Por Dr. Mercola
Cada vez mais as provas científicas mostram que nutrir a flora intestinal com bactérias benéficas conhecidas como probióticos é muito importante para o funcionamento adequado do cérebro, e isso inclui o bem-estar psicológico e o controle do humor.
Pode parecer estranho que as bactérias do seu intestino possam ter impacto em emoções como ansiedade, mas é exatamente isso que as pesquisas afirmam.
Bactérias boas ajudam a aliviar a ansiedade
Os probióticos conhecidos como Bifidobacterium longum NCC3001 mostraram normalizar comportamentos de ansiedade em ratos com colite infecciosa
O periódico Journal of Neurogastroenterology and Motility publicou a nova descoberta de que o efeito dessas bactérias na ansiedade compreende a modulação das vias vagais dentro do intestino-cérebro:
"À medida que a Bifidobacterium longum diminui a excitabilidade dos neurônios entéricos, ela emite um sinal ao sistema nervoso central ativando as vias vagais no nível do sistema nervoso entérico".
Talvez você não saiba que tem, na realidade, dois sistemas nervosos:
- Sistema nervoso central, composto pelo cérebro e medula espinhal
- Sistema nervoso entérico, que é o sistema nervoso intrínseco do seu trato gastrointestinal
Os dois são feitos do mesmo tipo de tecido. Durante o desenvolvimento fetal, uma parte se transforma no sistema nervoso central enquanto a outra se transforma no sistema nervoso entérico.
Esses dois sistemas são conectados pelo nervo vago, o décimo nervo craniano que vai do tronco cerebral até o abdômen. Sabe-se agora que o nervo vago é realmente a rota principal utilizada pelas bactérias intestinais para transmitir informações ao seu cérebro.
Pense no intestino como seu segundo cérebro
Em um sentido muito real, você tem dois cérebros, um dentro do crânio e outro no intestino, e ambos precisam ser bem nutridos. Seu intestino e seu cérebro funcionam em conjunto, cada um influenciando o outro. É por isso que a saúde intestinal pode ter uma influência tão grande na saúde mental, e vice-versa; bem como o motivo por que sua alimentação está tão ligada à saúde mental.
Este ano tem sido emocionante devido às revelações de alguns dos "mistérios" entre a saúde mental e a flora intestinal. Por exemplo, uma pesquisa no início deste ano mostrou que os probióticos têm um efeito direto na química cerebral sob condições normais — de um modo capaz de causar impacto nos sentimentos de ansiedade ou depressão.
Resumindo, o probiótico Lactobacillus rhamnosus teve um efeito notável nos níveis de GABA (neurotransmissor inibitório bastante envolvido na regulação de diversos processos fisiológicos e psicológicos) em determinadas regiões do cérebro e reduziu o hormônio induzido pelo estresse corticosterona, resultando em um comportamento de menor ansiedade e depressão.
Quando os pesquisadores separaram o nervo vago, os níveis do receptor GABA e o comportamento dos animais permaneceram inalterados depois do tratamento com Lactobacillus rhamnosus, confirmando que o nervo vago é muito provavelmente o principal caminho de comunicação entre as bactérias do intestino e o cérebro.
Os autores concluíram:
"Juntas, essas descobertas destacam o papel importante das bactérias na comunicação bidirecional do eixo intestino-cérebro e indicam que determinados organismos podem ser complementos terapêuticos úteis nos distúrbios relacionados ao estresse, como ansiedade e depressão".
O interessante é que neurotransmissores como a serotonina também foram encontrados no seu intestino. Na realidade, a maior concentração de serotonina, que funciona no controle do humor, depressão e agressão, encontra-se nos intestinos, e não no cérebro!
Uma flora intestinal comprometida pode causar epidemias de TDAH, autismo e deficiências de aprendizagem?
Depois que você entende a influência que a saúde intestinal tem sobre os sentimentos de ansiedade, não é tão absurdo considerar seu papel em outros problemas mentais e emocionais, principalmente se a saúde do intestino está comprometida desde o nascimento.
A Dra. Natasha Campbell-McBride afirma que o estabelecimento de uma flora intestinal normal nos primeiros 20 dias de vida aproximadamente exerce um papel fundamental na maturação adequada do sistema imunológico do seu bebê. Sendo assim, os bebês que desenvolvem uma flora intestinal anormal apresentam sistemas imunológicos comprometidos, que parecem aumentar muito, casualmente, o risco de danos causados pelo protocolo padrão de vacinação.
A Dra. Campbell-McBride explica:
"O bebê adquire sua flora intestinal no momento do nascimento, quando passa pelo canal de parto da mãe. Portanto, os organismos vivos presentes no canal de parto ou na vagina da mãe tornam-se a flora intestinal do bebê. E quais são os organismos que vivem na vagina da mãe? É uma zona amplamente povoada do corpo feminino. A flora vaginal vem do intestino. Portanto, se a mãe tem uma flora intestinal anormal, ela também a terá no canal do parto".
