Por Dr. Mercola
O Dr. Paul Jaminet é um astrofísico treinado e autor do livro Perfect Health Diet (Dieta Perfeita para a Saúde, em tradução livre).
Ele e sua esposa Shou-Ching, uma cientista biomédica de Harvard, colaboraram para a criação de uma abordagem refinada sobre a dieta Paleolítica a qual acredito ser bastante valiosa.
Como geralmente é o caso com resultados revolucionários relacionados à saúde, sua busca conjunta por uma dieta ideal foi motivada por problemas crônicos de saúde.
O Dr. Jaminet tinha sintomas similares aos da esclerose múltipla, do declínio cognitivo, problemas neuropáticos e Rosácea.
Estes sintomas inicialmente apareceram em torno do ano de 1992, após ter necessitado de antibióticos por um longo período.
Enquanto isso, sua esposa tinha endometriose, miomas, hipotireoidismo e outros problemas.
Ela consumia muita soja, que pareceu ser o principal fator contribuinte.
Para Determinar a Dieta Perfeita, Seriam Necessárias Milhares de Vidas para Estudar a Literatura Médica
Dr. Jaminet igualmente atingiu um ponto crucial que está relacionado ao trabalho investigativo envolvido na identificação de uma possível dieta ideal e esta é a importância do estabelecimento de um âmbito amplo que seja o mais próximo possível da realidade. Pois, sem este âmbito, pode ser praticamente impossível interpretar adequadamente os resultados científicos individuais.
"O PubMed, banco de dados de artigos de jornais, possui mais de 22 milhões de artigos e mais de um milhão é adicionado a ele todos os anos. Pense na quantidade que uma pessoa pode ler; eu leio no máximo dois artigos por dia. Devo ler em torno de 500 artigos por ano. Portanto, tendo um milhão chegando e sendo capaz de ler apenas 500, ou talvez 1000, é possível conseguir verificar apenas uma fração ínfima da literatura.
É muito fácil possuir um tipo de viés seletivo; obter uma pequena visão da literatura e fazer com que ela o (a) leve ao caminho errado.
A biologia é complexa. Estes artigos de jornais são difíceis de ser interpretados. Geralmente existem diversas formas de interpretar um mesmo artigo. Portanto, você realmente precisa de uma visão ampla e abrangente, que seja próxima da realidade, para poder saber como interpretar cada artigo.
O que concluí, quando comecei a partir de uma perspectiva evolucionária que me levou muito próximo à realidade, foi que, nós, na verdade, possuímos cinco fontes diferentes de evidência evolucionária e todas elas apontam para a mesma direção da dieta ideal! E, então, quando você começa a partir daquela perspectiva e interpreta os artigos daquela forma, fica muito mais fácil enxergar uma forma de reconciliar todos os diferentes artigos.
… Agora, quando eu vejo como outras pessoas interpretam a literatura, vejo que elas estão fortemente influenciadas por seus próprios campos, suas próprias especialidades e elas, geralmente, não levam muito em consideração as evidências de outras especialidades. Especialistas possuem amplo conhecimento. Porém, eles também têm perspectivas limitadas e isto pode levá-los a enganar-se sobre o assunto dieta."
Concordo que um fator crucial ignorado por várias “autoridades da saúde” é a perspectiva ampla – a perspectiva evolucionária do corpo humano e dos alimentos que o abastecem. E esta perspectiva é a verdadeira chave, pois ela promove o ponto de início sólido para avaliação de tudo. A fim de entender o que estamos fazendo de errado hoje, precisamos avaliar como nossas dietas modernas desviam-se das dietas de nossos ancestrais. A resposta não são os novos e melhores produtos químicos que substituem os nutrientes. A resposta está INDO AO CONTRÁRIO do que fomos projetados para consumir.
Portanto, Dr. Jaminet inicialmente decidiu tentar a Dieta Paleo, uma vez que a mesma tinha forte suporte evolucionário e poderia ajudar de forma significativa a limitar a revisão da literatura. Porém, ele começou a experimentar alguns efeitos negativos no primeiro ano, chegando à conclusão de que a dieta Paleo ainda tinha alguns pontos fracos e falhas, os quais ele determinou-se a resolver.
