Por Dr. Mercola
Não é de hoje que as pessoas são alertadas dos perigos do consumo excessivo de gordura e de sal, mas a mídia quase não fala do açúcar, apesar do aumento das taxas de obesidade e dos problemas de saúde.
Inúmeras pesquisas já foram publicadas sobre as muitas formas como o excesso de açúcar pode prejudicar a saúde, mas a indústria continua a se defender — e condenar a ciência.
Eles preferem que você continue acreditando no ultrapassado mito de que a gordura saturada é a culpada, não o açúcar. Apesar disso, a máquina do progresso continua a todo vapor.
Um grupo influente de pesquisadores não se cansa de divulgar as fortes relações entre o consumo de açúcar e o aumento das taxas de obesidade e doenças notórias, como câncer, doença cardíaca e Alzheimer.
Isso não é "novidade" para a indústria alimentícia. Na verdade, ela tem escondido a verdadeira ciência sobre o açúcar há décadas — tramando formas de deixar você MAIS viciado aos produtos que fabricam, independentemente das consequências para sua saúde.
Chegou a hora de todos saberem a verdade sobre as farsas da indústria do açúcar. Em 2012, o escritor e jornalista científico Gary Taubes formou uma parceria com Cristin Kearns Couzens para escrever o livro "Big Sugar's Sweet Little Lies" (em tradução livre: "As pequenas mentirinhas do grande açúcar).1 Em um relato ao Mother Jones, eles escrevem:
"Durante 40 anos, a prioridade da indústria do açúcar foi lançar dúvida sobre os estudos que sugeriam que seu produto deixava as pessoas doentes. Nos painéis federais, cientistas financiados pela indústria citavam estudos financiados também pela indústria para se desconsiderar a culpa do açúcar".
O mundo secreto da indústria do açúcar
O documentário "The Secrets of Sugar" (em tradução livre: Os segredos do açúcar) conta como a indústria alimentícia conhece há décadas a relação entre uma dieta à base de alimentos processados e as doenças.
Com a missão de alterar a forma como a indústria do açúcar opera, a Dentista do Cuidado Comunitário do Colorado, Cristin Kearns Couzens se deparou com evidências de que já se desconfiava do papel do açúcar em doenças do coração desde o início da década de 1970.
Cristin divulgou mais de 1500 páginas de memorandos, cartas e relatórios internos, esquecidos nos arquivos de empresas açucareiras que não existem mais, além de relatórios recentemente divulgados de pesquisadores e consultores falecidos que desempenharam papeis fundamentais na estratégia da indústria.
A indústria do açúcar temia o iminente livro Pure, White and Deadly (em tradução livre: Puro, Branco e Mortal) de 1972, escrito pelo nutricionista britânico John Yudkin, no qual apresentava décadas de pesquisa apontando que as dietas ricas em açúcar — não em gordura — eram o fator subjacente da obesidade e diabetes.
A Associação do Açúcar financiou secretamente um documento técnico chamado "Açúcar na Dieta do Homem" que não só alegava que o açúcar era seguro e saudável, como também importante. Além de financiarem a publicação, fizeram parecer que fosse um estudo independente.
O maior defensor da Associação do Açúcar era Ancel Keyes que, financiado pela indústria, ajudou a destruir a reputação de Yudkin, fazendo parecer que este fosse um charlatão. A campanha de difamação foi um enorme sucesso, forçando uma parada brusca nas pesquisas voltadas ao açúcar.
Aqueles que lucravam com o açúcar não mediam esforços para calar as vozes dissidentes, onde que quer que elas estivessem, mesmo que no berço da ciência. Esse silenciamento sobre o açúcar fez com que a gordura continuasse seu reinado como vilã, apesar da falta de embasamento científico.
O século XXI trouxe consigo refrigerantes de tamanho família, além de problemas enormes para a saúde, enquanto a indústria alimentícia continuava se fazendo de desentendida — esperando que ninguém percebesse a verdade.
Assim como o Poderoso Tabaco conseguiu se desvencilhar da culpa do câncer, o Poderoso Açúcar buscou cobertura, fazendo uso das táticas do primeiro: desacreditando a ciência, intimidando cientistas e subvertendo as políticas de saúde pública.
