Quase 30 Por Cento das Abelhas Foram Destruídas Neste Inverno

abelha morta

Resumo da matéria -

  • Durante o inverno 2015/2016, mais de 28 por cento das colônias de abelhas foram perdidas – um aumento de quase 6 por cento se comparando com o inverno anterior
  • Mais da metade dos apicultores registraram uma taxa de perda de colônias durante o inverno maiores que a taxa média “aceitável” de mortalidade durante o inverno, que é algo em torno de 17 por cento  

Por Dr. Mercola

As abelhas do mundo todo estão em apuros e, se os últimos números forem um indicador, o problema está piorando em vez de melhorar.  

Os resultados preliminares relacionados à perda de colônias de abelhas ocorrida entre os anos de 2015 e 2016 foram liberados pela Bee Informed Partnership em colaboração com os Inspetores de Apiários da América do Norte (AIA) e com o Departamento de Agricultura Americano (USDA).

A pesquisa incluiu respostas de quase 6.000 apicultores responsáveis pelo gerenciamento de cerca de 15 por cento dos estimados 2,66 milhões de colônias produtoras de mel.

Durante o inverno 2015/2016, mais de 28 por cento das colônias de abelhas foram perdidas – um aumento de quase 6 por cento comparando-se com o inverno anterior.  

Além disso, mais da metade dos apicultores relatou que a taxa de perda de colônias durante o inverno foi maior que a taxa média “aceitável” de mortalidade durante o inverno, que é algo em torno de 17 por cento 

As Perdas de Abelhas Ocorrem Durante o Ano Todo, Não Apenas Durante o Inverno

Além do que foi descrito como uma perda “insustentável” de colônias de abelhas durante o inverno, também houveram perdas que ocorreram durante os meses compreendendo as estações da primavera e verão.

Há muito se pressupunha que tal perda somente ocorria durante o inverno, a tal ponto que – até seis anos atrás – ninguém sequer monitorava suas perdas anuais.

Agora, no entanto, é evidente que as colônias de abelhas não se encontram em risco apenas durante o inverno e as perdas estão acontecendo durante o ano todo. A pesquisa apresentada revelou que os apicultores perderam 44 por cento de suas colônias entre abril de 2015 e março de 2016, sendo esta a maior perda anual já registrada.

O Dr. Dennis VanEngelsdorp, um cientista e pesquisador líder da Universidade de Maryland, disse ao The Guardian:

"Isto é muito preocupante e o que realmente me incomoda é que estamos perdendo colônias durante o verão também, quando as abelhas deveriam estar passando muito bem. Isto sugere que há algo mais acontecendo – as abelhas podem ser um indicador de problemas ambientais muito maiores.

Uma em cada 3 porções de alimento que nós consumimos é, direta ou indiretamente, polinizada pelas abelhas. Se desejarmos produzir maçãs, pepinos, amêndoas, mirtilos e diversos outros tipos de alimento, precisamos de um sistema de polinização que funcione."

Apicultores Recorrem à Compra por Correspondência de Abelhas Rainhas para Salvar suas Colônias

Existe apenas uma rainha em cada colmeia e sua função é, em parte, botar milhares de ovos para manter sua colônia prospera. Sem uma abelha rainha, a colônia não pode sobreviver e já existem produtores de abelhas rainhas nos EUA que as vendem a apicultores que estão tentando salvar suas colmeias sem rainha.

Isto é um sinal de quão desesperada se tornou a indústria apícola. No The Guardian, VanEngelsdorp continua:

"Estamos presenciando maiores pressões de custos para polinizar plantações. Custa em torno de $200 por ano manter uma colônia viva e substituir uma rainha. Você pode considerar-se sortudo se conseguir faturar $200 em um ano com mel produzido, portanto muitos operadores não estão sequer conseguindo ganhar mais do que gastam.

Na verdade, vários deles estão com problemas financeiros sérios."

O USDA considera que 18,7 por cento será o ponto de referência; acima disso, as perdas de abelhas se tornam economicamente insustentável. A agência de pesquisas internas do USDA, o Serviço de Pesquisas Agrícolas (ARS) relatou que:

"Se as perdas continuarem, a situação pode ameaçar a viabilidade econômica da indústria apicultora de polinização. Abelhas produtoras de mel não desapareceriam inteiramente, porém o custo dos serviços de polinização das abelhas produtoras de mel aumentaria e este custo elevado seria, por fim, repassado ao consumidor através do aumento dos custos dos alimentos."

As Perdas no Verão Sugerem o Envolvimento de Pesticidas

Existem diversas teorias para explicar o motivo do desaparecimento das abelhas. A Bayer, a Syngenta e outras companhias químicas culparam os ácaros pela morte das abelhas. No entanto, as perdas no verão enfraquecem seus argumentos de acordo com Jeff Pettis, um entomologista sênior do USDA, pois as infestações de ácaros ocorrem com mais frequência no inverno.