A doutora apresenta uma descrição fascinante e elegante das condições básicas que contribuem para distúrbios como Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), deficiências de aprendizagem e autismo, juntamente com uma abordagem pragmática para ajudar a evitar e deter a epidemia do autismo — e tudo começa com a flora intestinal da mãe.
É possível saber mais sobre essa curiosa conexão em seu livro Gut and Psychology Syndrome (Síndrome psicológica intestinal).
É claro que essas informações têm fortes implicações na vida dos pais, já que a melhoria da sua flora intestinal, e da flora do seu filho desde o nascimento, darão a ele um melhor começo para uma vida saudável. Mas mesmo que você não seja pai ou mãe, estar ciente dessa conexão ajuda você a compreender até que ponto os probióticos podem afetar sua saúde.
O tipo e a quantidade de micro-organismos do seu intestino interagem com seu corpo de maneiras que podem evitar ou incentivar o desenvolvimento de várias doenças; os probióticos têm mais de 30 ações farmacológicas benéficas que conhecemos, entre elas:
Antibacteriano |
Antialérgico |
Antiviral |
Imunomodulador |
Anti-infeccioso |
Antioxidante |
Antiproliferativo |
Apoptótico (autodestruição celular) |
Antidepressivo |
Antifúngica |
Cardioprotetor |
Gastroprotetor |
Rádio e quimioprotetor |
Regula para cima a glutationa e determinadas glicoproteínas que ajudam a regular respostas imunológicas, como a interleucina-4, interleucina-10 e interleucina-12. |
Regula para baixo a interleucina-6 (citocina envolvida em inflamações crônicas e doenças relacionadas à idade) |
Reprime o inibidor do fator de necrose tumoral (TNF) alfa, NF-kappaB, o receptor do fator de desenvolvimento epidérmico e muito mais |
Os probióticos são provavelmente mais importantes do que um multivitamínico
Várias pessoas começam o dia tomando suplementos multivitamínicos como um tipo de seguro que cobre suas necessidades em termos de nutrição. Mas, de modo geral, a pesquisa sobre probióticos indica que a suplementação com probióticos é provavelmente mais importante do que tomar um multivitamínico.
Na realidade, vários dos nutrientes essenciais que encontramos nos multivitamínicos são produzidos por nós 24 horas por dia, 7 dias por semana, por essas bactérias benéficas, com o espectro completo das vitaminas do grupo B.
Na realidade, a melhor maneira de garantir a flora intestinal ideal é consumir regularmente alimentos tradicionalmente fermentados, que são ricos em bactérias boas. As versões pasteurizadas NÃO têm os mesmos benefícios, já que o processo de pasteurização destrói diversos, se não todos, os probióticos naturais. Portanto, você precisa buscar alimentos não pasteurizados de fermentação tradicional, ou fazê-los você mesmo. Alguns exemplos:
Lassi (bebida indiana à base de iogurte, tomada geralmente antes do jantar) |
Diversas fermentações em conserva de chucrute de repolho, nabo, berinjela, pepino, cebola, abóbora e cenoura |
Tempeh |
Leite de vaca fermentado, como quefir ou iogurte, porém NÃO as versões comerciais, que geralmente não contêm culturas vivas e estão repletos de açúcar que alimenta bactérias patogênicas |
Natto (soja fermentada) |
Kimchi |
Se você não consome esses tipos de alimentos com regularidade, um suplemento probiótico de boa qualidade pode ajudar a cobrir a deficiência e dar ao seu intestino as bactérias saudáveis de que ele precisa. Esta é a primeira parte da equação.
A segunda parte da equação para melhorar sua flora intestinal está em evitar os vários fatores que podem desequilibrar suas bactérias. Todos os fatores ambientais e de estilo de vida a seguir podem prejudicar seriamente as bactérias saudáveis que residem no seu intestino:
Açúcar/frutose |
Grãos refinados |
Alimentos processados |
Antibióticos (inclusive os antibióticos dados aos animais para produção alimentar) |
Água clorada e fluoretada |
Sabonetes antibacterianos, etc. |
Produtos químicos e pesticidas agrícolas |
Poluição |
Para a saúde do seu intestino, é extremamente importante eliminar TODOS os açúcares, já que eles irão sabotar os efeitos benéficos dos alimentos fermentados. Resumindo, o açúcar atua como um "nutriente" para a levedura, fungos e bactérias do seu intestino que causam doenças.
Se você está sofrendo de ansiedade ou outros sinais de excesso de bactérias não saudáveis no seu intestino, como gases e inchaço, fadiga, desejo por açúcar, náusea, dor de cabeça, constipação ou diarreia, eliminar o açúcar e a frutose é um excelente ponto de partida rumo à recuperação.
À medida que você remover os alimentos agressores da sua alimentação e começar a introduzir probióticos nutritivos, sua flora intestinal voltará a apresentar um equilíbrio saudável. Depois que isso acontece, é comum notar uma série de melhorias emocionais e físicas.