Por Dr. Mercola
Nos últimos anos, o verdadeiro custo de roupas baratas e da chamada “fast fashion” ou moda rápida tornou-se melhor compreendido e, com esse conhecimento, um apelo à mudança está sendo sondado. Investigações revelam que a indústria de roupas é fonte significativa de poluição ambiental - de acordo com algumas estimativas, é a quinta indústria mais poluente do mundo - e o consumo excessivo só aumenta esses problemas.
Portanto, enquanto que no passado a indústria da moda passava abaixo do radar, ambientalistas e especialistas da indústria preocupados com o meio ambiente estão agora começando a realmente apurar esses problemas. Como observado pela Fundação Ellen Macarthur:
“Chegou o momento de fazer a transição para um sistema têxtil que proporciona melhores resultados econômicos, sociais e ambientais. O relatório "A New Textiles Economy: Redesigning Fashion’s Future” (Nova Economia Têxtil: Redesenhando o Futuro da Moda) delineia o panorama e estabelece ambições e ações - baseadas em princípios da economia circular - para projetar quais são os impactos negativos e capturar oportunidade econômica de US $ 500 bilhões transformando, de fato, a maneira como as roupas são projetadas, vendidas e usadas.”
No passado, eu realmente não tinha pensado muito sobre as roupas que eu estava usando, e fiquei chocado ao saber sobre os danos à saúde e ao meio ambiente que ocorrem por conta da “moda rápida”. Agora eu me dediquei a usar e apoiar um movimento responsável e regenerativo chamado “Care What You Wear” (Atenção ao que Você Veste) ao desenvolver a Dirt Shirt (Camisa Suja) - roupas orgânicas cultivadas e costuradas nos EUA - e SITO, vestuário orgânico produzido de forma responsável fora dos EUA.
Este ano, pense seriamente em limpar seu guarda-roupa. Lembre-se de que ser consumidor consciente não se limita somente a alimentos e produtos domésticos. Sua roupa pode ser fonte de produtos químicos perigosos, e artigos de moda baratos cobram um tremendo preço ao meio ambiente e às pessoas que trabalham na indústria. Como consumidor, suas escolhas ajudarão a orientar a indústria de roupas em direção a processos de fabricação mais humanos e ambientalmente saudáveis.
Vendas de Roupas Estão em Alta nos Últimos Tempos
De acordo com o relatório apresentado, criado pela Circular Fibres Initiative da Fundação Ellen Macarthur, embora as vendas de roupas estejam em alta, o uso de roupas diminuiu drasticamente, o que faz sentido, considerando que você só pode usar um número limitado de itens por ano. A maioria de nós também tem talvez um punhado de itens do qual nós realmente gostamos e que acabamos usando repetidamente.
Entre 2000 e 2015, as vendas de roupas subiram, passando de 50 bilhões de unidades para 100 bilhões. Como resultado, o número médio de vezes que uma peça de roupa é usada antes de ela ser descartada caiu significativamente. Conforme observado no artigo em destaque, “o crescimento estável da produção está intrinsecamente associado a um declínio na utilização por item, levando a uma incrível quantidade de resíduos”.
Estimativas sugerem que mais da metade de todas as roupas compradas é descartada em menos de um ano. Por mais louco que pareça, uma empresa de moda britânica lembra a seus clientes que um vestido só ficará no guarda-roupa de uma mulher por cinco semanas! Como observado por Lucy Siegle, que fez aquela observação impressionante: “A maneira como nos vestimos agora não tem praticamente nada em comum com o comportamento das gerações anteriores, para quem uma peça de roupa podia ser usada por décadas.”
O resultado do tratamento das roupas como sendo extremamente descartáveis é um problema residual em rápido crescimento difícil de remediar. Aterros queimam o equivalente a um caminhão de lixo cheio de roupas a cada segundo, e como os tecidos são tipicamente tingidos e / ou tratados com produtos químicos tóxicos, todos estes são essencialmente resíduos tóxicos. Menos de 1% dos têxteis descartados são reciclados e reutilizados. O aumento da poluição química e plástica é mais um efeito colateral da moda rápida.
“O uso de substâncias que causam preocupação na produção têxtil tem um impacto importante na saúde dos agricultores e operários, bem como no meio ambiente. Durante o uso, foi recentemente estimado que meio milhão de toneladas de microfibras de plástico perdidas durante a lavagem acabam no oceano e, por fim, entram na cadeia alimentar…” observa a fundação.