Em vez disso, a exposição aos pesticidas é um fator provável. Os neonicotinoides têm sido cada vez mais responsabilizados pela morte de abelhas (e foram acusados pela matança em massa de 25.000 mamangavas em 2013 juntamente com a morte de milhões de abelhas no Canadá).

A maior parte das sementes de soja, milho, canola e girassol plantadas nos EUA são cobertas com pesticidas neonicotinoides (neônicos). Os produtos químicos, produzidos pela Bayer e pela Syngenta, percorrem sistematicamente  a planta inteira e matam os insetos que devoram suas raízes e folhas.

Os neonicotinoides são neurotoxinas poderosas e bastante eficazes na matança de parasitas, porém são também prejudiciais aos parasitas não visados, conhecidos como polinizadores, tais como as abelhas e borboletas.

Isto ocorre porque os pesticidas são absorvidos através do sistema vascular da planta conforme ela cresce e, como resultado, o produto químico é expresso no pólen e no néctar da planta.

Uma analise independente realizada por 29 cientistas juntamente com a União Internacional para Conservação da Natureza (que analisou 800 estudos) concluiu que os neonicotinoides estão prejudicando seriamente as abelhas.

Um dos pesquisadores, o Dr. Jean-Marc Bonmatin, do National Centre for Scientific Research, disse:

"As evidências estão bem claras. Estamos testemunhando uma ameaça à produtividade de nosso meio ambiente natural e cultivado equivalente a imposta pelos organofosfatos ou DDT. Longe de proteger a produção de alimentos, o uso de inseticidas neonicotinoides está ameaçando a própria infraestrutura que permite seu uso."

A Perda do Habitat Natural às Monoculturas de Plantas Afasta as Fontes Alimentares Naturais das Abelhas

Outro problema evidente é o fato de que grandes áreas de prados e pastagens nos EUA – Meca das plantas ricas em pólen – perderam espaço para a monocultura. A monocultura é o cultivo de apenas um tipo de safra em escala massiva – um método de cultivo contrário à natureza.   

Isto não somente elimina as fontes alimentares naturais dos polinizadores, como também os expõe, ao mesmo tempo, a riscos elevados. O milho geneticamente modificado (GM) é um exemplo típico de monocultura e a maior parte do milho GM é tratada com neonicotinoides como a clotianidina ou a tiametoxam.

Conforme relatado pela Rede de Ação em Pesticidas (Pesticide Action Network-PAN) norte americana, as abelhas produtoras de mel do meio-oeste “os absorvem de todos os cantos” quando grandes extensões de milho GM são plantadas, pois elas:

  • "Voam sobre o pó do produtor contaminado com clotianidina
  • Coletam pólen de milho ligado à clotianidina que será, então, dado como alimento para a larva emergente
  • Coletam água de gotículas da glutação ligada a pesticidas altamente tóxicos
  • Coletam pólen e néctar de campos próximos onde fontes de forragem, tais como dentes-de-leão, absorveram estes persistentes produtos químicos do solo contaminado ano após ano desde a ampla introdução da clotianidina no cultivo de milho em 2003"

O Glifosato Pode Ser Igualmente Culpado

Os neonicotinoides não são os únicos produtos químicos com os quais as abelhas precisam se preocupar. O glifosato, um ingrediente ativo encontrado no herbicida Roundup fabricado pela Monsanto, pode igualmente ter um papel na morte das abelhas.

Conforme declarado pelo especialista em OGM, Dr. Don Huber, professor emérito em Patologia Vegetal da Universidade de Purdue, existem três características estabelecidas do distúrbio do colapso das colônias sugerindo que o glifosato pode ser, pelo menos parcialmente, responsável por:

  1. Abelhas deficientes em minerais, especialmente em micronutrientes
  2. Mesmo havendo uma abundância de alimentos as abelhas são incapazes  de utiliza-los ou digeri-los
  3. As abelhas mortas estão desprovidas do Lactobacillus e Bifidobacterium, que são componentes do sistema digestivo delas

Em diversos casos de morte de abelhas, as abelhas ficaram desorientadas, sugerindo um transtorno em seus hormônios endócrinos. O glifosato é um disruptor do hormônio endócrino muito forte.

Huber também citou um estudo realizado com o glifosato na água potável em níveis comumente encontrados em sistemas de abastecimento de água nos EUA, mostrando 30 por cento de mortalidade de abelhas expostas a ele.

