Quais são os potenciais riscos e benefícios da Nitroglicerina?

nitroglicerina

Resumo da matéria -

  • A nitroglicerina atua relaxando as artérias, permitindo um maior fluxo sanguíneo para o coração e reduzindo o risco de ataque cardíaco. No entanto, quando usada de maneira contínua, pode perder eficiência e aumentar o risco de maiores danos ao coração durante um ataque cardíaco
  • A nitroglicerina também pode induzir a hipotensão (baixa pressão arterial) em indivíduos que apresentam ritmo cardíaco acelerado
  • A nitroglicerina é uma pró-droga, metabolizada no organismo em óxido nítrico, que desencadeia a vasodilatação; pode também aumentar a vasodilatação através da regulação de nitratos orgânicos ou aumentar a atividade das histonas acetilases

Por Dr. Mercola

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 17,9 milhões de pessoas morrem a cada ano devido a doenças cardiovasculares, representando cerca de 31% das mortes em todo o mundo. Destas mortes, 85% são devidas a ataques cardíacos e derrames.

Segundo a American Heart Association, fatores comportamentais de saúde que podem tornar um indivíduo propenso a risco de doença cardíaca incluem o uso do tabaco, sedentarismo, má alimentação e excesso de peso. Outros fatores de risco incluem colesterol alto, pressão alta, síndrome metabólica e doença renal.

A nitroglicerina é um medicamento prescrito para a dor súbita no peito com a intenção de amenizar um possível ataque cardíaco. Antes de discutir os riscos e benefícios da medicação, é importante entender por que ela é prescrita e como funciona.

Como funciona o coração

O coração é um órgão muscular no centro do sistema circulatório, que, por sua vez, consiste em uma rede de vasos sanguíneos que transportam sangue, nutrientes e oxigênio através do seu corpo. Esse músculo incansável bate cerca de 100.000 vezes por dia, 35 milhões de vezes por ano e bombeia 6 litros de sangue a cada minuto para todo o seu corpo.

O coração bombeia o equivalente a aproximadamente 2.000 galões (3,8L) de sangue todos os dias, o suficiente para abastecer mais de três super-petroleiros ao longo da sua vida. Seu coração está localizado sob sua caixa torácica, próximo ao centro do seu peito, e o seu tamanho varia dependendo da sua idade e do estado do seu coração. Normalmente, um coração adulto é do tamanho de um punho fechado.

Seu coração é dividido em quatro câmaras, com duas delas posicionadas sobre as outras duas. Há uma parede divisória entre o lado direito e o lado esquerdo, chamada septo. Cada lado é dividido em uma câmara superior e inferior. As câmaras superiores, em ambos os lados, são conhecidas como Átrios, enquanto as inferiores são chamadas de ventrículos.

O lado direito do coração (que consiste no átrio direito e ventrículo direito) bombeia o sangue para os pulmões, onde ele capta oxigênio, retornando em seguida para o lado esquerdo do coração. Então, o sangue entra no átrio esquerdo, flui para o ventrículo esquerdo e é bombeado para o resto do corpo.

Para realizar este trabalho de forma consistente, o músculo cardíaco também requer sangue, nutrientes e oxigênio, que são entregues através das artérias coronárias. Existem duas artérias coronárias principais, que alimentam os lados esquerdo e direito do coração, se dividem em outras duas artérias e continuam a se ramificar para alimentar todo o músculo cardíaco.

Se você sofre de doença arterial coronariana, isso pode ter sérias implicações na distribuição de oxigênio e nutrientes para o músculo cardíaco. Se o suprimento de oxigênio do músculo cardíaco é reduzido enquanto ele trabalha, isto causa uma dor no peito, chamada angina.

Se não for controlada, esta condição pode levar a um ataque cardíaco e possivelmente a morte. A forma mais comum de doença arterial coronariana é a aterosclerose, um acúmulo de placas de gordura e outras substâncias no revestimento interno da artéria, reduzindo a área disponível para a passagem do sangue e essencialmente bloqueando o fluxo sanguíneo.

A nitroglicerina relaxa as artérias, aliviando a angina

A nitroglicerina é o agente de curta duração mais antigo e um dos mais comumente utilizados no tratamento da angina (dor no peito). Ela pode ser prescrita para tratar episódios de dor no peito em indivíduos que sofrem de doença arterial coronariana (um estreitamento dos vasos sanguíneos que fornecem sangue ao coração).

