Aditivos de nanopartículas nos alimentos

tigela de cereais

Resumo da matéria -

  • Os aditivos de nanopartículas nos alimentos podem afetar negativamente o trato digestivo, fígado, rins, coração e cérebro. Eles também têm sido associados a inflamação e podem estimular o desenvolvimento de doenças
  • Devido à crescente preocupação com a segurança alimentar, a França recentemente proibiu a nanopartículas de dióxido de titânio em alimentos a partir de 2020. Já nos EUA e no Brasil, não há regulamentações sobre nanopartículas em alimentos
  • Os aditivos são usados no processamento de alimentos para melhorar o sabor, textura e aparência, desacelerar a deterioração, evitar que gorduras e óleos fiquem rançosos, evitar o escurecimento e fortificar a comida com vitaminas e minerais sintéticos para substituir os naturais que foram perdidos durante o processamento

Por Dr. Mercola

Alimentos processados são o oposto de uma dieta saudável por várias razões, sendo a adição de substâncias químicas não regulamentadas e muitas vezes não reveladas uma das mais significativas. Além de conservantes, emulsificantes, corantes e aromatizantes que geralmente são listados, há muitos outros componentes que não precisam ser divulgados, pois são considerados “auxiliares ao processamento”.

Os aditivos são usados no processamento de alimentos para retardar a deterioração, evitar que as gorduras e óleos fiquem rançosos, evitar o escurecimento e fortificar ou enriquecer a comida com vitaminas e minerais sintéticos para substituir os naturais que foram perdidos durante o processamento.

Eles também são adicionados para melhorar o sabor, a textura e a aparência, já que, sem ajuda artificial, muitos alimentos processados seriam tão sem graça quanto papelão. Mas apesar do uso generalizado, muitos aditivos alimentares possuem uma segurança duvidosa, ou nenhuma segurança, já que apenas uma pequena porcentagem já foi devidamente testada.

Um desses grupos de aditivos alimentares em grande parte não regulamentados no Brasil são as nanopartículas que estão rapidamente ganhando apoio na indústria de alimentos. Testes do Instituto Adolphe Merkle da Universidade de Fribourg e do Departamento Federal de Segurança Alimentar e Veterinária da Suíça encontraram nanopartículas de dióxido de titânio, óxido de silício e talco em 27% dos produtos alimentícios testados.

“Esse conjunto de ingredientes, projetado em escala quase atômica, pode ter efeitos indesejados nas células e órgãos, particularmente no trato digestivo.

Há também indicações de que as nanopartículas podem entrar na corrente sanguínea e se acumular em outras partes do corpo. Eles têm sido associados a inflamações, danos no fígado e nos rins e até mesmo danos cardíacos e cerebrais”, relata o jornal The Guardian em um artigo recente.

Nanopartículas — Um perigo à saúde oculto nos alimentos processados?

As nanopartículas ganharam popularidade na indústria alimentícia por sua capacidade de “melhorar” a textura, aparência e sabor dos alimentos. O dióxido de silício, por exemplo, é adicionado a muitas especiarias e sais como um agente anti-aglutinante, o que significa que permite que os temperos fluam mais facilmente e não se grudem.

O dióxido de titânio (chamado de E171 na União Europeia) é um agente branqueador usado em uma grande variedade de produtos, desde chocolates e chicletes até em produtos assados, no leite em pó e na maionese. Mas embora o dióxido de titânio tenha sido considerado inerte há muito tempo, as preocupações com as nanopartículas de dióxido de titânio têm sido levantadas durante anos.

De acordo com o The Guardian, “o pequeno aditivo de metal demonstrou acumular-se nos tecidos do fígado, baço, rins e pulmões de ratos quando ingerido, além de danificar o fígado e o músculo cardíaco”.

Christine Ogilvie Hendren, diretora executiva do Centro de Implicações Ambientais de Nanotecnologia da Duke University, disse ao The Guardian que ela lava “todos os meus alimentos como uma louca”, em um esforço para remover as nanopartículas da superfície.

Christine K. Payne, professora associada de engenharia mecânica e ciência dos materiais da Duke University, acrescentou: “Pode haver problemas para crianças pequenas quando se tem uma massa corpórea pequena e muita ingestão desses [...] produtos".

França bane nanopartículas de dióxido de titânio

Devido à crescente preocupação com a segurança alimentar, a França recentemente proibiu a nanopartículas de dióxido de titânio em alimentos a partir de 2020. Segundo a Reuters, “a agência de saúde e segurança do país disse que não havia provas suficientes para garantir a segurança da substância”.

