Por Dr. Mercola
O joelho é a articulação mais lesionada em atletas, chegando a 2,5 milhões de lesões relacionadas ao esporte, registradas anualmente nos atendimentos de urgência. O rompimento do menisco ocorre em 35 por cento das pessoas acima dos 50 anos.
As rupturas do ligamento cruzado anterior (LCA), parte importante na estabilização do joelho, acontece em 100.000 a 200.000 pessoas anualmente. As lesões no joelho podem ser tratadas por uma ampla variedade de clínicos, desde cirurgiões ortopédicos a clínicos gerais ou especialistas em medicina física e reabilitação.
O joelho pode sofrer uma lesão aguda ou traumática ou, por conta do uso excessivo, é possível que o menisco sofra alterações degenerativas. A maneira com que essas lesões são tratadas pode impactar na sua capacidade de retomar suas atividades normais e na ocorrência ou não de artrite degenerativa no futuro.
Um estudo aleatório e controlado recente demonstrou a eficácia dos programas de exercícios estruturados para reabilitar o joelho antes da correção cirúrgica ou, em muitos casos, no lugar da correção cirúrgica.
Para aproveitar melhor as vantagens da reabilitação, é importante compreender o funcionamento do joelho e os principais fatores avaliados, para determinar qual opção é a melhor para a sua situação.
Anatomia do Joelho e os Rompimentos do Menisco
Os ossos se encontram no joelho para formar as maiores articulações do corpo, consideradas também as mais complicadas. Embora o joelho seja uma articulação em dobradiça (gínglimo) que, além de dobrar-se e ser flexível para permitir caminhar, deve ser também estável para permitir que você fique em pé e parado.
Entre o osso da coxa (fêmur) e o da canela (tíbia), há duas partes de cartilagem em forma de cunha. A função dessas peças resistentes e flexíveis é amortecer os dois ossos e impedir o atrito entre eles. Essas peças são chamadas de meniscos.
As bordas externas dos meniscos recebem sangue, o que acontece em menor quantidade na direção do centro da cartilagem, localizado diretamente entre os dois grandes ossos. Os meniscos podem se romper dá várias maneiras diferentes, tanto por lesões agudas quanto por alterações degenerativas que ocorrem ao longo do tempo.
O número de cirurgias realizadas anualmente para corrigir o rompimento do menisco tem crescido. Descobertas recentes publicadas no American Journal of Sports Medicine (Revista Americana de Medicina Esportiva) demonstraram que as correções nos meniscos aumentaram 100 por cento entre 2005 e 2011.
Além disso, a pesquisa demonstrou que a dor do paciente pode não ter relação com o rompimento do menisco.
Os pesquisadores descobriram que os pacientes apresentaram alívio na dor apesar de o rompimento não ter cicatrizado após a cirurgia. A falta de cicatrização foi descoberta durante uma artroscopia de acompanhamento.
Tudo indica que o que aliviou a dor e melhorou o funcionamento foi a imobilização e a fisioterapia.
Os Estudos Demonstram os Efeitos do Exercício em Relação à Cirurgia
Dois estudos demonstraram a eficácia do programa estruturado de fisioterapia, para eliminar a necessidade de correção cirúrgica ou melhorar os resultados quando foi realizada terapia antes da cirurgia.
No primeiro estudo, os pesquisadores acompanharam os participantes durante cinco anos com perda mínima de acompanhamento. Os participantes do estudo sofreram uma lesão de LCA.
Os pesquisadores descobriram que os resultados, entre os que passaram por correções cirúrgicas e os que foram tratados apenas por meio da reabilitação, foram quase idênticos.
Outro estudo publicado em 2016 acompanhou, durante dois anos, os participantes que sofreram o rompimento do menisco no joelho. Novamente os pesquisadores descobriram que o exercício e a reabilitação, em pacientes de meia idade com danos nos joelhos, funcionou de forma tão eficaz quanto uma correção meniscal cirúrgica, que é um procedimento ambulatorial.
Os pesquisadores estimam que 2 milhões de pessoas em todo o mundo passam por artroscopias anualmente. Entretanto, pela análise da literatura os pesquisadores não descobriram benefícios para o paciente. Isso levou cientistas da Dinamarca e da Noruega a realizar esse estudo de dois anos.
Nesse estudo, os pesquisadores identificaram 140 pacientes que sofreram rompimento do menisco, entre os quais a grande maioria não havia sofrido alterações provocadas por osteoartrite no joelho. Metade deles foi submetida a um programa de exercícios de 12 semanas e a outra metade foi submetida a uma artroscopia e recebeu um programa de reabilitação.
Não foi descoberta nenhuma diferença clínica entre os dois grupos no que diz respeito à capacidade dos pacientes de realizar atividades diárias, participar de esportes ou aos seus níveis de dor . Treze dos participantes do grupo que foi submetido apenas aos exercícios optaram pela artroscopia durante o estudo, mas não tiveram nenhum benefício adicional.
Benefícios Adicionais do Exercício em Relação à Cirurgia
A artroscopia é considerada um procedimento de baixo risco. Os efeitos colaterais mais graves e mais comuns são trombose venosa profunda, infecção e embolia pulmonar, com ocorrência em 0,4 por cento das vezes.
Apesar desse ser um procedimento de baixo risco, a correção cirúrgica aumenta os custos médicos e do seguro e não parece produzir resultados melhores. Por outro lado, um forte programa de exercícios de reabilitação aumenta a força dos grandes músculos, dando suporte à articulação do joelho.
No estudo mais recente, os pesquisadores testaram os músculos do quadríceps (coxa) dos participantes no início, com três e 12 meses.
