O que a variabilidade da sua frequência cardíaca diz sobre sua saúde

Fatos verificados
coração

Resumo da matéria -

  • A variabilidade da frequência cardíaca (VFC) é a medida das variações de tempo decorrido entre seus batimentos cardíacos. Ela representa a capacidade de seu coração responder a estressores fisiológicos e ambientais
  • Um ritmo cardíaco saudável não é perfeitamente uniforme. Quando sua frequência cardíaca é monotonamente regular, sua VFC é baixa. A baixa VFC está associada ao comprometimento do sistema nervoso autônomo (SNA), o que reduz a capacidade do corpo de lidar com estressores
  • Pressão alta, tabagismo, diabetes e estresse diminuem sua atividade parassimpática, aumentando assim o risco de um evento cardíaco. Fatores que regulam seu sistema nervoso parassimpático e protegem seu coração incluem nitratos alimentares que estimulam a produção de óxido nítrico e alimentos ou suplementos que estimulam a produção de acetilcolina, como ovos e outros alimentos ricos em colina

Por Dr. Mercola

A variabilidade da frequência cardíaca (VFC) é a medida das variações de tempo decorrido entre seus batimentos cardíacos. Ela representa a capacidade de seu coração responder ao estímulo do estresse fisiológico e ambiental.

Ao contrário do que possa se pensar à primeira vista, um ritmo cardíaco saudável não é perfeitamente uniforme. Quando sua frequência cardíaca é “monotonamente regular”, sua VFC é baixa. A baixa VFC está associada ao comprometimento do sistema nervoso autônomo (SNA), que reduz a capacidade do corpo de lidar com estressores, sejam eles internos ou externos.

Como tal, a VFC é um bom indicador de estresse. Quando a sua VFC está alta, os intervalos entre os batimentos cardíacos são "grandes e irregulares", e isso é uma indicação da maior resiliência ao estresse. A alta VFC também indica melhor condicionamento cardiovascular.

Hoje, alguns especialistas acreditam que a VFC pode ser um dos biomarcadores mais importantes da saúde cardiovascular, ainda mais do que exames padrão como colesterol, proteína C reativa e até pressão arterial.

De fato, conforme detalhado no artigo do convidado Dr. Thomas Cowan sobre a verdadeira causa dos ataques cardíacos, publicado em 2014, aumentar nossa compreensão do papel do sistema nervoso autônomo no desenvolvimento da isquemia (redução do fluxo sanguíneo para o coração) — e como podemos usar a VFC como uma medida do risco — poderia revolucionar a prevenção e o tratamento das doenças cardíacas. Estamos cada vez mais perto disso à medida que o tempo passa.

A VFC e o sistema nervoso autônomo

Como você provavelmente já sabe, você tem dois sistemas nervosos distintos:

  1. O sistema nervoso central (SNC), que controla as funções nervosas e musculares conscientes
  2. O sistema nervoso autônomo (SNA), que controla a função inconsciente de seus órgãos internos

Seu SNA é crucial para a saúde ideal, pois controla coisas como respiração, batimentos cardíacos, sudorese, digestão e o funcionamento geral de seus órgãos internos. Se o seu SNA estiver disfuncional ou bloqueado, você terá problemas de saúde.

Há vários fatores que podem fazer com que o seu SNA não funcione corretamente. Os exemplos incluem, mas não se limitam, aos seguintes. Para determinar se um ou mais dos fatores listados abaixo estão afetando seu SNA, você deve realizar um teste ou desafio de estresse para ver como o fator suspeito afeta sua VFC.

Alergias alimentares

Questões psicológicas e/ou espirituais

Desidratação

Intoxicação por metais pesados

Deficiências nutricionais

Infecções

Estresse no campo geopático

Estresse no campo eletromagnético

Problemas estruturais

Cicatrizes

Roupas sintéticas, sutiãs com aro e acessórios como óculos e relógios

Exposição a herbicidas e pesticidas

Próteses

Problemas visuais

O desequilíbrio do SNA pode ser um fator importante para sua doença cardíaca

Seu SNA é dividido em dois ramos, a saber:

1. Sistema nervoso simpático (SNS) — Esse sistema, também conhecido como a reação de "luta ou fuga", está centralizado na medula adrenal e usa adrenalina para preparar seu corpo para ação em resposta à ameaça percebida. Assim, uma série de respostas bioquímicas é desencadeada, incluindo vias glicolíticas que aceleram a quebra da glicose para um rápido aumento de energia.

2. Sistema nervoso parassimpático (SNP) — Esse ramo, conhecido como o braço de "repouso e digestão" do SNA (resposta de relaxamento), está centralizado no córtex adrenal. Seus mediadores químicos incluem acetilcolina, óxido nítrico e guanosina monofosfato cíclico (cGMP).

Seu SNP desempenha um papel essencial no alívio da resposta ao estresse. Quando sua VFC está baixa e seu SNP é inibido, você fica mais vulnerável aos efeitos prejudiciais do estresse futuro.

