Por Dr. Mercola
Diversos produtos químicos encontrados em produtos plásticos são conhecidos por sua ação como desreguladores endócrinos. Com estrutura similar aos hormônios sexuais naturais, eles interferem no funcionamento normal desses hormônios.
Isso é particularmente problemático em crianças que ainda estão crescendo e se desenvolvendo, uma vez que as glândulas do sistema endócrino e os hormônios que elas liberam influenciam quase todas as células, órgãos e funções do organismo.
O sistema endócrino como um todo é fundamental na regulagem do humor, do crescimento e do desenvolvimento, das funções dos tecidos, do metabolismo, assim como da função sexual e dos processos reprodutores, e os produtos químicos desreguladores endócrinos têm sido, de fato, associados a diversos problemas reprodutivos.
Os ftalatos estão entre os mais disseminados de todos os desreguladores endócrinos. De acordo com estimativas realizadas pela Agência de Proteção Ambiental (EPA), mais de 213 milhões de quilos de ftalatos são produzidos todo ano.
Eles são primariamente usados para produção de plásticos como o cloreto de polivinila (PVC), mais flexível e resistente, porém eles também podem ser encontrados em todos os purificadores de ar, chapas secadoras e produtos para cuidados pessoais como shampoo, gel de banho e maquiagem.
Acredita-se que sua prevalência em produtos para cuidado pessoal é a razão pela qual mulheres tendem a ter níveis mais altos de ftalatos em seus organismos do que homens.
A mobília, estofamento, colchões e revestimentos de paredes também podem conter ftalatos. Eles foram ainda detectados em fórmulas e alimentos para bebês (provavelmente porque migraram do material da embalagem para o alimento).
Ftalatos Agora Estão Associados à Redução do QI em Crianças
Enquanto pesquisas realizadas anteriormente associaram defeitos congênitos, contagem baixa de esperma, síndrome dos ovários policísticos e puberdade precoce ou atrasada devido à exposição ao ftalato, citando apenas alguns dos problemas, pesquisas recentes sugerem que a exposição ao ftalato antes do nascimento também pode levar à redução do QI em crianças.
Descobriu-se também uma associação entre concentrações de ftalato no organismo da mãe durante a gravidez e a capacidade de concentração da criança, memória operacional, raciocínio perceptivo e o tempo levado pela criança para processar e recuperar informações aos sete anos de idade. Conforme relatado pela CNN Health:
"Mulheres que tinham quantidades altas de produtos químicos denominados di-n-butil ftalato e di-isobutil ftalato em seu organismo durante a gravidez, deram à luz crianças com níveis de QI notadamente mais baixos, de acordo com um novo estudo em execução na revista PLOS One.
O estudo concluiu que, aos sete anos de idade, crianças expostas a estes produtos químicos tinham QI seis pontos mais baixo do que crianças expostas a níveis menores destes produtos...
Os resultados desse estudo não foram exatamente o que os autores esperavam. ‘Estamos um pouco surpresos com a magnitude da queda do nível de QI,’ afirmou Factor-Litvak... 'Não estamos felizes com a descoberta, uma vez que os ftalatos são tão onipresentes no meio ambiente.'"
A causa exata para esta redução do QI ainda é desconhecida, pois esse estudo era apenas empírico; porém pesquisas realizadas anteriormente em animais concluíram que:
- Os ftalatos podem afetar a atividade da aromatase, enzima que converte testosterona em estrógeno. O estrógeno desempenha papel importante no desenvolvimento do cérebro.
- O produto químico pode interferir na produção do hormônio da tireoide que age no período de desenvolvimento do cérebro.
- Os ftalatos também podem desregular a atividade do cérebro relacionada à dopamina neurotransmissora que pode promover sintomas como desatenção e hiperatividade.
O BPA Pode Causar Impacto Direto e Imediato na Saúde Cardiovascular
Os ftalatos não são os únicos desreguladores endócrinos que podem promover problemas crônicos de saúde. Como os ftalatos, o bisfenol-A (BPA) pode ser encontrado em inúmeros produtos plásticos e para cuidado pessoal, incluindo o revestimento de produtos em conserva, recipientes antiaderentes e plásticos de alimentos, embalagens plásticas, garrafas de água e recibos de caixas registradoras.
