Por Dr. Mercola
- A Monsanto tornou-se uma potência global capaz de dobrar governos inteiros de acordo com sua vontade. Como resultado, a empresa saturou o ambiente global com seus produtos químicos tóxicos, em grande parte através de meios questionáveis, se não abertamente imorais e ilegais. Carey Gillam, uma jornalista investigativa, mergulhou profundamente nos bastidores da Monsanto e as consequências catastróficas de sua influência na cultura global em seu livro “Whitewash: The Story of a Weed Killer, Cancer, and the Corruption of Science” (Branqueamento: A História de um Matador de Ervas Daninhas, Câncer e a Corrupção da Ciência).
“Eu fui uma jornalista por toda a minha vida adulta, mais de 25 anos”, diz Gillam. A maior parte de sua carreira foi passada como repórter na Reuters, uma organização de notícias global altamente respeitada. Na década de 1990, ela foi designada para mudar-se para o Kansas e encarregada de informar sobre questões relacionadas a alimentos e a produção de alimentos.
“Eu vim para Kansas City e imediatamente comecei a investigar e a tentar aprender tudo sobre a Monsanto, que tinha acabado de introduzir culturas geneticamente modificadas (transgênicas)”, diz ela. “Eu achava que a engenharia genética parecia legal… usei o Roundup; funcionou muito bem… eu vim sem preconceitos.
Como repórter, você realmente aprende a deixar de lado qualquer preconceito, porque não é justo e não é o modo como você aprende e relata informações com precisão. O livro é realmente a conclusão de 20 anos de envolvimento pesado neste mundo e de passar muito tempo com a Monsanto e com a Dow, a DuPont e os agricultores.
O glifosato — Roundup — é uma espécie de veículo para o meu livro. A Monsanto e a história de como eles forçaram esse matador de ervas daninhas a tornar-se aquele que é o mais amplamente usado no mundo… foram estrategicamente projetadas… O ponto que espero que este livro deixe claro é que o glifosato e a Monsanto são realmente os principais exemplos de um problema muito maior — um incentivo corporativo para a dependência de pesticidas…”
Glifosato — O Herbicida Mais Amplamente Usado na Terra
O glifosato está registrado em 130 países e seu uso aumentou exponencialmente desde a introdução de culturas transgênicas resistentes ao glifosato. Os agricultores atualmente aplicam cerca de 5 bilhões de libras (mais de 2 bilhões de quilos) de glifosato para cultivar safras a cada ano, em todo o mundo. Aproximadamente 300 milhões de libras (1360 milhões de quilos) são aplicados em terras agrícolas dos EUA.
Não é sequer necessário dizer que a exposição a pesticidas também aumentou exponencialmente. Os resultados de exames de urina indicam que a presença de glifosato, o ingrediente ativo do herbicida Roundup, disparou mais de 1.200% entre 1993 e 2016. O livro de Gillam revela como as culturas transgênicas foram o verdadeiro catalisador desse tremendo aumento no uso do glifosato, uma vez que ele foi projetado para encorajar a utilização deste produto químico pelos agricultores.
“Nós documentamos resíduos de glifosato na aveia, no mingau de aveia que você está servindo aos seus filhos e em produtos feitos de trigo e pão. O glifosato foi até encontrado no mel — até mesmo no mel orgânico, o que é mais [devido à] função das abelhas… do que da aplicação de pesticidas. Novamente, ele está disseminado em nossa comida, nossa água, nosso solo, nosso ar e nossos próprios corpos”, dizGillam.
O Glifosato é uma Toxina Potente
O glifosato é o principal ingrediente do Roundup, mas, embora tóxico por si só, o Roundup, como formulação, é ainda mais prejudicial. Alguns acreditam que ele é significativamente mais tóxico, pois certos surfactantes permitem que o glifosato seja absorvido com maior eficácia. Além disso, o “gli” no glifosato vem da glicina, um aminoácido muito comum que seu corpo usa para produzir proteínas.
