Por Dr. Mercola
Lesões ortopédicas podem ser debilitantes e muitos que procuram tratamento frequentemente acabam sendo operados. Infelizmente, os efeitos colaterais das operações costumam ser irreversíveis. Qualquer erro pode significar um problema permanente.
Para mim, cirurgia quase sempre deve ser encarada como um último recurso. A questão prática, porém, é: quais são as alternativas realistas?
James Leiber, certificado em medicina neuromusculoesquelética, medicina da dor, e medicina familiar, trabalhou com a Força Aérea e foi médico pessoal do ex-presidente Bush e vice-presidente Dick Cheney.
Atualmente, ele é professor adjunto de medicina familiar e princípios e prática osteopática no Lake Erie College of Osteopathic Medicine em Bradenton, Flórida, e administra seu próprio consultório, o New reGeneration Orthopaedics of Florida, sendo o primeiro afiliado da Regenexx na Flórida.
Ele é apaixonado pela ortopedia regenerativa intervencionista, área na qual tem muitos anos de experiência. Em seu trabalho na Flórida, ele usa vários produtos e técnicas diferentes de células-tronco, discutidas nessa entrevista.
Há muitos anos, ele se interessou pela proloterapia, que existe desde a década de 1930, quando ortopedistas tentavam descobrir como fortalecer ligamentos sem fazer cirurgia.
Eles descobriram que, ao injetar uma solução irritante no tecido danificado, ele liberará fatores de crescimento que ajudam a curar e fortalecer a área.
Na última década, os profissionais começaram a usar plasma rico em plaquetas (PRP) ou células-tronco da mesma maneira. O ultrassom também é usado, junto com outras técnicas de imagem, o que permite ao médico "ver" o que está acontecendo dentro do tecido. Também é útil para identificar o local exato para as injeções.
Os benefícios da terapia com plaquetas e células-tronco
As plaquetas são uma parte importante do processo de cura. Elas são responsáveis pela coagulação do sangue e estão entre as "primeiras a reagir" a lesões em quaisquer lugares do corpo. Elas encerram sangramentos através da criação de coágulos.
Esse processo envolve as plaquetas se abrindo e derramando os fatores de crescimento contidos em seu interior. Esses fatores de crescimento agem como moléculas de sinalização, emitindo as instruções necessárias para angariar recursos e reparar o tecido danificado. Isso inclui células-tronco.
As células-tronco são precursoras primitivas de nossas células. Elas podem ser consideradas "células bebês" e são encontradas em altas concentrações na medula óssea e nos tecidos adiposos. Algumas também flutuam no sangue e nas articulações. O Dr. Leiber explica:
"Quando as (células-tronco) chegam à área, podem se transformar no novo tecido que está tentando ser reparado. Eles também podem instruir todas as outras células sobre o que fazer. Eles se tornam uma espécie de mestre de obras.
Inclusive, elas podem pegar uma célula que está tentando destruir o joelho, por exemplo, e convertê-la em uma célula reparadora.
As células-tronco têm propriedades de cura muito poderosas. É por isso que nós as utilizamos. Preferimos usar as próprias células-tronco de alguém e, por muitos motivos, as que vêm da medula óssea e não da gordura.
Existem outros tipos de células-tronco. Você pode receber células-tronco de outra pessoa. Elas podem vir do feto, do fluido ao redor do feto ou do umbigo. Todas essas coisas, porém, não estão sendo praticadas nos Estados Unidos.
Preferimos usar as próprias células-tronco de alguém. No país, considera-se essa a forma mais segura de atuar. Gostamos da ideia de expansão cultural, mas temos algumas restrições nos Estados Unidos".
Doenças comuns que podem se beneficiar da terapia com células-tronco
Quando somos jovens, temos grandes quantidades de plaquetas e células-tronco, o que se traduz em um alto nível de capacidade autorregenerativa. As crianças geralmente se curam de ferimentos muito rapidamente.
Com a idade, elas se tornam menos eficientes e o desgaste do corpo começa a ultrapassar sua capacidade de se reparar. Em algum ponto, é possível notar condições crônicas de uso excessivo, degeneração e envelhecimento.
