Medicamentos antimaláricos: uma opção de tratamento para o COVID-19?

Fatos verificados
medicamento para malária

Resumo da matéria -

  • Um estudo pequeno, embora promissor, na França, mostrou que indivíduos tratados com a droga antimalárica Cloroquina apresentaram uma rápida recuperação e redução no tempo em que permaneceram contagiosos
  • Análises de dados constatam que a disseminação do COVID-19 ocorreu principalmente através de casos não diagnosticados, o que reforça a importância de exames e do isolamento social
  • Um artigo recente destaca a capacidade de vários nutracêuticos, como zinco, NAC e quercetina, de controlar a sequência inflamatória nas vias respiratórias causada pelo COVID-19 e reduzir seus danos

Por Dr. Mercola

O surto da variedade mais recente de coronavírus, o COVID-19, surgiu na China, na mesma cidade que o vírus SARS. Ele tem feito os especialistas se esforçarem para encontrar métodos eficazes de oferecer cuidados médicos e minimizar os efeitos da doença.

Um dos medicamentos pesquisados atualmente é a cloroquina, um tratamento comumente usado contra a malária. A cloroquina é um derivado sintético do quinino, que por muito tempo foi o único tratamento conhecido para a malária. No entanto, o quinino é extremamente amargo e tem efeitos colaterais consideráveis.

Dizem que, para torná-lo mais fácil de tomar, os britânicos que moram na Índia o misturavam com gim e limão ou lima. Os colonos britânicos passaram para apreciar o sabor, e pouco depois, em 1858, a água tônica foi patenteada. A Schweppes introduziu água tônica nos EUA quase 100 anos depois, e o gin tônica continua sendo uma parte integral da história britânica e americana.

No entanto, embora a água tônica seja aromatizada com quinino, ela não contém uma quantidade comparável ao medicamento. A água tônica contém não mais que 83 mg para cada 1 litro da bebida, enquanto a dose terapêutica é de 500 a 1.000 mg.

A CNN informou que o uso da cloroquina foi anunciado pelo presidente Trump, que afirmou que o FDA aprovou o uso do medicamento no tratamento do coronavírus. No entanto, o FDA divulgou uma declaração de que o medicamento não foi aprovado, embora possa ser prescrito "off-label", uma vez que ainda não há um tratamento aprovado pelo FDA.

Dados anteriores sugerem que os estudos com a cloroquina podem dar frutos

Historicamente, há fortes evidências de que a cloroquina e a hidroxicloroquina são eficazes em laboratório contra o coronavírus SARS, que surgiu em 2003.

Testes de laboratório também revelam que a cloroquina é eficaz em culturas de células contra o COVID-19. A hidroxicloroquina (Plaquenil) usa a mesma via que a cloroquina, mas possui um perfil de efeito colateral mais seguro.

Esses e outros resultados levaram os cientistas a pedir mais pesquisas sobre o uso dos medicamentos antimaláricos para conter a infecção. Recentemente, os resultados de ensaios clínicos com a cloroquina foram anunciados na China, mas o acesso aos dados não foi divulgado a outros cientistas para revisão. Até que os dados sejam publicados, será difícil tomar decisões clínicas.

Em 2009, um estudo avaliou o uso de cloroquina no subtipo OC43 do coronavírus humano, conhecido por causar infecções graves nos pulmões. Os pesquisadores usaram cobaias animais e descobriram que a droga se mostrou altamente eficaz contra esse subtipo durante o pré-tratamento. O interesse em medicamentos antimaláricos destaca uma distribuição exclusiva do vírus:

"A partir da análise dos dados de distribuição, a presença endêmica da malária parece proteger algumas populações do surto de COVID-19, principalmente nos países menos desenvolvidos. É interessante notar que o mecanismo de ação de alguns medicamentos antimaláricos (por exemplo, sua função antiviral) sugere que eles possam ter um papel potencial na quimioprofilaxia da epidemia."

