Por Dr. Mercola
Embora a síndrome do intestino irritável (SII) e a doença inflamatória intestinal (DII) tenham nomes parecidos, elas são doenças distintas, com poucos sintomas em comum. DII é um termo genérico, sob o qual existem várias doenças gastrointestinais, incluindo a colite ulcerativa e a doença de Crohn.
A gravidade da DII pode depender de marcadores genéticos e do efeito dos micróbios no seu sistema imunológico. O sintoma mais comum da DII e da SII é a diarreia. Quem sofre de DII também pode apresentar anemia, febre, fezes com sangue e perda extrema de peso.
A SII pode causar constipação, diarreia ou ambos. Algumas pessoas reclamam de gases ou inchaço abdominal, e 70% dos pacientes diagnosticados com SII relatam alguma intoxicação alimentar grave no passado.
A intensidade e a gravidade podem variar e geralmente são induzidas por alimentos específicos, o tamanho de uma refeição ou até mesmo o estresse. Atualmente, as metodologias de tratamento se concentram na alimentação, nos hábitos de vida e na redução do estresse, uma vez que seus sintomas frequentemente atrapalham a vida e as interações sociais.
Todos os anos, a SII é responsável por até 12% do número total de procura por tratamentos médicos primários, e estima-se que seu custo à sociedade seja de, inicialmente, US$ 21 bilhões, incluindo despesas médicas diretas e indiretas, além da perda de produtividade e redução do desempenho no trabalho.
Cortar determinados alimentos da dieta pode reduzir seus sintomas
Os sintomas da SII incluem depressão e ansiedade. Muitos percebem que esses sintomas são reduzidos ou evitados quando alguns alimentos específicos são cortados da dieta. A maneira mais fácil de descobrir quais alimentos devem ser cortados da sua alimentação é através de uma dieta da eliminação.
Ela consiste em excluir alimentos que afetam negativamente o sistema gastrointestinal. Depois que os sintomas desaparecerem, é seguro começar a reinserir os alimentos lentamente, um grupo de cada vez. Se os sintomas persistirem, elimine o grupo de alimentos que acabou de ser reinserido. Tente reinserir apenas um grupo por semana para ficar claro o que está causando o problema.
É melhor começar pelos alimentos que são suspeitos conhecidos, como os laticínios e o glúten. No entanto, existem vários alimentos que desencadeiam os sintomas, sem que você nem imagine. Cada um dos culpados tem carboidratos difíceis de digerir e que fermentam rapidamente no intestino, produzindo CO2.
Os quatro grupos de carboidratos que atendem a esses critérios são os oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis fermentáveis, mais conhecidos como FODMAPs.
Esses alimentos não causam problemas em todo mundo, mas criam problemas naqueles que têm uma intolerância que pode estar relacionada a um ambiente microbiano diferente em seu intestino. A lista de alimentos FODMAPs de cadeia curta que você pode não ter considerado inclui:
- Oligosaccharides — Este grupo contém galacto-oligossacarídeos (GOS) e frutanos. Os alimentos que contêm GOS incluem lentilha, feijão, grão de bico e soja, enquanto os frutanos estão presentes no brócolis, aspargos, alho e cebola, bem como trigo e centeio.
- Dissacarídeos — Alimentos que contêm lactose, como aqueles feitos com leite de vaca, fazem parte desse grupo; estes incluem queijo (incluindo mascarpone), iogurte, sorvete e creme de leite, para citar alguns.
- Monossacarídeos — São alimentos que contêm frutose, como frutas, mel e xarope de milho com alto teor de frutose.
- Polióis — Maçã, damasco, pera, pêssego e mirtilo contêm polióis, além de produtos feitos com adoçantes encontrados em chicletes, pastilhas para tosse e balas de hortelã. Às vezes, são listados como xilitol, isomalte, sorbitol e manitol.
Nem todos os alimentos ricos em FODMAP vão desencadear sintomas. Reinserir alguns na alimentação a tornará menos restritiva e acrescentará uma gama maior de nutrientes provenientes de alimentos in natura, enquanto você observa os sintomas recorrentes. Muitos que experimentaram essa dieta acabam aderindo a ela, uma vez que melhora a qualidade de vida. De acordo com a Harvard Publishing, alguns dos alimentos conhecidos por desencadear os sintomas da SII se encontram na lista do FODMAP, incluindo:
Maçã |
Brócolis |
Couve-flor |
Repolho |
Feijão |
Alimentos gordurosos |
Cafeína |
Chocolate |
Nozes |
Produtos com trigo e centeio |
Laticínios |
Margarina |
Bebidas gaseificadas |
Sucos de laranja e toranja |
Produtos adoçados com frutose ou sorbitol |
A disfunção intestinal e a inflamação em todo o sistema
Pesquisadores descobriram uma correlação entre a inflamação intestinal e problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade, especialmente naqueles que sofrem de SII. Os autores de um estudo encontraram uma alta prevalência de ansiedade e depressão naqueles com SII. Como observado em outro artigo, pesquisadores acreditam que alterações no eixo intestino-cérebro podem estar envolvidas na relação entre a SII e a depressão.
