Tratando intoxicação por mercúrio com emeramida

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Resumo da matéria -

  • Usando a tecnologia de marcação de fotoafinidade de nucleotídeos, Boyd Haley, Ph.D, demostrou que o mercúrio é o único metal pesado capaz de fazer com que um cérebro normal desenvolva as mesmas anormalidades bioquímicas encontradas na doença de Alzheimer
  • A enzima creatina quinase é 98% inibida em pacientes de Alzheimer, e a tubulina é inibida em mais de 80%
  • O mercúrio faz com que as fendas sinápticas desapareçam e desencadeia a formação de emaranhados neurofibrilares, uma importante marca diagnóstica da doença de Alzheimer
  • A emeramida (NBMI), um componente de quelação desenvolvido por Haley, se fixa ao mercúrio e o elimina através das fezes

Boyd Haley, Ph.D, é um químico especialista no desenvolvimento de produtos químicos para a quelação de metais, tanto do meio ambiente quanto do corpo humano. Eu tive a oportunidade de entrevistar Haley (acima) na edição de 2018 da Academy of Comprehensive Integrative Medicine (ACIM) em Orlando.

Haley tem Ph.D em química e bioquímica e conduziu pesquisas financiadas pelo Instituto Nacional de Saúde durante 25 anos nas universidades de Wyoming e Kentucky. No início de sua carreira, ele desenvolveu um sistema de detecção bioquímica chamado rotulagem de fotoafinidade de nucleotídeos e publicou estudos sobre seu uso.

A pesquisa de Haley sobre Alzheimer

Mais tarde, ele aceitou um cargo no Centro de Alzheimer, focado em pesquisas sobre o mal de Alzheimer, no qual ele trabalhou em parceria com um ex-aluno de graduação. O Instituto nacional de saúde financiou suas pesquisas por cinco anos, que usou a tecnologia de Haley para avaliar as diferenças de proteínas de ligação ATP, GDP e AMP cíclico em cérebros normais versus aqueles com doença de Alzheimer.

"As diferenças são substanciais", ele disse. Por exemplo, a enzima creatina, fundamental para o funcionamento do cérebro, sofre uma inibição de 98% em pacientes com Alzheimer. Eles também descobriram que a tubulina — uma proteína cerebral importante que mantém um axônio em sua forma estendida e controla a direção do crescimento de axônios e dendritos — é inibida em mais de 80%.

Todas as anormalidades bioquímicas e marcadores do Alzheimer são estimuladas pelo mercúrio

O beta-amilóide, que muitos associam ao Alzheimer, não é a causa real da doença. Trata-se apenas de um marcador, um resultado da doença. No entanto, é possível causar o acúmulo de beta-amilóide no cérebro, tratando os neurônios com mercúrio.

"Ocorre que o mercúrio inibe a expressão da neprilisina, que é a principal protease no cérebro usada para quebrar o beta-amilóide. O mercúrio não afeta o beta-amilóide, o que ele faz é evitar que a protease, a enzima de limpeza, seja expressa", ele explica.

A transformação de um cético

É interessante notar que Haley era altamente cético com relação à ideia de que preenchimentos dentais liberavam mercúrio antes de começar a estudar o assunto. Assim como tantos outros, ele presumiu que o FDA e a Associação Dental Americana nunca permitiriam que algo tão tóxico fosse colocado na boca das pessoas.

Suas pesquisas científicas eventualmente o convenceram de que os preenchimentos são uma importante fonte de exposição ao mercúrio, que pode realmente exacerbar e desencadear doenças crônicas — algo que ele detalha em seu artigo de 2014, "Evidence Supporting a Link Between Dental Amalgams and Chronic Illness, Fatigue, Depression, Anxiety and Suicide".

Haley também fala sobre as reviravoltas em sua vida que o levaram a pesquisar as ligações entre a toxicidade do mercúrio e o autismo, e como as vacinas podem ser uma fonte de exposição tóxica ao mercúrio. Embora o timerosal (conservante à base de mercúrio) tenha sido removido de muitas vacinas infantis, ainda é usado em algumas.

A genética e sua influência na eliminação de mercúrio (e no risco de Alzheimer)

Haley completou sua pesquisa sobre Alzheimer em 1998, apenas 30 anos atrás, mas nunca foi convidado para uma conferência sobre o assunto para apresentar seu trabalho. Ele também publicou um livro no qual propôs um mecanismo que explica por que ter duas cópias do gene ApoE2 torna um indivíduo praticamente imune à doença de Alzheimer.

O gene ApoE2 tem duas moléculas de cisteína na superfície, enquanto a ApoE4 — que é um importante fator de risco para a doença de Alzheimer — tem duas moléculas de tirosina. Esses são os aminoácidos na estrutura. O aminoácido cisteína na E2 se vincula eficientemente ao mercúrio, enquanto a tirosina na E4 não pode fazer isso.

Como resultado, ter duas cópias do gene ApoE4 coloca um indivíduo em uma desvantagem significativa, já que seu cérebro não pode eliminar o mercúrio naturalmente, enquanto que ter duas cópias da ApoE2 é um fator altamente benéfico, porque seu cérebro tem a capacidade de eliminar o mercúrio.

Intervenções terapêuticas para intoxicação por mercúrio

A doença de Alzheimer está associada ao estresse oxidativo. Embora o mercúrio não seja um metal redox, ou seja, que não pode criar radicais livres de hidroxila, ele substitui o ferro e o kaempferol e, quando o mercúrio substitui o ferro, impede a produção de ATP nesse sistema de transporte de elétrons.

