Por Dr. Mercola
Há vários anos a poluição do ar tem sido associada à piora de doenças cardíacas, pulmonares e derrame cerebral. As partículas da poluição industrial e de veículos aumentam a resposta inflamatória no seu corpo, intensificando os processos da doença.
A exposição tóxica da poluição do ar é responsável por uma em cada quatro mortes no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Embora a poluição industrial seja responsável por grande parte das partículas, as emissões de veículos também exercem um papel importante.
Passar horas dirigindo, indo e voltando do trabalho, pode aumentar o potencial de exposição à poluição de partículas. Parece que o sistema de ventilação dos carros limpa de modo mais eficiente as partículas grandes e grossas no ar que entra, deixando passar as partículas pequenas.
Uma pesquisa recente ligou essa poluição de partículas pequenas a um processo inflamatório que provoca doenças cardíacas e derrame cerebral, e não só a piora do problema.
O Tamanho Das Partículas Importa
A matéria em partículas (MP), também chamada de poluição de partículas, é uma mistura das partículas sólidas e líquidas que apresentam tamanhos entre 10 mícrons e menos de 2,5 mícrons. As partículas que medem entre 2,5 e 10 mícrons são chamadas MP10 e incluem pó, pólen e fungos.
As partículas MP2,5 incluem emissões de combustão, metais e compostos orgânicos voláteis (COV). As substâncias classificadas como MP2,5 são a causa principal de visibilidade reduzida nos Estados Unidos. Toda partícula MP10 e menor pode ser inalada pelos seus pulmões.
As partículas de 2,5 mícrons e menores também podem entrar na corrente sanguínea através do tecido pulmonar. Para colocar o tamanho em perspectiva, MP10 é sete vezes menor que o diâmetro de uma mecha de cabelo e MP2,5 é 30 vezes menor.
Uma declaração científica da Associação Americana do Coração (AHA) em 2004, e atualizada mais tarde em 2010, alertou sobre os riscos da poluição do ar à saúde. No entanto, não ficou claro como a exposição à poluição danificava o sistema arterial.
Para avaliar o efeito da MP2,5 sobre o sistema cardiovascular, os pesquisadores coletaram amostras de quase 75 participantes entre dezembro de 2014 e abril de 2015.
Quando os níveis MP2,5 estavam no patamar mais alto, as amostras de sangue também tinham mais fragmentos de células mortas na parede de veias, artérias e tecido pulmonar.
Essas amostras também mostraram uma redução nos fatores relacionados ao desenvolvimento dos vasos sanguíneos. Os fatores do sistema imunológico que aumentaram a inflamação foram maiores nas amostras quando os níveis MP2,3 estavam no nível mais alto.
Todos os participantes do estudo foram primeiramente avaliados e todos eram saudáveis, fazendo com que os autores do estudo acreditassem que a exposição à poluição de partículas finas não só piorou os problemas existentes, mas também foi um fator no surgimento de doenças cardiovasculares. O principal autor do estudo, C. Arden Pope III, Ph.D., da Universidade Brigham Young, afirmou:
"A doença cardiovascular continua sendo a principal causa de morte e doenças… O dano aos vasos sanguíneos é uma característica subjacente de várias doenças cardiovasculares, entre elas doença arterial coronariana e doença cerebrovascular e pode levar a casos de doenças graves e até mesmo letais, como ataques cardíacos e derrames cerebrais”.
A Poluição de Partículas Provoca a Morte de Células Endoteliais
Os pesquisadores concluíram que até mesmo a exposição esporádica à MP2,5 estava associada a um aumento na morte de células endoteliais e elevação de células imunológicas específicas que poderiam contribuir para o desenvolvimento da aterosclerose e casos coronários crônicos.
Essas novas evidências começam a preencher as lacunas de como a poluição do ar afeta o sistema arterial e pode, subsequentemente, provocar doenças pulmonares e cardiovasculares.
Pope comentou:
"Isso fornece uma evidência de mecanismo muito importante sobre como a poluição do ar afeta as doenças cardiovasculares. Essas pessoas são não fumantes saudáveis, e ainda assim você vê essa lesão subclínica até mesmo em indivíduos muito jovens.
A lesão vascular inicial deve ser pequena, mas a exposição prolongada pode contribuir para o risco de eventos de perigo de morte, como derrame cerebral e ataque cardíaco".
Os níveis de poluição nos Estados Unidos caíram drasticamente nas últimas décadas, graças em parte à Lei do Ar Puro (Clean Air Act) aprovada inicialmente em 1970 e alterada em 1990.
O empurrão do ar puro foi iniciado por uma reviravolta do clima em Donora, Pensilvânia, em 1948, quando a cidade ficou coberta por gases tóxicos, matando 20 pessoas e deixando milhares doentes com o “nevoeiro assassino”.
Esse evento trouxe à tona problemas com emissões e poluição, levando a anos de batalhas políticas e ambientais. Mark Jacobson, autor e professor com doutorado na Universidade de Stanford, destaca que a poluição do ar continua matando os americanos de modo prematuro e causando lesões em centenas de milhares mais.
