Os alimentos orgânicos reduzem significativamente os riscos de problemas de saúde

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alimentação orgânica

Resumo da matéria -

  • Uma meta-análise de seis estudos epidemiológicos publicados entre 2001 e 2018 descobriu que o glifosato aumenta o risco de linfoma não-Hodgkin (NHL) em 41% em indivíduos altamente expostos
  • Dos seis estudos incluídos, cinco encontraram uma correlação positiva. No sexto, o risco de NHL foi diluído devido à inclusão de pessoas cuja exposição era muito baixa
  • A maioria dos alimentos (os processados, em particular) está contaminada com glifosato, e mais de 70% dos norte-americanos têm níveis detectáveis de glifosato em seu sistema

Por Dr. Mercola

De acordo com pesquisas de opinião, o principal motivo para as pessoas escolherem alimentos orgânicos é evitar a exposição a pesticidas. Esses produtos químicos não apenas ameaçam o meio ambiente como também representam um risco muito claro e direto para a saúde humana.

O glifosato, ingrediente ativo do herbicida Roundup da Monsanto, ganhou as manchetes porque é o produto químico agrícola mais usado na história e a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) o identificou como um provável carcinogênico humano.

Nova meta-análise fortalece a ligação entre o glifosato e o linfoma não-Hodgkin

Uma meta-análise de seis estudos epidemiológicos publicados entre 2001 e 2018 agora acrescenta mais peso a essas suspeitas, mostrando que o glifosato aumenta o risco de linfoma não-Hodgkin (NHL), um grupo de cânceres do sangue, em 41% em indivíduos altamente expostos.

De acordo com a equipe de pesquisa, liderada por Luoping Zhang, toxicologista da Universidade da Califórnia em Berkeley e membro do painel consultivo científico da Agência de Proteção Ambiental (EPA) sobre carcinogenicidade do glifosato, há de fato um "vínculo convincente" entre a exposição ao glifosato e o NHL.

Dois outros pesquisadores da equipe também foram membros do EPA SAP, que ocorreu em 2016. Na época, todos os três expressaram preocupação com a determinação da EPA de que o glifosato "não é passível de ser carcinogênico" para os seres humanos, observando que a EPA não seguiu as práticas científicas adequadas em sua avaliação da substância química.

A autora sênior da análise, professora Lianne Sheppard disse ao jornalista investigativo Carey Gillam que "ficou muito óbvio que eles não seguiram as próprias regras. Há alguma evidência de que o pesticida é carcinogênico? A resposta é "Sim".

As mesmas evidências sugerem que a EPA havia colaborado com a Monsanto para proteger os interesses da empresa, manipulando e impedindo as principais investigações sobre o potencial carcinogênico do glifosato.

Dos seis estudos incluídos na nova análise, cinco demonstraram uma correlação positiva. Um deles, conhecido como Agricultural Health Study (AHS), publicado em 2018, não encontrou causalidade.

Os cientistas estão convencidos de que o glifosfato é um perigoso carcinogênico

Essa descoberta representa uma má notícia para a Bayer, que agora é dona da Monsanto e sua tóxica linha de produtos. Até o momento, 9 mil pessoas têm processos pendentes contra a Monsanto-Bayer. Todos atribuem sua NHL à exposição ao Roundup. Em sua de defesa, a Monsanto se apoiou fortemente no estudo da AHS, que não encontrou correlação entre a exposição e o risco de NHL.

Novo processo foca nos efeitos do Roundup sobre as bactérias intestinais

Mesmo que você não seja exposto a herbicidas à base de glifosato via aplicação (que é o caso da maioria dos que alegam que a exposição ao glifosato causou seu NHL), sua saúde ainda está em risco, já que a maioria dos alimentos (processados em particular) está contaminada com essa substância, e mais de 70% dos norte-americanos têm níveis detectáveis de glifosato em seu corpo.

Um programa limitado de testes de alimentos pela Food and Drug Administration em 2016 revelou que praticamente todos os alimentos testados estavam contaminados com o Roundup. O Laboratório do Instituto de Pesquisas da Saúde (HRI Labs), um laboratório independente que testa os micronutrientes e toxinas encontradas nos alimentos, também constatou uma contaminação generalizada por glifosato.

