorção de outros produtos químicos, como o glifosato, e trazendo mais riscos.

Os Pontos Negativos das "Queimadas Agrícolas" do Glifosato no Plantio Direto

Alguns agricultores de plantio direto sustentável usam o Roundup no que chamamos de "queimadas agrícolas" na primavera para matar todas as ervas daninhas e a vegetação do campo antes de plantar. O plantio direto é uma prática bastante benéfica, já que o preparo do solo acaba com diversos micróbios benéficos do solo, principalmente as micorrizas, contribuindo para a enorme perda da camada superior do solo.

No entanto, a esterilização do solo desta maneira tem grandes desvantagens em longo prazo e, se o agricultor não tomar cuidado, o resultado pode ser uma colheita fracassada.

Conforme explicado por Kremer:

"A queimada é usada geralmente como um pré-tratamento do plantio direto. Quando isso acontece, a vegetação recebe uma descarga de atividade microbiana na área da raiz. É por isso que se recomenda aos agricultores que aguardem pelo menos 7 ou 10 dias para que essa descarga de micróbios patogênicos em potencial no solo atinja seu pico e morra.

Depois, você pode plantar sua cultura sem o risco de essa comunidade microbiana desequilibrada atacar as mudas do novo plantio. Isso é realmente um problema. Conheço alguns produtores que não esperam esse tempo. Eles plantam logo após a destruição e pagam por isso com o surgimento das safras mais tarde, pois isso realmente afeta seu crescimento inicial".

Isso é semelhante à aplicação clínica de um antibiótico para uma doença grave. Nesse caso, o glifosato não é aplicado para tratar uma doença; é apenas um processo agrícola. No entanto, ele está matando o microbioma do solo assim como um antibiótico mata o microbioma do seu intestino e tem praticamente os mesmos efeitos colaterais adversos.

Ele reduz a capacidade do solo de nutrir as plantas e de resistir a pestes.

A atividade residual, nos dois casos, pode durar bastante tempo, e não só alguns dias. É claro, o equilíbrio bacteriano começa a melhorar, mas ainda deixa a comunidade microbiana desequilibrada em alerta. E existem muitos componentes da comunidade microbiana que, na realidade, se desenvolvem com o glifosato. O Fusarium é um deles, e a maioria deles não é benéfica.

Logo em seguida, temos a morte progressiva da raiz na camada superior do solo ou temos esse crescimento anormal. Depois eles se perguntam por que estão tendo problemas na produção. O uso excessivo do glifosato em alguns desses sistemas perenes é um problema muito sério".

OGMs Levam ao Aumento de Herbicidas e Outros Produtos Químicos Agrícolas

Uma justificativa do setor de tecnologia química para promover e apoiar o uso de safras GM é que elas reduzem a necessidade de pesticidas. Na verdade, a resistência das ervas daninhas aos produtos químicos tem levado a um aumento contínuo do seu uso. Estima-se que 24 milhões de hectares de terras rurais sejam dominadas agora por ervas daninhas potentes e resistentes ao glifosato.

Embora os produtores façam uma rotação na plantação de milho e soja, a maioria deles cultiva versões Roundup Ready das duas safras. Em outras palavras, essas culturas toleram as aplicações de Roundup no controle das ervas daninhas. Portanto, mesmo que a safra mude, você tem uma aplicação contínua do Roundup ano após ano. Normalmente, isso é precedido pelo Roundup em um tratamento de queimada, e depois você tem a aplicação do Roundup durante a temporada, provavelmente mais de uma vez.

"Em vez de buscar safras diferentes que não fossem Roundup Ready, o pensamento era: 'Vamos modificar a safra para que ela resista a outros herbicidas capazes de matar as ervas daninhas resistentes ao Roundup'. Sim, teremos safras resistentes a pelo menos dois dos três herbicidas diferentes, inclusive o glifosato.

Os outros herbicidas podem ser o 2,4-ácido diclorofenóxiacético (2,4-D) e o dicamba. Eles servem para remover as ervas daninhas resistentes ao glifosato.Mas já sabemos que no 2,4-D e no dicamba, existem ervas daninhas que mostraram ser resistentes a essa classe de compostos também.

É só uma questão de tempo antes de essas ervas daninhas resistirem a talvez três herbicidas diferentes. Sabemos que existem algumas ervas daninhas que são resistentes a cinco herbicidas diferentes. O sinal de alerta de que isso acontecerá já foi dado", afirma Kremer.

Estão sendo usados também mais produtos químicos para controlar doenças associadas à soja e ao milho. Quando surgiu a primeira soja transgênica, a semente jamais havia sido tratada com inseticidas ou fungicidas. Agora, é impossível comprar a semente Roundup Ready sem que ela tenha sido tratada com pelo menos um inseticida e um fungicida para controlar as pestes previstas.

Portanto, os agricultores não podem mais comprar sementes "limpas"; e, com certeza, não da Monsanto. E esse coquetel de produtos químicos eventualmente acaba sendo transferido à planta e consumido por animais e seres humanos.

Para Regenerar o Solo, Precisamos de um Novo Sistema Agrícola

Segundo Kremer, depois de anos plantando milho e soja GM, vários agricultores começaram a perceber agora uma queda na produtividade — que, novamente, é exatamente o oposto do que é prometido pela Monsanto. E a razão dessa queda está ligada diretamente ao declínio da saúde do solo. Conforme observado por Kremer:

"O que aconteceu, principalmente no setor agrícola, é que com o uso do glifosato e das variedades [de plantas] transgênicas, e todos os fertilizantes químicos que estamos aplicando, diminuímos a matéria orgânica do solo, que é essencial para a sua saúde, pois afeta todas as propriedades do solo".

Como era de se esperar, o número de nutrientes, principalmente de micronutrientes, nos nossos alimentos também caiu. Como resultado dessas ramificações adversas, cada vez mais produtores estão prontos para mudar, e vários deles agora querem voltar a plantar safras não GM. Essa é certamente parte da solução, mas não toda ela.

O solo deve ser regenerado ativamente com os processos apropriados. Não basta apenas mudar para sementes não GM.O uso de culturas de cobertura é uma parte importante da solução, já que isso ajuda a acumular matéria orgânica no solo, dissolve compactações e permite melhor infiltração de água e ar abaixo da superfície do solo, ajudando no desenvolvimento dos micro-organismos benéficos.

Outro componente importante é a incorporação de um gerenciamento holístico de rebanhos.

"Acho que existem muitas oportunidades para isso", diz o Dr. Kremer. "Conheço alguns agricultores que já estão fazendo isso. E, se pudéssemos ter os animais na terra para processar esse material vegetativo e depositar a matéria orgânica por onde andam, isso seria muito bom para reavivar e corrigir o solo.

O maior problema é que temos essa separação dos vários tipos de agricultura.A maioria das operações de alimentação de animais em confinamento (CAFOs) ficam no oeste do país e mandamos todos os nossos grãos para lá. Estamos tirando os nutrientes daqui e eles têm essas pilhas enormes de esterco na região oeste [que precisariam estar no solo]...

Eu acho que está crescendo a demanda pela carne de animais que não foram alimentados com safras GM, e acredito que vamos ver mais processadores locais e talvez operações de alimentação locais onde temos gado e porcos alimentados com grama.

Talvez vejamos uma mudança de rumo nessa direção, pois a maioria dessas grandes operações de alimentação está obviamente usando o milho e a soja, que são Roundup Ready. Eu acredito que chegará um ponto em que veremos essa reviravolta acontecer. Teremos então um sistema completo e sustentável em que a criação de animais e a plantação dos grãos para ração acontecerão no mesmo cenário".