Sessenta Anos de Pesquisa Ligam os Grãos Com Glúten à Esquizofrenia

Glúten

Resumo da matéria -

  • A pesquisa mostra que o consumo de grãos com glúten resulta em maior prevalência de problemas neurológicos e psiquiátricos, principalmente a esquizofrenia.
  • Em um estudo recente, os pesquisadores compararam o exame de sangue de 950 esquizofrênicos com 1.000 pacientes saudáveis de controle.

     A razão de possibilidades de ter anticorpos IgG antigliadina foi 2,13 vezes maior nos esquizofrênicos, indicando que os menos esquizofrênicos têm maior probabilidade de sofrer uma resposta imunológica adversa às proteínas do trigo.
  • A descoberta de anticorpos à gliadina no sangue de pacientes celíacos e esquizofrênicos mostra que a proteína do trigo gliadina não se decompõe durante a digestão e que as proteínas do trigo estimulam a autoimunidade e podem fazer com que o sistema imunológico ataque o sistema nervoso.

Por Sayer Ji

O consumo de grãos que contêm glúten contribui para distúrbios psiquiátricos como a esquizofrenia?

Acredite ou não, essa pergunta tem sido feita há mais de 60 anos por pesquisadores que se depararam com evidências de que a remoção do glúten da alimentação resulta em melhoria dos sintomas ou, de modo contrário, que o consumo de grãos com glúten leva à maior prevalência de problemas neurológicos e psiquiátricos.

Relatos de resoluções de distúrbios emocionais após a instituição de uma alimentação "sem glúten" estão presentes na literatura médica desde 1951.

Em 1954, Sleisenger relatou ter encontrado três esquizofrênicos em um grupo de trinta e dois adultos com doença celíaca, e, em 1957, Bossak, Wang e Aldersberg informaram ter descoberto 5 pacientes psicóticos entre 94 pacientes com doença celíaca.

O reconhecimento inicial de que a doença celíaca, ou pelo menos a sensibilidade ao glúten, tenha ocorrido em número bem maior entre os esquizofrênicos, e não entre os indivíduos saudáveis, abriu a porta para pesquisas mais aprofundadas.

Queda no Consumo de Grãos Com Glúten em Períodos de Guerra Reduz Índice de Esquizofrenia

Por exemplo, em 1966, foi publicado um importante estudo epidemiológico no The American Journal of Clinical Nutrition intitulado "Wheat "Consumption" and Hospital Admissions for Schizophrenia During World War II" (Consumo de trigo e hospitalizações por esquizofrenia durante a II Guerra Mundial), que buscava confirmar a possível relação entre a esquizofrenia e a doença celíaca investigando a queda relatada no número de hospitalizações por problemas mentais durante algumas guerras.

O autor do estudo, F. C. Dohan, M.D., olhou o número de mulheres internadas em hospitais psiquiátricos na Finlândia, Noruega, Suécia, Canadá e Estados Unidos antes e depois da II Guerra Mundial.

Esses números foram então comparados ao volume de trigo e centeio consumido durante esses dois períodos. Conforme explica Dohan:

"A alteração percentual na média anual de primeiras internações por esquizofrenia em cada um dos cinco países da média pré-guerra respectiva foi comparada com a alteração percentual no 'consumo' de trigo e trigo com centeio".

Os resultados podem ser vistos na imagem a seguir: (Disponível em inglês)

Wheat Consumption Data and Psychiatric Problems

Como você pode ver acima, a alteração percentual dos valores pré-guerra durante a II Guerra Mundial no número de pacientes internados pela primeira vez com esquizofrenia nos cinco países mostrou estar amplamente relacionado à alteração percentual na quantidade consumida de trigo e trigo com centeio.

À medida que diminuiu o consumo de grãos com glúten, diminuiu também a taxa mundial de hospitalizações pela primeira vez em institutos psiquiátricos.

Grupo de Pesquisa Crescente Associa Grãos Com Glúten à Origem da Esquizofrenia

Desde então, diversos estudos têm sido publicados associando o consumo de grãos com glúten à esquizofrenia:

  • Schizophrenia Bulletin, 2011: as pessoas com esquizofrenia têm concentrações de anticorpos maiores do que o esperado (prevalência sete vezes maior) relacionadas à doença celíaca e sensibilidade ao glúten.
  • Schizophrenia Research, 2010: os indivíduos com esquizofrenia possuem uma resposta imunológica à gliadina diferente daquela de pessoas com doença celíaca (ou seja, ausência de anticorpos à enzima transglutaminase e locus gênico HLA-DQ2/DQ8 de suscetibilidade.
  • Acta Psychiatra Scandinavica, 2006: uma análise da literatura mostrou uma drástica redução, se não total cura, dos sintomas de esquizofrenia após a eliminação do glúten , observada em diversos estudos.
  • Biological Psychiatry, 1984: foram encontrados somente dois esquizofrênicos crônicos entre mais de 65.000 adultos examinados ou observados de perto em regiões remotas de Papua-Nova Guiné (PNG, 1950-1967) e Malaita, Ilhas Salomão (1980-1981) e em Yap, na Micronésia (1947-1948), que não consomem grãos.

    Os pesquisadores notaram que quando essas pessoas se tornavam parcialmente ocidentalizadas e consumiam trigo, cerveja de cevada e arroz, a prevalência atingia níveis europeus.
  • Science, 1976: os esquizofrênicos que recebiam uma alimentação sem grãos e leite foram reintroduzidos ao glúten e viram o avanço terapêutico ser interrompido. Após o término do desafio com o glúten, o curso de melhoria foi restabelecido.