De acordo com dados da HRI, pessoas que comem aveia regularmente têm duas vezes mais glifosato em seu sistema do que pessoas que não o fazem (provavelmente porque a aveia é dissecada com o glifosato antes da colheita) e as pessoas que comem alimentos orgânicos regularmente apresentam um nível 80% menor de glifosato do que aquelas que raramente consomem produtos orgânicos.

O glifosato mata as ervas daninhas inibindo a via do chiquimato na planta, e a Monsanto há muito defende a segurança da substância, dizendo que ela não pode afetar os humanos porque não temos essa via. No entanto, a via do chiquimato é encontrada em bactérias intestinais humanas, que hoje sabemos que desempenham um papel vital na saúde humana.

Como foi divulgado pela Bloomberg, um processo aberto contra a Monsanto no dia 13 de fevereiro enfoca essa mesma questão. Mas o glifosato também afeta sua saúde através de vários outros mecanismos. Por exemplo, pesquisas mostram que ele também:

Imita a glicina, um aminoácido que o seu corpo usa para produzir proteínas. Agindo como um substituto da glicina em seu corpo, o glifosato pode provocar a produção de proteínas danificadas.

A glicina também desempenha um papel na inibição da inflamação, como explicado em "A glicina reduz os danos oxidativos, inibindo a produção de NOX Superóxido e estimulando o NADPH", e é usada no processo de desintoxicação. Por conta do nível de toxidade do glifosato, poucos de nós têm glicina suficiente no corpo para uma desintoxicação eficiente.

Ele interfere na função das enzimas do citocromo P450, necessárias para a ativação da vitamina D no fígado, para a a criação de óxido nítrico e sulfato de colesterol, o último dos quais é necessário para a integridade dos glóbulos vermelhos.

Promove a quelação de minerais importantes, incluindo ferro, cobalto e manganês. A deficiência de manganês, por sua vez, prejudica a função mitocondrial e pode levar à intoxicação por glutamato no cérebro.

Interfere na síntese de aminoácidos aromáticos e da metionina, o que resulta em escassez de neurotransmissores críticos e de folato.

Perturba a síntese e o transporte do sulfato.

Perturba e destrói o microbioma intestinal via atividade antibiótica.

Inibe a metabolização do enxofre.

Impacta as vias de metilação.

Inibe a liberação hipofisária do hormônio estimulante da tireoide, o que pode levar ao hipotireoidismo.

Quanto glifosato você tem no corpo?

O HRI Labs desenvolveu um teste caseiro para água e urina disponível na minha loja online. Caso seus níveis estejam altos, é preciso reconsiderar sua dieta e consumir mais alimentos orgânicos.

Também seria interessante lançar mão de algum protocolo de desintoxicação e seguir os passos necessários para reparar os danos causados ao intestino pelos agroquímicos e o glifosato. É possível que, se os seus níveis de glifosato estiverem altos, seu corpo esteja intoxicado com outros pesticidas.

A dieta orgânica diminui significativamente sua exposição a pesticidas, revela estudo

Uma resposta óbvia à preocupação da exposição ao glifosato é a adoção de uma alimentação orgânica. Um estudo publicado na revista Environmental Reserarch no dia 12 de fevereiro de 2019, confirma novamente que é possível reduzir drasticamente a exposição a pesticidas com uma dieta orgânica e que os resultados dessa mudança são rápidos.

Em média, os níveis de metabólitos de pesticidas para neonicotinóides, organofosforados (OP), piretróides, 2,4-D e outros (14 compostos ao todo, representando cerca de 40 pesticidas diferentes) foram reduzidos em mais de 60% em apenas seis dias de dieta orgânica.

Exames de urina foram coletados de famílias norte-americanas "racial e geograficamente diversificadas" (sete adultos e nove crianças ao todo) antes e depois da mudança na alimentação. Os níveis de pesticidas caíram drasticamente, chegando a uma média de 70%.

Para evitar pesticidas, aposte na alimentação orgânica

Outros estudos tiveram resultados muito parecidos, incluindo:

  • Um estudo de 2006 sobre perspectivas ambientais de saúde descobriu que os níveis do pesticidas OP baixaram até se tornarem indetectáveis em crianças alimentadas com uma dieta totalmente orgânica por cinco dias. Os níveis aumentaram novamente assim que a dieta convencional foi reintroduzida.
  • Um estudo australiano publicado em 2014 descobriu que uma dieta 80% orgânica diminui os níveis de pesticidas no corpo em até 89% em sete dias.
  • Um último estudo, esse de 2015, constatou que os níveis de pesticidas foram reduzidos entre 25% e 49% em crianças mexicanas e norte-americanas entre 3 a 6 anos após sete dias de alimentação orgânica.