Como resultado, seu corpo pode substituir o glifosato por glicina, o que resulta na produção de proteínas danificadas. O glifosato também afeta a via do xiquimato e destrói o seu microbioma, graças à sua atividade antibiótica.
O Roundup também foi associado a certos tipos de câncer. Em março de 2015, a International Agency for Research on Cancer (Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer -IARC), um ramo de pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS), reclassificou o glifosato como “provável cancerígeno” (Classe 2A), com base em “evidências limitadas” demonstrando que este herbicida pode causar linfoma não-Hodgkin e câncer de pulmão em seres humanos, juntamente com “provas convincentes” ligando-o ao câncer em animais.
A mesma coisa aconteceu na indústria do tabaco e também está acontecendo nas indústrias de telecomunicações e farmacêutica. Ao desacreditar cientistas objetivos que têm a integridade de relatar a verdade, eles atrasam o inevitável colapso de seus negócios. A confusão e dúvidas sozinhas são suficientes para manter seus negócios como de costume.
Milhares de Ações Legais Pendentes Contra o Roundup da Monsanto
Desde que a ILCI classificou o glifosato como um carcinógeno de classe 2A, cerca de 3.500 indivíduos entraram com ações judiciais contra a Monsanto, alegando que o herbicida causou neles o linfoma não-Hodgkin. Muitos dos casos neste litígio multidistrital estão sendo tratados em um tribunal federal em São Francisco sob um juiz. Documentos internos obtidos durante a descoberta foram liberados por advogados, e tornaram-se conhecidos como “The Monsanto Papers” (Os Documentos da Monsanto).
“É bem assustador quando você vê que o que eles dizem publicamente é muito diferente do que eles dizem internamente, e como eles funcionam também”, diz Gillam. “Eu estava olhando para um novo [documento] hoje [no qual] um cientista da Monsanto fez referência a artigos publicados analisados por pares nos quais ele trabalhou, mas que não levam seu nome. Isso está relacionado ao problema dos escritores-fantasma, quando eles escrevem artigos, mas os artigos parecem ter sido feitos por indivíduos independentes imparciais”.
Algumas das evidências também revelam que a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) conspirou com a Monsanto para proteger os interesses da empresa, manipulando e prevenindo as principais investigações sobre o potencial cancerígeno do glifosato.
O Problema Principal: Permitiu-se que Interesses Corporativos Prevalecessem Sobre a Segurança Pública
Quando se trata do dano que a exposição ao glifosato pode causar, o câncer é apenas a ponta do proverbial iceberg. Este pode nem ser o problema mais significativo. O glifosato possui a capacidade de causar danos sistêmicos e metabólicos generalizados capazes de causar ou piorar quase qualquer doença, e isso é muito mais problemático do que seu potencial cancerígeno.
E, como Gillam enfatiza em seu livro, o problema ainda maior é que também estamos sendo expostos a muitos outros pesticidas tóxicos, e muitas vezes em combinação.
Fazendo Exames para Verificar seus Níveis de Glifosato
Embora tanto o Pesticide Data Program (Programa de Dados de Pesticidas) do USDA quanto a FDA meçam os resíduos de herbicidas e pesticidas em alimentos, nenhum deles inclui o glifosato em seus exames, aparentemente porque é muito caro e em parte porque o glifosato foi considerado seguro (com base nas próprias evidências que a Monsanto apresentou).
O USDA prometeu começar a examinar os resíduos de glifosato no ano passado, mas apenas alguns dias antes do início do exame, este foi cancelado. A razão nunca foi divulgada. A única vez que o USDA testou o glifosato foi em 2011, quando 300 amostras de soja foram examinadas e todas estavam contaminadas. A FDA também iniciou um programa de exames limitado para o glifosato em 2016, mas não divulgou o programa.
A boa notícia é que você não precisa mais depender do governo quando se trata de exames de glifosato. Você pode examinar seus próprios níveis, avaliando assim sua própria exposição individual. Se os seus níveis forem altos, seria sábio mudar sua alimentação e considerar comprar maisalimentos orgânicos. Os Health Research Institute Labs (Laboratórios do Instituto de Pesquisa em Saúde - HRI Labs) em Davenport, Iowa, desenvolveu kits de testes domésticos para água e urina.