A malária é causada por um parasita transmitido ao homem por mosquitos Anopheles infectados. Uma grande parte dos casos confirmados ocorre nas regiões tropicais da África, com 93% de todos os casos no mundo e 94% das mortes relacionadas à malária.

Ao se consultar o mapa interativo da Johns Hopkins Medicine para rastrear o surto em todo o mundo, é aparente que a única grande massa terrestre com menos casos do que a África é a Rússia.

Especialistas estão testando a eficácia da cloroquina contra o COVID-19

À luz dos resultados anteriores e dos dados atuais, um ensaio clínico em andamento está cadastrando 1.000 trabalhadores com alto potencial de serem infectados com base em sua exposição. A Universidade de Oxford iniciará os ensaios em maio de 2020, e a previsão de conclusão é para maio de 2022.

Os pesquisadores estão usando um estudo duplo-cego, randomizado, controlado por placebo, para avaliar o uso de cloroquina versus um placebo tomado por três meses, ou até serem diagnosticados com COVID-19. Os pesquisadores medirão a gravidade das doenças respiratórias e os resultados clínicos.

Um estudo divulgado recentemente teve resultados promissores usando a hidroxicloroquina. O especialista em controle de infecções Dr. Didier Raoult, da França, registrou 24 pacientes confirmados com o COVID-19. Os pacientes recebem 600 mg de hidroxicloroquina por dia, e sua carga viral foi monitorada em ambiente hospitalar.

Dependendo da apresentação clínica, os pesquisadores acrescentaram azitromicina ao protocolo de tratamento. Pacientes de outro hospital que recusou o protocolo foram utilizados como controle negativo. Os cientistas concluíram que, apesar do pequeno tamanho da amostra, a pesquisa:

"Mostra que o tratamento com hidroxicloroquina está significativamente associado à redução/desaparecimento da carga viral em pacientes com COVID-19, e seu efeito é reforçado pela azitromicina".

Esse experimento foi iniciado com os primeiros pacientes de Raoult tratados com cloroquina, que apresentaram uma rápida recuperação e redução no tempo que permaneciam contagiosos.

A Malária e o COVID-19 não têm muito em comum, ou têm?

Embora a malária e o coronavírus não pareçam ter muito em comum, este medicamento eficaz contra o parasita que causa os sintomas da malária também demonstra a capacidade de reduzir os sintomas do coronavírus. Seheult explica o mecanismo:

"Quando o coronavírus infecta as suas células, ele despeja nelas um RNA mensageiro que será traduzido usando os ribossomos da própria célula. A primeira coisa que estes ribossomos vão fazer é traduzir essa molécula de RNA em uma proteína chamada RNA polimerase dependente de RNA, ou replicase. E é essa enzima que demonstrou ser inibida por altas concentrações intracelulares de zinco.

Acontece que a cloroquina é um ionóforo de zinco, assim como a hidroxicloroquina. Ionóforos de zinco são basicamente uma proteína que permite que o zinco entre nas células. Não sabemos se é exatamente assim que funciona neste caso, mas o fato de que o zinco inibe a replicase e de que a hidroxicloroquina e a cloroquina aumentam a concentração intracelular de zinco merecem algum crédito."

Evidências mostram que o gluconato de zinco e o acetato de zinco reduzem com eficácia a gravidade e a duração das infecções virais. O zinco é crucial para a eficácia do sistema imunológico, função enzimática, síntese proteica e divisão celular. Estudos demonstram que o uso de pastilhas de zinco pode reduzir a duração de um resfriado em 33%, além de diminuir a gravidade dos sintomas.

O zinco é um componente necessário às proteínas antivirais do dedo de zinco, que "inibem a replicação de certos vírus, reprimindo a tradução e promovendo a degradação dos mRNAs virais". Essa atividade demonstra uma inibição semelhante contra o vírus influenza A, conhecido por desencadear 75% dos casos de gripe.

No entanto, nem todos os produtos de zinco geram os mesmos resultados. Quando a pastilha contém outros componentes além do zinco, eles podem interferir no processo. Diversos ingredientes possuem maneiras de interagir entre si, mesmo quando são seguros e eficazes quando usados individualmente.

