O Escândalo da Carne Bovina Brasileira e o Futuro da Carne Americana de Animais Alimentados com Pasto

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Resumo da matéria -

  • Em 22 de junho de 2017, os EUA suspenderam as importações de carne bovina fresca do Brasil. Entre os problemas descobertos durante as inspeções estavam os abscessos na carne, que se supõe que sejam devido a locais de vacinação infectados
  • Nos últimos dois anos, a Polícia Federal do Brasil investigou acusações de corrupção dentro do setor de carne bovina. Dezenas de inspetores de alimentos foram presos e uma produtora de carne foi multada em US$ 3,2 bilhões
  • Embora a rastreabilidade seja fundamental para a segurança alimentar, a Country of Origin Labeling (Rotulagem do País de Origem -COOL) foi rejeitada pela Organização Mundial do Comércio em 2014 por ser “discriminatória”. Os criadores de gado agora estão processando o USDA para reintroduzir a COOL  

Por Dr. Mercola

Em todo o mundo, estamos vendo um forte crescimento nos produtos orgânicos e da agricultura de animais alimentados com pasto. Desde 2016, o setor de alimentos orgânicos representou 5,3 por cento da venda total de alimentos nos EUA.

Agora, temos também uma nova certificação de alimentado com pasto pela American Grassfed Association (Associação Americana de Animais Alimentados com Pasto-AGA), que é a mais importante certificação que você pode obter para produtos lácteos, carne bovina e aves, incluindo galinhas, ovelhas e cabras.

Em suma, estamos vendo uma demanda radicalmente maior por alimentos saudáveis. Muitas pessoas agora têm conhecimento sobre as desvantagens da carne e leite de fazendas industriais e sabem que quando os herbívoros são pastoreados naturalmente, sem hormônios, antibióticos e outros medicamentos, você acaba com um produto mais saudável.

Infelizmente, o atual sistema alimentar ainda deixa muito a desejar. Construído em torno da eficiência e do lucro, este sistema torna inevitáveis as deficiências na qualidade e segurança. Os acordos de comércio internacional também acabam por proteger mais os lucros que a segurança e os ideais dos consumidores.

Embora a rastreabilidade seja fundamental para a segurança alimentar, a Country of Origin Labeling (Rotulagem do País de Origem -COOL) foi rejeitada pela Organização Mundial do Comércio (OMC) por ser “discriminatória”. Em outras palavras, você não tem permissão de saber de onde vem um alimento, simplesmente porque isso pode influenciar você a comprá-lo ou não, dependendo das suas preferências.

As ramificações são atualmente evidentes na indústria de carne bovina, onde carne contaminada está sendo exportada por todo o mundo, enquanto os criadores de gado locais lutam para competir com importações de baixo preço.

Os EUA Suspenderam as Importações Brasileiras de Carne Bovina

Em 22 de junho de 2017, os EUA suspenderam as importações de carne bovina fresca do Brasil, o quinto maior exportador de carne bovina para os EUA. Nos últimos dois anos, a Polícia Federal do Brasil realizou uma investigação sobre a indústria de carne bovina do país. De acordo com os investigadores, os inspetores brasileiros de alimentos aceitaram propinas, falsificaram licenças sanitárias e permitiram a venda de carnes expiradas.

Cerca de 1.900 políticos também receberam subornos de US$ 186 milhões ao longo de poucos anos, incluindo os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Dezenas de inspetores federais de alimentos já foram presos e a J & F Investimentos, holding da JBS SA, uma das maiores produtoras de carnes do Brasil e principal suspeita na investigação de corrupção, concordou em pagar US$ 3,2 bilhões em multas.

De acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), desde março, 100% das importações brasileiras de carne foram inspecionadas antes de terem permitido seu acesso ao país. Normalmente, 1 por cento das importações de carne são rejeitadas. No caso do Brasil, 11 por cento foram rejeitados, o equivalente a cerca de 1,9 milhões de libras (861825 kg) de carne bovina.

Entre os problemas descobertos durante a inspeção estavam abscessos na carne - um problema que o ministro da agricultura brasileira, Eumar Novacki, afirma que é devido a reações adversas raras em alguns bovinos a vacinas que previnem a febre aftosa; reações que não representam riscos para a saúde pública. No entanto, nem todos estão comprando essa desculpa. Conforme relatado pela Reuters:

“A ligação feita pelo Ministério da Agricultura dos abscessos às vacinas foi questionada por alguns especialistas. As vacinas contra a febre aftosa são as vacinas N ° 1 utilizadas em animais em todo o mundo, disse James Roth, diretor do Centro de Segurança Alimentar e Saúde Pública da Universidade Estadual de Iowa…

Roth disse que ‘qualquer injeção em um animal pode raramente produzir um abscesso’ se a agulha estiver suja. No entanto, ‘se os abscessos estão aparecendo na carne, tem que haver uma falha no abatedouro porque estes deveriam ser pegos e removidos’…”

A União Europeia tem problemas com carne contaminada e Alimentação Animal

A União Europeia (UE), que também intensificou as inspeções de carne bovina brasileira, reporta ter rejeitado embarques devido à presença de E. coli. O sindicato de inspetores de saúde do Brasil, o Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (ANFFA), culpa as falhas sistêmicas nos cortes de pessoal.