Resultados de uma meta-análise demonstraram que "os níveis de depressão e ansiedade são mais altos nos pacientes com SII do que nos grupos de controle saudáveis, independentemente do subtipo de SII". A disfunção intestinal também está associada à inflamação em todo o sistema, afetando mais do que apenas a saúde mental.
O aumento no número de citocinas inflamatórias, liberadas em todo o corpo com a inflamação intestinal, pode afetar vários aspectos da saúde. Elas estão envolvidos em um espectro de doenças auto-imunes, incluindo artrite reumatoide, lúpus, esclerose múltipla e psoríase. As células envolvidas no processo e desenvolvimento da aterosclerose são ativadas pelas citocinas.
No meu artigo "Intestino saudável, você saudável: um plano personalizado para transformar sua saúde", o Dr. Michael Ruscio, autor e investigador clínico especializado em saúde gastrointestinal (GI), explica o desenvolvimento da conexão entre o intestino e a inflamação em todo o sistema.
Pense no intestino como um tubo que atravessa o interior do seu corpo e que começa na sua boca. Isso pode ajudá-lo a visualizar como o sistema gastrointestinal é fundamental para todo o corpo.
Como a maior densidade de células imunológicas do corpo está localizada no intestino delgado, e o intestino delgado é uma barreira seletiva entre o mundo externo e o interior do corpo, quando essa barreira funciona mal, você pode apresentar sintomas de inflamação.
De acordo com Ruscio, você pode ter "reações neurológicas, reumatológicas ou mesmo dermatológicas a alimentos que não são compatíveis com seu intestino, por causa desse impacto inflamatório de ação muito ampla".
A intolerância alimentar à histamina pode desencadear sintomas
Outro gatilho para a disfunção intestinal são os alimentos ricos em histamina. A histamina é um neurotransmissor como a serotonina, epinefrina e dopamina. Sempre existe uma pequena quantidade circulando por todo o corpo, ajudando a regular o sono e as funções fisiológicas do intestino.
Seu corpo equilibra a histamina ingerida através da diamina oxidase (DAO), uma enzima qua a decompõe no intestino. Se você tem uma deficiência de DAO, a histamina pode acabar se acumulando no corpo. A histamina também desempenha um papel na secreção de ácido no estômago. Seu excesso podem resultar em tonturas, dores de cabeça, disfunção do sono, pressão alta e fadiga.
Pesquisadores acreditam que a grande variedade de sintomas pode mascarar a extensão da intolerância à histamina na população em geral. Os alimentos ricos em histamina e os que a liberam incluem:
Álcool |
Chucrute |
Espinafre |
Tomate |
Berinjela |
Ketchup |
Frutas cítricas |
Salame |
Champanhe |
Vinagre branco |
Peixe congelado ou defumado |
Alimentos fermentados, como queijo envelhecido, carne curada e leveduras |
Personalize um plano para curar seu intestino
Seu primeiro passo para personalizar um plano é eliminar todos os alimentos FODMAP por duas a seis semanas, ou pelo menos até que a maioria dos seus sintomas tenha se resolvido. Como não é provável que todos os alimentos FODMAP estejam provocando os sintomas, em seguida, é hora de reinserir um grupo do FODMAP à sua alimentação.
Ao final do teste, você deve ser capaz de identificar os grupos que desencadeiam os sintomas mais graves e aqueles que você pode comer em pequenas quantidades. Seu objetivo é testar os alimentos lenta e gradativamente, para conhecer seus limites, e depois testar mais estratégias para reduzir os sintomas da SII. O processo de cortar alimentos da sua alimentação pode ser exaustivo, mas existem algumas coisas que você pode tentar para facilitar a jornada:
- Mantenha um diário alimentar e registre seus sintomas ao longo do processo, para não depender apenas da memória.
- Reúna receitas antes de começar a cortar os alimentos, para que você tenha algumas opções de refeição, sem precisar gastar energia depois do trabalho tentando pensar no que fazer para comer.
- Mantenha alimentos permitidos do FODMAP nas casas das pessoas com quem você passa muito tempo, como seus pais ou parceiro. Inclua lanches e ingredientes para uma ou duas refeições. Crie lanches saudáveis para levar com você ou manter no trabalho.
- Lembre-se de que, embora no início possa ser quase impossível comer fora, o processo ficará mais fácil e você começará a se sentir melhor, o que é uma poderosa motivação.