Jovens usuários de maconha apresentam risco de derrame e ataque cardíaco

Fatos verificados
maconha e risco para a saúde

Resumo da matéria -

  • Jovens diagnosticados com um transtorno de uso de maconha (cannabis) apresentaram um risco 47 a 52% maior de serem hospitalizados por irregularidade nos batimentos cardíacos, condição também conhecida como arritmia
  • Entre os adultos que usaram maconha por mais de 10 dias por mês, o risco de acidente vascular cerebral aumentou quase 2,5 vezes em comparação com os que não faziam uso da droga
  • Usuários frequentes de maconha que também fumavam cigarros comuns ou eletrônicos tinham um risco ainda maior de derrame — mais de três vezes o risco dos que não faziam uso da droga
  • Pesquisas anteriores também encontraram relações entre o uso de maconha e riscos cardíacos, pois se sabe que fumar maconha aumenta a frequência cardíaca e a pressão arterial e pode aumentar o risco de ataque cardíaco em jovens do sexo masculino
  • As descobertas destacam a necessidade de maiores pesquisas sobre as dosagens e vias de administração mais eficazes para a maconha medicinal, além de apontar para os possíveis perigos para quem faz uso recreativo e frequente

Por Dr. Mercola

A maconha medicinal, que se refere ao uso de toda a maconha não processada ou de seus extratos para fins medicinais, gerou muita empolgação por seu papel potencial no tratamento de doenças que variam de anorexia a Alzheimer.

Embora a planta possua propriedades medicinais impressionantes, que ainda estão sendo exploradas, pesquisas emergentes também sugerem que o uso frequente de maconha pode estar associado a riscos cardíacos, incluindo um aumento no risco de ataque cardíaco e derrame.

Os resultados destacam a necessidade de maior pesquisa sobre as dosagens e vias de administração mais eficazes para maconha medicinal enquanto também aponta para os possíveis perigos ao que fazem uso recreativo e frequente.

O uso frequente de maconha está associado a irregularidades nos batimentos cardíacos

No primeiro estudo preliminar, apresentado em uma reunião de 2019 da American Heart Association (AHA) na Filadélfia, os jovens diagnosticados com um transtorno de uso de maconha (cannabis) apresentaram um risco 47 a 52% maior de serem hospitalizados por irregularidade nos batimentos cardíacos, condição também conhecida como arritmia, em comparação com aqueles sem o transtorno.

Estima-se que 2,5% dos adultos nos EUA, ou quase 6 milhões de pessoas, possam ter problemas com o transtorno do uso de maconha, uma condição caracterizada por ânsia por maconha, uso recorrente de maconha que leva a problemas na escola, no trabalho ou em casa, esforços mal sucedidos para reduzir o uso de maconha e outros fatores.

De um modo geral, o transtorno é definido como "um padrão problemático do uso de maconha, que leva a prejuízos ou angústias clinicamente significativas". Para o estudo, os pesquisadores usaram dados de mais de 67,5 milhões de pacientes hospitalares, revelando que aqueles entre 25 e 34 anos que faziam uso compulsivo da maconha tinham 52% mais chances de serem hospitalizados por irregularidades nos batimentos cardíacos, assim como 28% dos usuários compulsivos de maconha entre 15 e 24 anos.

Os efeitos no batimento cardíaco dependiam da dose, de acordo com o Dr. Rikinkumar Patel, do Griffin Memorial Hospital em Norman, Oklahoma, que afirmou em um comunicado da AHA:

"Os efeitos do uso da maconha são vistos em 15 minutos e duram cerca de três horas. Em doses mais baixas, está associado à aceleração do batimento cardíaco. Em doses mais altas, está associado à lentidão do batimento cardíaco…

O risco do uso de maconha associado à arritmia em jovens é uma grande preocupação, e os médicos devem perguntar sobre o uso de maconha e outras substâncias aos pacientes hospitalizados com arritmias, pois isso pode estar desencadeando o problema.”

Os jovens usuários de maconha apresentam maior risco de derrame

O segundo estudo, que também foi apresentado na reunião de 2019 da AHA na Filadélfia, envolveu mais de 43.000 adultos entre 18 e 44 anos. Quase 14% afirmaram ter usado maconha nos últimos 30 dias.

Entre aqueles que faziam uso da maconha mais de 10 dias por mês, o risco de derrame aumentou quase 2,5 vezes em comparação com os que não faziam uso da droga. Os usuários frequentes de maconha que também fumam cigarros ou usam cigarros eletrônicos apresentaram um risco ainda maior de derrame — mais de três vezes o daqueles que não faziam uso da droga. O principal autor do estudo Tarang Parekh, da Universidade George Mason, em Fairfax, Virgínia, explicou em um comunicado à imprensa:

"Os jovens usuários de maconha, especialmente aqueles que fumam cigarro e têm outros fatores de risco para acidentes vasculares cerebrais, como pressão alta, devem entender que podem aumentar o risco de sofrer um derrame numa idade jovem. Os médicos devem perguntar aos pacientes se eles usam maconha e orientá-los sobre o possível risco de derrame como parte das consultas de rotina."

