Quercetina e vitamina D: aliadas contra o coronavírus?

Fatos verificados
quercetina e vitamina d

Resumo da matéria -

  • À medida que o surto de COVID-19 continua a se espalhar pelo mundo, mais de 80 ensaios clínicos estão em andamento, testando remédios que variam entre células-tronco e vitamina C intravenosa, medicamentos para HIV e contra a malária
  • Outros nutracêuticos considerados úteis na prevenção da infecção por coronavírus incluem NAC, espirulina, beta-glucana, glucosamina, selênio, zinco, ácido lipóico e sulforafano

Por Dr. Mercola

Com o surto de corona vírus, COVID-19, se espalhando pelo mundo, os pesquisadores trabalham incansavelmente para encontrar medicamentos eficientes. De acordo com um artigo da Nature de 15 de fevereiro de 2020, mais de 80 ensaios clínicos estão em andamento, testando remédios que variam de vitamina C e células-tronco do sangue menstrual a medicamentos para HIV e contra a malária.

Há também um estudo analisando um soro obtido de pacientes que se recuperaram da infecção por COVID-19 confirmada em laboratório. A ideia é que ele contem anticorpos dos quais um paciente recém-infectado precisaria para combater a infecção com mais eficiência.

Dois outros possíveis remédios que disputam a atenção são a quercetina e a vitamina D. Além de serem conhecidas por seus benefícios imunológicos e antivirais, elas também são baratas e amplamente disponíveis.

A quercetina pode derrotar a infecção por COVID-19?

Conforme relatado pela Maclean, os pesquisadores canadenses Michel Chrétien e Majambu Mbikay começaram a investigar a quercetina após a epidemia de SARS que eclodiu em 26 países em 2003. Eles descobriram que um derivado da quercetina oferecia uma proteção de amplo espectro contra uma ampla variedade de vírus, incluindo SARS.

O surto de Ebola em 2014 ofereceu outra chance de investigar os poderes antivirais da quercetina e, também aqui, eles descobriram que ela prevenia com a eficácia a infecção em ratos, "mesmo quando administrada apenas alguns minutos antes da infecção".

Assim, quando o surto de COVID-19 foi anunciado na cidade de Wuhan, na China, no final de dezembro de 2019, Chrétien entrou em contato com colegas na China com uma oferta de colaboração. Em fevereiro de 2020, Chrétien e sua equipe receberam um convite oficial para iniciar os testes clínicos. O Maclean relata:

"Os cientistas canadenses fariam testes colaborativos, que incluiriam cerca de 1.000 pacientes. Chrétien e Mbikay planejam se juntar aos colegas do International Consortium of Antivirals que Chrétien co-fundou com Jeremy Carver em 2004 como resposta à epidemia de SARS, administrando uma rede de comunicações 24 horas por dia, 7 dias por semana, assim que os testes clínicos avançarem.

A Food and Drug Administration, sediada nos EUA, já aprovou a quercetina como segura para consumo humano, o que significa que os pesquisadores podem pular os testes em animais. Se o tratamento funcionar, ela estará prontamente disponível... A equipe de Chrétien diz que o tratamento custaria apenas US$ 2 por dia."

A quercetina é um poderoso reforço imunológico

Pesquisas já demonstraram que a quercetina é um poderoso reforço imunológico e antiviral de amplo espectro. Como tal, ela pode ser útil tanto na prevenção quanto no tratamento da infecção por COVID-19.

Como observado em um estudo de 2016 do periódico Nutrients, os mecanismos de ação da quercetina incluem a inibição da produção do fator de necrose tumoral α (TNF-α) induzida por lipopolissacarídeo (LPS) em macrófagos.

O TNF-α é uma citocina envolvida na inflamação sistêmica, secretada por macrófagos ativados, um tipo de célula imunológica que digere substâncias estranhas, micróbios e outros componentes nocivos ou danificados. A quercetina também inibe a liberação de citocinas pró-inflamatórias e histamina, modulando o influxo de cálcio na célula.

De acordo com esse artigo, a quercetina também estabiliza os mastócitos e tem "um efeito regulador direto nas propriedades funcionais básicas das células imunológicas", o que permite inibir "uma enorme panóplia de alvos moleculares em uma faixa de concentração micromolar, regulando para baixo ou suprimindo muitas vias e funções inflamatórias."

Como a quercetina inibe a infecção viral?

Um dos atributos mais bem estudados da quercetina, no entanto, é sua capacidade antiviral, que foi atribuída a três mecanismos principais:

  1. Inibição da capacidade do vírus de infectar as células
  2. Inibição da replicação de células já infectadas
  3. Redução da resistência das células infectadas ao tratamento com medicamentos antivirais

Uma pesquisa financiada pelo Departamento de Defesa dos EUA, publicada em 2007, descobriu que ela reduz o risco de doenças virais após estresse físico extremo, que pode prejudicar sua função imunológica e torná-lo mais suscetível a infecções.