Os Médicos Precisam Aprender Mais Sobre a Exposição a Pesticidas
O limite atual para o HRI, que é o que você deve usar ou um laboratório que usa essa sensibilidade, é metade de uma parte por bilhão ou 40 partes por trilhão. Se você estiver abaixo desse limite, sua exposição é baixa e é improvável que você sofra efeitos adversos. Infelizmente, ainda temos um longo caminho a percorrer em termos de educação dos profissionais de medicina sobre a importância do teste de pesticidas.
No ano passado, Gillam pediu a seu médico para verificar seu nível de glifosato e o médico nunca tinha ouvido essa palavra.
Direito de Saber dos EUA — Lutando pela Verdade e Transparência
Depois de décadas trabalhando para a Reuters, Gillam deixou a organização de notícias em 2015 para unir-se ao USRTK, uma organização sem fins lucrativos que trabalha pela transparência e prestação de contas no sistema alimentar dos EUA. Ao preencher pedidos do órgão de liberdade de informação (Freedom of Information Act - FOIA) junto a agências reguladoras e outras instituições, a USRTK expôs várias fraudes maciças.
“Sabemos sobre o conluio com os reguladores, mas esses professores acadêmicos que estão ensinando nossos jovens e escrevendo resumos de política aos nossos legisladores, dando palestras em todo o mundo — em muitos casos, estamos vendo que a Monsanto fez as apresentações para eles; enviou a eles as apresentações de slides, escreveu para eles os documentos que aparecem em sites sob seus nomes.
É incrível, a rede que a Monsanto e a indústria química desenvolveram em todo o mundo, de indivíduos que parecem independentes e imparciais, que estão na verdade colaborando com a indústria química. É surpreendente…”
Mais Informações
Para saber mais sobre o impacto da Monsanto no sistema alimentar, os perigos da exposição a pesticidas e a corrupção da ciência, adquira uma cópia de “Whitewash”. Por cerca de USD 20,00 você terá acesso aos mais de 20 anos de experiência profissional de Gillam em pesquisas e reportagens sobre estas questões. Ela fornece percepções profundas sobre o que está acontecendo com seus alimentos e quais são as soluções, como fazer compras orgânicas e cultivar seus próprios alimentos.
“É interessante notar que, embora não examinemos [alimentos para o glifosato] aqui nos EUA… examinamos grãos e alfafa e outras coisas que estão acontecendo no exterior. Temos uma agência de inspeção de grãos que faz testes de glifosato em diferentes grãos. Não aqueles destinados aos lares americanos, mas aqueles destinados a lares estrangeiros. Por quê? Porque muitos países ao redor do mundo não querem resíduos de glifosato em seus alimentos…”.
Seja Parte da Solução
O problema das exposições a pesticidas é o próximo nível de conscientização que as pessoas precisam alcançar. Você pode ajudar nesse processo educando-se e compartilhando suas descobertas com as pessoas que conhece.
Além disso, saiba que, embora a ignorância possa colocar você em um lugar difícil, as informações sobre a saúde podem libertar você. Ter controle sobre sua saúde é mais fácil do que você imagina. Tudo o que você precisa fazer é fazer escolhas diferentes. Uma das estratégias mais básicas é comer comida de verdade, cultivada organicamente sem pesticidas.
Uma vez que você tenha adquirido esse hábito, faça um exame de urina em relação ao glifosato para avaliar seus hábitos alimentares. Se seus níveis ainda estiverem altos, você ainda está sendo exposto a ele excessivamente, seja através da água, da comida ou do seu entorno.
Por último, mas não menos importante, “Temos que tomar decisões por nós mesmos para nos alimentarmos mais saudavelmente, mas [também] espero que as pessoas sejam motivadas a tentar influenciar as políticas públicas, e pressionar por uma maior transparência e mais opções saudáveis”, Gillam diz. De fato, combater a corrupção no governo exigirá que todos nós nos envolvamos mais no processo político.