Em sua revisão de segurança “O Nano é Seguro em Alimentos?” publicado em novembro de 2017, David Julian McClements da University of Massachusetts discute o efeito das nanopartículas no trato gastrointestinal humano, bem como alguns dos potenciais mecanismos de toxicidade de várias nanopartículas do setor alimentício, concluindo que “há evidências de que alguns deles podem ter efeitos prejudiciais”.

Nem todas as nanopartículas são adicionadas diretamente ao próprio alimento. Elas também são usadas em embalagens e podem contaminar os alimentos. Segundo McClements, essas nanopartículas também podem representar riscos à saúde. A nanopartícula de prata, por exemplo, comumente usada como agente antimicrobiano na embalagem de alimentos, pode matar as bactérias benéficas do intestino e alterar seu microbioma intestinal se ingerida.

Nanopartículas de dióxido de titânio estão associadas a inflamações no intestino

Uma pesquisa publicada em maio de 2019 descobriu que a nanopartícula de dióxido de titânio administrada na água potável impactou a microbiota intestinal de camundongos de uma forma que pode desencadear doenças intestinais inflamatórias e/ou câncer colorretal. Conforme explicado pelos autores:

“Embora o TiO2 [nanopartícula de dióxido de titânio] tenha um impacto mínimo na composição da microbiota no intestino delgado e no cólon, descobrimos que o tratamento com TiO2 pode alterar a liberação de metabólitos bacterianos in vivo e afetar a distribuição espacial de bactérias comensais in vitro ao promover a formação de biofilme.

Também encontramos uma redução da expressão do gene da mucina do cólon 2, um componente chave da camada de muco intestinal, e um aumento da expressão do gene da beta defensina, indicando que o TiO2 impacta significativamente a homeostase intestinal.

Essas alterações foram associadas à inflamação do cólon, como mostrado pela diminuição do comprimento da cripta, infiltração de células CD8+T, aumento de macrófagos e aumento da expressão de citocinas inflamatórias.

Essas descobertas mostram coletivamente que o TiO2 não é inerte, mas sim prejudica a homeostase do intestino, o que pode, por sua vez, estimular desenvolvimento de doenças na pessoa”.

O professor associado Wojciech Chrzanowski, especialista em nanotoxicologia da Escola de Farmácia da Universidade de Sydney e do Instituto Sydney Nano, disse ao Science Daily:

“Há evidências crescentes de que a exposição contínua a nanopartículas tem um impacto sobre a composição da microbiota intestinal, e como a microbiota intestinal é uma guardiã da nossa saúde, quaisquer alterações em sua função influenciam na saúde geral.

Este estudo apresenta evidências fundamentais de que o consumo de alimentos contendo o aditivo alimentar E171 (dióxido de titânio) afeta a microbiota intestinal, bem como a inflamação no intestino, o que poderia levar a doenças como doenças inflamatórias intestinais e câncer colorretal.”

Nanopartículas de dióxido de titânio alteram a homeostase intestinal

Outro estudo recente publicado na revista Environmental Science: Nano procurou determinar se a nanopartícula de dióxido de titânio poderia afetar a função da barreira intestinal, cujo objetivo é proteger seu corpo de ameaças externas e, se sim, como poderia afetar.

Para fazer isso, os pesquisadores cultivaram ao mesmo tempo dois tipos de células colorretais para “reconstituir um epitélio intestinal secretor de muco in vitro", que foi então exposto a três agentes diferentes: nanopartículas de dióxido de titânio, anatase puro (uma forma mineral de dióxido de titânio) ou uma mistura de anatase e rutilo (outra forma mineral de dióxido de titânio).

Todas as nanopartículas se ligam a bactérias intestinais

De acordo com um estudo publicado no ano passado, todas as nanopartículas em alimentos têm a capacidade de se ligar a todos os tipos de bactérias intestinais, embora em graus variados, alterando assim o ciclo de vida e a atividade das bactérias dentro do corpo.

Embora os autores sugiram que essas características podem tornar as nanopartículas utilizáveis na medicina - elas poderiam potencialmente ser usadas para levar o microbioma intestinal a uma situação positiva, por exemplo - elas também podem causar problemas.

Testes de segurança ficam aquém da identificação de novos ingredientes

Como observado em um artigo de 2018 na revista Nanotechnology Reviews, “há um desequilíbrio entre o aumento da pesquisa para identificar novas aplicações de nanopartículas e sua segurança...”