"Foi aí onde eu tive uma grande vantagem; minha esposa trabalha em Harvard," diz ele. "Temos acesso a todos os jornais médicos. Tenho acesso à sua experiência. Ela igualmente possui uma perspectiva mais ampla sobre a dieta Asiática. Quanto mais aprendemos sobre dietas, mais sabemos que as dietas tradicionais Asiáticas [e a gastronomia tradicional, de forma geral] são, de fato, extremamente saudáveis. Isto nos deu a confiança de estarmos no caminho certo."
Cinco Fontes de Evidências Evolucionárias Oferecem Dicas Convincentes da Dieta Ideal
A dieta Paleo é baseada no que nossos ancestrais comiam durante o período Paleolítico. Não existiam supermercados naquele período, portanto eles caçavam e colhiam seus alimentos. Isto igualmente nos diz que havia uma variação regional nas dietas das pessoas, pois elas podiam somente consumir o que crescia e estava disponível em sua respectiva região climática.
"Os esquimós (Inuítes) teriam uma dieta quase puramente derivada de animal. As pessoas que habitavam nos trópicos tenderiam a se alimentar de maior quantidade de carboidratos. Porém, tipicamente, a quantidade de carboidratos consumida seria... entre 15 a 20 por cento. Temos conhecimento de tribos caçadoras-coletoras que foram contatadas nos anos 1800. Possuímos bons dados sobre as dietas caçadoras-coletoras daquele período."
Uma segunda fonte de evidência é a composição do leite materno humano, que podemos supor que deve ser, do ponto de vista evolucionário, uma forma nutricionalmente ideal de alimentação de bebês humanos. E, embora as necessidades nutricionais dos bebês sejam diferentes das dos adultos, podemos estimar como suas necessidades nutricionais diferem e ajustá-las de acordo.
"Uma coisa que vemos em bebês é que eles possuem cérebros grandes em relação ao tamanho de seus corpos. Portanto, eles usam uma grande quantidade de glicose, diz o Dr. Jaminet”. "Aproximadamente 50 por cento das calorias que eles usam são glicose. O leite materno é composto de cerca de 40 por cento de carboidratos. Portanto, a quantidade de carboidratos na dieta é levemente abaixo da quantidade que o bebê usará de fato.
Se você traduzir isto para adultos, os adultos usam cerca de 30 por cento de suas calorias como glicose. Poderíamos predizer, com base na composição do leite materno, que talvez a quantidade ideal de carboidratos para um adulto fique abaixo de 30 por cento, portanto entre 20 e 30 por cento. Este é outro exemplo."
Terceira, podemos verificar as dietas de outros mamíferos.
"[C] coloca-se entre parênteses a dieta humana ideal porque os animais são biologicamente similares a nós, porém possuem crânios menores. Portanto, como bebês são como adultos, porém com crânios maiores [com relação ao tamanho do corpo], os animais possuem crânios menores [de forma geral] e, a maioria dos animais, quando você verifica a nutrição, consome muito pouco carboidrato; geralmente de cinco a dez por cento de carboidratos.
As pessoas acreditam que os animais se alimentam com dietas diferentes, pois são herbívoros, carnívoros, onívoros. Eles consomem sim alimentos diferentes, porém o alimento se transforma em seus intestinos e fígados. O que muda de forma evolucionária em animais diferentes não é o organismo e suas necessidades nutricionais, e sim a natureza do intestino e do fígado.
Portanto, os herbívoros geralmente terão órgãos intestinais (como ruminantes) que transformam carboidratos em gorduras e ácidos voláteis. Uma vaca, por exemplo, absorve quase nenhum carboidrato de sua dieta. Todos os carboidratos são ingeridos por bactérias e as bactérias liberam gorduras de cadeias curtas.
Quando você estuda estes animais, os resultados nos fornecem mais evidências sobre como deveria ser a dieta ideal. Isso, novamente, nos leva (quando corrigimos para o tamanho do cérebro) em direção a uma dieta com 20 por cento de carboidratos para humanos adultos."
