Por Dr. Mercola
Até alguns atrás, as pesquisas apontavam os efeitos neuroprotetores do resveratrol contra o Alzheimer, mas não contra outros tipos de demência. No entanto, um estudo chinês realizado em ratos em 2013 descobriu que o resveratrol também pode reduzir os riscos de demência vascular.
Outros estudos realizados desde então não só sustentaram a pesquisa, como também demonstraram que o resveratrol também ativa a autofagia, inibe a apoptose neuronal e auxilia na melhora da função cognitiva.
E o que é ainda mais promissor, um estudo em humanos recém publicado em março de 2020 demonstrou que o "consumo regular de resveratrol pode melhorar as funções cognitivas e cerebrovasculares em mulheres na pós-menopausa, com o potencial de retardar o declínio cognitivo que ocorre devido ao envelhecimento e à menopausa".
O resveratrol é um antioxidante e fitoestrogênio natural, provavelmente melhor conhecido por seus benefícios em vinhos tintos e uvas, e pode ajudar a proteger seu cérebro de doenças neurológicas, como o mal de Alzheimer, mal de Parkinson, e doença de Huntington, enquanto também minimiza o dano causado por elas.
Nos estudos em destaque desse artigo, o resveratrol melhorou o aprendizado e a memória em ratos e humanos com demência vascular através da redução do estresse oxidativo em seus cérebros. Essa forma de demência é o segundo tipo de demência mais comum após o Alzheimer.
A demência vascular é causada por doenças que bloqueiam ou reduzem o fluxo sanguíneo cerebral, resultando na privação crônica de oxigênio e nutrientes vitais às células do cérebro. O fluxo sanguíneo inadequado pode danificar, e eventualmente matar, células de qualquer região do corpo, e seu cérebro é particularmente vulnerável, pois recebe um dos abastecimentos sanguíneos mais ricos.
Quando os vasos sanguíneos do cérebro ficam obstruídos, você pode sofrer vários "pequenos derrames cerebrais", que podem resultar em danos cumulativos aos tecidos. Isso leva a problemas cognitivos que normalmente só pioram com o tempo.
De acordo com a Associação de Alzheimer dos EUA, "um número cada vez maior de especialistas prefere o termo 'comprometimento cognitivo vascular' (CCV) sobre 'demência vascular', pois acha que o primeiro expressa melhor o conceito de que alterações do pensamento vascular podem variar de leves a graves".
Resveratrol: Benefícios poderosos à saúde
O Resveratrol faz muito mais do que apenas proteger seu cérebro — ele oferece benefícios para praticamente todos os sistemas do corpo. Ele conta com propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e anticarcinogênicas muito bem estabelecidas pela ciência. O composto é produzido pelas plantas para aumentarem seus níveis de sobrevivência e resistência a doenças durante épocas de estresse, como o excesso de luz ultravioleta, infecções e mudanças climáticas.
Ao consumir essas plantas, elas passam essas proteínas para você. O Resveratrol está presente em muitos alimentos vegetais, por exemplo:
- Uvas vermelhas, principalmente Vitis rotundifolia (resveratrol concentrado na pele e nas sementes) e vinho tinto
- Romãs
- Frutas silvestres, como framboesas pretas, amoras, oxicocos e mirtilos
- Amendoins
- Cacau e chocolate amargo
No dia 25 de março de 2020, o PubMed do Instituto Nacional da Saúde dos EUA listou 621 artigos demonstrando os benefícios do resveratrol. Além de ser neuroprotetor, o resveratrol é capaz de reverter o estresse oxidativo, reduzir a inflamação, normalizar os lipídios, proteger seu coração, estabilizar sua insulina e combater vários tipos de câncer, além de vários outros benefícios.
O resveratrol também é exclusivo pelo fato de que é capaz de tornar alguns cânceres mais vulneráveis à quimioterapia e radioterapia. Muitos tumores desenvolvem resistência a medicamentos quimioterápicos, conhecida como quimiorresistência. Os pesquisadores estão sempre à procura de "quimiossensibilizadores" eficazes que possam ajudar a superar essa resistência, e o resveratrol já demonstrou ter essa capacidade com certos compostos químicos e com a radioterapia.
O resveratrol melhora o fluxo se sangue para o cérebro
Uma das propriedades especiais do resveratrol é a sua capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica, permitindo a moderação da inflamação no sistema nervoso central. Isso é importante porque a inflamação do SNC influi bastante no desenvolvimento de doenças neurodegenerativas.
Em um estudo de 2010, foi descoberto que o resveratrol suprime os efeitos inflamatórios em certas células cerebrais (microglia e astrócitos) ao inibir diferentes citocinas pró-inflamatórias e moléculas sinalizadores importantes. Em um estudo posterior, os cientistas confirmaram que as propriedades anti-inflamatórias do resveratrol possuem efeitos neuroprotetores.
Também há dados científicos sólidos de que o resveratrol ajuda a limpar as placas do cérebro que levam ao mal de Alzheimer. Um estudo publicado na revista Journal of Biological Chemistry descobriu que o resveratrol exerce uma "potente atividade antiamiloidogênica".