Embora o número de frigoríficos tenha dobrado desde 2002, o número de inspetores de saúde diminuiu de 3.200 para 2.600 no mesmo período. Enquanto isso, em março, o governo brasileiro anunciou que reduziria o orçamento do Ministério da Agricultura em mais de 45%. Mas a carne contaminada com E. coli do Brasil não é o único problema encontrado na UE.

Os suplementos de riboflavina (vitamina B-2) fabricados na China para uso na alimentação animal também foram identificados como contendo bactérias geneticamente modificadas (GE), o que é ilegal na UE.

Piorando a situação, a bactéria GE em questão confere resistência a vários antibióticos diferentes, incluindo o cloranfenicol, utilizados para infecções como meningite, praga, cólera e febre tifoide. Os suplementos contaminados surgiram pela primeira vez em 2014. Conforme relatado pela Independent Science News:

“A riboflavina agora é produzida frequentemente pela fermentação comercial usando variedades superprodutoras de bactérias GE. De acordo com os regulamentos da UE em matéria de biossegurança, nenhuma variedade bacteriana de OGM, nem qualquer DNA, pode estar presente em suplementos comerciais.

No entanto, a amostra contaminada de riboflavina continha variedades viáveis do organismo geneticamente modificado Bacillus subtilis.Os pesquisadores cultivaram e testaram a bactéria contaminante e a subsequente sequência de DNA mostrou ser uma variedade de produção.

Outros testes mostraram que ele contém DNA genômico que confere resistência ao antibiótico cloranfenicol. Além disso, a variedade continha plasmídeos extracromossômicos de DNA com outros genes resistentes a antibióticos. Estes conferiram resistência aos antibióticos ampicilina, canamicina, bleomicina, tetraciclina e eritromicina.

Correspondência entre diplomatas alemães, autoridades chinesas e a empresa posteriormente estabeleceram que esses genes resistentes a antibióticos constituíam diferenças fundamentais entre as variedades que a empresa afirmava estar usando... Somente os genes resistentes à eritromicina e cloranfenicol foram reconhecidos pelo produtor.

Se as variedades alteradas foram usadas intencionalmente ou se contaminadas inadvertidamente ainda não está claro.”

De Onde Vem Sua Carne Bovina?

Ao todo, os EUA importam carne bovina de 22 países diferentes, totalizando mais de 3 bilhões de libras (1360777110 kg) em 2016. A Austrália, o Canadá e a Nova Zelândia estão no topo da lista dos países que fornecem carne para os EUA, seguidos pelo México e Brasil.

Classificação País Total de libras importadas em 2016

Classificação: 1

País: Austrália

Total de libras importadas em 2016: 767 milhões

Classificação: 2

País: Canadá

Total de libras importadas em 2016: 718 milhões

Classificação: 3

País: Nova Zelândia

Total de libras importadas em 2016: 613 milhões

Classificação: 4

País: México

Total de libras importadas em 2016: 493 milhões

Classificação: 5

País: Brasil

Total de libras importadas em 2016: 152.7 milhões

Quando se trata de carne bovina de animais alimentados com pasto , cerca de 80% dela é importada, a maioria proveniente da Austrália. O Brasil também é uma fonte importante de carne bovina de animais alimentados com pasto.

Um fato pouco conhecido que esconde o país de origem é que, desde que um pedaço de carne importada passe por uma unidade inspecionada pelo USDA, ela pode ser rotulada como um “Produto dos EUA”. Em outras palavras, ao importar carcaças inteiras e processá-las em uma instalação dos EUA, a carne importada de repente se torna americana.

Mesmo o imposto de verificação de carne bovina do USDA está sendo usado para promover a carne bovina importada em vez da carne bovina feita nos EUA - isso, apesar do fato de o programa de verificação (um programa obrigatório que exige que os produtores de gado paguem uma taxa de US$ 1 por cabeça de gado vendida) ter sido supostamente feito para ser usado na pesquisa e promoção da carne bovina para beneficiar e apoiar os criadores de gado americanos.