A maioria dos pacientes de Leiber são idosos ativos que buscam tratar da degeneração relacionada à idade. Muitos são ex-atletas profissionais. Nos últimos anos, o conhecimento sobre o PRP e a terapia com células-tronco também se espalhou entre os atletas profissionais que buscam tratamento para lesões esportivas. Queixas comuns incluem:
- Problemas de joelho, como artrite, rupturas no joelho ou menisco e rupturas do ligamento cruzado anterior (ACL)
- Lesões no ombro como rupturas do manguito rotador, artrite e lacerações labiais
- Problemas na coluna como hérnia de disco e artrite da coluna
- Problemas de quadril, mãos, pés e cotovelo
Usar células-tronco próprias é uma opção de tratamento segura
As células-tronco também podem ser clinicamente indicadas para outras coisas como regeneração de nervos periféricos, danos a órgãos e até mesmo diabetes tipo 1.
"Há um potencial incrível para o uso de células-tronco da medula óssea ou da gordura para outros tipos de males, incluindo os do coração e cérebro", Leiber diz.
“Mas não afirmamos ser especialistas nisso. Acho que há um problema quando um médico trata tudo com células-tronco. Acredito que falte especialização quando isso acontece."
Uma preocupação comum com a terapia com células-tronco é se elas podem se tornar malignas após injetadas. De acordo com Leiber, pelo menos em tratamentos ortopédicos (que são sua especialidade), as células-tronco nunca se transformaram em nada anormal e há mais de uma década de dados de pacientes para corroborar com essa afirmação.
Parte dessas preocupações com a segurança decorrem do fato de que quando você injeta células-tronco de outra pessoa ou de animais, há risco de conversão maligna.
Na verdade, a veterinária associada ao meu site, Dra. Karen Becker, tratou muitos animais usando células-tronco e notou que muitos cães invariavelmente desenvolvem câncer alguns anos depois de serem tratados com células-tronco de outro animal. Porém, isso não parece ser o caso com o uso das próprias células-tronco.
Mitos sobre a terapia com células-tronco
Embora a terapia com células-tronco tenha grande potencial de cura, seria desaconselhável abordá-la pensando que é alguma espécie de magia. Pelo contrário, ela é idealmente incorporada como parte de um plano de tratamento abrangente que leva em consideração outros fatores do estilo de vida. Leiber explica:
“As células-tronco têm a capacidade de se repovoar e regenerar. Quando retiramos a medula óssea, por exemplo, elas se repovoam em seis semanas. Damos às pessoas uma janela de seis a oito semanas, talvez um pouco mais, dependendo da situação.
Tentamos colocá-las na direção certa com muitos conselhos sobre dieta e planejamento alimentar, uso de suplementos, exercícios, discussões sobre sono, produtos químicos ambientais e várias coisas que possam torná-las tão saudáveis quanto possível.”
No geral, suas chances de sucesso aumentam radicalmente ao se alimentar bem, eliminar alimentos processados, ingerir em gorduras de alta qualidade, minimizar os carboidratos líquidos (carboidratos totais menos fibras) e consumir quantidades moderadas de proteína.
Esse tipo de dieta ajuda a regular os sistemas regenerativos e reparadores inatos do corpo. O mais importante é que isso reduzir radicalmente a inflamação, que é uma das principais variáveis que contribuem para grande parte da patologia que está gerando os danos.
Suplementos Recomendados
Certos nutrientes e suplementos podem ajudar as células-tronco a crescer com mais eficiência. A Regenexx, especializada no desenvolvimento de terapias com células-tronco, conduziu estudos in vitro que mostram que, quando as células-tronco são colocadas em um ambiente que imita uma articulação artrítica, sua taxa de crescimento é significativamente reduzida. Eles duplicaram o teste em vários ambientes de nutrientes para determinar quais nutrientes poderiam ajudar as células-tronco a crescerem melhor.
Nutrientes e combinações de nutrientes que aumentam a regeneração das células-tronco incluem vitaminas C e D, glucosamina e condroitina, curcumina, resveratrol, melão amargo e o aminoácido L-carnosina. Leiber os recomenda para a maioria de seus pacientes. Ele também recomenda tomar um suplemento de ômega-3 de alta qualidade como óleo de krill em quantidades maiores.