No entanto, ao contrário do Alzheimer, a demência vascular não é um produto da formação de placas no cérebro, mas sim de problemas no fluxo sanguíneo. Ao que parece, o resveratrol também demonstrou melhorar o fluxo sanguíneo cerebral. Um estudo de 2010 descobriu que mesmo uma única dose de resveratrol é capaz de melhorar o fluxo sanguíneo para o cérebro, o que obviamente afeta o desenvolvimento de demência vascular e derrames cerebrais. Em um estudo de 2017, os cientistas disseram:
"...o resveratrol suprime a proliferação das células do músculo liso vascular, promove a autofagia, e vem sendo investigado no contexto da senescência vascular. Modelos pré-clínicos demonstraram explicitamente vários efeitos vasculoprotetores do resveratrol. Em ensaios clínicos, o resveratrol reduziu moderadamente a pressão arterial sistólica de pacientes hipertensos, além da glicemia em pacientes com diabetes mellitus."
Seus benefícios também podem estar relacionados à sua capacidade de ativar um gene específico, causando efeitos epigenéticos beneficiais.
Ativando a sua sobrevivência genética
Em 2013, pesquisadores descobriram que o resveratrol pode ter benefícios antienvelhecimento devido à sua capacidade de "copiar os efeitos benéficos da restrição calórica crônica e moderada". Em 2017, foi demonstrado que o resveratrol alivia a insuficiência cardíaca ativando um gene que estimula a produção de uma proteína chamada SIRT1, prevenindo a doença ao recarregar as mitocôndrias.
O interessante é que a restrição calórica e o resveratrol exercem os mesmos efeitos sobre a proteína SIRT1. Pessoas que se mantêm intencionalmente com fome para restringir o consumo de calorias ou, preferencialmente, fazem jejum, parecem ativar um "gatilho genético de sobrevivência".
De fato, camundongos com restrições calóricas vivem mais tempo e são mais saldáveis que camundongos sem restrições, demonstrando taxas mais baixas de doenças relacionadas à idade, como doenças cardíacas, diabetes, obesidade, artrite e problemas cognitivos.
Uma vida faminta parece ser mais longa, para camundongos e para humanos — pelo menos é para essa direção que a ciência parece estar apontando. Além do mais, uma nova pesquisa está mostrando que uma dieta cetogênica também aumenta a longevidade e melhora a saúde — o que é uma boa notícia se você pratica o jejum cetogênico, um conjunto da dieta cetogênica cíclica com um jejum parcial.
É possível a existência de um "super medicamento" antienvelhecimento?
A possibilidade de lucrar com medicamentos antienvelhecimento é incrivelmente sedutora para a grande indústria farmacêutica. Afinal, um "super medicamento" que promete dar mais alguns anos saudáveis de vida venderia bastante. Não surpreende que estudos genéticos da SIRT1 realizados em Harvard levaram à formação da Sirtris Pharmaceuticals, cuja principal função era de transformar o resveratrol em um medicamento patenteado. Em 2008, a Sirtris foi comprada pela grande companhia GlaxoSmithKline por U$ 720 milhões.
No entanto, como a Harvard Health relatou alguns anos depois, as esperanças de um medicamento tão maravilhoso caíram por terra quando os pacientes participantes do ensaio clínico relataram danos renais. Um dos problemas foi que a biodisponibilidade em humanos não é muito grande — "A maior parte sai pela bexiga", explicou a revista The New Republic. Além disso, mesmo que vários ensaios clínicos estivessem sendo realizados na época, eles foram abandonados um por um devido ao aparecimento de "efeitos colaterais inesperados".
No final de 2019, um desses pesquisadores de Harvard, David Sinclair, relatou que ainda está pesquisando por um super medicamento com base no resveratrol. Mas atenção aos compradores: sempre que fornecer ao seu corpo uma versão sintética de um agente natural, ou um agente isolado, raramente terá bons resultados, e deve esperar pelo inesperado quando o assunto for efeitos colaterais prejudiciais.
É sempre melhor consumir os alimentos do jeito que a natureza os prepara, com suas cargas completas de fitonutrientes sinérgicos e naturais. É melhor aumentar seu consumo de resveratrol consumindo alimentos integrais ricos no composto, como uvas, frutas silvestres e cacau cru minimamente processado. Se decidir tomar um suplemento, certifique-se de que ele contenha o formato integral.
E David admite que, por enquanto, é assim que ele vive. Ele pratica exercícios, pratica restrição calórica, evita carboidratos e açúcar e toma muitos banhos de sauna, como disse à revista Boston Wellness. Ele também toma as vitaminas D e K2 regularmente.
Então, lembre-se, não existe nenhum "medicamento mágico" para viver por mais tempo e com mais saúde — esse objetivo requer uma abordagem mais complexa. Bons costumes de vida não podem ser substituídos por uma pílula, embora a indústria farmacêutica nunca se canse de fazer essa promessa.
