Por Dr. Mercola
Infelizmente, embora existam novos medicamentos no mercado para reduzir a produção de ácido para a redução dos sintomas, estes medicamentos não tratam a causa subjacente e ainda trazem seu conjunto de efeitos e problemas colaterais.
Os tipos mais comuns de medicamentos usados no tratamento de úlceras podem também, por fim, piorar o problema do revestimento do estômago e da saúde no geral. O objetivo destes medicamentos é reduzir, de forma significativa, o ácido do estômago. No entanto, este ácido é um valioso contribuinte químico da digestão e não um culpado pela úlcera.
Como saber se você deve consultar um médico para verificar uma possível úlcera? Antes de ler a relação de sintomas, é importante entender a anatomia básica do sistema digestivo, os diferentes tipos de úlceras e as opções disponíveis de tratamento.
O Que Você Deve Saber Sobre a Anatomia do Sistema Digestivo
O estômago tem a forma de um rim e está localizado logo abaixo das costelas do lado esquerdo. O alimento passa através do esôfago e de uma válvula muscular chamada esfíncter esofágico inferior, antes de passar pelo estômago.
A extremidade inferior do estômago possui outro esfíncter, chamado esfíncter pilórico, que conecta o estômago ao início do intestino delgado, chamado duodeno.
O duodeno tem em torno de 30,5 cm de comprimento e ajuda o organismo a regular a quantidade de alimento fluindo pelo estômago. Você possui glândulas dentro da parede do estômago que produzem ácido e pepsina, enzima que ajuda na digestão do alimento. Normalmente, o estômago produz muco para proteger o revestimento mucoso contra o ácido.
Se você tem uma úlcera no trato digestivo, esta defesa contra o ácido pode falhar. Frequentemente, este é o resultado de uma infecção causada pela bactéria helicobacter pylori (H. pylori). O ácido provoca feridas no revestimento do duodeno (úlcera duodenal) ou do estômago (úlcera gástrica).
Estas úlceras são chamadas úlceras pépticas ou doença ulcerosa péptica (DUP) e recebem esse nome por estarem localizadas no trato digestivo. Às vezes estas úlceras curam-se sozinhas. No entanto, 35 por cento das úlceras gástricas causarão complicações graves, como sangramento ou perfuração (buraco) na parede do estômago se não receberem tratamento adequado.
Outras complicações são sangramento, inflamação do estômago ou duodeno, infecção ou estreitamento ou bloqueio onde o duodeno deixa o estômago. Em último caso, o alimento começa a deixar o estômago mais lento, até que seja finalmente bloqueado ou obstruído. Isto pode causar vômitos.
Como Saber se Você tem uma Úlcera
Os sintomas de uma úlcera péptica podem variar levemente, dependendo da localização, do grau de inflamação e se você está com bloqueio parcial do duodeno.
A maioria dos sintomas é geralmente experimentada na área epigástrica, no abdômen superior logo abaixo do osso do peito (esterno). Os sintomas são:
Dor corrosiva e ardente no meio ou no topo do estômago entre as refeições ou à noite |
Sentir-se cheio ou inchado após o consumo de uma pequena quantidade de alimento |
Os sintomas aumentam ao consumir alimentos ricos em gordura |
Vômitos |
Azia |
Perda de peso sem esforço |
Arrotos |
Perda de apetite |
Náusea |
Casos graves podem resultar em:
- Fezes escuras ou pretas devido a sangramento
- Vômito com sangue (parecido com café moído)
- Dor aguda no abdômen central ou superior
- Dificuldade para respirar
- Vômito de alimento parcialmente digerido devido a bloqueio
Causas Comuns e Incomuns de Úlceras Pépticas
Em alguns casos, os sintomas de uma úlcera podem ser resolvidos quando você eliminar o agente causador. Por exemplo, os medicamentos podem impactar a qualidade do revestimento do estômago, reduzindo a proteção contra a produção normal de ácidos.
Os medicamentos conhecidamente causadores deste efeito são os medicamentos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) como o ibuprofeno, a aspirina ou o naproxeno. Mesmo a aspirina entérica revestida ou outros medicamentos prescritos podem aumentar seu potencial para produção elevada de ácidos e formação de úlceras.
