Por Dr. Mercola
Isto pode causar grande surpresa a várias pessoas, porém o chocolate, novamente, foi colocado na categoria “benéfico ao coração”. Desta vez, de forma bastante apropriada, é o seu coração que pode beneficiar-se do consumo desta guloseima das mais decadentes.
Ao longo dos anos, benefícios como aumento da energia e da libido foram atribuídos ao chocolate, o qual foi também considerado bom para diarreia e enxaqueca e no tratamento de sífilis e câncer.
Um pouco disso é verdade; as catequinas antioxidantes encontradas no chocolate amargo foram consideradas o ingrediente ativo responsável pela redução nas taxas de câncer do pulmão, assim como de câncer retal.
De acordo com um estudo recentemente realizado na Dinamarca, pessoas que consumiam cacau uma a três vezes por mês estavam cerca de 10% menos propensas a ser diagnosticadas com fibrilação atrial (FA), termo médico usado para batimento cardíaco irregular, comparando-se com pessoas que consumiam chocolate menos de uma vez por mês.
Elizabeth Mostofsky, epidemiologista da Escola T.H.Chan de Saúde Pública de Harvard, e uma equipe de pesquisadores analisaram os dados e encontraram “uma significante associação entre o consumo de chocolate e a redução nos riscos de FA — sugerindo que até mesmo pequenas quantidades de cacau podem promover impacto positivo à saúde”.
A nova pesquisa da equipe publicada no Jornal BMJ Heart, mostrou um risco reduzido nas taxas de FA em mulheres que consumiram uma porção de chocolate por semana, enquanto que a maior redução em homens foi associada ao consumo de duas a seis porções por semana.
Estudos realizados em 2010 e 2015, conhecidos como Physicians' Health Study (Estudo Clínico da Saúde), não traçaram qualquer conclusão, e a última revisão envolveu 33.000 americanos. O consumo de cacau e de alimentos contendo cacau pode ser benéfico ao coração devido a seu alto teor de antioxidantes, combatentes de inflamações e relaxantes dos vasos sanguíneos, concluíram os pesquisadores.
Flavonoides são um subgrupo de polifenois encontrados no chá, em uvas vermelhas e vinho, assim como no chocolate, conhecidos por sua ação como poderosos antioxidantes. Estudos realizados anteriormente já haviam determinado que não somente o cacau, mas também o chocolate amargo, especificamente, possui a maioria dos flavonoides que promovem vantagens à saúde, incluindo redução de inflamações que podem causar danos no tecido.
Os flavonoides podem também neutralizar coágulos sanguíneos formados quando batimentos cardíacos irregulares permitem que o sangue acumule no coração, informa o LA Times. O consumo de chocolate amargo está associado à redução no risco de ataques cardíacos, insuficiência cardíaca, insuficiência cognitiva e até mesmo morte precoce.
Porém, conforme os estudos iam sendo realizados, os cientistas não estavam convencidos que era realmente o chocolate que evitava a fibrilação atrial, evidenciada por batimentos cardíacos irregulares na câmara superior do coração, pois havia poucos estudos.
Fibrilação Atrial: Estudos, Sintomas e Riscos
De acordo com a Associação Americana do Coração (American Heart Association), 2,7 milhões de pessoas ou mais sofrem com fibrilação atrial e um gritante número de 33 milhões de pessoas sofre com este problema mundialmente. Ele aumenta o risco de coagulação sanguínea, que geralmente resulta em AVC, insuficiência cardíaca, insuficiência cognitiva e outros problemas em pessoas que o possuem. O LA Times explica o que é esse problema:
“Acredita-se que a fibrilação atrial seja resultado da liberação de certas moléculas que danificam o tecido cardíaco. O dano muda a forma com que os sinais elétricos viajam pelas câmaras do coração fazendo com que o batimento cardíaco da pessoa dê saltos em vez de bater em ritmo estável.”
Infelizmente, 25% dos adultos estão propensos ao desenvolvimento do problema durante a vida, de acordo com os Drs. Sean Pokorney e Jonathan Piccini, cardiologistas do Centro Médico da Universidade de Duke, que publicaram um editorial paralelo aos resultados do estudo. Pesquisadores analisaram os dados de 55.502 homens e mulheres na Dinamarca com idades entre 50 e 64 anos na época em que o estudo de longo prazo começou.
Cada um forneceu informações detalhadas sobre seus hábitos dietéticos entre 1993 e 1997. Os dados coletados foram associados aos registros nacionais de saúde da Dinamarca para encontrar quais deles foram diagnosticados com fibrilação atrial. Concluiu-se que 3.346 dos casos ocorreram ao longo de 13,5 anos. A Scientific American (Americana Científica) relatou:
“Com base nas dietas dos participantes no começo do período do estudo, aqueles que consumiram uma porção, cerca de 1 onça (28,35 gramas), de chocolate por semana estavam 17% menos propensos a ser diagnosticados com fibrilação atrial no fim do período do estudo do que as pessoas que relataram consumir chocolate menos de uma vez por mês.
Similarmente, aqueles que consumiram 57 a 170 gramas por semana eram 20% menos propensos a ser diagnosticados com fibrilação atrial enquanto aqueles que consumiram mais de 28 gramas de chocolate por dia estavam 16% menos propensos a desenvolver o problema.”
Outros Fatores a Ser Considerados com Relação ao Consumo de Chocolate
Curiosamente, pesquisadores não examinaram fatores relacionados como apneia do sono ou doenças renais, que podem influenciar a fibrilação atrial, e também não tinham qualquer dado sobre o tipo de chocolate que os participantes consumiam, ou seja, chocolate ao leite ou chocolate amargo, portanto como resultado, a quantidade de flavonoides associada ao chocolate que eles consumiam também não estava disponível.