Em outras áreas do mundo, a poluição de partículas não tem sido tratada como nos Estados Unidos. Embora a qualidade do ar seja melhor nos Estados Unidos, as emissões não são zero e os pesquisadores alertam que as pessoas devem tomar precaução extra nos dias de alta poluição.
A Poluição Industrial e de Veículos é Um Problema Global
A OMS definiu os padrões de qualidade do ar, indicando um nível no qual MP2,3 pode ser considerado seguro para respirar. Em 2016, esses padrões indicavam que 10 ug/m3 como uma média anual e 25 ug/m3 como uma média de 24 horas seriam os níveis mais altos considerados seguros.
Infelizmente, várias áreas do mundo, inclusive dentro dos Estados Unidos, não cumprem com esses padrões. Em uma comparação entre a qualidade do ar na área da baía da Califórnia e a de Xangai, na China, as duas cidades mostraram medições semelhantes em um período de 30 dias, ficando em cerca de 35 ug/m3.
Seis cidades da Califórnia ficaram entre as 10 cidades dos Estados Unidos com a pior qualidade do ar conforme a Associação Americana do Pulmão. Bonnie Holmes-Gen, diretor sênior de qualidade do ar e mudança climática na Associação Americana do Pulmão na Califórnia, reconhece que houve uma mudança no empenho em relação a uma melhor qualidade do ar.
Desde 1970, o índice econômico dos Estados Unidos mais do que triplicou e o número de milhas percorridas pelos veículos aumentou em 172%, mas as emissões agregadas caíram em 69% em todo o país. Enquanto a área da baía da Califórnia vive dias em que as medições MP2,5 alcançam 50 ug/m3, outras áreas do mundo considerariam esses números uma grande melhoria.
Segundo a OMS, 80% das cidades do mundo apresentam leituras de qualidade do ar bem acima do nível mais alto considerado seguro. As cidades mais poluídas têm 11 a 20 vezes o nível mais alto de 25 ug/m3, com base em dados coletados pela OMS.
Em dias normais, Kanpur, na Índia, apresentou 115 ug/m3 de MP2,5; Xingtai, na China, 128 ug/m3; e Zabol, no Irã, 217 ug/m3. Embora a comparação dos índices de poluição na China e na Califórnia, medidos em junho e julho, reflitam claramente os dias de alta poluição na Califórnia, eles estão entre os melhores meses de poluição na China.
O Ar Sujo Mata Mais Pessoas do Que a Água Poluída na África
Os países em rápido desenvolvimento na África estão lutando contra a baixa qualidade do ar, que compete com os efeitos adversos de saúde da população relacionados à pobreza.
No primeiro esforço para avaliar os danos causados à saúde pela poluição do ar na África, os pesquisadores revelaram que o número de pessoas que morreram prematuramente devido à baixa qualidade do ar era maior do que o número de pessoas que morreram devido à água insalubre, falta de saneamento e desnutrição.
Um pesquisador envolvido no estudo patrocinado pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), com sede em Paris, declarou:
“O número de mortes por ano devido à poluição de partículas no ar em todo o continente africano aumentou 36% de 1990 a 2013. No mesmo período, as mortes devido à poluição do ar dentro de casa continuaram a subir, mas somente 18%”.
A OECD é uma organização que tem 50 anos, fundada por 35 dos países mais ricos do mundo, com a missão expressa de “promover políticas que melhorem o bem-estar econômico e social das pessoas em todo o mundo”.
Rana Roy, Ph.D. e autora do estudo da OECD, destacou que a África não se encontra atualmente em uma posição como a China, na qual pode se concentrar na qualidade do ar sem se distrair com questões como abastecimento de água insalubre, desnutrição e falta de saneamento.
No entanto, sem mudanças políticas expressivas, o custo econômico e humano da poluição do ar poderá provocar um aumento significativo no número de mortes e doenças atribuídas à poluição. Ela afirma:
“É impressionante que os custos da poluição do ar na África estejam subindo apesar da baixa industrialização [sic] e até mesmo da desindustrialização [sic] em vários países. Se essa última tendência for revertida com sucesso, o desafio da poluição do ar pode piorar mais rápido, a menos que novas abordagens e tecnologias radicalmente novas forem colocadas em prática”.
A Poluição do Ar Afeta Seu Bolso de Maneiras Que Você Talvez Nem Perceba
Pesquisas posteriores identificaram outro impacto que a qualidade do ar tem na economia mundial. Embora o custo de mortes prematuras e doenças esteja na casa de trilhões de dólares em todo o mundo, a poluição do ar também causa um impacto significativo na tomada de decisões em nível inconsciente.
Em um recente estudo colaborativo entre os pesquisadores da Universidade de Ottawa e de Columbia, os cientistas compararam o Índice S&P 500, uma referência da Bolsa de Valores de Nova York, em um período de 15 anos. Durante essa época, os pesquisadores descobriram que o desvio padrão da medição da qualidade do ar resultava consistentemente em quedas nos ganhos de até 11,9%.
