Nessa edição especial do CBC Marketplace, transmitida originalmente em 2017, a jornalista Wendy Mesley investigou a segurança dos telefones celulares, focando em um alerta pouco conhecido, emitido pelo fabricante e escondido no manual do seu celular, que aconselha a manter o dispositivo a uma certa distância do corpo para garantir que você não exceda os limites federais de segurança para exposição à radiofrequências (RF).
No mundo real, entretanto, a maioria das pessoas leva seus celulares bem perto do corpo, geralmente em um bolso. Muitas mulheres inclusive mantém o celular preso em seus sutiãs, que é aliás, absolutamente o pior lugar para uma mulher guardar o celular, já que isso pode aumentar seu risco de problemas cardíacos e tumores nos seios, as duas causas principais de mortes entre as mulheres.
O que diz o alerta do fabricante
Enquanto o alerta de segurança para um uso seguro do celular pode ser ligeiramente diferente para cada telefone, as informações básicas sãos as mesmas.
De acordo com o relatório, "81 por cento dos Canadenses nunca viram a mensagem, tanto no celular quanto no manual, dizendo que o dispositivo deve ser mantido a uma distância de 5 a 15 mm do corpo". E além disso, poucas pessoas realmente compreendem o que tudo isso significa. É perigoso deixar o telefone em contato com o seu corpo? Mesley se aventura em descobrir o que esse alerta significa para os consumidores.
O que você precisa saber sobre os valores de SAR do seu celular
Como ressaltado por Mesley, saber se o seu celular deve ser mantido a 5, 10 ou 15 mm de distância do seu corpo, para prevenir uma exposição de RF maior que os limites federais de segurança, tem a ver com a maneira como seu celular foi testado.
Na reportagem ela leva três celulares recém-comprados para o RF Exposure Lab em San Marcos, Califórnia, um dos vários laboratórios espalhados pelos EUA que conduzem testes de absorção de energia (SAR, do inglês, specific absorption rate) em telefones celulares.
O teste SAR mede quanta energia de RF (radiofrequência) você vai absorver do dispositivo quando ele é mantido a uma distância específica do seu corpo (variando de 5 a 15 mm, dependendo do fabricante). É importante entender que os valores do teste SAR não são indicadores de segurança em geral.
Por que as avaliações de SAR são terrivelmente equivocadas
Em resumo, o celular é testado para avaliar quanta energia, em forma de RF, é emitida quando o dispositivo é usado sob as piores condições. "Transmitimos como se você estivesse na maior distância que é possível estar da torre de transmissão e ainda fazer uma chamada. Esse é o pior cenário que se pode ter para um telefone celular", explica o técnico do laboratório.
O teste em si foi, de fato, desenvolvido muito antes do uso de celulares se tornar algo tão comum entre crianças e adolescentes, cujos crânios permitem uma penetração maior da energia de RF. Com o celular emitindo em potência máxima, um sensor é então usado para medir a profundidade que a energia de RF é capaz de penetrar na cabeça do boneco de testes.
Tudo que a avaliação SAR tenta é medir o efeito térmico de curto termo da radiação sobre seu corpo, definido em termos de quanta energia é absorvida (em watts) por unidade de tecido (quilograma).
Tipos diferentes de tecido, tais como ossos, o cérebro, músculos e sangue, todos têm níveis diferentes de densidade e condutividade, o que também interfere na taxa de absorção. Isso significa que a avaliação de um teste SAR é altamente dependente de qual parte do seu corpo é exposta à radiação.
Para começar, o manequim antropomórfico (SAM, do inglês, specific anthropomorphic mannequin) usado para medir a SAR é modelado com atributos observados nas cabeças de um grupo seleto de militares composto pelos melhores 10 por cento de recrutas de 1989 — em outras palavras, um homem com 1,88 metro de altura e 99 quilos em média, medidas maiores do que 97 por cento da população norte-americana. Isso significa que qualquer pessoa com medidas menores que o SAM está mais vulnerável à penetração da radiação, especialmente as crianças.
Em segundo lugar, o FCC usa o SAM para determinar os níveis seguros de radiação ionizante, mas não de radiação não ionizante. Como as formas não ionizantes de campos eletromagnéticos (EMF, do inglês, electromagnetic field) são muito menos energéticas do que a radiação ionizante, por muito tempo a crença vigente foi que os campos eletromagnéticos não ionizantes não eram nocivos para os seres humanos e outros sistemas biológicos.
Entretanto, como discutido a seguir, a ciência tem demonstrado que a radiação não ionizante pode de fato causar danos psicológicos. Além do mais, a SAR da radiação emitida pelos celulares é medida apenas quando o telefone está realmente ligado e em uso, não quando está ocioso no seu bolso (quando ele ainda está se comunicando com torres de celular próximas e / ou buscando o Wi-Fi mais próximo).