Ao deslocar o ferro dos centros de enxofre, o mercúrio também bloqueia os citocromos, já que eles precisam de ferro para funcionar. "Algumas publicações têm demonstrado que a exposição ao mercúrio acaba com o metabolismo de ferro no corpo", Haley diz.

O componente desenvolvido por ele, a emeramida ou NBMI, se vincula ao mercúrio e ao ferro, que também é altamente tóxico. Assim, a emeramida também pode ser utilizada no tratamento de hemocromatose, uma doença genética que causa sobrecarga de ferro no sangue.

Pontos negativos de quelantes populares para o mercúrio

Haley também discute as desvantagens do uso de ácido dimercaptosuccínico (DMSA) ou ácido 2,3-dimercapto-1-propanossulfônico (DMPS) para fazer a quelação do mercúrio. Esses são os dois quelantes químicos mais comumente utilizados. De acordo com Haley, ambos não são verdadeiramente agentes quelantes. Segundo eles, os agentes formam um "complexo sanduíche", no qual cada molécula de mercúrio terá duas moléculas de DMSA ligadas a ele, em vez de apenas uma.

Um problema significativo é a sua capacidade de translocar o mercúrio do sangue e outros órgãos e concentrá-lo nos rins, causando assim insuficiência renal. Além disso, grante parte do mercúrio não vai para o sangue, mas sim para as células, e nenhum dos dois componentes é capaz de penetrar células, segundo Haley. Eles apenas removem o mercúrio presente no sangue.

Haley e sua decisão de desenvolver um quelante revolucionário

A decisão de Haley de desenvolver um melhor agente quelante para o mercúrio resultou de tentativas fracassadas de alertar as autoridades de saúde para os perigos reais do timerosal nas vacinas.

"Certa noite, eu estava em casa. Eu tenho uma filha Ph.D em biologia molecular e toxicologia. Ela me ligou enquanto escrevia sua tese de Ph.D. Ela disse ter encontrado um site que me mencionava e ele não era muito explicativo, para dizer o mínimo.

No telefone, ela parecia triste. Fiquei irritado por permitir que pessoas publicassem coisas erradas sobre mim... Eu me lembro daquela noite (2002) como se fosse hoje. Eu me sentei com uma taça de vinho tinto e perguntei: "como eu venço esses caras?" Eles têm muito mais visibilidade. Não dá para vencer os órgãos mais importantes do país em relações públicas. Foi naquela noite que eu decidi: "eu sou um químico. Eu crio coisas". Foi assim que surgiu a ideia de fazer um quelante melhor do que os disponíveis.

Eu escrevi um pedido de financiamento. Consegui algum financiamento para tentar fazer os quelantes que penetrariam em células... Se você vai usar um quelante, a primeira coisa que ele precisa ser é atóxico... Ele também tem que ser hidrofóbico para atravessar a barreira entre o sangue e o cérebro e entrar nas células... "

Haley reconta a história de como a emeramida foi desenvolvida e descreve as diferenças entre o DMPS e o DMSA. A emeramida é atóxica e se prende muito bem ao mercúrio. É também um antioxidante muito potente, com dois "braços" de glutationa. (Glutationa é um antioxidante produzido em seu corpo que é fundamental na desintoxicação do mercúrio e outras toxinas).

Haley acredita que seu poder antioxidante vem da glutationa, que elimina os radicais livres de hidroxila. Outros testes demonstraram que cada molécula de emeramida elimina três radicais livres de hidroxila. Embora ele cesse a toxidade, não repara danos causados anteriormente, que devem ser abordados de outras formas.

Por que o produto inicial de Haley foi recusado pelo FDA?

O primeiro produto de Haley, desenvolvido em 2006 e vendido entre 2008 e 2010 sob o nome de Oxidative Stress Relief (OSR), foi embargado pelo FDA em 2010 após a apresentação de uma queixa.

Essencialmente, Haley foi atacado, e o FDA mudou as regras para validar esse ataque. Haley decidiu não entrar em uma batalha judicial contra o órgão. "Não tenho o dinheiro necessário", ele disse. Ele fechou seu negócio, e nenhuma ação formal foi tomada contra o FDA.

O advogado de Haley disse que ele precisaria desenvolver um quelante que não existisse naturalmente e buscasse sua aprovação como medicamento. E esse caminho levou à criação da emeramida.

A primeira fase de estudos da emeramida

A emeramida é um ingrediente farmacêutico ativo A droga em si é chamada Irminix, e é designada como droga órfã para uso como quelante de mercúrio nos EUA e na União Europeia, porque nem o FDA nem a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) têm tratamento oficial para intoxicação por mercúrio.

"Começamos os testes em animais como eles pedem que façamos. Para afetar um animal, os níveis de exposição precisavam ser inacreditavelmente altos, 1000 vezes mais altos do que em um ser humano. Usamos 4 a 5 miligramas (mg) por quilograma de peso corporal para tratar uma pessoa com intoxicação por mercúrio.

Estávamos dando a esses animais um mínimo de 290 mg por quilo de peso corporal para deixá-los doentes. Alguns animais sequer ficavam doentes. Os humanos não ficam. Quero dizer, a ação é diferente. Mas não ocorre nada irreversível. As reações são do tipo que você para de fazer o tratamento e elas desaparecem. É totalmente seguro...

Nós fizemos tudo isso e conseguimos permissão para começar a fazer um dos estudos na Suíça. É nesse momento que damos doses únicas por um período de tempo e aumentamos cada vez mais até chegarmos a várias doses por semana...".