Explorando as fronteiras dos psicodélicos

(Vídeo disponível apenas em inglês)
psicodélicos

Resumo da matéria -

  • Em seu último livro, “Como mudar de ideia: o que a nova ciência dos psicodélicos nos ensina sobre consciência, morte, dependência, depressão e transcendência”, Michael Pollan investiga os potenciais benefícios das drogas alucinógenas
  • O termo “psicodélico” é composto pelas palavras gregas “psique” (mente) e “delos”, que significa manifestar, mostrar ou revelar. Em essência, essas drogas “abrem a mente”
  • Na década de 1950, os psicodélicos foram amplamente estudados como tratamentos para a dependência, alcoolismo e depressão
  • Nos dias de hoje, o renascimento dos psicodélicos vem sendo conduzido por instituições muito respeitadas, como a Universidade Johns Hopkins, onde pesquisadores investigaram os benefícios dos cogumelos mágicos na depressão em pacientes com câncer terminal

Por Dr. Mercola

No vídeo acima, Tim Ferriss entrevista Michael Pollan, autor de sete livros relacionados principalmente à alimentação. Em seu último livro, “Como mudar de ideia: O que a nova ciência dos psicodélicos nos ensina sobre consciência, morte, dependência, depressão e transcendência”, ele investiga os potenciais benefícios das drogas alucinógenas.

A entrevista aconteceu recentemente no evento "South by Southwest". De acordo com Pollan, o termo “psicodélicos” foi cunhado em 1957 por Humphry Osmond, um psiquiatra que explorou o uso de drogas alucinógenas no tratamento de doenças mentais. Um artigo de Janice Hopkins Tanne descreve como Osmond investigou os efeitos da dietilamida do ácido lisérgico (LSD) em alcoólatras.

Na década de 1950, psiquiatras trabalhando com drogas frequentemente as usavam em si mesmos, e pensava-se que alucinógenos como o LSD imitavam a mente dos pacientes com doenças mentais, permitindo que o terapeuta experimentasse certas psicoses pelas quais um indivíduo poderia passar.

No entanto, como observa Pollan, eles perceberam que as experiências que estavam tendo “pareciam muito boas” para serem uma psicose pura. Por isso, Osmond surgeriu o termo psicodélico, que é composto das palavras gregas “psique” (mente) e “delos”, que significa manifestar, mostrar ou revelar. Em essência, estas drogas “abrem a mente”. “Isso sugere que essas drogas levam a mente para uma espécie de espaço observável”, diz Pollan.

A ascensão e queda dos psicodélicos

Pollan, como a maioria, tinha a impressão de que os psicodélicos eram um produto dos anos 1960, mas na verdade, quando essas drogas se tornaram um pilar da contracultura, os pesquisadores já estudavam psicodélicos há 15 anos, principalmente como tratamento para dependência, depressão e alívio do medo da morte em pacientes com câncer em estado terminal – os mesmos usos para os quais essas drogas estão sendo estudadas atualmente.

De acordo com Pollan, grande parte dessa pesquisa produziu bons resultados, mostrando que os psicodélicos podem ser muito úteis na área psiquiátrica. Infelizmente, à medida que a contracultura começou a usar psicodélicos, tornou-se cada vez mais difícil para os pesquisadores investigarem os compostos.

Em meados dos anos 60, a opinião pública voltou-se contra as drogas – segundo Pollan, “houve um certo pânico moral a respeito do uso de psicodélicos” — resultando em sua demonização. O presidente Richard Nixon atacou os psicodélicos, atribuindo a eles a razão pela qual os jovens não estavam dispostos a se juntar à Guerra do Vietnã.

Pollan discute como o movimento psicodélico criou uma lacuna sem precedentes entre as gerações, “em que os jovens possuíam um rito de passagem sobre o qual os mais velhos nada sabiam”.

Em essência, os psicodélicos, através de sua capacidade de expansão da mente, permitiram às gerações mais jovens um vislumbre de sua consciência que gerações anteriores não compreendiam e não haviam experimentado. Historicamente, os ritos de passagem foram sempre presididos pelos anciãos.

O renascimento dos psicodélicos

No início dos anos 1970, o estudo dos psicodélicos havia parado enquanto a guerra às drogas tomava conta. No entanto, após serem ignorados por décadas, os cientistas hoje estão começando a olhar novamente para esses compostos.

Nos dias de hoje, o renascimento dos psicodélicos vem sendo conduzido por instituições muito respeitadas, como a Universidade Johns Hopkins, onde pesquisadores investigam os benefícios da psilocibina – os “cogumelos mágicos” — sobre pacientes com câncer em estágio terminal.

