Zika: Brasil admite que não é culpa do vírus


Vírus Zika

Resumo da matéria -

  • Autoridades de saúde do Brasil afirmam agora que o vírus Zika não é o único responsável pelo aumento dos casos de microcefalia que assolaram regiões do país
  • O vírus Zika espalhou-se pelo Brasil, mas os índices altíssimos de microcefalia não
  • Dados indicam que fatores socioeconômicos podem estar associados, já que 90% dos casos de microcefalia do Brasil ocorreram na região nordeste
  • A maioria das mulheres brasileiras que deram à luz bebês com microcefalia eram pobres e moravam em cidades pequenas ou na periferia de grandes cidades

Por Dr. Mercola

Em meio ao alerta crescente baseado no medo da ameaça do vírus Zika veio uma confissão silenciosa das autoridades de saúde do Brasil: o Zika não é o único responsável pelo aumento dos casos de microcefalia que assolaram regiões do país.

Embora haja evidências que indiquem que o vírus Zika esteja ligado à microcefalia e que o vírus se espalhou pelo Brasil, os índices do problema só atingiram taxas altíssimas na região nordeste.

Como o vírus se espalhou pelo Brasil, mas os altos índices de microcefalia não, as autoridades agora foram forçadas a admitir que pode haver algo mais envolvido.

Fátima Marinho, diretora de informações e análise de saúde no Ministério da Saúde, falou ao periódico Nature: "Suspeitamos que algo mais além do vírus Zika esteja causando a alta intensidade e gravidade dos casos".

Quase 90% dos casos de microcefalia no Brasil ocorreram no nordeste

Desde novembro de 2015, foram confirmados mais de 1.700 casos de microcefalia congênita ou outros defeitos de nascença do sistema nervoso central no Brasil.

Quando os casos começaram a surgir e estavam claramente ligados ao vírus Zika, as autoridades de saúde acreditavam que haveria "uma explosão de defeitos de nascença" em todo o Brasil, segundo Marinho. Mas isso não aconteceu.

Os dados coletados por Marinho e colegas, enviados para publicação, indicam que há fatores socioeconômicos envolvidos. A maioria das mulheres que deram à luz bebês com microcefalia eram pobres e moravam em cidades pequenas ou na periferia de grandes cidades.

Além disso, a epidemia ocorreu em uma região rural de miséria no Brasil, que utiliza grandes quantidades de pesticidas proibidos.

Juntando esses fatores com a falta de saneamento e a deficiência generalizada de vitamina A e zinco, você tem o cenário ideal para um aumento nos índices baixos de saúde entre os recém-nascidos dessa região.

A poluição ambiental e a exposição a pesticidas tóxicos têm sido relacionadas a vários efeitos prejudiciais à saúde, entre eles os defeitos de nascença. Por exemplo:

  • A deficiência de vitamina A tem sido associada a um risco maior de microcefalia
  • O Centro americano de controle e prevenção (CDC) lista a desnutrição e a exposição a produtos químicos tóxicos como fatores de risco conhecidos
  • O CDC também observa que determinadas infecções durante a gestação, como rubéola, citomegalovírus, toxoplasmose e outras, são fatores de risco

Ausência de dados não permite confirmar ligação com microcefalia causada por Zika

Também foi dito que a microcefalia pode ser resultado da ocorrência do vírus Zika juntamente com outras infecções, como dengue e chikungunya.
O médico brasileiro que foi o primeiro a estabelecer uma ligação entre o vírus Zika e a microcefalia tem considerado o envolvimento de outra doença agora, o vírus da Diarreia Viral Bovina (BVDV), já que as proteínas BVDV também foram detectadas nos cérebros de três fetos com microcefalia.
O BVDV causa defeitos de nascença no gado, mas não se sabe se contamina pessoas. Pesquisadores indicaram que a infecção pelo vírus Zika talvez facilite o contágio do BVDV em humanos.

O que piora ainda mais a situação é que os dados de microcefalia do Brasil são provenientes de relatórios hospitalares incompletos. Na maioria dos casos, os testes confirmam que não houve infecção por Zika.

Em junho de 2016, em Porto Rico, foi lançado o projeto Zika em Bebês e na Gestação. Ele tem como objetivo monitorar 10.000 mulheres grávidas para examinar o vírus Zika juntamente com fatores nutricionais, socioeconômicos e ambientais e sua possível ligação com os defeitos de nascença. No entanto, os resultados de um projeto semelhante só trouxeram à tona mais questionamentos.

Doze mil casos de Zika confirmados em mulheres grávidas na Colômbia — nenhum caso de microcefalia

Segundo um relatório do Instituto de Sistemas Complexos na Nova Inglaterra (NECSI), existem sérias dúvidas de que o vírus Zika seja a causa da microcefalia. Ele cita resultados preliminares de um projeto do New England Journal of Medicine, que acompanhou quase 12.000 mulheres grávidas infectadas com o vírus Zika.

