Por Dr. Mercola
O resveratrol, um fitonutriente encontrado naturalmente na uva, vinho, amendoim, cacau e muitas espécies de frutas silvestres, incluindo mirtilos, cranberries e ligonberries, oferece uma variedade impressionante de benefícios.
Estudos mostram que o resveratrol possui propriedades anti-inflamatórias, cardioprotetoras, antioxidantes, antienvelhecimento e quimiopreventivas. Seu uso terapêutico foi explorado na doença de Alzheimer, incluindo o acúmulo de placas, doença de Parkinson e derrame, demência vascular, depressão e inflamação cerebral.
O uso do resveratrol foi estudado para a melhora da aprendizagem, do humor e da memória. Foi comprovado que ele tem efeitos positivos sobre o estresse ambiental — incluindo ataques patogênicos, infecções fúngicas e irradiação UV — para lesões e para melhorada da glicemia em quem sofre de diabetes mellitus tipo 2.
Agora, estudos estão revelando que o resveratrol também pode fortalecer a imunidade. A ação imunomoduladora e imunorreguladora do resveratrol podem ser úteis no tratamento de doenças crônicas como obesidade, esteatose hepática, doença de Crohn, artrite reumatoide e câncer, de acordo com uma pesquisa do Nutrients.
As propriedades do resveratrol para o sistema imunológico
O resveratrol previne doenças crônicas ou o avanço de doenças crônicas através de várias funções imunológicas, de acordo com uma pesquisa do Nutrients:
"...o resveratrol regula a imunidade, interferindo na regulação das células imunológicas, na síntese de citocinas pró-inflamatórias e na expressão gênica... e tem como alvo a sirtuína, a adenosina monofosfato-quinase, o fator nuclear κB, as citocinas inflamatórias, as enzimas antioxidantes, além de... gliconeogênese, metabolismo lipídico, biogênese mitocondrial, angiogênese e apoptose.
O resveratrol pode suprimir a expressão dos receptores do tipo toll (TLR) e dos genes pró-inflamatórios. A atividade antioxidante do resveratrol e a capacidade de inibir as enzimas envolvidas na produção de eicosanoides contribuem para suas propriedades anti-inflamatórias."
Um dos resultados mais empolgantes da pesquisa sobre os efeitos do resveratrol para o sistema imunológico seria seu possível efeito sobre o câncer. Os pesquisadores do Nutrientes escrevem:
"O resveratrol apresenta um potencial terapêutico para aumentar a atividade dos NKs [assassinos naturais] contra leucemia celular agressiva e linfomas...
Nas células cancerígenas do pulmão, o tratamento com resveratrol diminui a atividade do STAT3 [um fator do sistema imunológico] e inibe o avanço do câncer de pulmão, suprimindo a ativação pró-tumoral das TAMs. Além disso, em um modelo de xenoenxerto de câncer de pulmão em ratos, o resveratrol inibiu consideravelmente o crescimento do tumor, diminuindo a proliferação celular e a expressão de p-STAT3 nos tecidos do tumor…
Notavelmente, as células NK isoladas do baço de ratos pré-tratados com resveratrol exibiram uma eficácia de morte aprimorada... Baixas dosagens e doses não citotóxicas de resveratrol impedem o avanço do melanoma B16 e do câncer de mama 4T1.2 e anulam as metástases pulmonares."
Outra pesquisa revela os benefícios do resveratrol
Uma pesquisa do Rejuvenation Research descobriu que o resveratrol pode exercer melhoras positivas em ratos mais velhos, inclusive em sua longevidade:
"Essas alterações observadas nas respostas de anticorpos em ratos idosos submetidos a uma alimentação suplementada com resveratrol são indicativas de melhora nas respostas dirigidas a antígenos, porque os níveis totais de IgG não específicos para antígenos não foram afetados. Esses resultados sugerem que a suplementação com resveratrol na alimentação é capaz de modular as respostas imunológicas."
O periódico Antioxidants também encontra um importante papel no resveratrol:
"O resveratrol tem atividade antitumoral em diferentes cânceres humanos, como carcinoma hepatocelular e carcinoma do ovário... Zhong e colegas investigaram o efeito antitumoral do resveratrol in vivo em um modelo de câncer de ovário ortotópico em ratos, relatando que sua administração intraperitonial interrompeu a proliferação de células cancerígenas sem afetar os tecidos normais.
Mais detalhadamente, o bloqueio da glicólise e a inibição da sinalização de AMPK/mTOR induzida pelo resveratrol foram responsáveis por sua atividade antitumoral nas células cancerígenas do ovário. Recentemente, Zhang e colegas relataram pela primeira vez que o resveratrol promoveu não apenas a apoptose, mas também a morte celular imunogênica de células de carcinoma de ovário humano de roedores.
