Ferro no Seu Sangue


exame de sangue

Resumo da matéria -

  • A verificação de seus níveis de ferro é um dos exames mais importantes que todos deveriam fazer regularmente como parte de uma avaliação de saúde preventiva e proativa; ela pode ser feita através de um exame de sangue simples chamado exame de ferritina sérica; seu nível de ferritina deve estar entre 20 e 80 ng / ml, sendo de 40 a 60 o ideal. Se seus níveis de ferro estão elevados ou você tem hemocromatose, doar seu sangue ou conseguir uma prescrição para flebotomia terapêutica é uma das melhores soluções.
  • Existem especulações de que a mutação genética ligada à hemocromatose pode ter surgido para ajudar a proteger os seres humanos antigos da deficiência de ferro resultante de uma mudança na dieta "Paleolítica" dos caçadores coletores para uma dieta baseada na agricultura com carboidratos pesados.

Por Dr. Mercola

O ferro é essencial para a vida humana, pois é uma parte fundamental de várias proteínas e enzimas, envolvido no transporte de oxigênio e na regulação do crescimento e diferenciação celular, entre muitos outros usos.

Um dos papéis mais importantes do ferro é fornecer hemoglobina (a proteína nos glóbulos vermelhos), um mecanismo através do qual ele pode se ligar ao oxigênio e carregá-lo através de seus tecidos, pois sem uma oxigenação adequada, suas células rapidamente começam a morrer.

Se você tem muito pouco ferro, pode sentir fadiga, diminuição da imunidade ou anemia ferropriva, que pode ser grave se não for tratada. Isto é comum em crianças e mulheres pré-menopáusicas.

Mas o que muitas pessoas não percebem é que ter muito ferro pode ser igualmente mortal, e é realmente muito mais comum do que a deficiência de ferro, graças a uma doença hereditária conhecida como hemocromatose.

Este Problema de Saúde Tem Sido de Grande Importância Para Mim e Minha Família

Este exame salvou a vida do meu pai 20 anos atrás, quando descobri que ele tinha um nível de ferritina próximo de 1000. Foi porque ele tem beta-talassemia. Com flebotomias regulares, os níveis de ferro  dele se normalizaram e agora o único efeito colateral que ele tem é a diabetes tipo1.

Os altos níveis de ferro danificaram suas células das ilhotas pancreáticas e agora ele tem o que é chamado de diabetes "bronzeado" e, por conta disso ele precisa usar insulina.

Eu também herdei isso dele, então esta é uma questão pessoal. Felizmente, eu sou capaz de manter meus níveis de ferro normais, removendo cerca de um quarto do sangue por ano. Essa quantidade não é removida de uma vez só mas sim ao longo de diversas doações.

Examinei todos os meus pacientes com níveis de ferritina e notei que quase um quarto deles tinha níveis elevados. Por isso, gostaria de fortemente incentivar você e a sua família a serem examinados anualmente para verificar isso, pois é MUITO MAIS fácil evitar o excesso de ferro do que tratá-lo.

Exame de Ferritina - Um dos Seus Mais Importantes Exames de Saúde

Verificar seus níveis de ferro é fácil e pode ser feito com um simples exame de sangue chamado exame de ferritina sérica. Eu acredito que este seja um dos testes mais importantes que todos deveriam fazer regularmente como parte de uma avaliação de saúde preventiva e proativa.

O teste mede a molécula transportadora de ferro, uma proteína encontrada dentro das células chamada ferritina, que armazena o ferro. Se seus níveis de ferritina são baixos, significa que seus níveis de ferro também são baixos.

O intervalo saudável de ferritina sérica situa-se entre 20 e 80 ng / ml. Se ela estiver abaixo de 20, é um forte indicador de que você possui uma deficiência de ferro, e acima de 80 sugere que você tem excesso de ferro. A faixa ideal é entre 40-60 ng / ml.

Quanto mais acima de 100 for o número, pior o excesso de ferro, com níveis acima de 300 sendo particularmente tóxicos e que irão por fim causar sérios danos em quase todos que mantiverem esses níveis em longo prazo.

É importante descobrir se seus níveis são altos porque seu corpo tem uma capacidade limitada para excretar ferro, o que significa que ele pode facilmente se acumular em órgãos como seu fígado, coração e pâncreas. Isto é perigoso porque o ferro é um oxidante potente e pode danificar os tecidos do corpo, contribuindo para graves problemas de saúde, incluindo:

Cirrose

Câncer de fígado

Arritmia cardíaca

Diabetes tipo 1

Doença de Alzheimer

Infeções bacterianas e virais

Pesquisadores do câncer também encontraram novas evidências de que os cânceres intestinais têm de duas a três vezes mais chances de se desenvolver quando o ferro dietético é muito alto no seu corpo.  