Introduzindo uma Nova Economia Têxtil
Para resolver estas desvantagens, o relatório em destaque apresenta uma nova forma de economia têxtil na qual os têxteis “retornam à economia após seu uso e nunca acabam como resíduos”. Os quatro pilares desta nova economia envolvem:
- Eliminação gradual de substâncias tóxicas usadas na produção de têxteis e novos projetos de materiais para evitar a liberação de microfibras
- Mudança do modo como a roupa é projetada, comercializada e usada para evitar a criação da moda descartável
- Melhora da reciclagem de têxteis
- Transição para insumos renováveis, para evitar o desperdício de recursos não renováveis
A designer de moda Stella McCartney, que co-patrocinou o lançamento do relatório, disse:
“O que realmente me entusiasma sobre "Nova Economia Têxtil: Redesenhando o Futuro da Moda" é que ele fornece soluções para uma indústria que é incrivelmente desperdiçadora e prejudicial ao meio ambiente. O relatório apresenta um guia para criarmos melhores negócios e um meio ambiente melhor. Ele inicia a discussão que nos permitirá encontrar uma maneira de trabalhar juntos para melhorar a nossa indústria, para o futuro da moda e para o futuro do planeta.”
Campanha Care What You Wear (Atenção ao que Você Veste)
De fato, nós simplesmente devemos começar a nos preocupar com o que é colocado nas roupas que vestimos, e é por isso que estou participando e doando dinheiro de minhas Dirt Shirts (Camisas Sujas) - feitas de algodão orgânico 100% certificado pela GOTS, cultivadas de forma sustentável no Texas - para a campanha Care What You Wear (Atenção ao que Você Veste).
Para saber mais sobre este projeto, confira dirtshirt.org e changingclothes.org. Já se foram os dias em que a moda era apenas ter aparência bonita. Atualmente, há um movimento real relacionada à moda que também faz bem ao mundo. Como explicado por Marci Zaroff, fundador da primeira fábrica têxtil organicamente certificada nos EUA:
“Não é tão diferente do movimento Farm to Table, onde as pessoas estão dizendo: "De onde vem meu alimento? Como ele está sendo cultivado e produzido? '… Estamos despertando para nossa fonte interna. Estamos despertando para esse desejo de saber o que estamos colocando dentro e sobre nossos corpos como extensão de nós mesmos. Não é só o que você come. É também o que você veste que faz parte de você. Precisamos pensar na fibra de forma similar à que pensamos sobre alimentos.”
O resultado disso é que roupas feitas com responsabilidade, feitas com tinturas não tóxicas (ou sem tinturas) e materiais orgânicos, também são ótimas. Há uma diferença real na qualidade, e quando uma peça de roupa é de excelente qualidade, o desejo de jogá-la fora depois de tê-la usado algumas vezes é bem reduzido. Na verdade, itens de alta qualidade geralmente melhoram com seu uso, contrário de se transformar em bagunça deformada, descolorida, mal ajustada e desgastada depois de algumas lavagens.
Problema com o Couro
Outros designers e cientistas têxteis estão abordando os problemas da indústria da moda de outro ângulo, criando tecidos que não envolvem fibras convencionais como algodão, cânhamo ou sintéticos. Em um artigo recente para a Hakai Magazine, 7 Heather Pringle e Amorina Kingdon discutem uma série de novas ideias da indústria, como colágeno cultivado em laboratório e couro de kombuchá - desenvolvimentos gerados pela crescente conscientização do impacto devastador que o couro promove sobre o meio ambiente e sobre a saúde dos trabalhadores.
“Somente nos Estados Unidos, consumidores gastam cerca de US $ 30 bilhões por ano em calçados, e esse número não inclui o que as famílias gastam todo ano com muitos outros produtos de couro, incluindo bolsas, luvas e jaquetas ... ” Pringle e Kingdon escrevem.
“Somente entre 2012 e 2014, fabricantes mundiais produziram aproximadamente 1,8 bilhão de metros quadrados de couro leve… para a indústria da moda… Grande parte desse couro fino é proveniente de pequenos curtumes em países em desenvolvimento, onde os custos trabalhistas são mínimos e as regulamentações ambientais e de saúde no local de trabalho são muitas vezes mal aplicadas.”