"Curiosamente, a melatonina, que a maioria das pessoas usa para dormir... ajuda as células-tronco a se transformarem preferencialmente em cartilagem em vez de um tipo diferente de célula. Ainda não sabemos qual é a dosagem certa. Mas é algo seguro de ingerir e barato. Para aqueles que podem precisar se desintoxicar um pouco mais, costumo adicionar a N-acetilcisteína (NAC)", Leiber diz.
Por outro lado, minha última paixão é a otimização da função mitocondrial com intervenção dietética e suplementação, e muitos desses suplementos também são muito úteis para melhorar a biogênese mitocondrial e mitofagia (autofagia mitocondrial). O resveratrol é particularmente intrigante. Ele estimula a SIRT 1, que ativa ambas as vias, assim como o melão amargo e a curcumina.
Quanto à dieta, é preciso restringir os carboidratos líquidos, que são carboidratos totais menos fibras, a menos de 50 gramas por dia, ou talvez até 30 ou 40 gramas, se estiver tentando controlar uma disfunção crônica. Substitua esses carboidratos por gorduras de alta qualidade, como manteiga, óleo de coco, manteiga de cacau e gordura de alta qualidade de animais de pasto, como sebo ou banha.
Estas são estratégias que o ajudarão a queimar gordura como combustível, o que queima muito mais limpo e gera menos radicais livres, o que por sua vez diminui a inflamação. Ao otimizar sua função mitocondrial, você otimiza a saúde e a vida em geral. É uma estratégia profundamente eficaz não apenas para tratar doenças, mas também para aumentar a longevidade.
A anatomia de um tratamento típico de células-tronco
Leiber é especializado em procedimentos baseados em plaquetas e procedimentos com células-tronco, que incluem plaquetas e fatores de crescimento. Os primeiros não são tão complicados ou caros quanto um procedimento com células-tronco. O protocolo de células-tronco geralmente envolve três partes, distribuídas em três tratamentos distintos. Um protocolo de tratamento típico para artrite avançada do joelho pode ser mais ou menos assim:
1. Antes de sua primeira consulta, ou como parte de sua primeira consulta, você deverá fazer todos os exames de imagem necessários. Leiber também faz um exame de ultrassom diagnóstico, que lhe permite ver as estruturas dos tecidos da região em questão em tempo real. O primeiro tratamento geralmente envolve proloterapia para fortalecer os ligamentos e tendões e criar um ambiente mais hospitaleiro para as células-tronco.
2. Após três a cinco dias, ocorre uma aspiração de medula óssea. "Acho que há muito medo desnecessário associado a isso", diz Leiber.
Quantidades muito pequenas de medula óssea são coletadas de cada vez, em um ritmo lento, para prevenir dores. Na maioria dos casos, 60 a 100 mililitros de medula óssea serão retirados de quatro locais de cada lado da pelve. Depois de um almoço saudável, você volta para a injeção, que consiste em uma mistura de células-tronco, fatores de crescimento e plaquetas. Leiber usa orientação de imagem para selecionar as melhores áreas para as injeções.
Infelizmente, um anestésico local no local da injeção não pode ser usado, pois já foi demonstrado que ele mata as células-tronco. Mas uma pequena quantidade de anestésico local na pele e no caminho para o tecido alvo pode ser usada ou um bloqueio de nervo pode ser administrado (como em um procedimento odontológico), e a maioria dos pacientes tolera muito bem essas injeções.
Você terá mobilidade limitada por cerca de três a cinco dias, pois terá que minimizar a pressão na articulação. Também pode ser necessária uma medicação para a dor durante esse período.
3. Três a cinco dias depois, é feita outra coleta de sangue, da qual as plaquetas e os fatores de crescimento são separados e extraídos e então reinjetados na área afetada. Isso atua como "fertilizante" para as células-tronco que foram colocadas anteriormente. Uma cinta pode ser usada para proteger a área. Depois disso, você precisará consultar um fisioterapeuta por cerca de seis semanas.