Descobriram que os indivíduos que passaram pela reabilitação, além de experimentarem resultados semelhantes aos daqueles que sofreram a artroscopia, tiveram sua força aumentada. Os autores, citados no Science Daily, disseram:
"A terapia com exercícios supervisionados teve efeitos mais positivos que a cirurgia, aumentando a força do músculo da coxa pelo menos no curto prazo.
Nossos resultados devem encorajar os clínicos e os pacientes de meia idade com rompimento degenerativo do menisco, e sem evidência de osteoartrite, a considerarem a terapia estruturada com exercícios supervisionados como opção de tratamento".
O aumento da força ocorreu durante os primeiros 12 meses do estudo, mas não foi avaliado durante o restante do estudo. O aumento da força na articulação do joelho pode reduzir a probabilidade de novas lesões e pode melhorar também a capacidade de realizar atividades diárias.
A Cirurgia Sham ou Placebo é Tão Eficaz Quanto a Artroscopia em Indivíduos Mais Velhos
O efeito placebo ocorre quando você pensa que está passando por um tratamento, mas a medicação que recebe não provoca efeito fisiológico. Para ser aprovado pela U.S. Food and Drug Administration (FDA) (Agência de Controladora de Alimentos e Medicamentos dos EU) o medicamento precisa mostrar-se mais eficiente do que um medicamento falso ou placebo.
No entanto, para a aprovação de aparelhos médicos ou procedimentos cirúrgicos para tratamento, essa prova não é exigida.
Em 2002, uma pesquisa publicada na New England Journal of Medicine (Revista de Medicina da Nova Inglaterra) provou que os resultados que as pessoas vivenciaram devido à artroscopia para osteoartrite não foram melhores que os resultados esperados de um placebo.
Em outro estudo, realizado com 146 pacientes que tiveram rompimento do menisco sem osteoartrite, os pesquisadores descobriram que o procedimento de cirurgia sham provocou o mesmo resultado nos pacientes que passaram por uma correção no menisco.
O estudo avaliou os participantes durante um período de 12 meses e descobriu que não houve diferença considerável entre os grupos.
O estudo que provou o efeito placebo em artroscopias para osteoartrite ocorreu em 2002. Infelizmente, até o momento essa informação não alterou o número de artroscopias realizadas, custando às seguradoras e às pessoas mais de $ 3 bilhões por ano, com um procedimento que produz resultados que os indivíduos poderiam alcançar com fisioterapia e reabilitação.
Antes da Cirurgia, Leve em Consideração Estes Fatores Importantes
Caso queira considerar uma opção cirúrgica para a lesão, há vários fatores que podem aumentar ou reduzir a probabilidade de o resultado ser bem sucedido.
- Alterações funcionais
Mesmo se a ressonância magnética indicar alterações no menisco, se você não sofrer com dores ou alterações funcionais no ato de caminhar, é provável que a correção cirúrgica não seja necessária.
Os médicos que se dedicam à medicina esportiva fazem uso do passo de pato (duck walk) para avaliar como as lesões no joelho afetam sua estabilidade e sua força. Abaixe-se e caminhe como um pato.
Caso não consiga fazer isso devido a dores no joelho ou fraqueza, pense na possibilidade de adotar um programa de reabilitação para aumentar a força e reduzir a dor.
- Peso
O peso é um fator muito importante para determinar a possibilidade de sucesso de uma correção cirúrgica. Por exemplo, as pesquisas descobriram alterações importantes na curvatura da articulação do joelho, nos primeiros três meses após a lesão em pessoas com mais massa corporal.
Os resultados indicaram que as pessoas com maior índice de massa corporal que se submeteram à cirurgia sofreram um achatamento maior na articulação do joelho do que as que fizeram uso da reabilitação sem a intervenção cirúrgica.
- Tamanho e localização do rompimento
O fornecimento reduzido de sangue para o menisco que fica localizado no centro do joelho aumenta a probabilidade de que a correção cirúrgica não cicatrize ou não funcione. O tamanho e a localização do rompimento, independente de ser no centro do menisco ou sobre as bordas externas com maior irrigação de sangue, interferem na decisão sobre a cirurgia.
A correção do menisco apresenta uma taxa de sucesso maior em pacientes mais jovens, com rompimentos periféricos próximos aos ligamentos capsulares horizontais ou longitudinais. Mesmo nesses casos, o sucesso depende do cumprimento dos exercícios pós-operatórios e da reabilitação, inclusive exercícios sem carga e a utilização de órtese (braces).
Antes da Cirurgia, Considere Seriamente a Ozonoterapia
Anteriormente entrevistei o Dr. Robert Rowen sobre a ozonoterapia em diversas condições dolorosas. Ele é um dos principais ozonoterapeutas dos EUA e foi bem-sucedido no tratamento de muitos pacientes por meio da ozonoterapia como intervenção alternativa à cirúrgica.
Se o tratamento com ozônio falhar, não haverá danos e, além disso, será possível fazer a cirurgia a qualquer momento. Entretanto, se a cirurgia fracassar, o dano será irreversível. O Tratamento com laser infravermelho (K-Laser) é uma outra opção.
É um tipo de terapia relativamente novo, que acelera a cura aumentando a oxigenação do tecido e permitindo que as células lesionadas absorvam fótons da luz. Este tipo especial de laser exerce um efeito positivo nos músculos, nos ligamentos e até mesmo nos ossos. Dessa forma, ele pode ser usado para acelerar a cura de lesões traumáticas, bem como de problemas crônicos como a artrite do joelho.