Não houve relato de nenhum caso de microcefalia em bebês desde maio de 2016, no entanto, foram descobertos quatro casos de microcefalia em mulheres infectadas pelo Zika e sem sintomas que, portanto, não foram incluídos no estudo.

Os pesquisadores especularam que isso significa que o número de casos pode ser até quatro vezes maior devido ao número de casos não informados de infecção pelo Zika, para um total de pelo menos 60.000 gestações infectadas com o vírus na Colômbia.

Usando esses dados, uma análise revelou o índice de microcefalia dentro do que seria esperado em qualquer região, estando o Zika incluído ou não, ou seja, dois casos a cada 10.000 nascimentos.

Até 16 de junho de 2016, era 11 o número total de casos de microcefalia relatados em mulheres infectadas com o Zika na Colômbia. Se há uma ligação entre o Zika e a microcefalia, o NECSI destacou que o número total de casos de microcefalia deveria aumentar drasticamente nos próximos meses, alcançando mais de 10 nascimentos de microcefalia-Zika a cada semana.

O NECSI também indicou que "outra causa da microcefalia no Brasil poderia ser o pesticida Pyriproxyfen, que apresenta reatividade cruzada com o ácido retinóico e causa microcefalia, e que está sendo usado na água potável".

Especialista da OMS: resposta ao Zika é "totalmente histérica"

Florence Fouque, especialista na Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre animais que transmitem vírus, chamou a resposta pública ao vírus Zika de "totalmente histérica". Ela pôs a culpa na histeria sobre as descobertas de que o vírus afeta mulheres grávidas e pode ser transmitido sexualmente.

"É como a AIDS", disse ela ao PRI. "As pessoas fazem essa associação e é por isso que têm tanto medo". Diversos casos de Zika foram detectados em um restaurante em Miami, Flórida, em agosto de 2016, e repelentes de insetos foram colocados em todas as mesas.

Even Oliver Brady, epidemiologista na London School of Hygiene and Tropical Medicine contratado pelas autoridades brasileiras para avaliar a situação Zika-microcefalia, disse que não há provas conclusivas de que o Zika cause defeitos de nascença em humanos.

Ele falou ao PRI que embora os estudos com animais tenham mostrado ataques do vírus em células do cérebro, isso não é uma "prova definitiva".

Instituto Nacional de Saúde lança testes de vacina experimental contra o Zika

Os Estados Unidos estão entre os países que estão ignorando os dados para lançar uma vacina contra o vírus Zika antes que se saiba até mesmo se ele causa defeitos de nascença. O que se sabe, no entanto, é que as vacinas experimentais têm riscos reais, normalmente subestimados após as "emergências" globais visíveis, como o Zika.

Em agosto de 2016, o Instituto Nacional de Saúde (NIH) anunciou o lançamento do teste de uma vacina experimental contra o Zika — mais uma vez, antes que houvesse provas conclusivas de que o vírus causa microcefalia.

Oito voluntários saudáveis com idades entre 18 e 35 anos serão vacinados com doses diferentes da vacina experimental. Nenhum placebo será administrado. Diz-se que a vacina é semelhante à vacina do vírus do Oeste do Nilo, desenvolvida anteriormente pelo NIH, mas que ainda não foi aprovada.

Isso já deveria ser um sinalizador de alerta, assim como o resultado desastroso da vacina CYD-TDV, a primeira vacina contra dengue aprovada pela OMS em abril de 2016.

Vacina contra dengue indica possíveis problemas com vacinas contra Zika

O Dr. Scott B. Halstead, ex-conselheiro sênior do Projeto de Vacinação contra a Dengue e fundador do Projeto de Vacinação de Crianças, disse o seguinte ao Centro de Pesquisa e Políticas de Doenças Infecciosas da Universidade de Minnesota:

"Aconteceu. Temos uma vacina que fortalece a dengue...é claro como a água: as crianças com menos de cinco anos que receberam a vacina apresentaram cinco a sete vezes mais taxas de hospitalização por vírus severo da dengue do que controles de placebo.

Ele refere-se aos resultados de um estudo de três anos publicado no New England Journal of Medicine, que sugere que a vacina causa o reforço dependente de anticorpos (ADE). Halstead explica: "Com o passar do tempo, você cria e mantém níveis de proteção de anticorpos da infecção inicial, mas você perde os anticorpos de reatividade cruzada…Isso permite que uma segunda infecção por dengue acabe causando uma doença grave…" 

Nesse momento, não se sabe como isso está relacionado ao vírus Zika, mas é possível que uma imunidade à dengue preexistente possa levar à infecção mais grave causada pelo vírus Zika. O Centro de Pesquisa e Políticas de Doenças Infecciosas da Universidade de Minnesota citou as preocupações emitidas pelo Dr. Philip K. Russell, ex-diretor do Instituto de Pesquisa do Exército Walter Reed e chefe do Comando de Pesquisa e Desenvolvimento Médico do Exército Americano, além de presidente e fundador do Instituto de Vacinas Sabin:

"Russell afirma que o fato de o Zika estar ocorrendo em áreas onde a dengue tem sido endêmica indica possíveis problemas graves com o ADE e o desenvolvimento da vacina contra o Zika. 'A atual epidemia do Zika, que é geralmente uma doença leve, tem piorado muito nessas regiões', afirma Russel. 'Acredito que há um efeito principal, mas ainda não foram feitos estudos para descobrir isso'.