Além disso, o resveratrol tem sido extensivamente investigado por sua capacidade de aumentar a morte celular por radiação e a apoptose mediada por radiação ionizante em células cancerígenas."
O resveratrol pode ter seu papel no combate ao coronavírus
Após o surto da síndrome respiratória aguda grave (SARS) em 2003 e antes do "novo" coronavírus de 2019/2020, surgiu outro coronavírus grave: a síndrome respiratória do Oriente Médio, ou MERS, descrita na Arábia Saudita em 2012.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, das 2.442 pessoas infectadas com MERS em maio de 2019, 842 morreram — dando ao vírus uma taxa de letalidade de aproximadamente 35%. Como o SARS e o coronavírus de 2020, o MERS era considerado zoonótico ou causado por uma doença animal transmitida entre espécies — sendo os morcegos os principais suspeitos.
No entanto, pesquisas publicadas na BMC Infectious Diseases em 2017 apresentam algumas notícias positivas ao tratamento do MERS:
"O resveratrol inibiu consideravelmente a infecção por MERS-CoV e prolongou a sobrevivência celular após a infecção pelo vírus. Também descobrimos que a expressão da proteína nucleocapsídeo (N) essencial para a replicação do MERS-CoV diminuiu após o tratamento com o resveratrol.
Além disso, o resveratrol regulou negativamente a apoptose induzida por MERS-CoV in vitro. Pela administração consecutiva de resveratrol, conseguimos reduzir a concentração de resveratrol e, ao mesmo tempo, alcançar eficácia inibitória contra o MERS-CoV."
Existiam algumas evidências científicas anteriores que poderiam ter sugerido os efeitos que surgiram no estudo, escrevem os pesquisadores. O resveratrol havia demonstrado anteriormente a capacidade de diminuir a produção de óxido nítrico e a inflamação nos tecidos e inibir o vírus Epstein-Barr, enterovírus, herpes simplex, influenza e vírus sincicial respiratório em estudos.
O resveratrol também restringiu as bactérias Helicobacter pylori, Staphylococcus aureus e Toxoplasma gondii. Ainda os resultados do estudo sobre MERS, em células colocadas em culturas com meios de crescimento, foram impressionantes:
"Para determinar se o resveratrol inibe a entrada ou uma etapa pós-entrada da infecção por MERS-CoV, adicionamos o resveratrol juntamente com o MERS-CoV imediatamente por 3 horas ou após o início da infecção. Medimos a proliferação celular e determinamos a titulação de vírus nos sobrenadantes…
Os resultados demonstraram que, mesmo quando o resveratrol foi administrado após a infecção por MERS-CoV, ele ainda reduziu a titulação de vírus. As mesmas observações foram feitas quando a proliferação celular e as titulações de vírus foram medidas, sugerindo que o resveratrol inibe a infecção por MERS-CoV após a entrada…
Esses dados sugerem que o tratamento com resveratrol suprimiu a replicação do RNA do MERS-CoV, embora sejam necessárias concentrações relativamente altas de resveratrol para fornecer efeitos antivirais persistentes... Nossos resultados sugerem que o resveratrol reduziu a apoptose mediada por MERS-CoV."
O estudo do resveratrol não poderia vir em melhor hora. Agentes antimicrobianos como a ribavirina, lopinavir/ritonavir e interferon tipo I usados contra o vírus da SARS foram ineficazes e até causaram disfunção renal e outros efeitos colaterais, escrevem os pesquisadores.
O resveratrol também se mostrou eficaz contra o chikungunya, um vírus disseminado por mosquitos endêmico na África, Ásia, Europa e Oceanos Índico e Pacífico. Os pesquisadores escrevem:
"O resveratrol não apenas inibiu a produção viral de MERS-CoV, mas também reduziu a produção do vírus chikungunya em concentrações de 250 e 125 μM. No total, nossos dados sugerem que o resveratrol possa ser um candidato importante para avaliações pré-clínicas adicionais da atividade antiviral do MERS-CoV e outros vírus RNA emergentes."
As ações do resveratrol para o reforço imunológico
Assim como o sistema imunológico humano é muito complicado, também são os mecanismos que o resveratrol pode exercer para alterar o sistema imunológico. Aqui está um resumo de alguns dos mecanismos segundo a pesquisa do Nutrients.