O BPA, que simula o hormônio estrógeno, tem sido associado a:
Dano estrutural ao cérebro | Puberdade precoce, estímulo do desenvolvimento das glândulas mamárias, ciclos reprodutores desregulados, toxicidade ovariana e infertilidade |
Hiperatividade, aumento da agressividade e dificuldade no aprendizado | Doenças cardíacas |
Aumento na formação de gordura e risco de obesidade | Estímulo das células do câncer de próstata |
Função imunológica alterada | Aumento do tamanho da próstata, redução da produção de esperma e hipospadia (deformação peniana) |
Agora podemos incluir pressão arterial nesta lista. De acordo com um recente ensaio randomizado controlado, o BPA proveniente de latas ou garrafas plásticas pode aumentar a pressão arterial apenas algumas horas após a ingestão. Conforme relatado pelo New York Times:
"O estudo concluiu que, quando as pessoas beberam leite de soja enlatado, os níveis de BPA em sua urina aumentaram drasticamente em até duas horas – assim como sua pressão arterial. Porém, nos dias em que elas beberam o mesmo leite acondicionado em garrafas de vidro, que não usam revestimento feito com BPA, não houve alteração significante no nível de BPA ou na pressão arterial...
[Os] resultados sugerem que, para pessoas que bebem líquidos acondicionados em latas ou garrafas plásticas todos os dias, a exposição repetida ao longo do tempo pode contribuir para a hipertensão."
A quantidade de resíduos de BPA provenientes das latas pode, na verdade, ser mais significante do que previamente considerado. Após beber o líquido enlatado, os níveis de BPA na urina dos participantes aumentaram em torno de 1600 % se comparados àqueles que beberam leite de soja acondicionado em vidro.
De acordo com os autores, os efeitos podem ser causados pelo fato de o BPA bloquear os receptores de estrógeno que estão envolvidos na reparação dos vasos sanguíneos e no controle da pressão arterial. Desregulando o hormônio da tireoide, o BPA pode também afetar a pressão arterial indiretamente. O autor chefe Dr. Yun-Chul Hong afirmou ao New York Times:
"'Médicos e pacientes – particularmente pacientes de doenças cardiovasculares ou derivadas da hipertensão – devem estar cientes dos problemas clínicos potenciais da elevação da pressão arterial ao consumir alimentos e bebidas enlatados.'...
Ele recomendou que as pessoas deem preferência a alimentos frescos e garrafas de vidro em vez de latas ou recipientes plásticos e pressionou os fabricantes ‘a desenvolverem e usarem alternativas saudáveis ao BPA para o revestimento interno das latas.'"
Cuidado: As Declarações ‘Livre de BPA’ Não são Garantia de Segurança
Em resposta às exigências do consumidor para produtos livres de BPA, muitos fabricantes trocaram-no por um produto diferente chamado bisfenol-S (BPS). No entanto, o BPS parece ser tão tóxico quanto o BPA. Em alguns casos, ele parece ser ainda pior!
Trocar um produto químico desregulador endócrino por outro, dificilmente torna os produtos mais seguros, portanto, infelizmente, a informação “livre de BPA” pode não significar muita coisa. No ano passado, pesquisadores da Unidade Médica da Universidade do Texas descobriram que mesmo concentrações ínfimas – menos que uma parte por trilhão – de BPS pode desregular o funcionamento celular.
Disfunções metabólicas como obesidade, diabetes e até mesmo o câncer, são resultados potenciais de tais interferências. Outros testes realizados em animais também mostraram que o BPS promove efeitos similares ao BPA.
Por exemplo, pesquisadores que estudaram os efeitos do BPS em embriões de peixe-zebra descobriram que peixes expostos ao BPS em concentrações similares às encontradas nas águas de um rio das redondezas experimentaram crescimento neuronal explosivo, o que levou a um comportamento hiperativo e irregular.
Os embriões do peixe expostos ao BPS tiveram um aumento no crescimento neuronal de 170%; enquanto os que foram expostos ao BPA tiveram um aumento de 240%. Outro estudo usando ratos concluiu que a exposição tanto ao BPA como ao BPS causou arritmia cardíaca nas fêmeas.
