Por Dr. Mercola
A solidão não afeta apenas a mente; ela pode também causar uma série de problemas à saúde.
Por exemplo, uma pesquisa realizada no passado mostra que sentir-se só pode aumentar a pressão arterial em até 14 pontos, aumentando ainda mais quanto maior o tempo de persistência do sentimento.
Sendo assim, o risco de desenvolvimento de doenças cardíacas e demência também aumenta.
Mais recentemente, pesquisadores concluíram que o isolamento social e a solidão podem promover consequências mais graves do que a obesidade e o fumo.
Outra pesquisa recentemente realizada revela que as alterações relacionadas ao cérebro associadas a este sentimento de solidão começam a manifestar-se após apenas 24 horas de isolamento.
A Solidão é Mais Prejudicial à Saúde do que a Obesidade
Emoções negativas impactarão invariavelmente o bem-estar físico, e o sentimento de solidão não é diferente.
De acordo com duas meta-análises apresentadas na Convenção Anual da Associação Americana de Psicologia em 2017, a solidão e o isolamento social – que são similares, porém não idênticos – constituem maiores ameaças à saúde pública do que a obesidade, aumentando os riscos de morte prematura em torno de 50 por cento.
Conforme relatado pelo Medical News Today:
“Embora a solidão e o isolamento social sejam geralmente usados de forma intercambiável, existem diferenças notáveis entre eles. O isolamento social é definido como a falta de contato com outras pessoas, enquanto a solidão é o sentimento de estar emocionalmente desconectado dos outros.
Em suma, uma pessoa pode estar na presença de outras e ainda sentir-se só. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Harris em 2016 com mais de 2.000 adultos nos EUA, cerca de 72 por cento dos entrevistados relataram sentir-se sós em algum momento de suas vidas. Destes adultos, cerca de 31 por cento relataram sentir-se sós, pelo menos, uma vez por semana.”
A primeira análise, que reviu 148 estudos envolvendo mais de 300.000 adultos, concluiu que o isolamento social aumentou o risco de morte prematura em 50 por cento. A segunda, que avaliou 70 estudos incluindo mais de 3,4 milhões de pessoas, concluiu que isolamento social, a solidão e viver sozinho estavam correlacionados a um aumento do risco de mortalidade de 29 por cento, 26 por cento e 32 por cento, respectivamente.
De maneira geral, isto é comparável ao risco de morte prematura associado à obesidade e outros fatores de risco bem estabelecidos para mortalidade, incluindo os riscos associados adquiridos por quem fuma 15 cigarros por dia.
Outros Riscos à Saúde Associados à solidão
De acordo com a Associação Americana de Osteopatia, que contratou a Pesquisa Harris supracitada, a solidão desempenha função em diversos problemas crônicos de saúde, incluindo dor, drogas ou abuso de álcool e depressão.
Estudos recentes associaram a solidão a um elevado risco de desenvolvimento de doença de Alzheimer, infarto e AVC e menores taxas de sobrevivência em pacientes com câncer de mama. Estudos também mostraram que pessoas solitárias estão mais propensas a experimentar:
- Maiores níveis de estresse
- Sono conturbado
- Maior número de inflamações
- Redução da função imunológica
A Epidemia de Solidão e Isolamento Social É Motivo de Grande Preocupação
De acordo com um estudo realizado em 2010 sobre a solidão, conduzido pela AARP, um número estimado em 42,6 milhões de pessoas com idade em torno de 45 anos sofre de solidão crônica e os dados do censo revelam que mais de 25 por cento da população dos EUA vive sozinha. Por que a solidão está tornando-se uma experiência incrivelmente predominante?