Considerando o crescimento constante da agropecuária de animais alimentados com pasto nos EUA, por que ainda estamos importando a grande maioria dela? Uma das principais razões é porque a Austrália e o Brasil podem produzi-la a um custo menor, pois seu clima permite que os animais pastem durante todo o ano.

Na verdade, na Austrália, alimentar os animais com grama é a norma; 70 por cento dos gados são criados em pastos ao ar livre. De acordo com um relatório recente do Stone Barns Center for Food and Agriculture, “Back to Grass: The Market Potential for US Grassfed Beef” (De volta à Grama: o Potencial de Mercado Para a Carne Bovina Americana de Animais Alimentados com Pasto), a rotulagem precisa é imperativa para “assegurar que os consumidores estejam adquirindo o que eles acham que estão comprando”.

Não só você pode comprar carne bovina importada sem saber, a carne bovina de animais alimentados com pasto que você está comprando pode não ser tão saudável quanto você espera, graças a padrões fracos. Conforme observado por Jill Isenbarger, CEO da Stone Barns Center:

“O mercado norte-americano de carne bovina de animais alimentados com pasto cresceu 100 por cento ao ano nos últimos quatro anos, mas os consumidores não percebem que grande parte dessa carne vem de gado que na verdade não passou a vida inteira em pastagens abertas, comendo grama real.”

Animais Alimentados com Pasto Versus Alimentados com Grama

Não é fácil ser consumidor no panorama alimentar atual. Os rótulos que parecem bastante claros, às vezes, significam algo inteiramente diferente, ou então tem nada a ver com o que está no rótulo, como é o caso do “totalmente natural”, que basicamente não tem sentido e é usado como um estratagema de marketing mais do que qualquer outra coisa.

Quando se trata dos rótulos de carne bovina de animais alimentados com grama, há também muita confusão sobre o assunto. Conforme explicado no relatório “Back to Grass”:

“A distinção mais clara entre a carne bovina convencional e a carne bovina de animais alimentados com pasto ocorre no estágio final. O gado alimentado com pasto permanece nas pastagens e é finalizado com uma dieta predominantemente de capim ou outras forragens. Eles crescem mais devagar e tipicamente são abatidos aos 20 [até] 28 meses de idade.

A carne desses animais geralmente é vendida com um rótulo de animal alimentado com grama aprovada pelo [USDA] e vendida em mercados de animais alimentados com grama especializados a um alto custo.

No entanto, o fato da USDA permitir reivindicações de ser carne de animais parcialmente alimentadas com grama (por exemplo, ‘50 [por cento] alimentados com pastagem’) e a ausência de um requisito para a inspeção na fazenda para verificar essa reivindicações de animais alimentados com grama significa que nem toda a carne vendida com um rótulo de animais alimentados com grama segue necessariamente estes padrões de produção.

Alguns gados são mantidos em pastagens durante a fase de finalização, mas sua dieta é suplementada com grãos; esses animais são ‘alimentados em pastagem’, mas não são alimentados 100% [por cento] com grama. Um desenvolvimento marcante nos últimos anos tem sido o surgimento de ‘confinamentos de capim’, onde o gado é alimentado com grama (muitas vezes sob a forma de pelotas de grama) no confinamento.”

O gráfico a seguir ilustra as principais diferenças entre a carne bovina de animais criados com pasto, de animais alimentados somente com grama, convencional e “em confinamento com grama”:

Fonte: Back to Grass: The Market Potential for U.S. Grassfed Beef

(De volta à Grama: o potencial de mercado para a carne bovina americana de animais alimentados com pasto)

Por que é Importante a Autenticidade da Carne Bovina de Animais Alimentados com Pasto

É importante haver clareza nesta questão porque essas diferenças resultam em diferentes tipos de carnes e impactos ambientais. A pesquisa acumulada mostra métodos de pastagem regenerativa:

Melhora a saúde humana ao produzir carnes mais saudáveis. Em comparação com a carne bovina convencional, a carne bovina de animal alimentado com grama tem:

Uma proporção de ômega-6 para ômega-3 significativamente melhor

Maiores concentrações de ácidos linoleicos conjugados (CLAs)

Níveis mais altos de antioxidantes

Gosto Melhor

Menor risco de infecção por E. coli

Menor risco de bactérias resistentes aos antibióticos

Melhora o bem-estar dos animais: O gado alimentado com grama é mais saudável e requer poucos tratamentos com medicamentos

Protege o meio ambiente: Os sistemas de pastoreio regenerativo ajudam a restaurar pastagens, enriquecem o solo e protegem as reservas de água, enquanto a concentração de adubo em e em torno dos confinamentos poluem o ar, solo e água