O nervo vago, que faz parte da cadeia parassimpática, modula sua atividade cardíaca, diminuindo os batimentos cardíacos e relaxando o coração quando o SNP é ativado. Quando seu SNS é ativado, o nervo vago acelera os batimentos cardíacos e causa a constrição do músculo cardíaco.

Quando você está saudável, esses dois ramos do seu SNA — o SNS e o SNO — estão bem equilibrados, mas num estado de "prontidão". Segundo Cowan, o desequilíbrio entre o SNS e SNP é responsável pela grande maioria das doenças cardíacas.

A VFC mede a condição do seu SNA

Ao monitorar sua VFC, você pode ter uma ideia clara de como anda seu SNA em tempo real. Novamente, a razão para isso é porque o seu SNA controla o ritmo cardíaco. Uma pesquisa publicada em 2004 mostra que a atividade parassimpática de pacientes com cardiopatia isquêmica é um terço menor, em média, do que a de um indivíduo saudável. Como explicado no resumo:

"Cerca de três quartos dos eventos isquêmicos do miocárdio são desencadeados pelo sistema nervoso autônomo. A constelação patognomônica é a combinação de uma retração quase completa da atividade vagal tônica com o aumento da atividade simpática.

A redução da atividade vagal tônica, característica da cardiopatia isquêmica, e a retração aguda do impulso vagal antes do início da isquemia não dependem da doença arterial coronariana.

Neste artigo, as etapas fisiopatológicas que levam do desequilíbrio simpático-parassimpático à isquemia miocárdica serão discutidas. Um aumento considerável da glicólise aeróbica dentro do miocárdio como resultado do desequilíbrio autonômico é de especial importância nesse processo."

Como regra geral, quanto pior sua isquemia, menor será a atividade parassimpática. Conforme observado no estudo de 2004 acima, a maioria dos eventos isquêmicos é precedida por uma redução drástica da atividade parassimpática em conjunto com o aumento da atividade simpática, provocado por atividade física extenuante ou choque emocional, por exemplo.

Em contraste, pessoas com atividade parassimpática normal que experimentam um aumento abrupto da atividade simpática não sofrem de isquemia.

Portanto, para resumir, para que tenha um ataque cardíaco, você deve experimentar uma diminuição drástica na atividade parassimpática e um aumento na atividade simpática. Na ausência desses dois fatores simultâneos, é improvável que você tenha um ataque cardíaco.

O fluxo vago quase pára antes e durante os eventos isquêmicos

Isso contraria o pensamento convencional de que os ataques cardíacos são simplesmente o resultado da obstrução de uma ou mais artérias.

Mas, como observado no estudo de 2004 acima, "a retirada aguda do impulso vagal antes do início da isquemia não depende da doença arterial coronariana". Em outras palavras, sua probabilidade de sofrer um ataque cardíaco não depende da obstrução das artérias.

Em vez disso, o risco de ataque cardíaco depende principalmente do funcionamento do seu SNA. Estudos também mostraram que o risco de morrer por um ataque cardíaco aumenta significativamente quando sua VFC está baixa. De fato, a baixa VFC demonstrou ser um "forte e independente preditor de mortalidade após um infarto agudo do miocárdio".

Um estudo anterior do mesmo autor, publicado em 1997, analisou o papel da atividade do SNA antes e durante eventos isquêmicos transitórios, usando medições da VFC.

A mensagem aprendida aqui é que, embora todos experimentemos momentos de excesso de atividade simpática (reação de luta ou fuga), graças ao estresse da vida cotidiana, os choques ao sistema só se tornam perigosos para sua saúde quando sua atividade parassimpática (resposta de relaxamento) é suprimida por um longo período de tempo.

Os fatores que diminuem a atividade vagal incluem pressão alta, tabagismo e diabetes, enquanto o estresse físico e emocional diminui sua atividade parassimpática. Todos esses fatores contribuem para problemas cardíacos e aumentam o risco de um evento cardíaco.

Por outro lado, fatores que regulam seu SNP incluem nitratos alimentares que estimulam a produção de óxido nítrico e alimentos ou suplementos que estimulam a produção de acetilcolina, como ovos e outros alimentos ricos em colina.

A VFC como um indicador objetivo do estresse e da saúde mental

A VFC faz mais do que apenas medir e prever a saúde do coração.

Conforme explicado em um artigo de revisão publicado na Psychiatry Investigation em 2019, a hiperativação do SNS causada pelo estresse crônico pode levar a "anormalidades físicas, psicológicas e comportamentais", e a VFC pode ser usada como um indicador do estresse psicológico e como uma ferramenta objetiva de avaliação da saúde mental.

O artigo revisa 37 publicações em que a reatividade da VFC foi usada como uma medição objetiva do estresse psicológico. De acordo com os autores:

"Na maioria dos estudos, as variáveis da VFC mudaram em resposta ao estresse induzido por vários métodos. O fator mais frequentemente relatado e que está associado à variação nas variáveis da VFC foi a baixa atividade parassimpática…

Estudos de neuroimagem sugeriram que a VFC pode estar ligada a regiões corticais (por exemplo, o córtex pré-frontal ventromedial) envolvidas na avaliação da situação estressante."