De acordo com os pesquisadores, os motivos comuns são:
- Longas horas de trabalho
- Uso de mídias sociais superando a interação pessoal
- Frequentes viagens a negócios
- Vida longe da família
- Postergar e/ou renunciar ao casamento
Observando a Pesquisa Harris sobre solidão, a Dra. Jennifer Caudle, professora assistente de medicina familiar na Escola de Medicina Osteopática da Universidade Rowan comentou:
“A solidão é uma epidemia invisível mascarada pelos personagens online que raramente representam nossas emoções reais. É importante que pacientes entendam como seu bem-estar mental e emocional diretamente afeta seu organismo…
A comunicação pessoal é essencial para a saúde emocional e mental. Procurar por interações humanas significativas torna o paciente mais feliz e, finalmente, mais saudável de maneira geral.”
Em vista de uma população crescente de pessoas idosas e do aumento da prevalência de isolamento social no geral, Julianne Holt-Lunstad, Ph.D., professora de psicologia que conduziu as duas meta-análises, sugere que precisamos enfrentar a solidão tanto individualmente quanto na sociedade.
Para fazer isto, ela sugere a alocação de recursos para:
- Treinamento de habilidades sociais para crianças em idade escolar
- Treinamento de médicos para a incorporação de avaliações de conectividade social em sua triagem médica
- Aconselhamento de pessoas idosas para sua preparação às implicações sociais relacionadas à aposentadoria, pois muitos adultos possuem pouca, se alguma, rede social fora do ambiente de trabalho
Conexão Mente-Corpo
É verdadeiramente incrível como os pensamentos podem influenciar a saúde física. É uma força poderosa que pode tanto fomentar quanto prejudicar sua saúde física e mental.
Um dos motivos disto tem a ver com a epigenética, centralizada na noção de que fatores ambientais, tais como estresse e dieta, influenciam na expressão genética. É a expressão dos genes – não os genes em si - que ditam se você vai desenvolver certas doenças ou envelhecer prematuramente.
Seu epigenoma é prontamente influenciado pelo estresse físico e emocional – como responder a tudo que acontece em seu ambiente, desde provas de fim de ano até abuso infantil. Portanto, se você está cronicamente só, esta emoção negativa influenciará a expressão dos genes e, assim, impactará os riscos de desenvolvimento de doenças.
Isto também explica porque, conforme Dawson Church cita em seu livro “The Genie in Your Genes: Epigenetic Medicine and the New Biology of Intention”, (O Gênio em Seus Genes: Medicina Epigenética e a Nova Biologia da Intenção, em tradução livre), pacientes de cirurgia cardíaca com forte rede social de apoio e prática espiritual possuem um sétimo do grau de mortalidade se comparados àqueles que não possuem o mesmo!
Estratégias para Lidar com a Solidão
Se você sofre de solidão, você certamente não está só. A questão é: o que fazer a respeito? A seguir está uma série de sugestões e estratégias extraídas de várias fontes que podem ajudar a lidar com a solidão:
Associe-se a um clube
Abordagens pró-ativas para encontrar outras pessoas incluem associação a um clube e planejamento de reuniões com família, amigos e vizinhos. Meetup.com é uma fonte online onde você pode localizar diversos clubes locais e reuniões. Muitas comunidades também possuem jardins comunitários onde você pode beneficiar-se do ambiente externo enquanto mistura-se aos vizinhos. |
Aprenda algo novo
Considere registrar-se em um novo curso educacional. |
Crie rituais de conexão
Conforme descrito por Baya Voce no TED Talk acima, rituais são uma forma poderosa de reduzir a solidão. Exemplos disso são: sessões semanais de conversa com amigos e/ou fazer de reuniões para refeições momentos especiais para conectar-se com a família sem pressa. |
Considere uma limpeza digital
Se sua vida digital superou as interações pessoais, considere fazer uma pausa das mídias sociais enquanto toma passos pró-ativos para encontrar pessoas na vida real. Pesquisas realizadas recentemente mostram que o Facebook pode ser mais prejudicial do que útil para o bem-estar emocional, aumentando os riscos de desenvolvimento de depressão – especialmente se os “posts” de seus contatos provocam inveja.