Em alguns casos, os indivíduos podem usar a nitroglicerina antes de realizar atividades que eles acreditem que possa desencadear um episódio de angina, a fim de evitar que ocorra e, potencialmente, evitar um ataque cardíaco.

A nitroglicerina está categorizada sob uma classe de medicamentos chamados vasodilatadores, pois eles trabalham relaxando os vasos sanguíneos, reduzindo o esforço do coração, reduzindo a demanda de oxigênio e abrindo as artérias coronárias para permitir a passagem de mais oxigênio. A nitroglicerina foi descoberta há mais de 150 anos, pertencendo a um grupo de medicamentos conhecidos como nitratos.

Os nitratos orgânicos, como a nitroglicerina, são rapidamente absorvidos pelo corpo. O composto é um pró-fármaco, metabolizado pelo corpo para produzir um metabólito ativo, o óxido nítrico. O óxido nítrico, por sua vez, desencadeia a vasodilatação através de um efeito sobre as células musculares vasculares lisas, além de reduzir a ativação plaquetária.

A nitroglicerina também pode desencadear a vasodilatação através de outros mecanismos indiretos, como o relaxamento induzido pelo nitrato orgânico nas células musculares lisas ou o aumento da atividade das histona acetilases.

Esta droga salvadora de vidas também oferece riscos

Como você pode imaginar, a liberação de óxido nítrico no corpo não se limita às artérias coronárias. A nitroglicerina é a primeira linha de tratamento para a angina ou infarto agudo do miocárdio, pois a vasodilatação reduz o dano isquêmico e aumenta o fluxo sanguíneo para o miocárdio.

No entanto, como algumas pessoas usam a nitroglicerina preventivamente, o fornecimento contínuo pode resultar em um aumento da tolerância, o que limita a utilidade do medicamento. A tolerância se deve em parte à inativação de uma enzima – aldeído desidrogenase 2 (ALDH2) - responsável pela conversão da nitroglicerina em óxido nítrico.

Além disso, o tratamento prolongado pode afetar a capacidade das células miocárdicas de permanecer viáveis após a isquemia e, portanto, resultar em danos ainda maiores durante um infarto do miocárdio (ataque cardíaco). Cientistas descobriram que, em um estudo com animais, a administração de alda-1, um ativador da ALDH2, juntamente à nitroglicerina, melhorou o metabolismo e preveniu a disfunção cardíaca induzida após o infarto.

Embora a nitroglicerina seja amplamente utilizada, a American Heart Association considera que a taquicardia (frequência cardíaca acelerada) é uma contraindicação para a administração. Uma pesquisa publicada no Prehospital Emergency Care buscou descobrir se a administração da nitroglicerina para aliviar a dor no peito poderia ser um preditor para casos de baixa pressão arterial (hipotensão) em indivíduos que sofriam de taquicardia, como apontavam as evidências, ainda que limitadas.

Eles usaram um estudo coorte retrospectivo de relatórios de atendimentos aos pacientes por parte de provedores de Suporte Básico de Vida (SBV), ao longo de dois anos, em um sistema de Serviço de Emergência médica canadense. Os dados mostraram que os pacientes que já apresentavam hipotensão antes da hospitalização durante o tratamento eram raros.

No entanto, ainda que o risco seja baixo, os pacientes com taquicardia tratados com nitroglicerina tiveram um aumento significativo no risco relativo de hipotensão, ocorrendo com maior frequência em pacientes com pressão arterial mais baixa antes da administração de nitroglicerina. Os pesquisadores sugerem que estas informações sejam consideradas nas diretrizes para uso futuro.

Use a nitroglicerina responsavelmente

A nitroglicerina de curta duração pode complementar outras terapias antianginosas em indivíduos que sofrem de angina refratária ou recorrente, com ou sem revascularização do miocárdio. Pesquisadores descobriram que a administração profilática aumenta o tempo de caminhada durante o teste em esteira, além de atrasar ou suprimir a depressão do segmento ST.