Quarta, as evidências evolucionárias incluem a capacidade inerente de sobrevivência a longos períodos de jejum ou fome em tempos de escassez. O organismo humano foi projetado para ser capaz de efetivamente caçar ou coletar alimentos mesmo que você não tenha se alimentado por algum tempo. Isto significa que o organismo humano deve ser capaz de “aproveitar” a si mesmo.
"Você tem que subsistir sob uma composição efetiva do organismo humano. A dieta ideal para humanos não pode ficar muito distante da composição nutricional do organismo humano por si mesmo" explica o Dr. Jaminet.
Por último, porém não menos importante, a quinta fonte de evidências evolucionárias é o sistema de compensação alimentar do cérebro humano.
"Nós gostamos de certos tipos de alimentos. Gostamos de consumir uma determinada quantidade de proteína diariamente. Gostamos de consumir determinada quantidade de sal diariamente. Certos alimentos têm sabor agradável, alguns têm sabor bastante desagradável. Essas preferências por sabor e por alimentos evoluíram de forma a nos guiar em direção a uma dieta saudável. Podemos deduzir, a partir destas preferências inatas do cérebro, a definição de uma dieta saudável," diz o Dr. Jaminet.
"Essas cinco fonte de evidências são exatamente o que tentamos para extrair uma primeira definição sobre a dieta ideal. E, então, uma vez obtido aquele ponto de início, procuramos evidências na literatura e as expandimos para os nutrientes e toxinas individuais para tentar desvendar como implantá-los em termos de alimentos e como realmente aprimorar tudo isso."
A Dieta Ideal Igualmente Necessita Limitar as Toxinas Alimentares
Outro aspecto importante é o elemento das toxinas – não apenas toxinas feitas pelo homem e contaminantes tóxicos, porém toxinas que ocorrem naturalmente encontradas em diversos alimentos. Por exemplo, a soja não fermentada é notória por seu potencial tóxico.
"Um dos pontos fortes da dieta Paleo é que ela tem baixa toxicidade," diz o Dr. Jaminet. "Isto acontece por vários motivos. Um deles é a recomendação de alimentos de baixa toxicidade desta dieta.
Um dos meus artigos favoritos foi o resultado de um estudo que concluiu que se você consumir um grama de farelo de trigo, o peso de suas fezes aumentará em 5 gramas. O que isto nos diz é que existem proteínas bioativas no trigo que sabotam a função digestiva. Portanto, elas não apenas evitam que o farelo de trigo seja digerido, mas também outros alimentos que você consome junto com ele. É por isso que o peso das fezes aumenta tanto.
O problema é que, se elas prejudicam uma função do organismo, tal como a função digestiva, elas podem igualmente prejudicar outras funções. Estas toxinas podem, de fato, promover um grande impacto na saúde. Existem novas evidências que informam que o impacto é bastante substancial.
[Outro] estudo realmente interessante veio do Japão neste verão. Crianças no Japão que consomem trigo diariamente tem o QI quase quatro pontos mais baixo do que crianças que consomem arroz. A boa notícia sobre o arroz (este é o único grão que recomendamos nesta dieta) é que suas toxinas são destruídas no cozimento. Arroz branco cozido é bastante pobre em toxinas.
Isto nos dá uma noção de como o trigo pode estar impactando a saúde. Isto é interessante porque a diferença de QI entre os Asiáticos e os Americanos é de quase quatro pontos. Isto pode ser causado simplesmente pela diferença de consumo entre trigo e arroz."
Dr. Jaminet explica que o arroz, embora seja um amido, é composto de longas cadeias de glicose e praticamente não tem frutose, o que é uma boa notícia. Idealmente, você deve evitar o máximo de frutose possível, especialmente na forma de xarope de milho de alta frutose, encontrado em praticamente todos os alimentos e bebidas processados.
Quando consumida em quantidades excessivas, a frutose se torna tóxica e o consumo excessivo de frutose é a principal força motora por trás das taxas crescentes de obesidade e doenças crônicas.
"Obtenha frutose somente através de frutas, bagas e vegetais," diz o Dr. Jaminet. "Existem alguns vegetais açucarados que são bons,por exemplo, abóbora, cenoura, cebola e beterraba. Em geral, frutas e bagas são ótimas. Estas vão fornecer-te alguma frutose, porém não possuem grandes quantidades dela."