Fatores de Risco para o Excesso de Ferro

Pessoas com hemocromatose não são as únicas que podem acumular mais ferro do que é saudável. Embora as mulheres em pré-menopausa que estejam menstruando regularmente raramente sofram de excesso de ferro, a maioria dos homens adultos e mulheres pós-menopáusicas tendem a estar em um risco mais elevado, uma vez que eles não têm uma perda mensal de sangue (uma das melhores maneiras que você tem para se livrar do excesso de ferro é por sangramento).
Outra causa comum de excesso de ferro é o consumo regular de álcool, o que vai aumentar a absorção de todo ferro em sua dieta. Por exemplo, se você beber vinho com o seu bife, provavelmente vai absorver mais ferro do que você precisa. Outras causas potenciais de altos níveis de ferro incluem:

  • Cozinhar em panelas ou frigideiras de ferro. Cozinhar alimentos ácidos nestes tipos de panelas ou frigideiras vai causar níveis ainda mais elevados de absorção de ferro.  
  • Comer alimentos processados como cereais e pães brancos que são "fortificados" com ferro. O ferro que eles usam nestes produtos é ferro inorgânico, não muito diferente da ferrugem e é muito mais perigoso do que o ferro da carne.
  • Beber água de poço que é rica em ferro. A chave aqui é certificar-se de que você tem algum tipo de precipitador de ferro e / ou um filtro de água de osmose reversa.
  • Tomar várias vitaminas e suplementos minerais, uma vez que estes dois frequentemente contêm ferro.

Reduzir seu Nível de Ferro Poderia ser uma Alternativa Mais Segura às Estatinas?

Podemos ter acumulado algumas informações valiosas sobre como o ferro leva à inflamação ao estudar remédios com estatinas, por incrível que pareça. Claro, as estatinas são remédios contra colesterol. As estatinas têm um efeito anti-inflamatório em seu corpo, reduzindo o estresse oxidativo, que é algo que as empresas farmacêuticas tendem a não revelar.

O fato de que as estatinas reduzem a inflamação e reduzem os marcadores inflamatórios como a proteína C reativa, pode explicar por que as estatinas diminuem os ataques cardíacos em algumas pessoas. Este benefício não tem nada a ver com a ação de reduzir o colesterol, mas sim com a redução da inflamação.

Em um estudo publicado na edição de abril de 2013 do American Journal of Public Health, os pesquisadores descobriram que as estatinas melhoraram os resultados cardiovasculares, pelo menos parcialmente, combatendo os efeitos pró-inflamatórios do excesso nas reservas de ferro. Neste estudo, os melhores resultados foram associados com níveis mais baixos de ferritina, mas não com o estado lipídico "melhorado".  

Os pesquisadores concluíram que a redução do ferro pode ser uma alternativa segura e de baixo custo para as estatinas. Um estudo anterior no American Heart Journal também mostrou que as pessoas com uma menor carga de ferro tinham menos risco de sofrer ataque cardíaco e acidente vascular cerebral.

Esses estudos acrescentam credibilidade ao que aprendi há alguns anos com o Dr. Steven Sinatra, um dos principais cardiologistas naturais do mundo, que o único benefício das estatinas para a saúde das é a redução da inflamação.

Isso pode ser útil para uma pequena porcentagem de indivíduos que têm um risco muito alto de morrer de ataque cardíaco, mas NÃO para aqueles que simplesmente têm níveis "elevados" de colesterol. Os remédios com estatina são excessivamente prescritos e não valem o risco para a grande maioria de vocês. Em alguns casos, eles podem realmente aumentar o seu risco de acidente vascular cerebral.

Se o ferro elevado é a força motriz por trás de sua inflamação e doença cardiovascular, então faz muito mais sentido simplesmente reduzir seus níveis de ferro, ao invés de tomar um remédio com estatina que tem o potencial de desencadear muitos efeitos adversos.

O Que Fazer se Seus Níveis de Ferro Estiverem Muito Altos

A boa notícia se você descobrir que seus níveis de ferro são elevados ou que você tem hemocromatose é que remediar essa situação é relativamente simples. Algumas pessoas aconselham usar quelantes de ferro como ácido fítico ou IP6, mas eu tentei isso com meu pai e falhou miseravelmente, então eu não recomendo.

Doar sangue é uma abordagem muito mais segura, mais eficaz e barata para este problema. Se, por algum motivo, um centro de doação de sangue não puder aceitar o seu sangue para doação, você pode obter uma prescrição de flebotomia terapêutica.

Ao mesmo tempo, você deve se certificar de evitar consumir ferro em excesso na forma de suplementos, em sua água potável (água de poço), a partir de utensílios de ferro, ou em alimentos processados fortificados.