O consumo excessivo de álcool pode disparar a formação de úlceras, assim como o fumo, mascar tabaco ou fazer tratamentos de radiação no abdômen. Produção excessiva de ácido pode também ocorrer a partir de gastrinomas, ou tumores formados nas células produtoras de ácido no estômago.
No entanto, de longe, a causa mais comum de ulcerações no estômago ou no duodeno é o resultado do super crescimento da bactéria H. pylori. Esta bactéria danifica o muco protetor do revestimento do estômago contra o ácido estomacal.
Em 2005, a Academia Nobel premiou com o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina os Drs. Barry Marshall e J. Robin Warren por sua descoberta da associação entre a bactéria helicobacter pylori e a gastrite e a doença da úlcera péptica.
Chamada “descoberta inesperada”, Marshall e Warren associaram inflamação e ulceração do estômago com uma infecção causada pela bactéria.
Embora as ulcerações pareçam curar-se pela redução do ácido gástrico no estômago, elas geralmente rapidamente reincidem porque o tratamento não reduziu o nível das bactérias ou tratou a resposta inflamatória.
A H. pylori causa uma infecção crônica e inflamação que pode ser sintomática ou não. Normalmente a alta acidez do estômago é ambiente pobre para o crescimento da bactéria.
Tratamento com inibidores da bomba de prótons (IBP) reduz a acidez e permite que a bactéria prolifere. Outros estudos realizados também apoiam a teoria de que doenças de refluxo são provocadas, em parte, por um supercrescimento das bactérias.
O Valor do Ácido Estomacal
O ácido estomacal é necessário não somente para a digestão e quebra do alimento que você consome, mas também para proteger o organismo contra o crescimento bacteriano.
O trato gastrointestinal é o lar de grande parte do sistema imunológico, protegendo-o (a) contra invasores através da produção de ácidos e acomodando colônias de bactérias benéficas que agem como seu exército defensor.
O ambiente dentro do estômago é normalmente altamente ácido (pH 4). Isto funciona como defesa contra patógenos perigosos incapazes de viver em ambiente tão ácido. A maior parte destes ácidos é composta por ácido hidroclorídrico e pepsina. Conforme você envelhece, ao chegar aos 30 e 40 anos de idade, seu estômago começa a produzir menos ácido, promovendo menos proteção.
Se você experimenta baixos níveis de ácido estomacal por causa da idade ou por causa do uso de antiácidos, existem efeitos secundários que podem impactar de forma negativa sua saúde.
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Supercrescimento bacteriano
A falta de ácido estomacal aumenta o crescimento de bactérias no estômago, o que pode desencadear uma má absorção de nutrientes e foi associado a inflamações da parede do estômago.
• Má absorção de nutrientes
Uma das causas mais comuns da função prejudicada da digestão e absorção de nutrientes é a redução da produção de ácido no estômago. Isto ocorre tanto em pessoas idosas quanto em pessoas em tratamentos de longo prazo com antiácidos. O ácido quebra proteínas, ativa hormônios e enzimas e protege seu intestino contra o supercrescimento de bactérias.
A falta de ácido resulta em deficiências de ferro e minerais e digestão incompleta de proteínas. Isto pode desencadear uma deficiência em vitamina B12.
• Redução da resistência contra infecções
Sua boca, esôfago e intestinos são o lar para o crescimento saudável de bactérias, porém o estômago é relativamente estéril. O ácido estomacal mata a maior parte das bactérias provenientes dos alimentos ou líquidos, protegendo o estômago e o trato intestinal contra o crescimento bacteriano anormal.
Ao mesmo tempo, o ácido estomacal evita que as bactérias que se desenvolvem nos intestinos movam-se para o estômago. Ao reduzir o ácido estomacal, altera-se o pH do estômago permitindo que bactérias externas desenvolvam-se.
Alguns antiácidos podem reduzir o ácido estomacal entre 90 e 95 por cento, aumentando o risco de desenvolvimento de infecções provocadas por salmonella, c. difficile, giardia e listeria.
