Por Dr. Mercola
Muitos que estão trabalhando em casa ou de outra forma isolados durante a pandemia de coronavírus estão buscando notícias positivas. E há boas notícias quando se trata de controlar a disseminação do novo coronavírus, agora chamado de COVID-19.
Pode ser que a luz UV (ultravioleta) ajude a atenuar essa pandemia. Atualmente, a luz UV é usada em ambientes médicos, estações de tratamento de águas residuais e processamento de alimentos. Agora, com o avanço do COVID-19, há uma demanda crescente de luzes UV convencionais e suas variações por parte de hospitais e instalações médicas. De acordo com o Crunchbase News:
"As startups que desinfetam objetos com luz UV estão... vendo um aumento nas vendas desde o surto — e, como resultado, estão se apressando para acompanhar a demanda. A PhoneSoap, uma empresa que fabrica dispositivos para limpar telefones e outros itens com luz UV, viu um crescimento anual de 1.000% na última semana...
Por volta de meados de janeiro, os executivos da PhoneSoap começaram a perceber um aumento no interesse de estrangeiros por seu site e na Amazon. Mas o aumento nas vendas realmente ocorreu depois que funcionários do governo dos Estados Unidos e os Centros para Controle e Prevenção de Doenças começaram a falar mais sobre o surto e a ameaça aos EUA."
Outras startups além da PhoneSoap também estão vendo um aumento nas vendas de produtos para desinfecção UV, diz a Crunchbase:
"A CleanSlate UV, sediada em Toronto e com cerca de US$ 2 milhões em financiamento, fabrica dispositivos que higienizam objetos com luz UV. Nos hospitais, os funcionários geralmente usam o CleanSlate UV em objetos como estetoscópios, crachás e telefones, e os visitantes costumam usá-lo em seus celulares."
Embora a PhoneSoap e a CleanSlate UV admitam que a eficácia da luz UV contra o COVID-19 ainda não foi comprovada, Taylor Mann, CEO da CleanSlate UV, diz:
"O que podemos dizer é que a luz UV se provou eficaz contra cepas anteriores de coronavírus... simplesmente não sabemos o quão eficaz é contra essa cepa específica".
Atualmente, a CleanSlate UV atende mais de 80 hospitais nos EUA e Canadá, além da Austrália, Hong Kong e Europa.
A ciência sustenta a eficácia da luz UV
O uso da luz UV para desinfecção e descontaminação de patógenos não é novidade. Mais de cem anos atrás, em 1903, Niels RybergFinsen ganhou o Prêmio Nobel de Medicina por abrir "uma nova via para a ciência médica" através da descoberta do efeito da radiação luminosa concentrada no tratamento de doenças, especialmente o lúpus vulgar.
A luz UV é uma ferramenta importante na luta contra doenças microbianas mediadas pelo ar. De acordo com uma pesquisa publicada no ScientificReports em 2018:
"As doenças microbianas mediadas pelo ar representam um dos maiores desafios à saúde pública mundial. Exemplos comuns são a gripe, que aparece em formas sazonais e pandêmicas, e as doenças bacterianas mediadas pelo ar, como a tuberculose, e que emergem cada vez mais com formas resistentes a vários medicamentos.
Uma abordagem direta para impedir a transmissão de doenças mediadas pelo ar é a inativação dos patógenos correspondentes no ar e, de fato, a eficácia antimicrobiana da luz ultravioleta (UV) no ar há muito já foi comprovada.
A luz UV germicida também pode inativar com eficácia tanto as bactérias sensíveis a medicamentos quanto aquelas resistentes, bem como diferentes cepas de vírus."
De acordo com o New York Times, os hospitais descontaminam com luz UV os quartos que abrigavam pacientes com infecções perigosas e contagiosas, como a C. difficile. Durante o surto de ebola em 2014, o Centro Médico da Universidade de Nebraska usou com sucesso a desinfecção através da luz UV, relata o Times.
O centro acende grandes lâmpadas UV "por três a cinco minutos", explicou John Lowe, vice-reitor adjunto do centro médico para treinamento e educação em segurança da saúde. "Elas desinfetam qualquer lugar sobre o qual brilham."
No Centro Médico Memorial da Universidade de Massachusetts, o Dr. Richard Ellison, epidemiologista do hospital, concorda com a eficácia da luz UV. "Pesquisas sustentam esse tipo de limpeza", diz ele.