Finalmente, os padrões de SAR não são atualizados desde 1996, apesar da tecnologia usada nos celulares ter avançado dramaticamente desde então.
Descobertas do NTP foram reproduzidas em níveis de energia abaixo dos limites do FCC
Evidências também foram publicadas como confirmação pelo Instituto Ramazzini apenas um mês depois que o NTP (do inglês, National Toxicology Program) divulgou seu relatório preliminar em Fevereiro de 2018. O estudo do Instituto Ramazzini reproduz e apoia claramente as descobertas do NTP, demonstrando uma conexão evidente entre a radiação dos celulares e tumores nas células de Schwann (schwannomas) — mas em níveis bem mais baixos de energia do que aqueles usados pelo NTP.
Enquanto o NTP usou níveis de RF comparáveis aos emitidos por celulares 2G e 3G (exposição de campo próximo), o Ramazzini simulou a exposição às torres de transmissão de celular (exposição de longo alcance).
Assim como nos estudos do NTP, ratos machos expostos à radiação desenvolveram estatisticamente taxas mais altas de schwannomas no coração comparado aos roedores não expostos. Os pesquisadores também descobriram alguma evidência, embora menos significativa, de que a exposição à RF aumenta as taxas de tumores gliais nos cérebros de fêmeas de roedores.
Onde estão todos os tumores cerebrais?
Para investigar se os tumores cerebrais são algo com que precisamos nos preocupar como usuários de celular, Mesley visita o neuro-oncologista Dr. Jay Easaw em Edmonton, Canadá, que lhe mostra imagens de um dos piores tumores cerebrais que ele já viu, localizado no lado do cérebro onde o paciente — um usuário constante de celular — segurava seu celular quando estava ao telefone.
A incidência de glioblastoma multiforme (o tipo mais letal de tumor no cérebro) mais que dobrou no Reino Unido entre 1995 e 2015. De acordo com os autores da análise do NTP, esse aumento dramático provavelmente se deve à "generalização de fatores ambientais ou de estilo de vida" — o que incluiria o uso de telefones celulares.
Disfunções mitocondriais, e não os tumores cerebrais, são o perigo principal da radiação dos celulares
Embora os tumores cerebrais sejam de fato uma preocupação, em minha opinião, eles não são o problema principal. As evidências sugerem que o perigo principal da radiação dos celulares são realmente os danos celulares e mitocondriais sistêmicos, que podem contribuir para diversos problemas de saúde e doenças crônicas.
O processo de dano começa quando a radiação de microondas de baixa frequência ativa os canais de cálcio dependentes de voltagem (VGCCs, do inglês, voltage-gated calcium channels), que são canais na membrana externa das suas células. Quando ativos, os VGCCs se abrem, permitindo um influxo anormal de íons de cálcio para dentro das células.
O aumento do cálcio intracelular, e o aumento da sinalização de cálcio que o acompanha, parece ser responsável pela maioria dos danos que ocorrem.
Isto é revisado com mais detalhes na minha entrevista com o professor Martin Pall abaixo. Por exemplo, o excesso de cálcio ativa o óxido nítrico e, embora o óxido nítrico tenha muitos benefícios para a saúde, o óxido nítrico maciçamente excessivo reage com o superóxido para produzir peroxinitritos - estressantes oxidantes extremamente potentes.
Os peroxinitritos por sua vez modificam as moléculas de tirosina em proteínas para criar nitrotirosina e nitração de proteínas estruturais. Mudanças causadas pela nitração são visíveis em biópsias humanas de aterosclerose, isquemia do miocárdio, doença inflamatória do intestino, esclerose lateral amiotrófica e doença pulmonar séptica.
Os peroxinitritos também podem causar quebras em filamentos individuais de DNA. Esse rastro de destruição oxidativa — disparada pela radiação de baixa frequência emitida por dispositivos móveis — pode explicar em parte o aumento sem precedentes na taxa de doenças crônicas desde 1990, e é uma preocupação bem maior que os tumores cerebrais.
Problemas cardíacos, transtornos neurológicos e infertilidade também são riscos oferecidos pela exposição a EMF
Também foi demonstrado que a radiação de celulares tem um impacto significativo na saúde neurológica e mental, contribuindo para e/ou piorando a ansiedade, depressão e demência, por exemplo, e essas condições ocorrem em número cada vez maior, sendo cada vez mais prevalentes, mesmo levando-se em conta a desaceleração no número de casos de câncer cerebral. (Isso também faz sentido já que a disfunção cerebral ocorre bem mais rápido que um tumor, que pode levar décadas.)
