A abordagem metabólica ao tratamento do câncer

(Vídeo disponível apenas em Inglês)
células cancerigenas

Resumo da matéria -

  • A Dra. Nasha Winters é uma naturopata especializada no tratamento do câncer. Ela treina médicos e oferece consulta a pacientes em tratamento contra o câncer
  • Winters pede 5 exames específicos antes de realizar a primeira consulta com um paciente. São marcadores que mostram o avanço do câncer e quão bem o paciente está respondendo ao tratamento
  • O primeiro consiste em um hemograma, um exame de preço acessível, que mostra a contagem completa do sangue. Mais importante ainda: ele mostra a relação de neutrófilos para linfócitos, que é um prognóstico de sobrevida geral

Por Dr. Mercola

O câncer mata cerca de 1.600 norte-americanos por dia. Na China, 8.100 pessoas sucumbem à doença todos os dias. É tão comum que chega a ser raro não conhecer ninguém que tenha sido diagnosticado com câncer — por isso a importância do tema desta entrevista.

A Dra. Nasha Winters é uma naturopata especializada no tratamento do câncer. Embora já tenha tratado pacientes com câncer, ela desenvolveu um modelo mais eficiente que visa treinar médicos e oferecer consultas a pacientes em tratamento contra o câncer.

Os fatos falam por si

Com raras exceções, as pessoas geralmente dizem que se sentiam saudáveis até serem diagnosticadas com câncer. No entanto, isso é simplesmente impossível. O câncer, como muitas outras doenças, não se manifesta até que tenha causado 80% dos danos.

O primeiro sintoma não diagnostica o câncer por si só. A maioria dos casos leva anos para progredir até o ponto de ser diagnosticável. O câncer é um fator res ipsa loquitur, ou seja, é um "fato que fala por si só". Em outras palavras, você, de algum modo, não tinha um estilo de vida saudável ou simplesmente falhou em neutralizar as exposições tóxicas inevitáveis às quais estamos sujeitos no mundo de hoje.

Exame, análise e tratamento — O hemograma completo

Winters recomenda, ou melhor, exige 5 exames específicos antes de realizar a primeira consulta com um paciente. São marcadores que mostram o avanço do câncer e quão bem o paciente está respondendo ao tratamento.

O primeiro é um hemograma. Trata-se de um exame simples e de preço acessível que mostra a contagem completa do sangue. Ele inclui a contagem de glóbulos brancos, hemácias, hemoglobina, hematócritos e plaquetas.

Mais importante ainda: ele mostra a relação de neutrófilos para linfócitos, que é um prognóstico da sobrevida geral. Um dos motivos pelos quais as imunoterapias apresentam uma taxa de resposta tão baixa — apenas cerca de 20%, de acordo com Winters — deve-se a essa relação de neutrófilos para linfócitos.

O perfil metabólico completo e a lactato desidrogenase

O segundo exame que Winters costuma pedir é o Perfil Metabólico completo, outro exame laboratorial de preço acessível. Ele oferece informações sobre eletrólitos, o funcionamento dos órgãos, a função cardiovascular, bem como função renal e hepática.

Existem dois testes importantes que talvez tenham que ser solicitados separadamente. Um deles é o exame da lactato desidrogenase (LDH), "que provavelmente é um dos mais subutilizados, porém mais importantes, entre todas as doenças crônicas", diz Winters. É um marcador da função metabólica. Se o LDH estiver elevado, isso significa que as mitocôndrias não estão funcionando bem.

O que o LDH tem a dizer sobre a função mitocondrial

Qual seria a conexão entre o LDH e a função mitocondrial? Winters explica:

"É aqui que analisamos como processamos a lactato desidrogenase — o processo pelo qual fermentamos ou processamos nossa energia através do ciclo de Krebs... para a produção de adenosina trifosfato (ATP). Está intimamente relacionado com as desidrogenases, tanto a piruvato ou lactato desidrogenase.

Quando o nível de LDH começa a subir é um indício de que nem tudo vai bem na construção mitocondrial. Curiosamente, uma coisa que deixei de mencionar quando começamos a falar dos exames laboratoriais é que os valores de referência, considerados padrão, se baseiam na média da população.

De forma geral, você não deve querer estar dentro da média hoje com relação aos valores de referência. Por exemplo, se eu estivesse falando da minha faixa funcional ou ideal de lactato desidrogenase, alguns laboratórios diriam que o ideal é estar abaixo de 225 UI/L.