A luz UV funcionou contra coronavírus semelhantes
A SARS (síndrome respiratória aguda grave) é uma doença respiratória relacionada a animais, causada por um coronavírus que surgiu na Ásia em 2003. Embora tenha sido amplamente contida em 2004, uma doença semelhante, a MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio), surgiu em 2012, com origem na Arábia Saudita. O COVID-19 mostra uma "sobreposição considerável" ao SARS e MERS, diz o Science Daily.
A boa notícia é que a luz UV mostrou efeitos positivos contra o MERS em estudos científicos. De acordo com uma pesquisa publicada na revista Transfusion, dois dispositivos diferentes de luz UV reduziram a infecciosidade do MERS nas plaquetas e no plasma, bem como a infecciosidade do vírus Ebola. O ebola é uma doença rara, às vezes fatal, que foi relatada pela primeira vez na África.
Um estudo publicado na Transfusion Medicine para determinar se a luz UV poderia reduzir a transmissão de MERS-Coronavírus (MERS-CoV) por concentrados de plaquetas humanas também encontrou eficácia combinada com o amotosaleno, um agente de reticulação de DNA e RNA ativado pela luz:
"A inativação completa do MERS-CoV em unidades de plaquetas contaminadas foi alcançada pelo tratamento com luz UVA/amotosaleno com uma redução média de 4·48±0·3. A passagem das amostras inativadas no Vero E6 não mostrou replicação viral mesmo após nove dias de incubação e três passagens. O tratamento genômico viral...
comamotosaleno e luz UVA dos concentrados de plaquetas contaminadas com MERS-CoV inativou completa e eficazmente ainfecciosidade do MERS-CoV (>4 logs), sugerindo que esse tratamento pode minimizar o risco de transmissão de MERS-CoV relacionada à transfusão."
Novos usos da desinfecção por luz UV são vistos
Os hospitais estão cientes dos benefícios da luz UV para a limpeza de salas e equipamentos, mas a limpeza manual pode não ser tão completa quanto necessário. É por isso que o uso de robôs para desinfecção por luz UV está sendo explorado. De acordo com o Interesting Engineering:
"Manter um ambiente de saúde limpo e seguro é a maior prioridade e, embora tenha havido um progresso significativo quanto aos métodos de higienização, grandes melhorias ainda precisam ser feitas. De acordo com o CDC, mesmo com os modernos protocolos de higienização, em um determinado dia, cerca de um em cada 25 pacientes hospitalizados adquirirá pelo menos uma infecção associada à internação.
Os métodos atuais de limpeza manual são quase impotentes no combate às bactérias, mas a batalha não está perdida. As tecnologias de prevenção de infecções estão dando origem a uma nova era de hospitais e instalações de atendimento de emergência ultra-limpos com a implementação de robôs de desinfecção por UV altamente eficientes...
Os robôs são rápidos e eficientes, capazes de eliminar muito mais bactérias do que seria humanamente possível. Sua capacidade de se movimentar lhes permite atacar áreas ensombrecidas, e muitos organismos nocivos tendem a se manifestar em locais que muitas vezes são esquecidos pelas equipes de higienização."
Como o COVID-19 pode se espalhar em outros ambientes além dos hospitalares, as companhias aéreas também estão explorando a desinfecção por luz UV. A Boeing está desenvolvendo um lavatório autolimpante que é desinfetado após cada uso com luz UV, matando com eficácia 99,99% dos patógenos em todas as superfícies em três segundos. O lavatório também dispensa toques. De acordo com Travel e Leisure:
"'A luz UV destrói todos os micróbios conhecidos, literalmente fazendo-os explodir', disse o engenheiro da Boeing Research& Technology, Jamie Childress, em um comunicado. Embora a Boeing afirme que esse tipo específico de luz não é prejudicial aos seres humanos, o sistema de limpeza foi projetado para acender apenas quando o banheiro estiver desocupado e a porta fechada."
Mais vantagens da desinfecção por luz UV
Um dos motivos pelos quais os patógenos são tão difíceis de matar é que eles sofrem mutações e desenvolvem resistência, o que torna inúteis os medicamentos antivirais e os antibióticos desenvolvidos especialmente para eles. Não é assim com a desinfecção por luz UV, diz um fabricante de dispositivos UV. Segundo a Clean Technica, referindo-se ao estudo do ScientificReports publicado em 2018:
"Outra vantagem do... estudo UVC é que é eficaz contra bactérias que desenvolveram resistência a medicamentos comuns, e é muito improvável que doenças e vírus evoluam para se tornarem resistentes devido a limitações eficazes em sua escala".