Os autores ressaltam ainda que “tem sido observado que as pessoas percebem os riscos da nanotecnologia de forma similar aos alimentos geneticamente modificados, reduzindo assim o consumo de tais alimentos”, e que enquanto “existem numerosos estudos sobre o uso da nanotecnologia em alimentos e o efeito de nanopartículas na saúde humana”, poucas análises sobre os dados disponíveis foram realizadas.

Na tentativa de preencher esse vazio, os autores “apresentam e analisam diferentes estudos sobre o uso e a segurança de nanopartículas em alimentos”. Este é um bom artigo para ser lido se você quiser ter uma visão abrangente de seu uso e potenciais toxicidades.

De modo problemático, “após anos de pesquisa, chegamos à conclusão de que os materiais em escala nanométrica apresentam propriedades e comportamentos inesperados e drasticamente diferentes”, afirmam os autores, acrescentando que “esse comportamento inesperado é o que nos leva à preocupação com a sua toxicidade”.

Segundo os autores, vários fatores podem afetar a toxicidade das nanopartículas, incluindo dosagem, reatividade química, distribuição de carga, tamanho e forma da partícula e área de superfície da partícula. Outros fatores que influenciam incluem o fato de que “a interação entre a nanopartícula e a membrana biológica pode ser tanto física quanto química”.

As interações físicas entre uma nanopartícula e uma membrana biológica tipicamente desencadeiam uma “ruptura de membranas e sua atividade, enovelamento de proteínas, agregação e vários processos de transporte”, enquanto interações químicas resultam principalmente em “geração de espécies reativas de oxigênio (ROS) e dano oxidativo”.

Múltiplas formas de exposição complicam ainda mais a situação quando se tenta identificar riscos para a saúde. Da mesma forma, a rota que uma nanopartícula utiliza para entrar em qualquer célula pode também influenciar seu potencial tóxico para a célula, já que diferentes rotas de entrada geram maior ou menor estresse.

A ANVISA e o FDA não regulamentam as nanopartículas em alimentos

Embora a União Europeia tenha exigido que nano ingredientes projetados sejam claramente indicados no rótulo dos alimentos, tais regras não existem no Brasil. Já nos Estados Unidos, quando perguntada sobre um comentário, a Food and Drug Administration (FDA) disse ao The Guardian que “não há provisões específicas no Ato Federal de Alimentos, Fármacos e Cosméticos que lidem com nanomateriais em alimentos”.

Muita gente não percebe que os aditivos alimentares não precisam automaticamente obter aprovação pré-comercialização pelo FDA, ou que os itens que se enquadram na designação “geralmente reconhecidos como seguros” (GRAS) estão isentos do processo de aprovação.

O problema com o programa GRAS é que uma empresa pode simplesmente contratar uma parte interessada na indústria para avaliar o produto químico, e, se esse indivíduo determinar que o produto químico atende aos padrões federais de segurança, ele pode ser considerado GRAS sem qualquer envolvimento da FDA. Nenhuma avaliação objetiva e independente de terceiras partes é necessária. Como resultado, hoje em dia temos muitos produtos químicos classificados como GRAS em nossos alimentos que nunca existiram neles antes.

Quando combinados, o perigo dos aditivos nos alimentos aumenta

Adicionando ainda mais complexidade a um quadro geral já complicado está a pesquisa que mostra que quando você consome vários aditivos alimentares combinados, os efeitos na saúde podem ser mais sérios do que se imaginava anteriormente.

Em 2015, o “maior projeto de pesquisa sobre os efeitos dos coquetéis químicos nos alimentos” da Dinamarca, liderado pelo Instituto Nacional de Alimentos, concluiu que mesmo pequenas quantidades de substâncias químicas podem amplificar os efeitos adversos um do outro quando combinados.

Evite alimentos processados para não incorrer em possíveis perigos

A indústria alimentícia alterou drasticamente nossa dieta e essas mudanças afetam diretamente o seu peso e a sua saúde em geral. Uma grande parte do problema vem dos processos usados para fabricar os alimentos, pois o processamento de alimentos destrói nutrientes valiosos.

Ele também remove muito do sabor original do alimento e, para resolver essas deficiências, são usados nutrientes sintéticos, aromatizantes, corantes e outros aditivos. Muitos desses produtos químicos adicionados podem causar danos metabólicos, já que seu corpo não sabe exatamente o que fazer com eles.

Outro fator que faz dos alimentos processados o oposto de uma dieta saudável é o uso excessivo de açúcar refinado e de frutose processada. Praticamente todos os alimentos processados contêm adição de açúcar - incluindo fórmulas infantis comerciais e alimentos para bebês. A maioria dos alimentos processados também é carregada com ingredientes geneticamente modificados e/ou com glifosato, o herbicida mais utilizado na história da agricultura.