Sendo o limite mínimo de 115 UI/L. Em outro laboratório, que utiliza uma métrica diferente, deveria estar abaixo de 35,0 U/L. Em outro, o valor de referência em adultos é de até 190 UI/L. O melhor é estar muito abaixo desses limites para estar na faixa ideal."

O exame de velocidade de hemossedimentação

O segundo exame que talvez seja preciso solicitar separadamente é o de velocidade de hemossedimentação, que recebe a sigla de VHS. "Trata-se de um exame muito simples que analisa a rapidez com que as células se precipitam em uma solução, caindo do plasma", diz Winters.

Idealmente, seu VHS deve estar abaixo de 10. Uma taxa acima de 10 sugere maior dificuldade para as células saírem do tecido espesso, fibrinolítico ou pegajoso associado à inflamação crônica, à autoimunidade e ao risco maior de metástase.

O exame de proteína C-reativa ultra-sensível

O quinto exame que Winters costuma pedir é o da proteína C-reativa (PCR). Embora geralmente seja usado como um indicador da saúde cardiovascular, também é um fator prognóstico amplamente subutilizado para o câncer. O PCR elevado, independetemente do tipo de doença ou condição que você tenha, sugere um prognóstico ruim e menor taxa de sobrevida.

O PCR se difere do VHS por seu um marcador geral da inflamação. Ele não mostra o local da inflamação. O ideal é um PCR abaixo de 1. Se o laboratório usar um valor de referência 0.3, o resultado ideal deve ser inferior a 0.1. Faça um exame de PCR quantitativo, ou seja, que especifique seus valores, não um que apenas informe se você se está dentro ou abaixo do padrão. Assim, será possível monitorar seu progresso mais atentamente.

O padrão comum do câncer

"É aqui que as peças se unem", diz Winters. Embora haja bons estudos comprovando que todos esses cinco testes, individualmente, ajudem a monitorar os processos inflamatórios e do câncer, Winters aprendeu, ao longo de 25 anos, que quando a PCR, LDH e VHS estão dentro dos limites funcionais, ela sabe que o paciente tem um bom controle sobre a doença.

Quando os três estão fora da faixa, o prognóstico enfraquece. Os intervalos funcionais ou ideais deveriam ser:

  • VHS abaixo de 10
  • PCR abaixo de 1 (ou 0.1 dependendo da medida utilizada)
  • LDH abaixo de 175 (ou 35 dependendo da medida usada)

As biópsias logo serão coisa do passado

O Dr. Thomas Seyfried, um importante especialista em câncer como uma doença metabólica, é da forte opinião de que as biópsias devem ser evitadas, pois podem desencadear metástase, ou seja, disseminação do câncer.

O motivo disso é que não são as células-tronco do câncer que disseminam a doença, pois são os macrófagos hibridizados que se fundem às células cancerígenas.

Por ser um macrófago, se espalha pelo seu sangue e pode se disseminar para outros tecidos. Você pode saber mais sobre isso na minha mais recente entrevista com Seyfried. Winters observa que a preocupação de que as biópsias espalhem o câncer estão em circulação há décadas.

“Já vimos muitas vezes que, dependendo do momento, digamos, do seu ciclo quando faz uma mastectomia ou do tipo de anestesia usada no momento de uma biópsia, ou o estado geral da saúde, ou até mesmo o tamanho da biópsia, que definitivamente temos esse potencial de disseminação”, diz ela.

Apesar desses riscos, os médicos ainda precisavam fazer a biópsia, não importava como, para ajudar a orientar o tratamento. Segundo ela, isso está mudando agora. A "biópsia líquida" está melhorando, permitindo que um diagnóstico seja feito sem perfuração do tecido.

Pelo que tem presenciado em pesquisas e trabalhos sobre as células tumorais circulantes no sangue e as células-tronco circulantes, Winters está convencida de que não falta muito para que as biópsias não sejam mais usadas.

Instrumentos para otimizar o sucesso cirúrgico

Embora a radioterapia e a quimioterapia raramente sejam uma opção ideal, uma cirurgia pode ser indicada em alguns casos, e sua taxa de sucesso pode ser otimizada com a implementação da cetose nutricional. O jejum de alguns dias antes da cirurgia pode ajudar a definir e demarcar as margens do tumor. As células cancerosas também serão menos agressivas, pois estarão relativamente debilitadas.