Os ciclistas que receberam uma dose diária de 1.000 mg de quercetina combinada com vitamina C (que melhora os níveis plasmáticos de quercetina) e niacina (para melhorar a absorção) por cinco semanas tiveram uma probabilidade significativamente menor de contrair uma doença viral após andar de bicicleta três horas por dia, durante três dias consecutivos, em comparação com o grupo de controle. Enquanto 45% do grupo placebo ficou doente, apenas 5% do grupo de tratamento teve qualquer problema de saúde.

Em outro estudo financiado pela U.S. Defense Advanced Research Projects Agency (DARPA), publicado em 2008, os animais tratados com quercetina foram atacados com o vírus influenza H1N1 altamente patogênico. Novamente, o grupo de tratamento teve uma mortalidade significativamente menor do que o grupo placebo.

A quercetina trata eficientemente uma ampla gama de vírus

Outros estudos também confirmaram a eficiência da quercetina contra uma ampla gama de vírus. Dentre elas:

Um estudo de 1985 descobriu que a quercetina inibe a eficiência e a replicação do vírus do herpes simplex tipo 1, poliomielite tipo 1, parainfluenza tipo 3 e do vírus sincicial respiratório.

Um estudo realizado em 2010 com animais descobriu que a quercetina inibe os vírus influenza A e B. Duas outras descobertas importantes foram feitas. Em primeiro lugar, os vírus não conseguiram desenvolver resistência à quercetina e, em segundo lugar, quando usados concomitantemente com medicamentos antivirais (amantadina ou oseltamivir), o efeito foi significativamente amplificado e impediu o desenvolvimento de resistência a medicamentos.

Outro estudo de 2016 descobriu que a quercetina oferecia proteção contra o vírus influenza A H1N1, modulando a expressão protéica. Mais especificamente, a regulação de proteínas de choque térmico, fibronectina 1 e proibitina foram fundamentais na redução da replicação viral.

Outro estudo, publicado em 2016, descobriu que a quercetina inibia um amplo espectro de cepas de influenza, incluindo H1N1, H3N2 e H5N1. Segundo os autores, "este estudo indica que a quercetina demonstra uma atividade inibitória no estágio inicial da infecção por influenza e oferece uma opção terapêutica futura para desenvolver produtos naturais eficientes, seguros e acessíveis para o tratamento e profilaxia das infecções [por vírus influenza A]".

Em 2014, os pesquisadores observaram que a quercetina parece ser "um tratamento promissor para o resfriado comum", causado pelo rinovírus, acrescentando que "foi demonstrado que a quercetina reduz a internalização e replicação viral in vitro, bem como a carga viral, inflamação pulmonar e hiperplasia das vias aéreas".

Atenuando os danos oxidativos, ela também reduz o risco de infecções bacterianas secundárias, que na verdade são as causas primárias de mortes relacionadas à gripe. É importante ressaltar que a quercetina aumenta a biogênese mitocondrial no músculo esquelético, o que sugere que parte de seus efeitos antivirais se deve ao aumento da sinalização antiviral mitocondrial.

Um estudo realizado em 2016 com animais descobriu que a quercetina inibiu o vírus da hepatite e da dengue em ratos. Outros estudos confirmaram o poder da quercetina de inibir a infecção pelas hepatites B e C.

Mais recentemente, um estudo de março de 2020 do Microbial Pathogenesis descobriu que a quercetina "oferece uma ampla proteção contra a infecção por Streptococcus pneumoniae", tanto in vitro quanto in vivo, principalmente através da neutralização da pneumolisina (PLY), uma das toxinas liberadas pelos pneumococos que estimulam o desenvolvimento da infecção por S. pneumoniae.

A importância da vitamina D

O pneumologista Dr. Roger Seheult discute a importância da vitamina D para a prevenção do COVID-19. Embora não haja estudos clínicos investigando a vitamina D especificamente para o coronavírus, há muitos dados demonstrando que ela é um componente importante na prevenção e tratamento da gripe e infecções do trato respiratório superior.

Como observado por Seheult, embora a vitamina D não pareça ter um efeito direto sobre o próprio vírus, ela fortalece a função imunológica, permitindo assim que o corpo do hospedeiro combata o vírus de forma mais eficiente. Ela também suprime processos inflamatórios. Tudo isso pode tornar a vitamina D bastante útil contra o COVID-19.

Conforme explicado por Seheult, é necessária uma função imunológica robusta para o seu corpo combater o vírus, mas a superativação do sistema imunológico também é responsável pela enxurrada de citocinas que vemos na infecção por COVID-19, o que pode levar à morte.

A suplementação de vitamina D reduz as taxas de infecção respiratória

Ele citou uma pesquisa publicada em 2017, uma metanálise de 25 ensaios clínicos randomizados, que confirmou que a suplementação de vitamina D ajuda a proteger contra infecções respiratórias agudas. Estudos também demonstraram que há uma aparente associação entre baixos níveis de vitamina D e suscetibilidade a infecções virais como a gripe.