O objetivo da erradicação dos vírus é impedir sua replicação. O Digital Trends relatou:
"Os vírus não se reproduzem por conta própria, mas eles têm material genético, seja DNA ou RNA. Eles se reproduzem se fixando às células e injetando seu DNA...
A luz UV pode fazer com que as bases de timina [dos vírus] se fundam, embaralhando a sequência de DNA e essencialmente jogando uma chave nas engrenagens. Como a sequência de DNA não está mais correta, ela não pode mais se replicar normalmente. É assim que a luz UV aniquila os vírus, destruindo sua capacidade de se reproduzir."
A luz UV pode ser uma opção melhorada em relação aos desinfetantes atuais, especialmente aqueles usados em ambientes externos. Relatórios mundiais dizem que o desinfetante externo mais usado contra o COVID-19 é uma solução diluída de hipoclorito de sódio conhecida como água sanitária. Mas existem desvantagens. A revista Science diz:
"Não está claro se a água sanitária destrói o coronavírus em ambientes externos, e caso o mate nas superfícies, não está claro se mataria o vírus no ar. A própria água sanitária se decompõe sob luz ultravioleta (UV). Então, novamente, [Juan] Leon, [um cientista de saúde ambiental da Universidade Emory], diz que a luz UV parece destruir o coronavírus também...
Pode até haver desvantagens na desinfecção generalizada e excessiva com água sanitária, observa Julia Silva Sobolik, estudante de pós-graduação do laboratório de Leon. "A água sanitária é altamente irritante para as mucosas", diz Sobolik. Isso significa que as pessoas expostas a desinfetantes que são borrifados — especialmente os trabalhadores que os pulverizam — correm o risco de desenvolver problemas respiratórios, entre outras doenças.
Sobolik observa que um estudo de outubro de 2019 no JAMA Network Open descobriu que os enfermeiros que usavam desinfetantes regularmente para limpar superfícies apresentavam maior risco de desenvolver doença pulmonar obstrutiva crônica. Um estudo de 2017 associou a exposição a desinfetantes à asma em adultos na Alemanha."
A luz UV pode ajudar o equipamento de proteção individual
A escassez de equipamento de proteção individual (EPI) para a equipe médica da linha de frente está generalizada nesta pandemia do COVID-19. De acordo com o New York Times, as máscaras de proteção para profissionais de saúde do Centro Médico da Universidade de Nebraska agora estão sendo descontaminadas com luz UV para reutilização.
"'Estamos extraindo o melhor das más escolhas', disse o Dr. Mark Rupp, chefe do departamento de doenças infecciosas do centro médico. Ele confia que as máscaras continuarão protegendo os profissionais de saúde. "Os dados de que você pode matar e inativar vírus com irradiação UV são muito claros", disse ele. "Também está muito claro que não danificará os respiradores."
Outros hospitais também estão tratando as máscaras protetoras com luz UV, diz o Times. Anos atrás, quando eu estava na faculdade, tive uma compreensão do poder da luz UV em primeira mão. Eu desenvolvi uma micose de unha chamada onicomicose, que é caracterizada peloamarelamento das unhas.
Essa é um infecção comum, mas notoriamente difícil de tratar, mesmo com medicamentos antifúngicos orais potentes e, por vezes, arriscados. No meu caso, a prática intensa de corrida e minha falta de compreensão da alimentação ideal provavelmente contribuíram para a condição.
Os tratamentos com medicamentos não foram bem-sucedidos, mas, para minha alegria, minha infecção desapareceu após doses diárias e frequentes de sol nos pés. Olhando para trás, faz todo o sentido que a luz solar combata a infecção, pois a luz UV é um poderoso germicida.
Para usos industriais, a mera exposição à luz solar não é suficiente — são necessárias lâmpadas que emitem UV. "Elas podem realmente ser benéficas para interromper a transmissão de doenças", diz ShawnGibbs, que estudou desinfecção UV na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Indiana, em Bloomington. Vamos esperar que a luz UV possa ser usada para combater o COVID-19.