VFC e inflamação

Sua VFC também pode lhe dar uma ideia do seu nível de inflamação. A inflamação, é claro, é uma característica da doença cardiovascular, mas a maioria das outras doenças crônicas também envolve níveis elevados de inflamação. Conforme observado em um artigo de revisão de 2013 no Frontiers of Physiology:

"Muitos estudos experimentais e clínicos confirmaram uma conversa cruzada contínua entre os ramos simpático e parassimpático do sistema nervoso autônomo e a resposta inflamatória, em diferentes cenários clínicos.

Nas doenças cardiovasculares, foi comprovado que a inflamação desempenha um papel fundamental na progressão, patogênese e resolução da doença.

Alguns estudos clínicos avaliaram a possível inter-relação entre o resultado neuro-autonômico, estimado com a análise da variabilidade da frequência cardíaca, que é a variabilidade de R-R no eletrocardiograma, e diferentes biomarcadores inflamatórios, em pacientes que sofrem de doença arterial coronariana estável ou instável (DAC) e insuficiência cardíaca.

Além disso, provou-se que diferentes índices derivados do processamento de sinais de frequência cardíaca se correlacionam fortemente com a gravidade da doença cardíaca e predizem seu desfecho."

Como explicado nesse artigo, o SNS e o SNP são poderosos moduladores da inflamação. Quando os dois estão devidamente equilibrados, eles promovem um cenário anti-inflamatório.

A VFC e sua saúde geral

A baixa VFC foi associada a uma série de doenças, seja por promover a inflamação ou através de outros mecanismos. Também se mostrou um preditor confiável da progressão da doença.

O diabetes, por exemplo, é um fator de risco para doenças cardíacas e AVC, e ser capaz de detectar os primeiros sinais de complicações pode ajudar bastante a diminuir o risco de morte. A VFC pode ser uma ferramenta valiosa nesse sentido.

Conforme relatado em um artigo de 2018, "uma revisão sistemática de indivíduos com diabetes concluiu que a VFC pode ajudar a prever a morbimortalidade cardíaca e pode ser usada em um estágio inicial para indicar o risco futuro de complicações".

Este artigo também aponta que "uma redução na VFC prevê doença macrovascular, por exemplo, aterosclerose da artéria carótida" e "está associada a um risco significativamente aumentado de morte por doença cardiovascular".

Curiosamente, os autores também revisam uma série de estudos observando como vários alimentos e dietas afetam sua VFC, concluindo que o monitoramento da VFC pode ser uma ferramenta útil "ao examinar o impacto do que comemos".

Como verificar sua VFC

Então, como você verifica sua VFC? A Universidade de Harvard oferece as seguintes sugestões:

"O padrão ouro é analisar uma longa faixa de um eletrocardiograma... Mas, nos últimos anos, várias empresas lançaram aplicativos e monitores de frequência cardíaca que fazem algo semelhante.

A precisão desses métodos ainda está sob análise, mas… a tecnologia está melhorando substancialmente… A maneira mais fácil e barata de verificar a VFC é comprando um monitor cardíaco com cinta torácica… e baixando um aplicativo gratuito (o Elite HRV é bom) para analisar os dados.

O monitor da cinta torácica tende a ser mais preciso do que os dispositivos de pulso ou dedo. Verifique sua VFC pela manhã depois de acordar, algumas vezes por semana, e acompanhe as mudanças ao incorporar intervenções mais saudáveis."

Lembre-se de que o uso de um monitor cardíaco de cinta torácica em combinação com um aplicativo de celular expõe você a frequências de campos eletromagnéticos via Bluetooth, o que o torna uma opção não muito ideal.

Ao coletar os dados de sua VFC em diferentes momentos ao longo das semanas, você pode começar a ter uma imagem de como seu corpo responde ao estresse e identificar as atividades ou situações que o aumentam e diminuem.

Também é bastante útil para os atletas, pois pode dizer se você se recuperou o suficiente ou está se esforçando demais. Uma alta VFC é sinal de que seu corpo está lidando bem com o estresse, enquanto uma baixa VFC indica que seu corpo está sob estresse, o que pode torná-lo mais propenso a problemas de saúde se continuar insistindo.

Como melhorar sua VFC

Se a sua VFC estiver consistentemente abaixo da média, não se preocupe. Existem muitas maneiras de melhorar sua VFC, e a maioria delas é barata ou gratuita. As estratégias que podem melhorar sua VFC incluem:

Repouso e sono

Consciência plena e outras formas de meditação

Exercitar-se

Chá verde

Evitar a procrastinação

Evitar excesso de trabalho e deslocamentos extensos, e minimizar o estresse relacionado ao trabalho

Praticar o perdão

Yoga

Música

Exercícios de respiração

Passar um tempo ao ar livre, na natureza

Melhorar seu nível de ômega-3