Exagerando nas coisas boas
Até mesmo o exagero no consumo de suplementos naturais pode causar más consequências, como tomar quantidade excessivas de antioxidantes. Seu corpo necessita de certa quantidade de estresse oxidativo para funcionar e se adaptar de forma adequada. Exercícios vigorosos, por exemplo, criam um alto grau de estresse oxidativo, mas sem ele, seu corpo não se fortaleceria.
Em outras palavras, se o estresse sobre seu corpo fosse removido dos exercícios, os benefícios também desapareceriam. É exatamente isso que a Universidade de Copenhague descobriu em um estudo envolvendo homens idosos e o consumo de resveratrol. De acordo com a Science Daily, os pesquisadores disseram:
"Descobrimos que a prática de exercícios é altamente eficaz para a melhora dos parâmetros da saúde cardiovascular, mas a suplementação de resveratrol atenuou os efeitos positivos do treinamento em vários parâmetros, inclusive a pressão arterial, concentrações plasmáticas de lipídios e a captação máxima de oxigênio."
Tais descobertas pegaram os pesquisadores de surpresa. Eles observaram que a quantidade de resveratrol administrada aos homens durante o estudo (250 mg) estava muito acima do que eles teriam recebido de alimentos naturais.
A mensagem dessa história é que os antioxidantes não são a cura de todos os problemas; o melhor é encontrar o equilíbrio. Se concentrar em uma dieta saudável que otimiza seus níveis de insulina e minimiza a inflamação reduzirá seus riscos de todos os tipos de demência, além de doenças cardíacas, diabetes, e outras doenças degenerativas crônicas, pois todas elas compartilham as mesmas causas.
A melhor maneira de adquirir antioxidantes é consumir uma grande variedade deles, e não muita quantidade de um só. Estes elementos trabalham juntos em sinergia, todos realizando funções diferentes no seu corpo, similar à uma orquestra durante um sinfonia: a música não existe se apenas um ou dois instrumentos estiverem tocando.
Dicas para proteger seu cérebro
O Resveratrol pode ser uma adição poderosa para a sua alimentação, mas não sem uma base nutricional sólida.
Certifique-se de seguir as recomendações abaixo:
Evite o glúten e a caseína (principalmente do trigo e laticínios pasteurizados, mas não de gorduras, como a manteiga) |
Aumente o consumo de gorduras saudáveis, como manteiga orgânica de leite cru, criada a partir de animais criados de forma orgânica e terminado a pasto, azeitonas, azeite de oliva e óleo de coco, nozes como a noz-pecã e a macadâmia, ovos caipiras, salmão selvagem do Alaska, e abacate |
Mantenha seus níveis de insulina em jejum abaixo de 3 (seguir um plano nutricional facilitará o processo); se seu nível de insulina em jejum estiver acima de 3, considere limitar ou eliminar o consumo de grãos e açúcares até que seu nível de insulina melhore |
Pratique exercícios regularmente, incluindo treinamentos intervalados de alta intensidade como a Peak Fitness Technique |
Melhore seu nível de vitamina D através da exposição segura ao sol |
Fortaleça sua microbiota intestinal consumindo alimentos fermentados regularmente ou tomando um suplemento probiótico de alta qualidade |
Consuma quantidades adequadas de gorduras ômega-3 de origem animal de alta qualidade, como o óleo de krill |
Experimento o jejum intermitente |
Ficou intrigado pela restrição calórica? Experimente o jejum intermitente
Ao contrário das crenças populares, o combustível ideal para seu cérebro não é a glicose, e sim as cetonas, compostos químicos que seu corpo mobiliza quando você para de se alimentar com carboidratos e passa a consumir óleo de coco e outras fontes de gorduras saudáveis. Um jejum de um dia pode ajudar seu corpo a se "reiniciar", e começar a queimar gordura ao invés de queimar açúcar.
Embora as pesquisas sustentando a restrição calórica sejam convincentes, a restrição não é uma estratégia muito popular para a maioria das pessoas, porque muitas simplesmente não estão dispostas a se privar de calorias nas quantidades necessárias para alcançar os efeitos terapêuticos.
Uma abordagem alternativa mais fácil de implementar é o jejum intermitente, que pode ser muito simples de implementar, bastando apenas restringir sua alimentação a um período mais curto do dia, como seis a oito horas (isso equivale a 18 e 16 horas de jejum por dia, respectivamente).
Uma pesquisa recente sugere que uma restrição calórica repentina e intermitente parece fornecer os mesmos benefícios à saúde que restrições calóricas constantes, incluindo benefícios como aumento da longevidade e proteção contra doenças.
A não ser que você tenha uma doença grave, acredito que a melhor opção para a maioria das pessoas é implementar o jejum intermitente de maneira lenta, durante seis a oito semanas. Comece por não comer nada por três horas antes de dormir, e então gradualmente vá eliminando o café da manhã até que sua primeira refeição do dia seja no almoço.
Certifique-se de consumir apenas vegetais sem amido como carboidrato, quantidades baixas a moderadas de proteína e muita gordura de alta qualidade. A maioria das pessoas se beneficiaria de ter 50% a 70% de suas calorias diárias na forma de gorduras.