Embora a maior parte do glifosato seja pulverizada em culturas agrícolas, ele também é usado em parques nas cidades, o que significa que as abelhas não recebem sequer uma pequena folga deste produto. Em 2014, por exemplo, agências da cidade de Nova Iorque aplicaram glifosato em parques e outras áreas 2.748 vezes, e isto é apenas uma subestimativa.

Uma solicitação feita pelo Freedom of Information Act concluiu que informações sobre pesticidas relacionadas ao Central Park e outros parques gerenciados por empresas de conservação sem fins lucrativos (e não pelo governo da cidade) não se tornaram públicas.

A conclusão é que as abelhas e outros polinizadores estão sendo expostos a pesticidas e outros produtos químicos praticamente em todo lugar em que eles estejam.

E muito provavelmente, o problema não é causado por apenas um ou dois produtos químicos, e sim vários. Em 2013, pesquisadores analisaram o pólen de colmeias de abelhas em sete das principais plantações e encontraram 35 diferentes pesticidas juntamente com altas cargas de fungicidas.

Cada amostra continha, em média, nove pesticidas e fungicidas diferentes. Quando o pólen foi administrado a abelhas saudáveis, elas tiveram um declínio significativo em sua capacidade de resistência a infecções provocadas pelo parasita Nosemaceranae, que foi implicado na mortes de abelhas.

Como Você Pode Ajudar as Abelhas

Para evitar prejudicar as abelhas e outros polinizadores úteis que visitam seu jardim, troque os pesticidas tóxicos e produtos químicos de jardinagem por alternativas orgânicas de controle de ervas daninhas e pragas. Até mesmo algumas fórmulas orgânicas podem danificar estes insetos benéficos, por isso certifique-se de obter seus produtos com cuidado.

Melhor ainda, livre-se de seu gramado de uma vez e plante uma horta orgânica. Tanto um jardim de flores como de legumes promove bons habitats para as abelhas. Também é recomendável manter um pequeno reservatório de água fresca em seu jardim ou quintal, pois as abelhas também sentem sede.

Além disso, você também vai querer cultivar suas próprias plantas amigáveis aos polinizadores a partir de sementes orgânicas não tratadas. Se você optar por comprar estas plantas que irão iniciar seu jardim ou horta, certifique-se de perguntar ao vendedor se elas foram pré-tratadas com pesticidas.  

Tenha em mente que você também pode ajudar a proteger o bem-estar de todos os polinizadores sempre que comprar produtos orgânicos e provenientes de animais alimentados com grama, pois estará, na verdade, “votando” pelo uso de menos pesticidas e herbicidas toda vez que comprar alimentos orgânicos e provenientes de animais alimentados com grama.  

Você também pode dar um passo a mais para ajudar na preservação das abelhas ao tentar ser um apicultor amador.  

Manter uma colméia em seu jardim requer somente uma hora de seu tempo por semana, beneficia o ecossistema local e você pode usufruir do seu próprio mel produzido em casa.

Salvar os Polinizadores deve Ser uma Prioridade Global

Em uma escala maior, para salvar abelhas e outros polinizadores, precisamos parar o uso generalizado de produtos químicos que os prejudicam, enquanto, ao mesmo tempo, deixar que a maior parte de nossas terras voltem a ser prados e construir uma rede de economia herbívora.

Praticamente não há uma forma melhor para melhorar as condições para os animais, proteger os polinizadores, trazer mais receita aos agricultores e melhorar a saúde humana através de alimentos nutritivos a partir de animais adequadamente criados no pasto.

Ao imitar o comportamento natural de rebanhos migratórios dos animais de pasto selvagens — o que significa permitir ao gado pastar livremente e movimentar o rebanho em torno de padrões específicos – os agricultores podem apoiar os esforços da natureza de se regenerar e prosperar, enquanto fornecem áreas de forragem naturais, livres de pesticidas para os polinizadores e outros insetos benéficos.

A boa notícia é que não precisamos inventar outro produto químico ou um novo equipamento agrícola para resolver este problema.

Simplesmente precisamos voltar a um sistema que funcione a favor da natureza e não contra ela. Por fim, se você está se questionando porque as abelhas são tão importantes, quando uma loja Whole Foods removeu todos os produtos de plantas dependentes de polinizadores, ela acabou retirando 52 por cento das ofertas de seus produtos das prateleiras.

Uma amostra dos produtos que desapareceram sem as abelhas está abaixo. Imagine um mundo sem eles.

Maçã

Cebola

Abacates

Cenouras

Mangas

Limões

Limas

Melão

Meloa

Abobrinha

Abobrinha de verão

Berinjela

Pepinos

Aipo

Cebolas verdes

Couve-flor

Alho-poró

Couve-chinesa

Couve

Brócolis

Brócolis rapini

Folhas da mostarda