O estudo foi de natureza observacional e não prova que o uso de maconha causou o aumento do risco de derrames, apenas que existe uma relação. No entanto, pesquisas anteriores também encontraram relações entre o uso de maconha e riscos cardíacos, pois se sabe que fumar maconha aumenta a frequência cardíaca e a pressão arterial e pode aumentar o risco de ataque cardíaco em jovens do sexo masculino.

Isso é especialmente válido na primeira hora após o uso da maconha, quando o risco de ataque cardíaco aumenta em um fator de 4,8. Aqueles que fazem uso diário de maconha também podem apresentar um aumento no risco anual de ataque cardíaco de 1,5% para 3%, possivelmente devido ao vasoespasmo arterial coronariano, que é uma constrição muscular da artéria coronária.

O uso de maconha aumenta o risco de ataque cardíaco em jovens

Um estudo separado, que tem o objetivo de avaliar o risco de várias substâncias em ataques cardíacos de jovens entre 15 e 22 anos, também descobriu que a maconha aumentava esse risco. Os usuários de maconha nessa faixa etária apresentaram um risco 30% maior de ataque cardíaco em comparação com os não usuários, enquanto o risco de ataque cardíaco dos usuários de cocaína foi 3,9 vezes maior, e os usuários de anfetamina 2,3 vezes maior, em comparação com os não usuários dessas drogas.

Além disso, 14,7% dos usuários de maconha apresentaram doenças graves quando foram admitidos — uma proporção maior de casos de doenças graves em comparação aos usuários de cocaína e anfetamina. Os usuários de maconha também geraram uma despesa média mais alta pela estadia, chegando a custar US$ 53.608 (mais de R$ 200 mil).

"Nosso estudo demonstra uma prevalência mais alta e uma razão de chances significativa (de ataque cardíaco agudo) na população mais jovem que faz uso de maconha, juntamente com os possíveis encargos financeiros devido à gravidade da doença, tempo prolongado de hospitalização e maior uso das modalidades de tratamento", observaram os pesquisadores.

Além disso, 2% dos usuários de maconha hospitalizados por ataques cardíacos morreram durante suas estadias, em comparação a zero caso de morte dos demais usuários de drogas. É uma descoberta interessante, principalmente porque não ocorrem overdoses letais de maconha e canabinoides, pois não há receptores canabinoides nas áreas do tronco cerebral que controlam a respiração.

Como os canabinoides afetam o sistema cardiovascular?

Embora pesquisas sugiram que o uso da maconha possa não afetar significativamente a mortalidade a longo prazo, pessoas com histórico de doenças cardíacas ou problemas cardíacos podem apresentar maior risco aos efeitos cardíacos da maconha, em parte devido às ações dos canabinoides. A maconha contém mais de 100 canabinoides únicos, que se ligam aos receptores do seu corpo.

Os canabinoides interagem com o seu corpo por meio de receptores canabinoides naturalmente presentes nas membranas celulares. Existem receptores canabinoides no cérebro, pulmões, fígado, rins e sistema imunológico, entre outros; as propriedades terapêuticas (e psicoativas) da maconha ocorrem quando um canabinoide ativa um desses receptores.

O tetrahidrocanabinol (THC), o composto responsável pelos efeitos psicoativos da maconha, é um tipo de canabinoide. O canabidiol (CBD), o componente não-psicoativo da maconha, é outro, o qual sabemos que pode oferecer muitos benefícios para o alívio da dor, convulsões e outras condições de saúde. No que diz respeito à saúde do coração, a Harvard Medical School observou:

"Uma das poucas coisas que os cientistas sabem ao certo sobre a maconha e a saúde cardiovascular é que pessoas com doenças cardíacas estabelecidas, quando submetidas a estresse, desenvolveriam dor no peito mais rapidamente se fumassem maconha do que se não usassem a droga.

Isso se deve aos efeitos complexos que os canabinoides têm sobre o sistema cardiovascular, incluindo o aumento da frequência cardíaca em repouso, a dilatação dos vasos sanguíneos e a aceleração do coração. Pesquisas sugerem que o risco de ataque cardíaco é várias vezes maior do que seria normalmente dentro de uma hora após o uso de maconha.

Embora não represente uma ameaça significativa para pessoas com risco cardiovascular mínimo, é um sinal de alerta para qualquer pessoa com histórico de doença cardíaca. Embora as evidências sejam mais fracas, há também relações entre um risco maior de fibrilação atrial ou derrame isquêmico imediatamente após o uso da maconha."