Aqui, a dose usada foi semelhante às concentrações usadas em humanos. Os pesquisadores descobriram que o BPS bloqueou um receptor de estrógeno encontrado somente em fêmeas, o qual desregulou os canais de cálcio. Esta é também uma causa comum da arritmia cardíaca em humanos.
Dicas para Você Evitar Produtos Químicos Tóxicos
Embora seja praticamente impossível livrar-se de TODOS os produtos químicos potencialmente perigosos, você pode certamente minimizar sua exposição a eles mantendo os princípios-chave em mente.
- Consuma principalmente alimentos frescos, crus e integrais. Alimentos processados e acondicionados são fontes comuns de BPA e ftalatos – particularmente os acondicionados em latas, mas também alimentos acondicionados em embalagens plásticas.
- Compre produtos que venham acondicionados em garrafas de vidro em vez de plástico ou lata.
- Armazene seus alimentos e bebidas em recipientes de vidro em vez de plástico e evite usar embalagem plástica. Use recipientes de vidro ao aquecer o alimento no forno de micro-ondas, uma vez que o processo de aquecimento tende a aumentar a liberação dos produtos químicos do plástico.
Esteja ciente de que mesmo "os plásticos livres de BPA” normalmente liberam outros produtos químicos desreguladores endócrinos que são tão prejudiciais quanto o BPA.
- Use mamadeiras de vidro para seus bebês.
- Tome cuidado com os recibos de caixas registradoras. Se você compra regularmente de uma mesma loja, incentive o gerente a trocar os recibos pelos livres de BPA. Eu compro meus alimentos com frequência na Publix e, quando comentei com eles sobre os recibos, eles os trocaram. Não obstante, é aconselhável que você não tenha muito contato com esses recibos.
- Procure produtos fabricados por empresas amigas do meio ambiente, amigas dos animais, sustentáveis, com certificação orgânica e livres de organismos geneticamente modificados (os chamados GMO-free).
Isso se aplica a tudo, desde alimentos e produtos para cuidados pessoais até material de construção, forramento, pintura, itens para bebês, mobília, colchões e outros. Ao reformar sua casa, procure alternativas “verdes”, livres de toxinas no lugar de tintas regulares e revestimentos para pavimentos de vinil, sendo este último uma fonte de ftalatos.
- Escolha brinquedos feitos de material natural para evitar plásticos como ftalatos e BPA/BPS, particularmente para itens que sua criança vá colocar na boca ou mastigar.
- Amamente seu bebê exclusivamente no peito se possível pelo menos no primeiro ano (assim você evitará a exposição aos ftalatos da embalagem das fórmulas para bebês e das garrafas e bicos plásticos).
- Use produtos de limpeza naturais ou faça-os você mesmo.
- Troque os artigos de higiene, incluindo shampoo, pasta de dente, antiperspirantes e cosméticos. O banco de dados EWG's Skin Deep15 pode ajudá-lo a encontrar produtos para cuidados pessoais livres de ftalatos e de outros produtos químicos potencialmente perigosos.
- Substitua a cortina de plástico do chuveiro por uma de tecido.
- Substitua os produtos para higiene feminina (tampões e absorventes higiênicos) por alternativas mais seguras. A maior parte dos ingredientes contidos em produtos para higiene feminina não é informada, porém testes sugerem que eles podem conter dioxinas e aditivos petroquímicos.
- Procure produtos sem fragrância; ftalatos são geralmente usados na prolongação da fixação da fragrância. Fragrâncias artificiais podem também conter centenas – até mesmo milhares – de produtos químicos potencialmente tóxicos. Evite amaciantes, secadoras, purificadores de ar e velas perfumadas pelo mesmo motivo.
- Verifique se a água da torneira de sua casa contém agentes contaminantes e filtre-a se necessário. Você também pode usar uma alternativa aos tubos de PVC no sistema de entrada de água.
- Ensine seus filhos a não beberem água da mangueira do jardim, pois muitas são fabricadas com plásticos que contêm ftalatos. Elas são mangueiras tipicamente mais caras, porém de melhor qualidade e valem o investimento.