Por exemplo, há evidências de que o ácido cítrico, o manitol e o sorbitol se ligam ao zinco e reduzem sua absorção.

A rápida disseminação do COVID-19 aumenta a necessidade de medidas preventivas

Neste vídeo, Seheult descreve os resultados de um estudo publicado na Science em março de 2020. Os pesquisadores usaram um modelo matemático para determinar como a doença se espalhou antes e depois que a proibição de viagens na China entrou em vigor, em 23 de janeiro.

Eles descobriram que 86% das pessoas não estavam diagnosticadas até 23 de janeiro de 2020, o que significa que não se submeteram aos exames para o vírus e, portanto, não sabiam que o tinham. Os autores do estudo escreveram que aqueles que não são diagnosticados geralmente apresentam sintomas leves ou inexistentes de uma infecção viral e, portanto, desconhecem a necessidade de se submeterem a exames.

O modelo matemático utilizado no estudo revelou que esses casos não documentados foram responsáveis por 79% de todos os casos confirmados na China. Isso significava que, se os casos não documentados de COVID-19 tivessem sido identificados, o número de infecções conhecidas poderia ter caído em até 79% e, como Seheult descreve, o número de infectados em Wuhan teria caído em até 66%.

Os pesquisadores escreveram que os indivíduos não documentados, com sintomas leves ou sem sintomas, eram 55% tão contagiosos quanto aqueles com sintomas. No entanto, o grande número de casos não documentados contribuiu para a rápida disseminação do vírus pela China.

Como os pesquisadores apontam, é necessária uma combinação de identificação através de estratégias de exame completas e subsequente isolamento dos indivíduos contaminados pelo vírus para conter e controlar totalmente a propagação.

No entanto, embora os primeiros casos na China tenham se tornado de conhecimento público em 31 de dezembro de 2019, foi apenas em 3 de fevereiro de 2020 que o CDC anunciou o desenvolvimento de um kit de exame laboratorial disponível nos EUA.

Opções úteis de nutrientes para prevenção e tratamento de infecções virais

À medida que essa história se desenrola, estou comprometido em oferecer a você opções viáveis de prevenção e tratamento que você possa usar em casa. Um artigo publicado recentemente por Mark McCarty e James DiNicolantonio, PharmD, propõe que existem nutracêuticos capazes de reduzir os sintomas e a gravidade da gripe e do coronavírus. Segundo os autores, esses vírus

"causam uma sobrecarga inflamatória nos pulmões, e é essa sobrecarga inflamatória que leva à dificuldade respiratória aguda, falência de órgãos e morte. Certos nutracêuticos podem ajudar a reduzir a inflamação nos pulmões causadas pelo RNA viral, enquanto outros também podem ajudar a aumentar a resposta do interferon tipo 1 a esses vírus, que é o principal mecanismo do corpo para criar anticorpos antivirais para combater infecções virais."

A partir das conclusões de vários estudos clínicos randomizados, DiNicolantonio acredita que está claro o efeito antiviral de alguns nutracêuticos e espera que a atenção trazida por eles a esses benefícios incentive novas pesquisas para testar essa estratégia.

Você aprenderá mais sobre como alguns suplementos acessíveis podem reduzir a gravidade e a duração dos sintomas de resfriados, gripes e até mesmo do COVID-19 em "Quercetina e vitamina D: aliados contra o coronavírus?"

É importante se lembrar de cuidar do seu microbioma intestinal, reduzir a ingestão de açúcar e carboidratos, ter um sono de qualidade e praticar uma boa higienização das mãos para sustentar seus esforços para permanecer saudável.

Lembre-se também de ficar longe dos outros quando estiver doente, para evitar a propagação de qualquer vírus que esteja portando, e de procurar atendimento médico se necessário. Por exemplo, se você apresentar dificuldade para respirar, estiver grávida, tiver um sistema imunológico enfraquecido ou alguma condição de saúde crônica.

+ Recursos e Referências