Eles mostraram que os cogumelos mágicos muitas vezes eliminam o medo paralisante que alguns pacientes têm de morrer (tanatofobia), permitindo que eles passem por uma experiência espiritual transformadora. Ensaios também estão sendo realizados para avaliar o uso medicinal dos cogumelos mágicos para o tratamento da depressão e ansiedade.

Alcoolismo, tabagismo e distúrbios alimentares são outras condições para as quais os psicodélicos podem ser úteis, diz Pollan, acrescentando que a principal função que essas drogas parecem exercer é catalisar mudanças comportamentais.

Eles silenciam a região do cérebro onde surgem narrativas negativas sobre nós mesmos, permitindo que você saia de padrões destrutivos de pensamento em que possa se encontrar. Assim, elas também podem ser úteis para transtornos mentais como o transtorno obsessivo-compulsivo e todo tipo de vícios.

Os benefícios do “Trauma Reverso” e da dissolução do ego

Como podem os psicodélicos ter um efeito tão profundo e duradouro? Ferriss questiona. Em muitos casos, os pacientes relatam que os benefícios de uma, duas ou três sessões podem durar por meses ou mesmo anos.

De acordo com David E. Nichols, Ph.D., ex-professor de farmacologia e distinto catedrático em farmacologia na Purdue University, considerado um dos maiores especialistas em psicodélicos do mundo, o LSD se difunde para o interior do cérebro ao longo de três a quatro horas, e depois se difunde para fora — levando alguns a nunca mais ver o mundo da mesma maneira.

Segundo Pollan, a razão para isso não tem a ver com os efeitos farmacológicos, mas sim com a própria experiência que os pacientes sofrem. Pollan a compara a um “trauma reverso”, em que a experiência é tão profundamente curativa, do ponto de vista psicológico, que os efeitos não passam. De fato, em vários estudos, os pacientes frequentemente afirmam que sua viagem psicodélica foi uma das experiências mais profundas e transformadoras de suas vidas.

“Então, você realmente precisa olhar para a fenomenologia da experiência”, diz Pollan, “que, em seu melhor, é considerada uma espécie de experiência mística. Acho que, central para esta ideia, é que o fato de ser uma experiência de ‘dissolução do ego’ — despersonalização completa.

É o seu ego, de certa forma, que escreve e reforça essas narrativas destrutivas, e se puder desativá-lo por um tempo e perceber que há outra base na qual se pautar – que você não é necessariamente idêntico ao seu ego – então você ampliará sua perspectiva. Isso, na minha opinião, é muito positivo.

O ego cria barreiras. Nos isola de outras pessoas; nos isola da natureza. É defensivo por definição. E quando você derruba essas paredes da psique, o que acontece? Bem, você se funde com outra coisa. Há menos distinção entre você e o outro…

Quando as portas da percepção se abrem… há um fluxo incrível [entre essas linhas de conexão]. Parece banal, mas muitas vezes o que flui entre essas conexões é o amor – poderosos sentimentos de amor e reconexão…

Muitos dos problemas com depressão e dependência se encontram na desconexão. Dependentes chegam ao ponto em que sua conexão com uma garrafa é mais importante para eles do que a conexão com seus filhos, seus cônjuges, seus entes queridos.

É espantoso – e as drogas [psicodélicas] parecem ajudar as pessoas a se reconectarem. Então, sim, a experiência que você está tendo é temporária, mas possui esse poder notável, e essa é uma das coisas mais curiosas a seu respeito."

A desconexão espiritual é uma doença que as drogas psicodélicas podem tratar

Pollan observa também que essas experiências místicas não são vistas como algo subjetivo, mas como a revelação de uma verdade objetiva; um verdadeiro conhecimento. Ele se refere à experiência psicodélica como um “rearranjo completo da mente”, que produz mudanças drásticas na perspectiva e no comportamento do paciente.

Na entrevista, Pollan também relata uma de suas próprias experiências com cogumelos mágicos, que ele utilizou sob cuidadosa supervisão e orientação. Embora partes das experiências tenham sido desagradáveis, no final, ele experimentou uma dissolução do “eu”, chegando à conclusão de que permitir que o ego desaparecesse não resultava em destruição — ele ainda continuava vivo.

É assim, acredita ele, que os psicodélicos ajudam os pacientes com câncer a superar o medo da morte iminente. A viagem é, de certo modo, um ensaio da morte física, e demonstra que a dissolução física não é o fim – sua consciência permanece.