A descoberta trouxe nova luz a uma teoria popular que sugere que os preços do mercado acionário são afetados por informações internas específicas. No entanto, o estudo confirma que a qualidade do ar, uma força externa e imprevisível, tem efeito sobre os preços das ações.
Os pesquisadores acrescentaram: “Nossa hipótese é de que a poluição diminui as atitudes de risco dos investidores através de mudanças de curto prazo no cérebro e/ou na saúde física”. Níveis mais elevados de poluição MP2,5 podem fazer com que os trabalhadores no escritório se sintam pior durante o dia, já que as partículas podem entrar facilmente nos prédios comerciais.
Esses mesmos resultados foram encontrados em outras situações de escritório em que a qualidade do ar era baixa. Um estudo com funcionários em um escritório da Ctrip, a maior agência de turismo na China, revelou que a poluição afetava a produtividade, mesmo quando as medições de poluição do ar eram relativamente baixas.
Os pesquisadores desenvolveram a teoria de que se o impacto negativo sobre a produtividade era resultado do declínio da função cognitiva, então a poluição tem um impacto maior sobre os cargos profissionais do que se acreditava antes.
Dicas Para Reduzir a Poluição do Ar Interna
Embora seja alto o número de agentes poluentes internos, existem várias medidas que se pode tomar para reduzir a poluição do ar na sua casa e diminuir os riscos à saúde.
Abra as janelas
Uma das maneiras mais simples e fáceis de diminuir o número de agentes poluentes na sua casa é abrir as janelas. Como a maioria das casas tem pouca ventilação, abrir as janelas por apenas 15 minutos todos os dias pode melhorar a qualidade do ar que você respira.
A instalação de um ventilador no sótão é outra maneira de trazer ar fresco para dentro de casa e diminuir os custos com ar condicionado. Instale exaustores na cozinha e nos banheiros para expelir os agentes contaminantes desses ambientes.
|
Considere um ventilador com recuperação de calor (VRC)
Como a maioria das casas mais novas apresenta maior vedação e, portanto, melhor consumo de energia, a troca de ar com o ar externo é mais difícil. Alguns construtores estão instalando agora sistemas VRC que ajudam a prevenir a condensação e o desenvolvimento de mofo e melhoram a qualidade do ar interno.
Se você não tem condições de instalar um VRC, abra as janelas e ligue os exaustores do banheiro e da cozinha para ventilar o ar interno para o exterior.
Você não tem que fazer isso por mais de 15 a 20 minutos todos os dias e deve fazê-lo no verão e no inverno, em momentos em que a temperatura externa seja a mais próxima possível da temperatura interna.
Você pode perder um pouco com o custo da eletricidade, mas vale a pena pelos benefícios à sua saúde.
|
Decore com plantas
As plantas domésticas são decorações funcionais que animam seu ambiente e purificam o ar. O verde das plantas melhora sua saúde mental e emocional também. Experimente colocar uma dessas 10 plantas para casa ou apartamento para melhorar a qualidade do ar e reduzir os níveis de estresse.
- Hera
- Seringueira
- Lírio-da-paz
- Espada-de-são-jorge
- Areca-bambu
- Filodendro
- Clorofito
- Dracena-de-madagascar
- Pothos-de-ouro
|
Faça a manutenção dos aparelhos de combustão
Aquecedores a gás natural e fogões, fornos, aquecedores de água quente, calefatores, abrandadores de água e outros aparelhos de combustão podem vazar monóxido de carbono e dióxido de nitrogênio.
|
Mantenha a umidade inferior a 50% dentro do ambiente
O mofo se desenvolve em ambientes úmidos. Use um desumidificador e ar condicionado para manter a umidade abaixo de 50%. Mantenha as unidades limpas de modo que não sejam fonte de poluição.
|
Não fume dentro de casa
Peça aos fumantes que fumem fora. A fumaça de cigarros, charutos e cachimbos contém mais de 200 substâncias químicas carcinogênicas, colocando sua saúde em perigo.
|
Evite velas perfumadas, aromatizantes de ambiente ou produtos de limpeza perigosos
As velas e aromatizantes de ambiente liberam compostos orgânicos voláteis na sua casa. Você até pode gostar do aroma, mas não vale a pena o risco à sua saúde. Em vez disso, remova todo o lixo da sua casa sempre que necessário e mantenha a roupa suja longe das áreas comuns.
Limpe com menos produtos perigosos, como vinagre branco e bicarbonato de sódio.
|
Examine os níveis de radônio na sua casa
O radônio é um gás incolor e inodoro associado ao câncer de pulmão. Ele fica preso na casa durante a construção e pode vazar dentro do sistema de ar com o tempo. Os kits de teste de radônio são rápidos e baratos para saber se você está correndo risco.
|
Limpe os dutos de ar e troque os filtros
Os dutos de ar das unidades de aquecimento e resfriamento do ar podem ser uma fonte de poluição na sua casa. Se houver mofo, o acúmulo de poeira e detritos tornou-se o lar de vermes e é hora de chamar um profissional para limpá-los.
Troque os filtros do aquecedor a cada três meses ou antes disso se parecerem sujos.
|