Por Dr. Mercola
Você pode ter considerado o microbioma do seu intestino uma parte importante do seu sistema imunológico, mas já parou para pensar se as bactérias que vivem em seu nariz são suas amigas ou inimigas? Nos últimos anos, com os avanços na tecnologia e nos testes de laboratório, o importante papel da microbiota no apoio ao sistema imunológico está se tornando cada vez mais claro.
A recente pandemia, com o debate atual sobre a eficácia do uso de máscaras para cobrir o nariz e a boca, pode estar gerando um interesse crescente nas reservas bacterianas do nariz. Muitos tipos de infecções virais ou bacterianas podem entrar pelo nariz, como a gripe comum, resfriados, o vírus SARS-CoV-2 e rinossinusite bacteriana aguda, que geralmente começa como uma infecção viral.
Os vírus que entram no corpo pelo nariz podem desencadear uma infecção do trato respiratório superior, podendo causar coriza, febre, calafrios e tosse. Conforme a mucosa fica inflamada, ela cria um ambiente onde as bactérias podem se desenvolver.
Pesquisas mostraram que a microbiota em seu nariz muda com a idade e tem um efeito imunomodulador. Isso implica que pode haver potencial para a suplementação com probióticos para auxiliar a sua microbiota nasal e, portanto, fortalecer sua resposta imunológica a patógenos transportados pelo ar.
A sinusite crônica tem impacto significativo na vida diária
A incidência relatada de rinossinusite crônica oscila entre 1% da população a 11,5%, dependendo da gravidade dos sintomas que estão sendo medidos. Em uma amostra de 10.336 adultos norte-americanos, os dados foram coletados por meio de um questionário para determinar os sintomas de rinossinusite crônica, o impacto dos sintomas na vida do indivíduo, sua duração e o tratamento utilizado.
Os pesquisadores descobriram que 11,5% dos que responderam relataram sintomas e duração que se enquadravam nos critérios para rinossinusite crônica. Curiosamente, cerca de 10% das pessoas com a doença também relataram ter diagnóstico de pólipos nasais.
Uma infecção aguda dura menos de quatro semanas, mas a sinusite crônica dura pelo menos 12 semanas, com vários episódios de infecção aguda antes de passar para o estágio crônico. Os sintomas incluem:
Corrimento nasal espesso amarelo ou esverdeado, e gotejamento pós-nasal |
Dor, sensibilidade e inchaço ao redor das estruturas faciais, como olhos, nariz e testa |
Dor no rosto que piora quando você se inclina para frente |
Dor na mandíbula superior ou dentes |
Sentidos de olfato e paladar reduzidos |
Tosse ou pigarro |
Pressão no ouvido |
Dor de cabeça |
Mau hálito |
Fadiga |
Embora os sintomas sejam semelhantes, existem diferentes tipos de sinusite, incluindo aguda, crônica e recorrente. A sinusite aguda dura até quatro semanas, e pode desaparecer com pouco ou nenhum tratamento. A sinusite recorrente pode ocorrer quatro ou mais vezes em um ano, com períodos sem sintomas. Na sinusite crônica, os sintomas estão presentes quase o tempo todo.
A mãe de Sarah Lebeer, microbiologista e pesquisadora da microbiota, sofria de sinusite crônica. Lebeer é da Universidade da Antuérpia, e ficou interessada depois que sua mãe fez uma cirurgia para tratar dores de cabeça e rinossinusite crônica. Ela comentou sobre a inspiração para o estudo atual da equipe:
"Minha mãe tentou muitos tratamentos diferentes, mas nenhum funcionou. Achei uma pena não poder aconselhar a ela algumas bactérias boas ou probióticos para o nariz. Ninguém tinha realmente estudado isso ainda."
As bactérias nasais em pessoas saudáveis são diferentes
Antes desse estudo, Lebeer estudava o uso de probióticos no intestino e na vagina para melhorar a saúde. No entanto, seu foco mudou quando ela contemplou o uso potencial de probióticos para ajudar a tratar a rinossinusite crônica.
O estudo começou comparando as bactérias encontradas no nariz de 100 pessoas saudáveis com as de 225 pessoas com rinossinusite crônica. Eles escolheram 30 famílias diferentes de bactérias, e descobriram que o grupo de indivíduos saudáveis tinha até 10 vezes mais lactobacilos em algumas partes do nariz do que aqueles com rinossinusite crônica.
Os lactobacilos são uma parte importante de um microbioma intestinal equilibrado. Você pode ter ouvido sobre essa classe de bactérias como as bactérias benéficas presentes no iogurte, Lactobacillus acidophilus. O grupo descobriu que os lactobacilos mais abundantes no grupo de indivíduos saudáveis pertenciam ao grupo Lactobacillus casei, que recebeu um novo nome de gênero: Lacticaseibacillus.
Após a descoberta, a equipe tentou cultivar a espécie. Após o isolamento e o sequenciamento do genoma, eles descobriram que a bactéria parecia ser semelhante aos probióticos disponíveis para consumo oral encontrados nos alimentos. Porém, havia indícios de que eram distintos, e desenvolveram adaptações para o trato respiratório superior.
A maioria dos lactobacilos prefere o ambiente com relativamente pouco oxigênio do intestino, mas esse gênero parece ter se adaptado a níveis mais elevados de oxigênio, estresse oxidativo e alto fluxo de ar na cavidade nasal. Outra adaptação encontrada pela equipe foi a capacidade da bactéria de aderir ao epitélio nasal e, portanto, impedir que o corpo a elimine.
A bactéria tinha "tubos flexíveis em forma de pelos chamados fímbrias, que lhes permitem aderir às células da superfície do nariz, indicando uma interação entre a bactéria e o hospedeiro".