Em um estudo realizado recentemente, usuários do Facebook que fizeram uma pausa de uma semana do site relataram níveis significativamente mais altos de satisfação com a vida e significativa melhora na vida emocional. |
Faça bom uso da mídia digital
Para outros, uma ligação telefônica ou uma mensagem de texto pode ser uma salvação necessária. Conforme observado por Will Wright em seu TED Talk, “digitalizar a empatia” pode ser uma forma poderosa de ajudar uns aos outros. Exemplos disto são o envio de mensagens de texto incentivadoras a pessoas sofrendo de solidão, oferecendo apoio e ajudando-as a ter uma vida mais saudável e promover um estilo de vida mais saudável.
No Reino Unido, pessoas idosas podem ligar para a Silver Line (Linha de Prata), linha de ajuda a pessoas idosas na qual elas podem falar com um atendente pelo tempo que quiserem. A linha de ajuda está aberta 24 horas por dia, durante o ano todo. O serviço recebe uma média de 10.000 ligações por semana. |
Faça exercícios em grupo
Associar-se a uma academia, a um clube orientado para o preparo físico ou a uma equipe esportiva criará oportunidades de encontrar pessoas enquanto você melhora sua capacidade física. |
Faça compras em lojas locais
Frequentar rotineiramente lojas locais, cafeterias ou mercados agrícolas irá ajudá-lo a desenvolver um senso de comunidade e incentivará a formação de relacionamentos. |
Fale com estranhos
Falar com estranhos nas lojas, na vizinhança ou no trajeto diário é geralmente um desafio, porém pode trazer benefícios valiosos, incluindo o alívio da solidão (sua própria solidão e a de outros). Falar com estranhos constrói pontes entre pessoas comuns que podem não estabelecer uma conexão de outra forma.
Pessoas do sexo oposto, de diferentes setores ou de diferentes culturas mantêm uma chave que abre novas ideias ou faz conexões com as antigas. Neste curto vídeo, o repórter do The Atlantic, Dr. James Hamblin, demonstra técnicas de aprendizado para falar com estranhos. |
Faça trabalhos voluntários
Trabalhos voluntários são outra forma de aumentar suas interações sociais e pavimentar o caminho de novos relacionamentos. |
Adote um animalzinho
Um cachorro ou um gato promove amor e conforto incondicionais e estudos realizados mostraram que possuir um animalzinho pode ajudar na proteção contra a solidão, depressão e ansiedade. A conexão formada entre a pessoa e o animalzinho pode ser incrivelmente gratificante e serve, de diversas formas, como importante e recompensador relacionamento. A pesquisa realizada sobre este assunto é realmente profunda.
Por exemplo, possuir um cachorro como companheiro pode acrescentar anos em sua vida, pois estudos mostraram que possuir um cachorro desempenhou função importante nas taxas de sobrevivência de vítimas de infarto. Estudos também revelaram que pessoas em tratamento médico que possuem um animalzinho vão menos ao médico.
A aceitação incondicional e o amor que um cachorro dá a seu dono impactam positivamente a saúde emocional de seu dono da seguinte forma:
• Aumenta sua autoconfiança e autoestima
• Ajuda no encontro com novos amigos e na promoção da comunicação entre residentes e vizinhos mais velhos
• Ajuda a lidar com doenças, perdas e depressão
• Reduz os níveis de estresse
• Promove uma fonte de toque e vínculo
Se você está procurando por um amigo peludo, verifique nos abrigos de animais locais. A maioria está cheia de gatos e cachorros procurando por alguém para amar. O site petfinder.com é outra fonte excelente para encontrar um animalzinho. |
Mude-se e/ou troque de emprego
Embora seja a mais drástica de todas as opções, pode ser parte da resposta para algumas pessoas. Para fazer com que isso valha a pena, certifique-se de identificar o ambiente ou cultura que encaixará melhor em sua personalidade e considere a proximidade a amigos de longa data e família.
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