Inibe a inflamação — O resveratrol inibe a produção de fatores inflamatórios através da ativação de uma substância chamada Sirt1, que está envolvida no metabolismo, no câncer e no desenvolvimento embrionário. |
Combate a inflamação dosmacrófagos — O resveratrol causa ações anti-inflamatórias nos macrófagos, que são glóbulos brancos que podem "comer" bactérias, vírus, fungos e outros invasores. |
Reduz os efeitos do dano mitocondrial — O resveratrol impede o aumento da α-tubulina acetilada causado pelo dano mitocondrial de macrófagos estimulados, o que o torna um candidato ao tratamento de doenças inflamatórias relacionadas ao NLRP3, como a doença de Crohn, colite ulcerativa e doença inflamatória intestinal. |
Reduz a produção de GM-CSF — O fator estimulador de colônias de granulócitos e macrófagos (GM-CSF) é uma citocina pró-inflamatória que é um marcador de tecido cicatricial e depósitos de gordura nas paredes das artérias, o que representa um risco de trombose. |
Combate as células B reguladoras evocadas por tumores (tBregs) — O resveratrol pode inibir a geração e a função dos tBregs, que são elevados nos cânceres e podem impedir a proteção da imunidade antitumoral. |
Inibe as ações do STAT3 — O resveratrol diminui o STAT3, transdutores de sinal e ativadores da transcrição 3, que aumentam a proliferação, invasão e sobrevivência das células tumorais e suprimem a imunidade antitumoral. |
Diminui a ativação anormal das células T — O resveratrol pode inibir a ativação das células T associada ao diabetes dependente de insulina, artrite reumatoide, lúpus eritematoso sistêmico e esclerose múltipla e possivelmente impedir sua progressão. |
Fortalece as células assassinas naturais (NK) — O resveratrol pode aumentar a atividade da NK inibindo o STAT3, uma ação observada em casos de leucemia e linfomas celulares. |
Claramente, de acordo com a pesquisa, o resveratrol modula o comportamento imunológico, incluindo a modificação da "morfologia celular, expressão gênica, interações ligante-receptor, vias de sinalização e formação de células espumosas".
Uma desvantagem do resveratrol que precisa ser explorada
As propriedades fortalecedoras do sistema imunológico e os demais benefícios do resveratrol são muito encorajadores. Mas existe um obstáculo para encontrar as dosagens corretas dos tratamentos de saúde com o resveratrol: sua biodisponibilidade. Eis como a pesquisa do Antioxidants explica o problema da biodisponibilidade:
"Conforme relatado por vários estudos in vivo realizados em animais e humanos, o resveratrol é caracterizado por uma baixa biodisponibilidade oral devido a uma captação intestinal muito limitada da molécula. Isso leva a quantidades mínimas na corrente sanguínea por causa do extenso metabolismo que ocorre no intestino e no fígado.
A curta meia-vida inicial da molécula primária é causada essencialmente por seu metabolismo rápido. A maior parte de uma dosagem intravenosa de resveratrol é processada em conjugados de sulfato em apenas 30 minutos em humanos…
A substituição dos grupos hidroxila por grupos metoxila aumenta significativamente a biodisponibilidade do resveratrol, reforçando sua absorção intestinal e aumentando sua estabilidade hepática. Por esse motivo, diferentes análogos metoxilados do resveratrol foram formulados com o objetivo de obter novos agentes para a quimioprevenção do câncer."
A pesquisa do Nutrients também considera o desafio da biodisponibilidade do resveratrol e o que pode ser feito:
"...a análise farmacocinética revela que o resveratrol sofre um metabolismo rápido no corpo. Sua biodisponibilidade após administração oral é muito baixa, apesar de a absorção atingir 70%, isso afeta a significância fisiológica das altas concentrações utilizadas em estudos in vitro…
alguns ensaios clínicos sistemáticos oficiais que utilizam o tratamento com resveratrol em humanos tiveram alguns resultados decepcionantes, e as dificuldades da aplicação clínica do resveratrol são enormes, como baixa solubilidade em água, biodisponibilidade e dosagem.
Portanto, várias estratégias estão sendo implementadas, que incluem o desenvolvimento de análogos e formulações de resveratrol, como adjuvantes, nanopartículas, lipossomas, micelas e complexos fosfolipídios, para melhorar sua biodisponibilidade.
Além disso, várias outras abordagens foram empregadas para melhorar sua biodisponibilidade, que incluem a alteração da via de administração do resveratrol e a obstrução das vias metabólicas por meio de co-tratamento com outros agentes.
De fato, como o resveratrol possui vários alvos intracelulares, dados adicionais são necessários para determinar as consequências da interação ou os efeitos sinérgicos entre outros polifenóis e vitaminas, aminoácidos e outros micronutrientes ou medicamentos comumente usados."
Ainda assim, com a pesquisa sobre as propriedades do resveratrol para reforçar o sistema imunológico, o fitonutriente mostra-se promissor por ser muito útil na prevenção e tratamento de muitas doenças crônicas auto-imunes e inflamatórias.