A deficiência de zinco está associada à sensibilidade ao glúten

zinco

Resumo da matéria -

  • Estudos mostram que, embora vários micronutrientes se mostrassem baixos em pacientes recém diagnosticados com doença celíaca, a deficiência de zinco foi muito maior. Entre 309 pessoas, 59,4% dos pacientes apresentaram deficiência de zinco
  • Os sintomas clássicos da sensibilidade ao glúten incluem diarreia, fadiga, anemia, perda de peso e outros problemas
  • A doença celíaca, também conhecida como enteropatia sensível ao glúten, é o resultado de uma reação imunológica que ocorre quando pessoas geneticamente suscetíveis ingerem glúten, uma proteína encontrada no trigo, cevada e centeio
  • A sensibilidade ao glúten ataca a mucosa do intestino, levando à inflamação. Com o tempo, a inflamação desgasta pequenos nódulos chamados vilosidades no revestimento do intestino delgado, uma condição conhecida como atrofia das vilosidades
  • No momento em que as pessoas são diagnosticadas com doença celíaca, deve ser feita uma avaliação de micronutrientes, especialmente zinco, vitamina D, ferro, ácido fólico, vitamina B12 e cobre, já que esses parecem andar de mãos dadas com a doença

Por Dr. Mercola

Os cientistas têm pesquisado vários aspectos da doença celíaca há décadas, mas nos últimos anos, estudos revelaram que adultos com deficiências específicas de vitaminas e minerais, especialmente baixos níveis de zinco, estão associados à intolerância ao glúten e à forma mais grave conhecida como doença celíaca.

De acordo com um estudo publicado na revista Mayo Clinic Proceedings, a doença celíaca, também conhecida como enteropatia sensível ao glúten, é o resultado de uma reação imune que ocorre quando pessoas geneticamente suscetíveis ingerem glúten, uma proteína encontrada no trigo, cevada, aveia e centeio.

Uma em cada 141 pessoas nos EUA supostamente sofre dessa condição, e sua prevalência aumentou nos últimos 50 anos. Os sintomas clássicos geralmente incluem diarréia, fadiga, anemia, perda de peso e outros problemas. Uma das primeiras orientações que os médicos dão a seus pacientes é tentar uma dieta livre de glúten.

Os pesquisadores do artigo do periódico Mayo Clinic estudaram 309 homens e mulheres entre 1º de janeiro de 2000 e 21 de outubro de 2014, com uma idade média de pouco mais de 46 anos, com 15,1 anos para mais ou para menos. Todos foram testados e recentemente diagnosticados com doença celíaca.

O estudo apresentado mostrou que, entre os pacientes celíacos, idade, sexo e índice de massa corporal (IMC) e outros fatores foram considerados juntamente com sintomas individuais, mas a perda de peso foi um fator em apenas 25,2% dos casos.

Mas, o mais importante, é que, embora os pacientes apresentassem níveis baixos de vários dos micronutrientes observados, a deficiência de zinco foi maior em todos eles. De fato, 59,4% dos pacientes apresentavam deficiências de zinco e, em graus diferentes, deficiências nos outros nutrientes, incluindo o cobre.

Dr. Adam Bledsoe, um gastroenterologista do campus de Rochester da Mayo Clinic e principal autor do estudo, observou em um comunicado da Mayo Clinic:

"Foi um pouco surpreendente ver a frequência de deficiências de micronutrientes nesse grupo de pacientes recém-diagnosticados, uma vez que apresentavam menos sintomas de má absorção...

Nosso estudo sugere que a apresentação da doença celíaca mudou da perda de peso clássica, anemia e diarreia, com um número crescente de pacientes diagnosticados com sintomas não-clássicos."

Os autores concluíram que, no momento em que as pessoas são diagnosticadas com a doença celíaca, deve ser feita uma avaliação de micronutrientes, especialmente vitamina D, ferro, ácido fólico e vitamina B12 (cobalamina), pois parecem andar de mãos dadas com a doença.

Questões relacionadas à intolerância ao glúten

Os cientistas ficaram intrigados com os sintomas, como menos sinais de má absorção do que a prevalência em pacientes celíacos no passado. Em média, os participantes também se mostraram acima do peso, em vez de exibirem o baixo peso corporal e a perda de peso comumente caracterizados como um sintoma.