Este aumento na tolerância ao exercício melhora significativamente a qualidade de vida. Quando alguém experimenta dor intensa no peito, é crucial resolver este sintoma o mais rápido possível. Embora a nitroglicerina não cure a aterosclerose ou outras doenças arteriais coronarianas, ela restaurará momentaneamente o oxigênio para o miocárdio e reduzirá o potencial de infarto do miocárdio e a morte das células cardíacas.

Existem várias formulações de nitroglicerina disponíveis em formas de ação rápida. O spray aerossol, ou bomba, é uma delas e consiste em um dispositivo usado para pulverizar uma quantidade de fluido diretamente sob a língua quando o indivíduo apresenta angina. Deve-se ter cuidado para que não se inale o spray.

Há também um pacote sublingual, contendo 400 microgramas de pó, que deve ser dissolvido sob a língua no início da angina. Comprimidos podem ser colocados debaixo da língua ou entre a gengiva e a bochecha, onde eles se dissolverão e serão absorvidos pela mucosa bucal. Aqueles que possuem a boca seca podem também utilizar o spray de nitroglicerina.

Nenhuma dessas formulações deve ser ingerida ou inalada. A nitroglicerina será absorvida rapidamente pelo tecido da mucosa bucal, fornecendo um alívio mais rápido do que se ingerido e absorvido pelo trato gastrointestinal. Uma vez administrado, evite enxaguar ou cuspir por pelo menos cinco minutos para garantir que toda a medicação seja absorvida.

A nitroglicerina pode ser tomada em intervalos de cinco minutos. No entanto, se não houver alívio após a aplicação de três doses, deve-se procurar atendimento médico imediatamente. Os adesivos de nitroglicerina proporcionam tratamento contínuo, geralmente administrando 0,8 mg por hora. Os adesivos são usados por intervalos de 12 horas. Geralmente, utiliza-se o adesivo durante o dia, removendo-o à noite.

Artérias obstruídas são um sintoma de uma doença sistêmica difusa

É importante lembrar que, quando uma aterosclerose aparece nas artérias coronárias, é provável que também se construa em outras áreas do corpo. O bloqueio nas artérias coronárias é apenas uma manifestação de um processo de doença sistêmica maior e mais difuso.

Segundo a American Heart Association, a doença coronariana se desenvolve à medida que placas bloqueiam as artérias coronárias desencadeando a isquemia. Os fatores de risco tradicionais incluem pressão alta, histórico familiar, diabetes e tabagismo. A pós-menopausa (para mulheres) e a obesidade também podem ser fatores de risco.

Os fatores de risco são os mesmos para doenças cardiovasculares afetando as artérias periféricas, as artérias coronárias, e para o risco de ataque cardíaco ou Acidente Vascular Cerebral. Embora muitos considerem o colesterol alto um culpado pelas doenças cardiovasculares, eu acredito que esta questão não seja tão simples quanto olhar para o número em seu exame de colesterol.

Em vez disso, é importante lembrar que o colesterol é necessário para a produção de hormônios, vitamina D e a construção das membranas celulares; 75% do colesterol encontrado em seu corpo é produzido pelo fígado e 25% dele é encontrado no cérebro.

Os melhores indicadores de doença cardiovascular são a sua proporção entre lipoproteínas de alta densidade (HDL) e colesterol e sua proporção entre triglicérides e HDL. Para determinar a sua proporção entre colesterol e HDL, divida o nível de HDL pelo colesterol total. Idealmente, o percentual deve ser de 24% ou superior. Níveis abaixo de 10% indicam um risco significativo de doença cardiovascular.

Sua proporção entre triglicérides e HDL é obtida dividindo seus triglicerídeos pelo seu nível de HDL, e idealmente deve estar abaixo de 2. Fatores adicionais que possuem uma grande influência na sua saúde cardiovascular são seu nível de ferro, resistência à insulina e inflamação crônica. Alto teor de ferro e resistência à insulina desencadeiam processos inflamatórios crônicos em seu corpo.

O excesso de ferro causa danos às mitocôndrias quando o ferro reage com o peróxido de hidrogênio, uma etapa normal da produção de energia, formando radicais livres de hidroxila. Níveis elevados de ferro também estão ligados ao metabolismo disfuncional da glicose, aumentando o risco de diabetes em magnitude semelhante à obesidade.