A maconha está associada à esquizofrenia?

Outra área que merece mais pesquisas é a possível relação da maconha com distúrbios da saúde mental, o que inclui a esquizofrenia. O uso de maconha está associado à esquizofrenia, principalmente em jovens que a usam com frequência.

Também pode haver uma variável genética em jogo, pois caso tenha um tipo de gene AKTI, o risco de desenvolver um distúrbio psicótico é maior ao fazer uso de maconha. Isso ainda se intensifica nos usuário frequentes da droga, pois aqueles que possuem essa variante genética e fazem uso diário de maconha têm um risco sete vezes maior de psicose em comparação com os usuários diários que não têm essa variante genética.

Também foi sugerido que o uso de maconha por adolescentes e jovens adultos pode aumentar o risco de esquizofrenia mais tarde na vida. Os pesquisadores escreveram no World Psychiatry:

"Agora existem evidências razoáveis de estudos longitudinais de que o uso regular de maconha prediz um aumento no risco de esquizofrenia e do relato de sintomas psicóticos. Essas relações persistiram após o controle de variáveis de confusão, como características pessoais e uso de outras drogas.

… Uma relação causal contributiva é biologicamente plausível porque os distúrbios psicóticos envolvem distúrbios no sistema de neurotransmissores da dopamina com os quais o sistema canabinoide interage, como foi demonstrado por estudos em animais e um estudo provocativo em seres humanos."

Os benefícios da maconha medicinal

Embora a maconha apresente riscos que devam ser observados, através de técnicas tradicionais de melhoramento de plantas e troca de sementes, os produtores começaram a produzir plantas com níveis mais altos de CBD e níveis mais baixos de THC para uso medicinal.

É provável que tanto o THC como o CBD tenham um papel benéfico para a saúde. Um estudo até descobriu que o CBD pode amenizar alguns dos efeitos psicoativos do THC, e os dois compostos podem oferecer melhores resultados terapêuticos quando administrados juntos do que sozinhos.

Nas localidades onde a maconha medicinal é legalizada, seu uso pode ser permitido somente em determinadas circunstâncias médicas, e às vezes apenas em óleo ou cápsulas de CBD. Para o que a maconha medicinal é usada? Dor e ansiedade são os principais usos, mas também existe um potencial para seu uso como tratamento de câncer e muito mais, visto que os canabinoides têm se mostrado promissores para uma variedade de usos medicinais, incluindo:

Esclerose múltipla

Anorexia

Síndrome do intestino irritável

Doença de Huntington

Vício

Doenças oculares

Náuseas e vômitos associados à quimioterapia

Dor inflamatória e neuropática

PTSD (Síndrome do estresse pós-traumático)

Transtornos de ansiedade

Além disso, o THC pode oferecer esperança para o tratamento da doença de Alzheimer, de acordo com um estudo em camundongos. Uma dose baixa de THC reverteu o declínio relacionado à idade no desempenho cognitivo de camundongos com idade entre 12 e 18 meses.

Os canabinoides podem fazer bem à saúde do coração, entre outros

O fato é que é a versatilidade dos canabinoides que os torna tão promissores. Embora a maconha tenha sido associada a alguns riscos cardíacos, descobriu-se que o CBD diminui a pressão sanguínea durante períodos de estresse e protege contras os danos cerebrais em pacientes que sofreram derrame.

Como os canabinoides funcionam através de múltiplos mecanismos, é possível que eles sejam úteis não apenas para certos aspectos da saúde do coração e da doença de Alzheimer, mas também para a doença de Parkinson, tumores cerebrais, epilepsia e lesão cerebral por trauma. Pesquisadores que escrevem na Frontiers in Integrative Neuroscience observaram:

"As propriedades polifarmacêuticas inerentes aos agentes botânicos da cannabis oferecem vantagens distintas sobre o atual modelo farmacêutico de alvo único e prometem revolucionar o tratamento neurológico em uma nova realidade de tratamento eficaz intervencionista e até preventivo".

Se você está pensando em fazer uso da maconha medicinal e mora numa localidade onde esse uso é legalizado, você pode obter uma receita com seu médico e até fazer parte de um grupo de pacientes que podem compartilhar suas experiências com esse tratamento. Você pode obter na justiça o direito de cultivar sua própria maconha para fins medicinais e uso pessoal apenas.

Existem diferentes formas de administração da maconha medicinal, que variam de inalação, vaporização, fumo, sublingual (debaixo da língua), ingestão oral e tópica. A melhor forma para você depende de suas necessidades médicas. Portanto, o ideal é que você trabalhe com um médico experiente para determinar a melhor via de administração e dosagem.