Maior exposição a tóxicos não é a solução

Várias regiões estão usando cada vez mais a pulverização com pesticidas para combater o vírus Zika. Normalmente, é preciso ter uma autorização da Lei da Água Limpa para pulverizar pesticidas em regiões onde eles podem acabar na água. A finalidade da autorização é evitar a contaminação da água por produtos químicos tóxicos, mas agora o vírus Zika tem sido usado como uma desculpa para ignorar essa precaução sensata.

A ideia foi introduzida na Lei de Controle Vetorial do Zika, aprovada pela Câmara de Representantes dos EUA. Ela isenta os aplicadores de pesticidas da necessidade de autorização da Lei daÁgua Limpa, mesmo quando a pulverização é próximo à água.

Críticos argumentam que a nova lei é praticamente inútil no combate ao vírus Zika uma vez que as agências de controle de mosquitos já possuem autorização para aplicar pesticidas em situações de emergência com o intuito de evitar a disseminação de doenças infecciosas sem ter que solicitar permissão.

A oposição diz que a lei nada tem a ver com o combate ao Zika e que tem sido debatida há muitos anos, com a maioria pressionando por sua aprovação "sob qualquer nome" que fosse conveniente no momento. Um porta-voz da Casa Branca também disse que ela não exclui as restrições de flexibilidade sobre alguns pesticidas no combate ao Zika.

Ao excluir os requisitos de autorização para pulverizar pesticidas próximo às águas, é provável que o uso desses produtos químicos aumente drasticamente, inclusive na pulverização aérea, iniciada recentemente em Miami, na Flórida.

Pulverização aérea contra mosquitos pode aumentar o risco de autismo

Infelizmente, muitos poderão sofrer as consequências. Em uma pesquisa apresentada no Encontro da Sociedade Acadêmica Pediátrica de 2016, a exposição a pesticidas aéreos foi associada ao risco maior de atrasos de desenvolvimento e transtornos do espectro autista em crianças.

O estudo comparou crianças residentes em áreas onde a pulverização aérea era usada todo verão para combater mosquitos que transportam o vírus da encefalite equina oriental com crianças residentes em áreas sem pulverização aérea.

A probabilidade de as crianças expostas à pulverização aérea serem diagnosticadas com autismo ou atraso de desenvolvimento documentado foi 25% maior do que aquelas que moravam em áreas que utilizavam outros métodos de aplicação de pesticidas (como, por exemplo, a aplicação manual de grânulos).

Se as autoridades usarem a suposta ameaça do Zika para aumentar a pulverização aérea, isso pode aumentar o risco de distúrbios cerebrais nas crianças, que é o oposto ao que as campanhas anti-Zika buscam atingir.

Especialistas em mosquitos admitem que risco de ameaça do Zika é "praticamente nulo"

Até mesmo os especialistas em mosquitos têm questionado o nível de emergência que realmente existe. Chris Barker, pesquisador de vírus transmitidos por mosquitos na Davis School of Veterinary Medicine da Universidade da Califórnia, falou para o WebMD: "Acredito que o risco de o Zika criar ciclos de transmissão que se estabeleçam no território americano é praticamente nulo".

Barker acredita que o Zika terá o mesmo rumo de outras doenças tropicais transmitidas por mosquitos (como dengue e chikungunya) nos Estados Unidos: pequenos grupos da epidemia nos estados do sul e pouca atividade nos outros locais.

Você não precisa sair aplicando produtos químicos no quintal para se proteger contra o vírus Zika (cuja conexão com defeitos de nascença ainda está sendo estudada). Se, no entanto, os mosquitos forem uma incomodação, é importante remover a água parada de potes de animais domésticos, calhas, latas de lixo orgânico e reciclável, pneus, casas de pássaros, brinquedos infantis, etc.

É aí que os mosquitos se procriam, portanto, se você eliminar a água parada, eliminará vários mosquitos. Um ventilador simples também consegue afastar os mosquitos se você estiver fazendo um encontro no quintal ou, como uma solução de longo prazo, experimente instalar uma casa para morcegos (os morcegos são grandes predadores de insetos, principalmente mosquitos).

O consumo periódico de alho também pode ajudar a proteger contra mordidas de mosquito, assim como os seguintes repelentes de inseto naturais:

  • Óleo da folha de canela (um estudo revelou que é mais eficaz em matar mosquitos do que o DEET)
  • Extrato de baunilha misturado com azeite de oliva
  • Use um sabonete de citronela e depois aplique o óleo 100% puro da essência de citronela sobre a pele. A citronela de Java é considerada a citronela de maior qualidade no mercado
  • Óleo de nepenta (segundo um estudo, este óleo é 10 vezes mais eficaz que o DEET)