No filme “The Reality of Truth”, Deepak Chopra observa que as drogas psicotrópicas “ajudam as pessoas a sair da alucinação da separação”.

Muitos acreditam que as plantas psicotrópicas possuem um lugar de direito na vida humana, pois podem agir como uma chave, se você desejar, para expandir os níveis de consciência e criar uma experiência pessoal do divino, e, ao torná-las ilegais, nós efetivamente fomos impedidos de usar substâncias naturais para explorar as dimensões espirituais do nosso ser que podem ser extremamente curativas e benéficas.

Em 2015, o psiquiatra James Rucker, de Londres, escreveu um comentário no British Medical Journal, defendendo a reclassificação do LSD e dos cogumelos mágicos – que ele considera menos viciantes e prejudiciais do que a heroína e a cocaína – para facilitar a condução, muito necessária, da pesquisa médica sobre eles.

Hoje os psicodélicos são ilegais nos EUA

Para esclarecer, permita-me afirmar que não defendo o uso de substâncias ilegais. Isso poderia levar você à prisão, independentemente de quão puras sejam as suas intenções. A psilocibina, por exemplo, é uma substância incluída na Tabela 1 (drogas atualmente sem uso médico aceitável e com alto potencial de abuso) sob a Lei de Substâncias Controladas.

Os cogumelos são tipicamente ingeridos na sua forma fresca ou seca, ou podem ser transformados em chá. Sabe-se que doses elevadas induzem pânico e/ou psicose, e é por isso que a experimentação imprudente é fortemente desencorajada (além de seu uso ser ilegal). Outros psicodélicos incluem o LSD, DMT (ingrediente ativo da ayahuasca) e mescalina, para citar alguns.

Atualmente, a única maneira legal que eu conheço para usar psicodélicos nos EUA é fazendo parte de um estudo registrado. Outros países possuem leis diferentes com relação aos psicodélicos e seu uso. A meditação e certas práticas de respiração demonstraram produzir experiências semelhantes de dissolução do ego, sendo uma maneira perfeitamente segura e legal de explorar sua própria consciência.

Uma delas é o Yoga Sudarshan Kriya (SK), uma técnica de respiração ensinada por Sri Sri Ravi Shankar. Mais de 65 estudos investigaram os efeitos dessa técnica. Entre as descobertas, os estudos mostraram que ela pode:

  • Aumentar o sono profundo em 218%
  • Aumentar a secreção hormonal associada ao bem-estar em 50%
  • Diminuir os hormônios do estresse em 56%
  • Diminuir a depressão em 70%
  • Reduzir a ansiedade em 44%

O que Pollan tem a dizer sobre o encontro e a redefinição da espiritualidade

Pollan observa que, após sua experiência psicodélica, ele passou a meditar melhor, adquirindo uma noção melhor do estado que ele buscava conquistar e manter. Ele afirma também que a experiência psicodélica o ajudou a entender melhor o que é a espiritualidade.

“Eu realmente não era uma pessoa espiritual”, diz ele. "Eu me descrevo como espiritualmente retardado… Parte disso é porque sou muito materialista na minha perspectiva filosófica… acreditando que tudo pode ser explicado pelas leis da natureza e da energia…

Eu acreditava que, para ser uma pessoa espiritual, você tinha que acreditar no sobrenatural, e eu era avesso a essa ideia. Eu não acreditava no sobrenatural. Mas essa experiência, especialmente a fusão que ocorreu, me fez perceber que essa não é a dualidade correta – o oposto do espiritual não é material; o oposto do espiritual é egoísta.

É o nosso ego que nos impede de ter conexões profundas, seja com nossos entes queridos, com a humanidade, com a natureza ou com uma música. Essa é a barreira, e [quando] você pode derrubar tal parede, isso para mim é a experiência espiritual… Essa foi, para mim, a principal lição… "

Nutrindo sua espiritualidade como componente para a saúde ideal

Para encerrar, quero reiterar que não aprovo ou aconselho o uso de drogas ilegais. Se você decidir experimentá-las, certifique-se de fazê-lo em um local onde seja legalizado, e sob a orientação de alguém com a experiência apropriada.

O ponto mais importante, a meu ver, é que esse tipo de experiência psicodélica nos diz que a conexão espiritual é parte importante da vida, da saúde e da felicidade.

Como mencionado, a boa notícia é que você não está restrito a drogas psicodélicas para obter tais benefícios. A prática consistente de meditação e/ou respiração pode levá-lo a resultados semelhantes, ainda que ao longo de um período maior.