Outros estudos realizados associaram medicamentos redutores de ácido ao desenvolvimento de pneumonia, tuberculose (TB) e tifoide. A distorção do microbioma intestinal afeta o sistema imunológico e pode aumentar o risco geral de contrair infecções.
IBPs e Bloqueadores de H2 Tratam os Sintomas, Não a Causa
Quando os IBPs foram aprovados pela U.S. Food and Drug Administration (FDA), eles tinham como objetivo ser consumidos por não mais que seis semanas. No entanto, hoje, não é incomum encontrar pessoas consumindo estes medicamentos por mais de 10 anos.
Tanto os IBPs quanto os bloqueadores de H2 podem inicialmente reduzir os sintomas, pois reduzem a quantidade de ácido produzido no estômago, reduzindo, assim, a acidez que está afetando as ulcerações. No entanto, a redução da acidez também incentiva o crescimento bacteriano.
Igualmente, quando você para de consumir estes medicamentos antiácidos, sua acidez tende a aumentar, resultando em mais ulcerações provenientes da ação do ácido nas paredes do estômago. É por isso que parar de uma vez não é recomendado. Você precisa gradualmente ir cortando os medicamentos. Tratamento adequado cuidará da ação que causou a úlcera estomacal.
Você pode precisar reduzir ou eliminar o uso de AINEs e reduzir o consumo de álcool ou a frequência do uso de tabaco. Aqui estão diversos métodos que você pode discutir com seu médico para determinar se a H. pylori é a culpada pela úlcera péptica que você tem.
• Teste respiratório com ureia com isótopos do carbono
A H. pylori converte a ureia em dióxido de carbono. Dez minutos após o consumo de uma substância especial com ureia, o dióxido de carbono na respiração é medido. Este teste pode determinar, de forma precisa, se você tem infecção causada por H. pylori e é usado após o tratamento para determinar se foi bem-sucedido.
• Exame de sangue
Um exame de sangue pode medir anticorpos da H. pylori para determinar se você foi exposto(a) à bactéria. Este exame pode permanecer positivo por anos após uma infecção e, portanto, não pode ser usado para determinar se algum tratamento foi bem-sucedido.
• Exame de fezes
A H. pylori pode ser detectada nas fezes e, portanto, elas podem ser usadas para determinar se você tem uma infecção.
• Biópsia do tecido
Este é o método mais preciso para determinar se você tem uma infecção. Uma amostra de tecido do revestimento do estômago é retirada durante o procedimento de endoscopia ambulatorial.
Opções Eficazes de Tratamento
Se o exame de H. pylori for positivo, você tem duas opções para tratamento. Muitas pessoas ao redor do mundo têm a H. pylori no intestino, porém nem todas são sintomáticas. A bactéria é propagada através do contato boca a boca e através de alimento e água contaminados. Alimentação e opções de estilo de vida permitem que a bactéria se prolifere no intestino e crie os sintomas de uma úlcera péptica.
Você pode escolher uma combinação de antibióticos para controlar a bactéria, porém verifique se necessita fazer outras mudanças em longo prazo para obter alívio de longa duração. Alternativamente, você pode escolher usar as estratégias relacionadas abaixo para aliviar as úlceras e continuar a controlar a população de H. pylori no intestino, e tratar a raiz do problema.
Alimentos processados e açúcares produzem desequilíbrio no microbioma digestivo e promovem o crescimento de micróbios patogênicos. O consumo de alimentos reais, idealmente orgânicos é o primeiro passo para o restabelecimento da saúde do intestino. Reduza ou elimine completamente alimentos que você sabe que desencadeiam a dor.
Muitas pessoas acham necessário eliminar mentas, bebidas cafeinadas, café, álcool, nicotina e chocolates enquanto seu intestino está sendo curado. Uma das coisas mais importantes que você pode fazer para reduzir estas bactérias patogênicas é realimentar seu intestino com bactérias benéficas. Você pode usar tanto alimentos tradicionalmente fermentados quanto suplementos probióticos de alta qualidade.
Estes podem naturalmente ajudar na redução do crescimento da bactéria H. pylori no intestino.