Pesquisas provam a causa: O açúcar aumenta o risco de doenças crônicas
Estima-se que 100 milhões de norte-americanos sejam diabéticos ou pré-diabéticos. Graças ao trabalho do endocrinologista pediátrico Dr. Robert Lusting, temos claras evidências de que o açúcar refinado seja principal fator causador de obesidade e doenças crônicas.
Dr. Lusting afirma veementemente que o açúcar pode ser um importante fator no surto de doenças crônicas de hoje. Sobrecarregar o fígado com mais açúcar do que ele pode metabolizar costuma gerar sérios problemas metabólicos ao longo do tempo.
Quanto açúcar as pessoas estão consumindo? Em média, o açúcar compõe 15% das calorias totais consumidas pelos norte-americanos. Nos Estados Unidos, o uso de xarope de milho com alto teor de frutose oituplicou entre 1950 e 2000.
O motivo desse excesso é porque os norte-americanos dependem demais dos alimentos processados, que simplesmente estão repletos de açúcar, especialmente frutose — um mel na chupeta para os lucros da indústria do açúcar. A indústria alimentícia movimenta quase um trilhão de dólares em vendas anuais, o que não seria possível sem o açúcar.
Frutose demais pode ser um veneno
De todos os tipos de açúcar que se pode consumir, a frutose refinada é, de longe, a mais nociva. Pesquisas mostraram que o xarope de milho com alto teor de frutose é mais tóxico do que o açúcar refinado (sacarose). Ratos que receberam uma dieta rica em xarope de milho apresentaram quase o dobro da taxa de mortalidade em comparação com os ratos que receberam uma dieta rica em sacarose.
O açúcar que todos nós conhecemos é formado por duas moléculas que se separam no intestino: frutose e glucose. A glucose viaja pelo corpo e abastece os músculos e o cérebro. Mas a frutose vai diretamente para o fígado, onde todo tipo de problema acontece. O fígado transforma a frutose em gordura hepática, que causa uma série de problemas metabólicos.
Para início de conversa, o excesso de frutose desativa a parte do cérebro que lhe diz quando você está saciado, deixando você mais propenso a comer além da conta.
Você pode não perceber que a resistência à insulina afeta cada órgão de um jeito. Por exemplo, a resistência à insulina pode ser o primeiro passo para o desenvolvimento de hiperglicemia e doença cardiovascular.
A adição de açúcar, especialmente frutose, pode ter uma papel maior do que o sal na pressão alta. Quando certos órgão passam a ter resistência à insulina, doenças específicas podem se desenvolver. Veja alguns exemplos na tabela abaixo.
Órgão ou sistema que desenvolve a resistência à insulina |
Doença |
Músculos |
Diabetes tipo 2 |
Fígado |
Esteatose hepática |
Cérebro |
Alzheimer |
Ovários |
Ovário policístico |
Sistema nervoso periférico |
Neuropatia |
O açúcar pode ser o melhor amigo do câncer
De acordo com o mais recente Relatório Mundial do Câncer, emitido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o câncer costuma ser prevenível através das escolhas de vida. O açúcar é o alimento favorito do câncer — pelo menos, de algumas formas de câncer.
Lewis Cantley, Professor da Universidade de Cornell, acredita que o açúcar na dieta não apenas aumenta o risco de desenvolvimento de câncer como também piora o estado, caso a doença já tenha se desenvolvido. Níveis elevados de insulina impulsionam os tumores do câncer, levando as células cancerígenas a consumirem glucose.
Algumas células cancerígenas contêm receptores de insulina, fazendo a glucose aumentar e se espalhar. Para quem tem esse tipo de câncer, comer açúcar é o mesmo que atear fogo à gasolina. Sabendo como o câncer responde ao açúcar, é possível perceber como a obesidade pode ser um marcador do aumento do risco de câncer.
A obesidade está relacionada a um maior risco de muitos tipos de câncer — de cólon, esôfago, rim, mama e pâncreas — além de ao aumento do risco de morte pela tal doença.