Isolam o carbono do solo, melhorando assim a qualidade do solo, compensando as emissões de metano do gado e ajudando a mitigar o aumento dos níveis de Co2 na atmosfera

O relatório também estabelece quatro itens de ação específicos para fortalecer a indústria dos EUA de carne de animais alimentados com grama:

  1. Concentrar-se na produção de carne de animais alimentados com pasto e com grama de alta qualidade durante todo o ano. Para fazer isso, os produtos de finalização sazonais precisam ser disponibilizados em todas as regiões dos EUA. Treinamento e assistência técnica também são necessários
  2. Criar normas mais fortes para que algo seja rotulado como vindo de animais alimentados com grama e construção de marca para educar os consumidores sobre a carne bovina americana de animais alimentados com capim
  3. Melhorar a escala e a agregação na cadeia de abastecimento de animais alimentados com capim, especialmente no nível de finalizador dos animais alimentados com capim, para melhorar a eficiência
  4. Construir sistemas de finalização bem gerenciados e em maior escala para produzir carne bovina de animais alimentados com capim a baixo custo”. Fazer isso poderia levar a carne bovina de animais alimentados com pasto a ter um preço mais próximo da carne bovina de animais alimentados em confinamento convencional

Os Criadores de Gado Lutam Pela Rotulagem do País de Origem

Como mencionado anteriormente, a OMC decidiu contra o uso da rotulagem do país de origem em 2014, dizendo que a COOL impedia o comércio entre os EUA, Canadá e México, criando um impacto prejudicial nas oportunidades competitivas” do gado canadense e mexicano.

Ao não exigir que as carnes importadas sejam devidamente rotuladas, as carnes importadas foram autorizadas a serem vendidas como produtos dos EUA, informando erroneamente os consumidores, colocando os produtores nacionais em desvantagem e prejudicando a segurança alimentar.

O processo foi apresentado perante a Justiça Pública em nome do Ranchers-Cattlemen Action Legal Fund (Fundo de Ação Legal dos Criadores de Gado e Boiadeiros), United Stockgrowers of America (União de Pecuaristas da America) e dos Produtores Bovinos de Washington.

O advogado da Justiça Pública, David Muraskin, disse à Fox Business News:

“Os consumidores compreensivelmente querem saber de onde sua comida vem. Com este processo, estamos lutando contra as políticas que colocam as corporações multinacionais à frente dos produtores nacionais e envolvem as origens do nosso abastecimento alimentar em segredo.”

Por Que Não se Deve Confiar na Maioria dos Rótulos que Dizem ser de Animais Alimentados com Grama

O padrão AGA foi oficialmente lançado em fevereiro, um mês depois que o Serviço de Marketing Agrícola (AMS) do USDA rescindiu seus padrões oficiais de exigência para carne proveniente de animais alimentados com pasto. Isso significa que o USDA já não tem padrões para carne de animais alimentados com pasto para os produtores seguirem.

O Serviço de Inspeção e Segurança de Alimentos do USDA (FSIS), que aprova os rótulos de carne em geral, ainda aprova as reivindicações para rótulos de animais alimentados com pasto. No entanto, os produtores de carnes de animais alimentados com pasto estão livres para definir seus próprios padrões!

Em outras palavras, um produtor de “carne bovina de animais alimentados com pasto” teoricamente poderia confinar os animais e alimentá-los com antibióticos e hormônios e ainda colocar um rótulo de animal alimentados com pasto na carne, desde que os animais também tenham sido alimentados com pasto em algum momento.

O mais importante neste momento é entender que, a menos que seja um rótulo de animal alimentado com pasto da AGA, você realmente não saberá o que está comprando. Nenhuma outra certificação de animal alimentado com pasto oferece as mesmas garantias abrangentes que a da AGA, e nenhum outro programa de animais alimentados com pasto garante a conformidade usando auditorias de terceiros.

Lembre-se: Não Coma Carne em Excesso, Mesmo Carne Americana Orgânica e de Animais Alimentados com Pasto

Enquanto a maioria das pessoas gosta de comer proteína animal e a acha deliciosa, é de vital importância lembrar-se de evitar comer demais dela. A literatura indica claramente que aqueles que comem quantidades excessivas de proteína animal morrerão prematuramente, mesmo que ela seja a de melhor qualidade, americana, orgânica e de animais alimentados com pasto.

Seria sensato limitar o tamanho da sua porção a 2 onças (56 gr) se você for uma mulher pequena ou uma criança, ou 4 onças (113 gr) se for um homem grande, e apenas comer carne algumas vezes por semana. As ingestões acima disso tem uma boa chance de ativar a via mTOR e pode levar a consequências que não são saudáveis.