Em sua análise, eles descobriram que o Lactobacillus casei inibiu o crescimento de patógenos encontrados na cavidade nasal, e o epitélio respiratório tolerou as bactérias, pois elas produziram menos interleucina e fatores de necrose tumoral quando comparadas com os patógenos.
Spray nasal probiótico é prova de conceito
A próxima etapa da equipe foi avaliar suas descobertas in vivo, ou seja, fora do laboratório, em uma planta ou animal real. Conforme descrito no Cell Reports, os estudos em animais são geralmente a etapa intermediária entre os testes em laboratório e os testes em humanos.
No entanto, neste caso, usar um modelo animal teria sido difícil, pois a maioria tem anatomia respiratória superior, fisiologia e patógenos muito diferentes dos humanos.
A equipe solicitou e obteve aprovação para testes em humanos com base no histórico e na segurança dos lactobacillus nasais em indivíduos saudáveis e doentes. Eles utilizaram 20 voluntários saudáveis, que usaram o probiótico nasal duas vezes ao dia durante duas semanas.
A medida primária de resultado nesta fase do estudo foi a aptidão das bactérias na nasofaringe dos participantes, e a demonstração do potencial de um suplemento probiótico administrado pelo nariz. Amostras nasais foram coletadas cinco minutos, 10 a 16 horas e duas semanas após a administração do spray.
Os pesquisadores foram capazes de demonstrar a colonização temporária pelas bactérias em muitos indivíduos, ainda podendo ser detectada em dois dos participantes após duas semanas. Lebeer ficou animado com os resultados, que eles chamaram de "spray nasal prova de conceito", dizendo:
"Pacientes com sinusite não têm muitas opções de tratamento. Acreditamos que certos pacientes se beneficiariam com a remodelação do seu microbioma e a introdução de bactérias benéficas em seu nariz para reduzir certos sintomas. No entanto, ainda temos um longo caminho a percorrer com mais estudos clínicos e mecanísticos."
Microbioma nasal saudável pode oferecer proteção contra infecções
A diversidade bacteriana em indivíduos com rinossinusite crônica foi analisada à medida que os cientistas buscavam opções de tratamento. Em um estudo, os pesquisadores compararam a microbiota sinusal em seis participantes saudáveis e nove pacientes com rinossinusite crônica.
Eles descobriram que a variação bacteriana podia ser explicada por diferenças pessoais, e não por doenças: alguns eram fumantes; outros tinham Staphylococcus e/ou uma variedade de microbiota, em comparação com relativamente poucos tipos nos indivíduos saudáveis.
Em outro artigo, os cientistas levantaram a hipótese de que havia uma associação entre a disbiose encontrada nas cavidades nasais de pessoas com rinossinusite crônica e alterações no sistema imunológico.
Em um terceiro estudo, os pesquisadores analisaram a colonização microbiana do trato respiratório superior em relação à idade, estilo de vida, doenças e respostas imunológicas de um indivíduo. Eles descobriram que o microbioma dos adultos é diferente do das crianças. As crianças possuem uma carga bacteriana mais densa e elevada, menos diversa do que a dos adultos.
As alterações no microbioma nasal começam a mudar na meia-idade, com bactérias frequentemente sendo encontradas na região orofaríngea. Isso pode ter um impacto no aumento do risco de COVID-19 em indivíduos mais velhos. Em sua revisão de estudos, eles descobriram que fumar muda o microbioma das vias aéreas, aumentando o número de patógenos potenciais e reduzindo a composição de bactérias benéficas ao longo do tempo.
Além disso, pode haver uma ligação com o microbioma nasal e doenças neurológicas, como doença de Parkinson, doença de Alzheimer e esclerose múltipla.
Medicamentos e outras terapias administradas dentro do nariz podem alterar a atividade microbiana do trato respiratório superior. Isso pode incluir corticosteroides, enxágues, antibióticos e anti-histamínicos. A equipe do estudo disse que as lavagens nasais com soro fisiológico isotônico ou hipertônico podem livrar a mucosa nasal de compostos inflamatórios e poluentes.
No entanto, a água da torneira ou de poço pode ser motivo de preocupação, já que pode conter bactérias ou parasitas. Os autores relataram que a água destilada é o mais recomendado atualmente. O estudo foi publicado seis meses antes do estudo de Lebeer, e a equipe também sugeriu:
"A próxima etapa lógica seria a aplicação de probióticos por via nasal, embora possa existir um risco potencial de inflamação nas vias aéreas inferiores devido à aspiração para o pulmão."
Mais etapas para reduzir evoluções graves da COVID-19
Embora pareça que a administração de probióticos por via intranasal possa ser uma opção para o futuro, é importante pensar nas estratégias que você pode adotar hoje para reduzir o risco de doenças infecciosas, incluindo a COVID-19. Como já escrevi no passado, acredito que uma das maneiras mais simples e fáceis de prevenir doenças graves é otimizar os níveis de vitamina D.
Infelizmente, muitas pessoas em todo o mundo são deficientes em vitamina D, o que pode ter um impacto significativo no risco de teste positivo para COVID-19, infecção grave e morte devido a ela. Para fortalecer seu sistema imunológico e reduzir seus riscos, é desejável aumentar seu nível de vitamina D para que este esteja entre 60 ng/mL e 80 ng/mL.
Convido você a compartilhar isso com seus amigos e parentes. Ao trabalhar em conjunto para compartilhar informações de saúde que a mídia não está disposta a divulgar, você pode fazer uma diferença real no número de pessoas que podem permanecer saudáveis e desfrutar de uma vida melhor.