A Indústria do couro Envenena as Via Fluviais
O custo ambiental de nosso caso de amor com artigos de couro é alto. Citando apenas um exemplo, em Bangladesh, nada menos que 200 fábricas de curtumes estavam amontoadas no bairro industrial de Daca, onde produtos químicos tóxicos, à base de ácido, fluíam livremente para o rio Buriganga. Todo ano, estima-se que 22.000 litros cúbicos de efluentes tóxicos vão para o rio, que desemboca na baía de Bengala.
Não é surpreendente saber que a indústria de curtumes tenha matado toda vida do rio Buriganga, e suas águas agora ameaçam a saúde de qualquer pessoa que entre nela. A poluição por metais pesados também foi relatada ao longo das margens do leste de Bangladesh, a mais de 200 quilômetros de distância.
Em um esforço para enfrentar a devastação ambiental que está ocorrendo, o governo de Bangladesh mudou a indústria de couro de Daca para um novo local próximo ao rio Dhaleshwari no início deste ano, prometendo que este novo local seria equipado com uma estação de tratamento de água adequada. Infelizmente, os planos para abrir a fábrica foram adiados, e agora moradores temem que as fábricas de couro também contaminem o rio Dhaleshwari.
Novas Alternativas ao Couro
Infelizmente, é difícil encontrar couro ecológico. O poliuretano e cloreto de polivinila (PVC ou pleather) são alternativas ruins, pois ambos são tóxicos por si mesmos. Claro, nenhum animal é morto, mas os trabalhadores que fabricam esses couros “veganos” falsos são expostos a substâncias químicas cancerígenas e, quando descartados, liberam dioxinas tóxicas no meio ambiente.
Cientistas da Modern Meadow, em Nova Jersey, estão agora trabalhando em um couro biofabricado produzido com colágeno cultivado em laboratório. Enquanto isso, pesquisadores australianos estão experimentando um tecido semelhante ao couro produzido a partir da fermentação de kombuchá. Embora longe de estarem prontos para serem usados na indústria da moda, testes iniciais mostram que "se houver vontade, há um jeito" para criar alternativas.
Ao Comprar Roupas Orgânicas, Certifique-se de que ela Possui Certificado GOTS
Tenha em mente que só porque você tem um tecido tido orgânico por alguém, isso não significa que é um tecido orgânico. Por outro lado, um tecido com certificado GOTS foi monitorado em todas as etapas do processo, desde a fazenda até o envase. Até as etiquetas usadas nele têm que estar em conformidade com os padrões de reciclagem. Em outras palavras, para um têxtil ter certificado GOTS, cada etapa da cadeia de fornecimento deve ser certificada de acordo com os padrões GOTS, não apenas uma ou duas etapas.
A indústria de roupas orgânicas ainda é pequena, e nem sempre é fácil encontrar roupas orgânicas cultivadas de forma sustentável. O Dirt Shirt acabará se expandindo para fornecer roupas íntimas com certificado GOTS e outros tipos de roupas, além de camisetas.
Atualmente, optei por ter meias e roupas íntimas da marca SITO (Soil Integrity for Textiles Organically [Integridade do Solo para Têxteis Orgânicos]), pois a SITO apoia nossa missão global de melhorar a produção de tecidos e acabar com a moda rápida. Para saber mais sobre nossos produtos da marca Dirt Shirt e SITO, veja o vídeo abaixo.
A marca PACT também fabrica roupas íntimas orgânicas com certificado GOTS. Outras empresas de roupas que oferecem roupas orgânicas incluem a prAna e Patagonia, a Outerknown e a Eileen Fisher e marcas menores, como Zady, Bead and Reel, Shop Ethica e Modavanti.
Felizmente, a esta altura do campeonato, existem todos os motivos para acreditar que a tendência de roupas sustentáveis continuará a crescer e, à medida que as pessoas começarem a valorizar seus dólares, mais e mais empresas irão aderir a esse movimento. É importante, no entanto, evitar os erros cometidos na indústria de alimentos orgânicos, onde padrões fracos ou deficientes criaram o que pode ser melhor descrito como indústria orgânica falsa.
A chave é promover certificações com fortes padrões orgânicos, para impedir que as empresas cortem custos para obter lucro. Atualmente, o melhor padrão existente é o certificado GOTS.