A sensibilidade ao glúten ataca a mucosa do intestino, levando à inflamação. Com o tempo, a inflamação desgasta pequenos nódulos chamados vilosidades no revestimento do intestino delgado, uma condição conhecida como atrofia das vilosidades, que impede a absorção de zinco, assim como de outros nutrientes cruciais para a saúde. A Very Well Health detalha as implicações:

"A atrofia vilosa ocorre quando as vilosidades intestinais — os tentáculos microscópicos, semelhantes a dedos, que revestem a parede do intestino delgado — se erodem, deixando uma superfície praticamente plana. Como suas vilosidades intestinais são responsáveis por absorver os nutrientes contidos nos alimentos que você ingere, perdê-los para a atrofia das vilosidades pode resultar em graves deficiências nutricionais."

No entanto, nem todos os casos de atrofia das vilosidades se deriva da doença celíaca nem da alergia ao trigo. Um distúrbio conhecido como sensibilidade ao glúten não celíaca (NCGS), que supostamente afeta cerca de 6% das pessoas nos EUA, às vezes, envolve sintomas semelhantes, como a Síndrome do intestino irritável (IBS) ou problemas resultantes da bactéria H. pylori.

No entanto, a doença celíaca pode levar a outros distúrbios e doenças graves, como infertilidade, distúrbios neurológicos, outras doenças auto-imunes, redução da densidade óssea e até mesmo câncer. Um estudo de 2016 observa:

"O interesse de pacientes e médicos na doença celíaca está crescendo em todo o mundo, mas sem um aumento correspondente na conscientização da doença. Muitos pacientes são diagnosticados como celíacos, mesmo sem concluir todo o processo de diagnóstico, com consequente risco de erros de diagnóstico e atraso na avaliação de outras doenças".

É importante salientar que não é só o trigo, o centeio, a aveia e a cevada que podem conter glúten. Há muitos alimentos processados que podem conter glúten sem você jamais os associasse a esses ou outros grãos, incluindo amidos, aromatizantes, proteína vegetal hidrolisada (HVP) e proteína vegetal texturizada (TVP).

Estudos adicionais sobre a sensibilidade ao glúten

O periódico Advances in Nutrition retratou o primeiro caso de deficiência de zinco nos EUA em 1969. O paciente de 21 anos sofria de hipogamaglobulinemia (que impede o sistema imunológico de produzir anticorpos suficientes), hipogonadismo (uma deficiência de testosterona), giardíase (uma doença diarreica de um parasita microscópico), forteiloidose (uma infecção por parasitas nematoides), esquistossomíase ou febre do caracol (causada por vermes parasitas) e nanismo.

O tratamento com suplementos de zinco supostamente melhorou seu crescimento e desenvolvimento. No mesmo estudo, no caso de uma menina de 2 anos de idade com acrodermatite enteropática grave, também conhecida como síndrome primária de malabsorção de zinco, ela foi medicada contra os parasitas e submetida a uma "dieta sintética deficiente em lactose", mas não melhorou.

Ao descobrir que sua concentração de zinco no soro era extremamente baixa, deram-lhe zinco:

"Curiosamente, as lesões cutâneas e os sintomas gastrintestinais foram eliminados após a suplementação com zinco. Quando o zinco foi inadvertidamente omitido do regime da criança, a criança sofreu uma recaída; no entanto, ela novamente respondeu completamente à terapia oral com zinco. Os autores atribuíram a deficiência de zinco à dieta sintética a qual a paciente foi submetida.

Os autores, no entanto, logo perceberam que o zinco pode ter sido fundamental para a patogênese desse distúrbio hereditário raro, e que a melhora clínica refletia a correção do status de zinco na paciente. Essa observação original foi rapidamente confirmada em outros pacientes com acrodermatite enteropática (EA) em todo o mundo".

Os autores do estudo destacaram que as deficiências de cobre tinham o histórico de se coincidirem com sintomas neurológicos. Em outro estudo da Mayo Clinic em 2014, nove dos 44 pacientes com doença celíaca também apresentavam sintomas neurológicos, levando os pesquisadores a atribuir a doença celíaca como a causa. As descobertas são consistentes com estudos semelhantes em todo o mundo, de acordo com o estudo principal:

  • Um estudo realizado na Itália com mais de 1.000 pacientes celíacos — adultos e crianças com mais de 14 anos de idade — descobriu que 50% deles tinham escassez de ferritina, uma proteína das células sanguíneas que contém ferro, e 73,8 tinham deficiência de folato, "correlacionando esses resultados com o grau de atrofia vilosa".
  • Na Dinamarca, outro estudo com 93 adultos com doença celíaca descobriu que 30% dos pacientes eram anêmicos, 40% tinham baixo teor de ferro, 17% tinham deficiência de vitamina B12, 33% tinham baixo teor de vitamina D, 20% tinham baixos níveis de folato e 51 tinham deficiência sérica de zinco.
  • Entre os 37 adultos recém-diagnosticados que participaram de um estudo finlandês, 32% dos pacientes eram anêmicos, 37% tinham deficiência de folato de eritrócitos (também chamado de folato de hemácias), 16,2% apresentavam deficiência de vitamina B12 e 35% de ferritina.

Sobre o zinco: você precisa, mas seu corpo não consegue armazená-lo

O zinco é o segundo mineral mais abundante em seu corpo. Por mais importante que o zinco seja, seu corpo não consegue armazená-lo e, por isso, ele deve ser consumido diariamente. É essencial para o bom funcionamento de mais de 100 enzimas no seu corpo, relacionadas com o desenvolvimento do cérebro, dos ossos, dos rins, do fígado, do pâncreas e dos músculos.

Além de sustentar o sistema imunológico, o zinco é importante para curar feridas e muitas outras funções, incluindo "o metabolismo energético, a produção de hemoglobina, o transporte de dióxido de carbono, a função das prostaglandinas, a síntese de colágeno, a síntese de proteínas e o metabolismo da vitamina A".

Vários sintomas apontam para uma condição de deficiência de zinco, incluindo:

Energia baixa

Nervosismo

Depressão

Paladar e olfato prejudicados

Problemas de ajuste à luz

Erupções cutâneas, acne

Manchas brancas nas unhas

Queda de cabelo/calvície

Cicatrização lenta

Infecções recorrentes

Infertilidade masculina

Anemia

Os Institutos Nacionais de Saúde listam 22 das maiores fontes de zinco provenientes de alimentos, com 85 gramas de ostras cozidas fornecendo, de longe, a maior quantidade: 74 miligramas ou 493% da ingestão diária recomendada (IDR). Nas mesmas quantidades, um assado de carne bovina oferece 47% da IDR; e os caranguejos do Alasca, 43% da IDR.

No entanto, se você tiver muita carência de zinco, a suplementação pode ser um recurso mais sábio até que seus estoques subam para um nível sustentável. A deficiência de zinco é um problema mundial, especialmente nos países em desenvolvimento, principalmente porque muitas pessoas geralmente ingerem menos de 10 miligramas (mg) por dia, quando as necessidades de zinco de mulheres adultas é de 8 a 12 mg por dia, dependendo da idade e de estar grávida ou amamentando. Para os homens, são 11 mg por dia.

Um estudo afirma que bebês, crianças e adolescentes, bem como mulheres grávidas e lactantes, têm maiores necessidades de zinco em comparação à maioria dos adultos, o que torna a deficiência de zinco mais um risco. Além disso, a "deficiência de zinco durante períodos de crescimento resulta em falha de crescimento".

Se estiver com deficiência de zinco, recupere-a rapidamente

Embora tenha havido inúmeros casos de erro de diagnóstico para sensibilidade ao glúten, é evidente que, em caso de uma deficiência de zinco, é essencial aumentar seus níveis rapidamente para evitar vários dos problemas físicos associados à condição. Mesmo uma leve deficiência de zinco pode alterar seriamente o seu sistema imunológico e, com ele, todo o seu corpo.

Os vegetarianos estão particularmente em risco devido à ausência de carne, que oferece quantidades elevadas de zinco biodisponível. Além disso, os vegetarianos geralmente consomem muito feijão e grãos integrais, e ambos aumentam as lectinas enquanto se vinculam ao zinco e diminuem sua absorção.

Como poucas plantas contêm zinco e a absorção é geralmente limitada, os vegetarianos talvez precisem tomar uma vez e meia a quantidade sugerida para adultos. Um estudo observa que "a exigência de zinco na dieta pode ser até 50% maior para os vegetarianos, cujos principais alimentos são grãos e vegetais". Além do mais:

"Se você foi recém-diagnosticado com doença celíaca, provavelmente precisará de uma suplementação maior de zinco até que seus níveis aumentem e você volta a absorver melhor os nutrientes. Trabalhe com seu nutricionista paradeterminar quanto você pode precisar."