Além disso:

  • Certas ervas e especiarias ricas em fenóis, como chá verde e alecrim, podem reduzir a absorção de ferro
  • O polifenol primário no  açafrão conhecido como curcumina realmente atua como um quelante de ferro, e em estudos com ratos, dietas suplementadas com este extrato de especiarias levou a um declínio nos níveis de ferritina no fígado
  • A astaxantina, que em suas analises mostrou ter mais de 100 benefícios potenciais para a saúde, demonstrou reduzir os danos oxidativos induzidos pelo ferro

As Origens Antigas do Excesso de Ferro

Como e por que a hemocromatose - agora uma das doenças genéticas mais prevalentes nos Estados Unidos - surgiu é assunto de numerosas teorias e especulações - mas sua verdadeira história permanece um mistério complexo.

Em um fascinante artigo sobre o tema, o The Atlantic recentemente destacou a noção de que todos os que herdaram a mutação C282Y responsável pela maioria dos casos de hemocromatose a obtiveram da mesma pessoa. Em outras palavras, um antepassado distante transmitiu a mutação, que agora favorece as pessoas com descendência do norte da Europa.

Ninguém sabe a identidade precisa do fundador, mas as especulações iniciais de que ele era alguém de descendência irlandesa levaram à possibilidade de que ele pode ter realmente surgido em uma civilização viking ou, ainda mais cedo, em um caçador coletor da Europa central.

É preciso duas cópias herdadas da mutação (uma da mãe e outra do pai) para causar a doença (e mesmo assim, só algumas pessoas realmente ficarão doentes). Se você tem apenas uma mutação, você não vai ficar doente, mas você vai absorver um pouco mais de ferro do que o resto da população, uma característica que pode ter dado às pessoas uma vantagem quando as fontes de ferro na dieta eram escassas.

A Mutação da Hemocromatose Surgiu Para Proteger os Seres Humanos de uma Dieta Rica em Carboidratos?

Há especulações de que a mutação da hemocromatose pode ter se espalhado na antiga Europa próximo a época em que o homem deixou de ser um caçador coletor para se tornar um agricultor.

Ao contrário da dieta paleolítica dos "homens das cavernas" que por necessidade incluía uma dieta relativamente equilibrada de carne rica em ferro, peixe e vegetais, a agricultura pode ter levado os seres humanos a depender de uma superabundância de carboidratos de grãos.

O artigo em destaque relatou que:

"Evidências fósseis indicam que os primeiros agricultores europeus eram cerca de 6 centímetros mais baixos do que seus ancestrais caçadores coletores, uma possível indicação de desnutrição... A altura média e a expectativa de vida caíram, enquanto infecções ósseas, cáries dentárias e malformações esqueléticas associadas à anemia aumentaram.

Embora a composição exata da placa Paleolítica continue a ser debatida, a maioria concorda que os caçadores coletores europeus comiam mais carne do que aqueles em comunidades agrícolas modernas. E essa proteína animal era uma fonte excelente de um micronutriente familiar: o ferro.

A Organização Mundial da Saúde estima que 1,6 bilhões de pessoas no mundo atual sofrem com a falta de glóbulos vermelhos conhecida como anemia - metade das quais pode ser causada pela deficiência de ferro. O paleolítico interno de cada um pode perguntar-se se esta pandemia de deficiência de ferro começou na era neolítica já que dietas repletas de carboidratos substituíram aquela rica em carne e peixe.

A anemia diminui a capacidade de transporte de oxigênio do sangue; se for acentuada, isso irá dificultar a capacidade de um indivíduo de se manter saudável, encontrar comida e se reproduzir. A mutação C282Y aumenta a absorção de ferro e pode ter inadvertidamente protegido os portadores contra esta ameaça."

A Ligação da Hemocromatose com a Peste

Outra teoria intrigante sugere que a mutação da hemocromatose pode ter protegido contra a Peste Negra do século XIV, impedindo a bactéria Yersinia pestis de se reproduzir dentro das células do sistema imunológico humano.

"Durante a Peste Negra, a mortalidade pode ter sido maior, em até 50-66 por cento, nas Ilhas Britânicas - um futuro viveiro da hemocromatose hereditária... Neste ambiente mais hostil, discretas diferenças de DNA podem decidir a sobrevivência ou morte. Uma vantagem genética se espalharia rapidamente pela população insular – ela teria menos valor no continente, onde a mortalidade pela peste pode ter sido menor”, relatou o artigo em destaque.

Mas essa teoria é contestada por informações conflitantes que sugerem que as bactérias da peste usam o ferro de seu hospedeiro para aumentar sua capacidade de infectar as células. As pessoas com hemocromatose podem, portanto, estar entre as mais vulneráveis a sucumbir às infecções da peste, o que sugere que a mutação pode não ter nada a ver com a sobrevivência. Poderia, talvez, ser um artefato da seleção natural ou pode haver uma explicação completamente diferente…