Um ponto importante a ser feito aqui é que submeter-se ao tratamento convencional — radiação, quimioterapia e/ou cirurgia — antes de adotar uma abordagem holística, vai custar muito caro e praticamente eliminar qualquer chance real de sucesso.

Em outras palavras, você precisa ter coragem o suficiente para preparar o terreno do seu corpo primeiro, antes de fazer qualquer uma dessas intervenções invasivas e altamente tóxicas.

Glicose alta e resistência à insulina pioram seu prognóstico

Como observado por Winters, quando você analisa as estatísticas de todos os tipos de tumores, todas as etapas e dados demográficos, a quimioterapia tem uma taxa de sucesso de cerca de 3%. A radioterapia tem uma taxa de sucesso de 12% e cirurgia cerca de 50%, com “taxa de sucesso” referindo-se a diminuir o tumor — não eliminar a evidência da doença.

Ela também aponta evidências mostrando que quando a glicose e a insulina estão elevadas, a radiação torna-se ineficaz, pois as células cancerosas são dessensibilizadas à radiação quando estão repletas de açúcar.

Outra coisa que torna a radiação ineficaz é a elevação do fator de crescimento vasoendotelial. Mais uma vez, um simples exame de sangue pode ajudar a avaliar a probabilidade de sucesso do tratamento com radiação. Winters recomenda que os pacientes submetidos à radioterapia passem algumas semanas ou meses preparando seu corpo para a radiação, concentrando-se na redução do fator de crescimento de insulina (IGF), da hemoglobina A1C e da glicose.

A cetose nutricional no tratamento do câncer

Assim como eu, Winters enxerga a cetose nutricional (dieta cetogênica) como uma forma de obter flexibilidade metabólica. Outras formas incluem o jejum intermitente, a suplementação exógena de cetonas, determinadas intervenções farmacológicas ou padrões de alimentação que restrinjam as calorias.

"Todos fomos naturalmente feitos para ser motores híbridos", diz ela. “A dieta low-carb, na verdade, era a dieta normal até cerca de 1850, quando começamos a processar açúcar, farinha e sal e passamos a colocá-los em tudo. Todos somos, em essência, pessoas que comem pouco carboidrato. Não é questão de modismo. É assim de qualquer forma...

Em última análise, nós aprimoramos as terapias a que nos submetemos quando estamos em um estado metabolicamente flexível ou temos cetonas em nosso sistema, especialmente quando passamos por quimioterapia, radioterapia, cirurgia, terapias direcionadas e terapias de bloqueio de hormônios.

É como se, de alguma forma, essas cetonas fossem como um cavalo de Troia que leva essa terapia tóxica diretamente até o alvo. E oferece algum apoio para as células saudáveis que estão em volta. Vejo isso como um instrumento terapêutico. Nunca como um tratamento em si.

A meu ver, esse é um fato importante que merece ser divulgado. Também é preciso perceber que existem várias maneiras de melhorar os resultados. Mas essa é uma das maneiras mais significativas de atingir vários alvos de uma só vez e, de fato, diminuir muitos efeitos colaterais…”

Tratando a caquexia

Quando um paciente com câncer tem caquexia (perda de peso e massa muscular), é essencial fazer exames. Como observou Winters, “ser magro não mata ninguém, mas ser caquético, sim”, e não tem como dizer se alguém é caquético ou não só de olhar.

“Nós fazemos isso quando começamos a ver o peso despencando enquanto a pessoa está fazendo quimioterapia. Os médicos entram em pânico. A equipe médica começa a dizer: "Aconteça o que acontecer, não perca mais peso. Coma, coma, coma, coma, coma". No entanto, a caquexia é um processo inflamatório estimulado por citocinas. É muito impactado pelo açúcar. É um desequilíbrio metabólico e inflamatório.

A pior coisa que você pode dar a um paciente com caquexia é a nutrição parenteral total (NPT). Na verdade, em muitas alas de câncer, a NPT é basicamente conhecida como o começo do fim. Quando você olha para os primeiros ingredientes de todos eles… é altamente sintético, altamente tóxico, quatro tipos diferentes de açúcares… glúten e todos os tipos de coisas que estimulam o processo inflamatório ainda mais.”