Viver em latitudes extremas significa que você recebe a menor quantidade de luz solar durante os meses de inverno, resultando em níveis mais baixos de vitamina D, e uma hipótese é que a sazonalidade da gripe esteja relacionada ao fato de que a maioria das pessoas tem níveis mais baixos de vitamina D no inverno do que no verão.

Por exemplo, pesquisas publicadas em 2009 apontam que as taxas de mortalidade durante a pandemia de influenza de 1918-1919 foram influenciadas pela estação, com um número maior de pessoas morrendo durante o inverno do que no verão.

Resta saber se essa sazonalidade se aplica ao COVID-19. Se for o caso, é bem possível que níveis mais altos de vitamina D fortaleçam a função imunológica o suficiente para que o vírus não consiga superar o sistema.

A meta-análise de 2017 também fez outra descoberta importante. Quando os pesquisadores se aprofundaram nos dados de cada um dos mais de 11.000 participantes, eles descobriram que a suplementação diária ou semanal de vitamina D teve um maior efeito protetor naqueles com os níveis mais baixos de vitamina D.

Aqueles com deficiência severa de vitamina D que tomaram um suplemento diário ou semanal tiveram o risco de infecção respiratória reduzido pela metade. Aqueles com níveis basais mais altos também tiveram seu risco diminuído, embora em menor grau. A administração aguda de altas dosagens em bolus de vitamina D, por outro lado, não teve impacto significativo no risco de infecção.

Isso sustenta a recomendação de manter um nível ideal de vitamina D o ano todo. De acordo com dados dos estudos D*Action da GrassrootsHealth, o nível ideal para prevenção de doenças e saúde parece estar entre 60 nanogramas por mililitro (ng/mL) e 80 ng/mL, enquanto o ponto de corte para suficiência parece estar em torno de 40 ng/mL.

Em uma análise do GrassrootsHealth, pessoas com um nível de vitamina D de pelo menos 40 ng/mL apresentaram uma redução de 15% no risco de resfriados e 41% no risco de gripe, em comparação com aqueles com um nível abaixo de 20 ng/mL.

Outros nutrientes potencialmente benéficos

Um artigo da Progress in Cardiovascular Diseases, de Mark McCarty da Catalytic Longevity Foundation e James DiNicolantonio, PharmD, um cientista de pesquisa cardiovascular do Saint Luke's Mid America Heart Institute, destaca vários outros nutrientes suplementares que podem ajudar a fortalecer sua função imunológica e reduzir o risco de Infecção por COVID-19.

Um resumo dos nutracêuticos recomendados por McCarty e DiNicolantonio incluem: Para mais detalhes sobre cada um, consulte o artigo na íntegra, publicado na Progress in Cardiovascular Diseases:

N-acetilcisteína (NAC) — Incentiva a produção de glutationa, afina o muco, diminui as chances de infecção por influenza e reduz o risco de bronquite grave

Extrato de sabugueiro — Conhecido por reduzir a duração da gripe em dois a quatro dias, bem como sua gravidade

Espirulina — Reduz a gravidade da infecção por influenza e a mortalidade por influenza em estudos com animais. Em teste com humanos, a espirulina reduziu significativamente a carga viral em pacientes infectados pelo HIV

Beta-glucana — Reduz a gravidade da infecção por influenza e a mortalidade por influenza em estudos com animais

Glucosamina — Regula positivamente a proteína de sinalização antiviral mitocondrial (MAVS), reduz a gravidade da infecção por influenza e a mortalidade por influenza em estudos com animais

Selênio "Dado que o selênio é um cofator essencial para certas peroxidases e sua deficiência tem sido endêmica em certas regiões da China e outras partes do mundo, garantir uma obtenção adequada de selênio também pode ser apropriado nesse contexto", observaram McCarty e DiNicolantonio.

Zinco — Auxilia na "função eficiente e propagação de diversas células imunológicas", reduzindo em 27% a mortalidade em idosos

Ácido lipóico — Ajuda a aumentar a resposta do interferon tipo 1

Sulforafano Ajuda a aumentar a resposta do interferon tipo 1

As sugestões de dosagem diária provisória oferecidas por McCarty e DiNicolantonio para ajudar a controlar o vírus de RNA, incluindo infecção por influenza e coronavírus, são:

Nutracêutico Dosagem diária

Ácido ferúlico

500 a 1.000 miligramas (mg)

Ácido lipóico

1.200 a 1.800 mg (em vez de ácido ferúlico)

Espirulina

15 gramas

NAC

1.200 a 1.800 mg

Selênio

50 a 100 microgramas (mcg)

Glucosamina

3.000 mg ou mais

Zinco

30 a 50 mg

Beta-glucana de levedura

250 a 500 mg

Extrato de sabugueiro

600 a 1.500 mg

+ Recursos e Referências