Nova Pesquisa Confirma Elo Entre Gliadina e Esquizofrenia

O último estudo a confirmar a ligação entre glúten e esquizofrenia foi publicado este mês no World Journal of Biological Psychiatry com o título "Elevated gliadin antibody levels in individuals with schizophrenia" (Níveis elevados de anticorpos à gliadina em indivíduos com esquizofrenia).

Os pesquisadores compararam o exame de sangue de 950 esquizofrênicos com 1.000 pacientes saudáveis de controle.

Eles descobriram que a razão de possibilidades de ter anticorpos IgG antigliadina foi 2,13 vezes maior nos esquizofrênicos, indicando que os menos esquizofrênicos têm maior probabilidade de sofrer uma resposta imunológica adversa às proteínas do trigo.

A gliadina é o complexo de proteínas solúveis em álcool encontrada no que é conhecido coloquialmente como glúten (o termo pode ser enganoso, pois o trigo contém, tecnicamente, mais de 23.000 proteínas diferentes, e não uma), e é considerado a principal classe de proteínas imunotóxicas no trigo.

Por exemplo, na doença celíaca, é desfraldado um processo imune mediado geneticamente no qual, após a exposição à gliadina, o tecido da enzima transglutaminase modifica a proteína e o sistema imunológico reage de modo cruzado com o tecido do intestino delgado, causando uma reação inflamatória que provoca a destruição das vilosidades intestinais.

A descoberta de anticorpos à gliadina no sangue dos pacientes com doença celíaca e esquizofrenia indica várias situações:

  • A proteína gliadina do trigo não se decompõe durante a digestão: As macromoléculas derivadas do trigo e não digeridas podem atuar como antígenos, provocando uma resposta imune mediada por anticorpos, principalmente se elas atravessam a mucosa intestinal e entram no sangue.

     O fato de que os anticorpos à proteína do trigo gliadina podem ser encontrados no sangue indica que ela não é totalmente decomposta em aminoácidos componentes.
  • Proteínas do trigo no sangue estimulam a autoimunidade: A presença da gliadina no sangue também indica permeabilidade intestinal. O que se sabe é que a gliadina regula para cima a proteína zonulina no intestino das pessoas com ou sem a doença celíaca, que essencialmente abre a "caixa de pandora" da permeabilidade intestinal e autoimunidade subsequente.

    Em outro ensaio, também descrevemos a permeabilidade intestinal gerando efeitos da lecitina de trigo, também conhecida como aglutinina de germe de trigo (WGA) – [consulte Opening Pandora's Bread Box (Abertura da Caixa de Pão de Pandora)].
  • Proteína do trigo pode fazer com que o sistema imunológico ataque o sistema nervoso: os anticorpos antigliadina parecem reagir de forma cruzada com estruturas neurológicas independentes, capazes de explicar como contribuem para a esquizofrenia.

Um estudo publicado em 2007 no Journal of Immunology revelou que os anticorpos antigliadina se ligam à sinapsina neuronal I, uma proteína encontrada dentro do terminal nervoso de axônios, que os autores do estudo acreditam poder explicar por que a gliadina contribui para "complicações neurológicas, como neuropatia, ataxia, convulsões e mudanças neurocomportamentais".

Outro exemplo de anticorpos antigliadina que possivelmente contribui para a formação de autoanticorpos contra estruturas neurológicas independentes está no autismo. Um estudo de 2004 publicado no Nutritional Neuroscience revelou que as crianças com autismo mostram aumento de anticorpos contra as proteínas gliadina e cerebral simultaneamente.

Em outras palavras, as proteínas do trigo podem simular anticorpos que reagem de forma cruzada, resultando em danos neurológicos.

Apenas um Problema Para Esquizofrênicos? Existe Uma Maneira Infalível de Descobrir...

Uma questão mais ampla também é levantada por essa pesquisa. Como os anticorpos antigliadina são encontrados em aproximadamente 27% da população e em até 57% das pessoas que sofrem de disfunção neurológica de causas desconhecidas, seria então possível que os grãos com glúten estejam afetando de modo adverso a saúde mental do mundo de forma geral, principalmente de modo assintomático? 

Nós investigamos a fundo essa possibilidade no ensaio "The Dark Side of Wheat" (O lado negro do trigo) que se concentra na economia baseada no trigo no império Romano como forma de imperialismo cultural e biológico.

Podemos dizer com certeza que o trigo prejudica a saúde física muito mais do que as estimativas médicas convencionais, que se concentram na doença celíaca e em alergias alimentares ao trigo. Já catalogamos mais de 200 efeitos adversos dos grãos com glúten à saúde, com 20 "modos de toxicidade" adversos descritos até agora.

A probabilidade é de que existam inúmeras variáveis apontando para os grãos com glúten como causa única de problemas psiquiátricos, mal-estar, obsessão, vício, depressão, esquizofrenia, etc. No entanto, uma coisa é certa:

Sua experiência direta é tão importante quanto um teste humano duplo-cego, randomizado e controlado por placebo. Portanto, se você o remover da alimentação e se sentir melhor, e os problemas de saúde, físicos e mentais, melhorarem, então não há prova melhor do que isso!

Sobre o Autor

Sayer Ji é fundador e diretor do GreenMedInfo.com e membro do conselho consultivo na Federação Nacional da Saúde, uma organização internacional sem fins lucrativos, de ensino ao consumidor e de liberdade de saúde.

Também foi coautor do livro Cancer Killers: The Cause Is The Cure (Assassinos do câncer: a causa é a cura), e está escrevendo outro livro com Tania Melkonian, intitulado EATomology: An Edible Philosophy of Food (EATomologia: uma filosofia comestível sobre os alimentos).