Muitos outros trabalhos acadêmicos apoiam a alimentação orgânica como redutor da exposição a pesticidas

Em um relatório divulgado em 2016, o parlamento europeu falou sobre "as implicações da agricultura e dos alimentos orgânicos para a saúde humana", detalhando os vários benefícios da agricultura orgânica, baseando-se na literatura acadêmica global disponível. O relatório é excepcionalmente abrangente, na medida em que também analisa uma ampla gama de efeitos de orgânicos, do conteúdo nutricional e os benefícios de menos pesticidas até os impactos ambientais e na sustentabilidade.

Suas conclusões foram baseadas em centenas de estudos epidemiológicos e laboratoriais, além de análises de alimentos. Novamente, os benefícios da alimentação orgânica para a saúde humana estão relacionados à menor exposição a pesticidas, antibióticos e cádmio.

Embora as agências reguladoras americanas insistam que estabelecer limites para resíduos de pesticidas em produtos convencionais é o suficiente para proteger a saúde pública, o relatório descobriu que os efeitos negativos à saúde podem ocorrer em crianças, mesmo nos níveis atuais de exposição.

E mais, a substância química foi detectada em mais de 90% das mães no estudo. Vários estudos têm demonstrado que a dieta orgânica oferece uma melhor nutrição.

Dentre eles:

Um estudo húngaro, publicado em 2006, comparou o valor nutricional de alimentos vegetais cultivados de forma orgânica e convencional, descobrindo que os orgânicos continham "quantidades significativamente maiores de certos antioxidantes (vitamina C, polifenóis e flavonoides) e minerais".

Um estudo de 2010 observou a diferença entre a carne bovina terminada a pasto e a terminada a grãos, descobrindo que a primeira tem uma composição mais saudável de gordura e níveis de CLA. Segundo os autores, "alterações na alimentação convencional do gado podem mudar o perfil lipídico, oferecendo um melhor pacote nutricional".

Um estudo de 2013 descobriu que o leite orgânico contém cerca de 25% menos gorduras ômega-6 e 62% mais gorduras ômega-3 do que o leite convencional, juntamente com mais vitamina E, beta-caroteno e ácido linoléico conjugado (CLA).

Um estudo britânico publicado em 2014 descobriu que alimentos cultivados organicamente contêm níveis "significativamente" mais altos de antioxidantes do que a variedade cultivada convencionalmente, incluindo compostos benéficos ligados a um risco reduzido de doenças crônicas, doenças cardíacas, neurodegenerativas e certos tipos de câncer.

Um grupo de cientistas da Universidade de Newcastle, no Reino Unido, avaliou 343 estudos publicados durante várias décadas. A análise, publicada em 2014, descobriu que, embora muitos níveis de nutrientes fossem comparáveis, uma diferença nutricional importante entre os alimentos orgânicos e convencionais era o teor de antioxidantes, com frutas e vegetais orgânicos contendo de 18% a 69% mais antioxidantes do que variedades cultivadas convencionalmente.

O Instituto de Pesquisa de Agricultura Orgânica, em Frick, na Suíça, confirmou que maçãs orgânicas contêm níveis mais altos de antioxidantes do que as variedades convencionais.

Um estudo de 2010 parcialmente financiado pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) descobriu que os morangos orgânicos eram mais ricos em nutrientes do que os morangos convencionais.

Pesquisas também descobriram que os verdadeiros ovos caipiras orgânicos normalmente contêm cerca de dois terços a mais de vitamina A, o dobro da quantidade de ômega-3, três vezes mais vitamina E e até sete vezes mais beta-caroteno do que os ovos convencionais.

Recursos dos alimentos orgânicos

Embora a maioria das pessoas tenda a pensar em orgânicos apenas em termos de produtos (frutas e vegetais), é importante comprar carne, aves e laticínios orgânicos, já que animais são convencionalmente criados com uma dieta geneticamente modificada, grãos carregados com glifosato e outros ingredientes potencialmente perigosos.

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