No entanto, os dados sugerem que as pessoas que consumiam mais chocolate também consumiam mais calorias, porém tinham menor índice de massa corporal (IMC) — medida de peso relacionada à altura — comparando-as com as que consumiam menos chocolate.
Alice Lichtenstein, diretora e cientista sênior do Laboratório de Nutrição Cardiovascular da Universidade Tufts (Cardiovascular Nutrition Laboratory at Tufts University), que não fez parte do estudo apresentado, observou a probabilidade de as pessoas do primeiro grupo também serem mais ativas fisicamente.
Pokorney e Piccini informaram que os resultados do estudo eram interessantes e mereciam maior consideração com relação às suas limitações, observando que:
“Um ensaio duplo cego aleatório controlado é necessário para avaliar-se a verdadeira eficácia do chocolate na prevenção da fibrilação atrial e tal ensaio seria necessário para incorporar doses quantificadas de cacau.”
O Tipo de Chocolate que Você Consome é Realmente Relevante?
Existem diversos tipos de chocolate: chocolates amargos e os chocolates à base de leite já foram mencionados, porém também existe o chocolate branco a ser considerado, e outros ingredientes que podem promover ou destruir sua capacidade de ser considerado algo saudável para consumo.
É verdade que por mais que o chocolate possa ser bom para você, ele geralmente contém grandes quantidades de açúcar, assim como gorduras “más”, incluindo gorduras trans e óleos parcialmente hidrogenados que podem contribuir para doenças crônicas.
O chocolate amargo, por outro lado, usualmente contém mais sólidos de cacau. Sabendo disso, Mostofsky expressou dúvida se os chocolates ao leite Danes (marrons) tipicamente consumidos retornariam algum resultado positivo do estudo, porém os pesquisadores aprenderam algo novo.
Ela observou: “Fomos prazerosamente surpreendidos com o fato de que — apesar do fato de a maior parte do chocolate poder ter concentrações relativamente baixas de cacau — ainda fomos capazes de encontrar resultados robustos”. O La Times observou algo muito significativo no estudo de Mostofsky:
“Os autores escreveram que seu estudo pode ter tido resultado diferente dos outros porque o chocolate produzido na Dinamarca contém mais cacau — ingrediente benéfico suspeito — que o produzido nos EUA. Aqui, o chocolate ao leite deve ter, pelo menos, 10% de sólidos de cacau, e o chocolate amargo deve ter, pelo menos, 35%. Na Dinamarca, os requisitos são 30% e 43%, respectivamente.
Outra diferença é que o novo estudo mediu casos de fibrilação atrial ‘clinicamente aparente’, registrados nos arquivos nacionais de saúde da Dinamarca. Os estudos americanos confiaram em autorrelatos de FA.”
Não se pode, certamente, dizer que o chocolate agora tenha carta branca na categoria alimentar. Tom Sherman, diretor de ciências biomédicas do Centro Médico da Universidade Georgetown (que não fez parte do estudo), sugeriu que amantes de chocolate limitem-se a não mais que “uma boa porção de 28 gramas de chocolate”.
Não vá muito a fundo, disse Mostofsky, pois mesmo que haja uma associação substancial entre o consumo de chocolate e a redução nos riscos de FA, “o consumo excessivo de chocolate não é recomendado porque muitos produtos de chocolate são ricos em calorias provenientes do açúcar e da gordura e podem desencadear ganho de peso e outros problemas metabólicos”.
O Que se Deve Procurar no Chocolate
É sempre recomendável ler os rótulos para saber exatamente o que contém o produto que você está comprando e o mesmo deve ser feito com o chocolate. Vinte e oito gramas de chocolate ao leite, de acordo com Dados Nutricionais, contêm uma média de mais de 14 gramas de açúcar, sendo que a mesma quantidade de chocolate amargo, com 70% de sólidos de cacau, contém 6,7 gramas de açúcar.
Certifique-se de que o chocolate que você consome não contenha adoçantes artificiais como aspartame, considerado causador de graves problemas neurológicos crônicos e diversos outros sintomas graves, desde enxaquecas até visão embaçada e ataques de ansiedade.
Um artigo publicado pela CNN observou que quando se trata de chocolate, o chocolate “branco” não contém qualquer cacau e uma barra rotulada “70 % de cacau” pode ter diferentes quantidades dos flavonoides que você está procurando.
Ademais, “o chocolate que passou por uma etapa química conhecida como alcalinização, também conhecido como chocolate Holandês, essencialmente perdeu todos os traços destes compostos”. Com relação aos carboidratos líquidos encontrados no chocolate, é importante determinar, lendo os rótulos, a quantidade de gramas de carboidratos, subtraindo a fibra dietética, e então subtraindo o álcool do açúcar, se aplicável.
Algo a ser lembrado também é que o importante é o carboidrato total menos a fibra (ou seja, o carboidrato líquido). A fibra é essencial não apenas para manter o cólon regulado, mas também para a saúde geral.
Especialmente se você não presta atenção nos rótulos, o chocolate ao qual você tem alcance provavelmente contém altas quantidades de açúcar, avaliou Mostofsky. “Porém, o consumo moderado de chocolate com alto teor de cacau pode ser uma opção saudável.” Talvez, por causa disso, existe um corpo de cientistas agora dedicados a determinar se uma “pílula de chocolate” feita com extrato de cacau pode ser o próximo grande passo.
Para obter os maiores benefícios promovidos à saúde pelo chocolate consumindo um alimento integral em vez de uma pílula, a manteiga de cacau crua (componente gorduroso da semente de cacau) ou nibs de cacau crus são excelentes opções.