A lei da atração do açúcar: O "Ponto de Bliss"
A quantidade de açúcar nos alimentos processados não é acidental — a indústria vai longe para calcular cientificamente a combinação exata de ingredientes que fará você ansiar pelo produto, o chamado "Ponto de Bliss".
Dr. Howard Moskowitz, um consultor de longa data da indústria alimentícia, é conhecido como “Dr. Bliss.” Matemático treinado em Harvard, Moskowitz testa a reação das pessoas e encontra a quantidade ideal de açúcar para um produto — essencialmente, ele ajuda a encontra a zona "perfeita". Ele fez a indústria do açúcar faturar bilhões.
O caminho trilhado por Moskowitz até alcançar a maestria começou quando foi contratado pelo Exército dos Estados Unidos para pesquisar um modo de fazer os soldados consumirem mais rações em campo. Com o passar do tempo, os soldados não consumiam quantidades adequadas de ração.
Eles achavam a comida pronta tão sem graça que comiam a metade e se desfaziam do resto, deixando de consumir todas as calorias de que precisavam. Por meio desse estudo, Moskowitz descobriu a "saciedade sensorial específica". Isso significa que grandes sabores tendem a sobrecarregar seu cérebro, que responde suprimindo seu desejo de comer mais.
No entanto, essa saciedade sensorial específica é anulada por perfis de sabores complexos que despertam suas papilas gustativas o suficiente para serem tentadores, mas não têm um único sabor distinto e anulador, que diz ao seu cérebro para parar de comer.
A fórmula mágica leva ao "Ponto de Bliss", permitindo que a indústria de alimentos processados despendam esforços deliberados para fazer você comer em excesso. É a combinação perfeita de açúcar, sal e gordura que torna os alimentos processados tão viciantes.
Açúcares quase imperceptíveis
Qual é a quantidade segura de açúcar? De acordo com o Dr. Lusting, embora existam diferenças individuais, como regra geral, o limiar de segurança do consumo de açúcar parece ser cerca de seis a nove colheres de chá (25 a 38 gramas) de açúcar por dia. Não é muito difícil exceder esse valor se você consumir QUALQUER alimento processado que seja.
Se soubesse a quantidade de açúcar que é despretenciosamente adicionada aos alimentos processados, você ficaria surpreso. Todo mundo espera que pães, bolos, biscoitos e refrigerantes sejam repletos de açúcar — mas ninguém imagina que uma lata de Coca contém 40 gramas desse ingrediente.
Você pode ficar chocado com a quantidade de açúcar que é adicionada a alimentos que você nem chamaria de "doce". As comidas congeladas, por exemplo. Um molho de tomate tradicional chega a ter 6 gramas de açúcares. Determinadas marcas acrescentam açúcar na lata de seleta de legumes. O açúcar aparece em sexto lugar na lista de ingredientes da Lasanha SEARA à Bolonhesa Congelada, ficando na frente do presunto!
Para evitar doenças crônicas, diga não ao açúcar
Evidências claras mostram que o açúcar refinado e a frutose processada são fatores importantes para a obesidade e doenças crônicas. Se quiser normalizar seu peso e reduzir drasticamente o risco de desenvolver doenças cardíacas, câncer, diabetes e Alzheimer, você precisa prestar atenção nos alimentos processados que anda consumindo.
Açúcar refinado e frutose, grãos e outros carboidratos ricos em amido são responsáveis pelas reações adversas do seu corpo à insulina e leptina, e essa disfunção metabólica é responsável por muitas das doenças crônicas observadas hoje em dia.
Se você tem resistência à insulina/leptina, diabetes, pressão alta, doença cardíaca ou está acima do peso, é recomendável limitar a ingestão total de açúcar/frutose a 15 gramas por dia até que a resistência à insulina/leptina tenha passado.
Nos Estados Unidos, por exemplo, isso se aplica a pelo menos metade da população. Para os demais, recomendo limitar o consumo diário de frutose a 25 gramas ou menos. A maneira mais fácil de conseguir isso é trocando os alimentos processados por alimentos integrais, idealmente orgânicos, o que significa cozinhar a partir do zero com ingredientes frescos.