Pesquisas também sugerem que a exposição excessiva a EMF está contribuindo para problemas reprodutivos. Por exemplo, os pesquisadores descobriram que a exposição pré-natal a campos de frequência energéticos pode quase triplicar o risco de aborto espontâneo em mulheres gestantes.
Estudos associaram exposição à radiação eletromagnética de baixa energia proveniente de celulares com uma redução de 8 por cento na mobilidade dos espermatozoides e de 9 por cento na viabilidade do esperma. Computadores equipados com Wi-Fi também foram associados com a mobilidade reduzida dos espermatozoides e com um aumento na fragmentação do DNA dos espermatozoides após apenas quatro horas de uso.
Como limitar sua exposição à RF
Mesmo alegando que não existe motivo para preocupações, o Health Canada ainda recomenda substituir as ligações no celular por mensagens de texto, usar acessórios que te deixam com as mãos livres e limitar o uso de celulares por crianças se você estiver preocupado com potenciais efeitos colaterais.
É possível reduzir sua exposição à RF limitando o tempo que você passa no celular e utilizando o viva-voz ou um fone de ouvido com microfone para criar uma distância maior entre o celular e a sua cabeça.
Não há dúvidas para mim de que a exposição à RF de celulares e outros dispositivos sem fio representa um perigo significativo para sua saúde, algo que irá danificar seu DNA e contribuir para doenças crônicas e o envelhecimento prematuro. Esse assunto precisa ser abordado se você se preocupa com sua própria saúde e com a saúde da sua família.
Para se proteger e proteger sua família da radiação dos celulares e outras fontes de campos eletromagnéticos nocivos, considere tomar as seguintes precauções:
Evite levar o celular com você junto ao seu corpo se ele não estiver em "modo avião", e nunca durma com o celular na sua cama, a menos que ele esteja em modo avião. Mesmo em "modo avião" o celular ainda pode emitir sinais, motivo pelo qual eu coloco meu celular em uma bolsa de Faraday. |
Ao usar seu celular, use o viva-voz e mantenha o aparelho a pelo menos 90 cm de distância. |
Tente reduzir radicalmente o tempo que você passa no celular. Ao invés disso, use um telefone com software VoIP (Voice over IP) que podem se conectar à Internet através de uma conexão física com cabos. |
Conecte seu computador à Internet usando uma conexão física com cabos Ethernet e certifique-se de também deixar seu computador em modo avião, se possível. Também evite acessórios sem fio como teclado, mouse, trackball, acessórios para jogos, impressoras e telefones residenciais sem fio. Opte pelas opções com fio. |
Se você precisa usar Wi-Fi, desligue quando não estiver usando, especialmente durante a noite quando você vai estar dormindo. Idealmente, tente cabear sua casa com fios para ter conexões físicas com a Internet e poder eliminar o Wi-Fi completamente. Se o seu notebook não tem nenhuma porta Ethernet, um adaptador de USB para Ethernet te permite fazer uma conexão física com a internet usando um cabo. |
Desligue fontes de eletricidade em seu quarto durante a noite. Isso geralmente funciona para reduzir os campos elétricos provenientes dos fios nas paredes, a menos que exista alguma área adjacente ao lado do seu quarto. Se esse for o caso será preciso usar um medidor para determinar se você também precisa desligar a eletricidade nessa área adjacente. |
Use um despertador que funcione com pilhas ou baterias, idealmente, um que não emita nenhuma luz. Eu uso um rádio-relógio com alarmes de voz para pessoas com dificuldades visuais. |
Se você ainda usa um forno de micro-ondas, considere substitui-lo por um forno de convecção, que aquece suas refeições tão rápido quanto, e de maneira mais segura. |
Evite usar eletrodomésticos e termostatos "inteligentes" que dependem de sinais sem fio. Isso incluiria todas as novas TVs "inteligentes". Esses dispositivos também são chamados de inteligentes porque emitem sinais de Wi-Fi mas, ao contrário do seu computador, nesses casos a emissão de sinais via Wi-Fi não podem ser desligada. Ao invés disso, considere usar um monitor de computador grande como sua TV, já que eles não emitem sinais de Wi-Fi. |
Recuse medidores inteligentes sempre que possível, ou adicione blindagem aos que já existem, algumas delas são comprovadas em reduzir a radiação de 98 a 99 por cento. |
Considere mudar o berço do bebê para o seu quarto ao invés de usar uma babá eletrônica sem fio. Como alternativa, use um modelo de babá eletrônica com fio para monitorar o bebê. |
Substitua as lâmpadas CFL por lâmpadas incandescentes. O ideal seria remover todas as lâmpadas fluorescentes da sua casa. Elas não apenas emitem uma luz não saudável, mas também, e mais importante, elas de fato transferem corrente elétrica para o seu corpo se você estiver perto das lâmpadas. |