O que tem dentro da sua água mineral?

Fatos verificados
Água mineral

Resumo da matéria -

  • Em 2020, a Consumer Reports testou 47 marcas de água mineral, incluindo variedades com ou sem gás, para determinar a presença de metais pesados (arsênico, cádmio, chumbo e mercúrio) e 30 produtos químicos PFAS
  • Os PFAS foram encontrados em níveis detectáveis na maioria das águas com e sem gás
  • Topo Chico, uma marca de água mineral da moda, apresentou os maiores níveis de PFAS, chegando a 9,76 partes por trilhão
  • Microplásticos foram detectados em 93% das amostras de água engarrafada e o antimônio também pode estar presente caso a garrafa tenha sido exposta a altas temperaturas
  • Eu sempre recomendo um sistema de filtragem de carbono de alta qualidade. Feito isso, é muito melhor levar com você sua água em um recipiente de metal ou vidro
  • Você pode até usar sua própria água da torneira filtrada para fazer água com gás, usando opções como o SodaStream

Por Dr. Mercola

As vendas de água mineral vêm crescendo desde 2010, impulsionadas em grande parte por aqueles que a escolheram como uma alternativa mais saudável ao refrigerante.

Em 2016, as vendas de água mineral ultrapassaram as de refrigerante pela primeira vez e continuam a aumentar desde então. Embora escolher água em vez de bebidas açucaradas como refrigerante seja uma escolha inteligente para a saúde, os consumidores preocupados com a saúde estão sendo enganados, acreditando que a água mineral é a melhor e mais pura fonte de água.

Em muitos casos, ao escolher água mineral, você está pagando caro e sendo exposto a produtos químicos tóxicos, incluindo metais pesados e produtos químicos fluorados conhecidos como polifluoroalquila ou perfluoroalquila (PFAS), que incluem PFOA e PFOS.

Se você quer melhorar sua saúde, filtre sua água em casa e leve em um recipiente de vidro ou metal. Além te melhor para a sua saúde, também é mais sustentável para o meio ambiente.

Os produtos químicos encontrados na água mineral

A pureza da água engarrafada está em questão desde 2009, quando o Grupo de Trabalho Ambiental (EWG) divulgou um ranking da água mineral mostrando que a maioria das marcas não divulgava contaminantes em sua água.

Uma pesquisa de acompanhamento em 2011 revelou que 18% das marcas não divulgaram de onde a água veio, enquanto 32% não divulgaram informações sobre o tratamento ou a pureza da água.

Já em 2008, entretanto, o EWG revelou que 10 marcas populares de água mineral continham 38 poluentes, variando de Medicamentos sem receita a produtos químicos industriais, alguns em níveis semelhantes aos encontrados na água da torneira. Desde então, a situação não melhorou, e se você está comprando água mineral acreditando que ela é pura, há uma boa chance de estar sendo enganado.

Em 2020, a Consumer Reports testou 47 marcas de água mineral, incluindo variedades com ou sem gás, para avaliar a presença de metais pesados (arsênio, cádmio, chumbo e mercúrio) e 30 produtos químicos PFAS.

Entre a água sem gás, os níveis de metais pesados ficaram abaixo dos limites de segurança federais em todos os casos, exceto um. A Starkey Spring Water da Whole Foods continha níveis de arsênio de 9,53 partes por bilhão (ppb); o limite federal é de 10 ppb, enquanto a Consumer Reports recomenda 3 ppb ou menos.

Os PFAS foram encontrados em níveis detectáveis na maioria das águas sem gás testadas, e duas marcas (Tourmaline Spring e Deer Park) apresentaram níveis superiores a 1 parte por trilhão. Entre as marcas de água com gás testadas, todas estavam abaixo dos limites legais para metais pesados, mas continham altos níveis de PFAS.

Todas as marcas, exceto uma, tinham níveis detectáveis de PFAS, e sete marcas tinham níveis de PFAS acima de 1 ppt. Topo Chico, uma marca de água com gás da moda, apresentou os maiores níveis de PFAS, chegando a 9,76 ppt. Em resposta ao Consumer Reports, a empresa disse que “continuaria a fazer melhorias para atender padrões mais rigorosos no futuro”.

A presença de PFAS na água mineral é opcional

Embora não se saiba por que os níveis de PFAS podem ser particularmente elevados na água mineral com gás, é possível que o processo de gaseificação tenha um papel importante ou a própria fonte esteja contaminada. Outra opção é que o processo de remoção de produtos químicos não seja eficiente.

No entanto, do jeito que está, o governo dos Estados Unidos não estabeleceu limites aplicáveis de PFAS na água potável, tornando qualquer tentativa de remoção voluntária. De acordo com o Consumer Reports:

“O governo federal emitiu apenas orientações opcionais sobre os PFAS, dizendo que os valores combinados para dois compostos específicos do PFAS deveriam ser inferiores a 70 partes por trilhão. Alguns estados estabeleceram limites inferiores, de 12 a 20 ppt, de acordo com a American Water Works, um grupo do setor.

A International Bottled Water Association, outro grupo, diz que apóia os limites federais de PFAS e que a água minerais deve ter níveis abaixo de 5 ppt para qualquer composto único e 10 ppt para mais de um. Alguns especialistas dizem que o limite para os níveis totais de PFAS deve ser ainda mais baixo, apenas 1 ppt.”

Os PFASs já foram conhecidos como fluorocarbonos. Embora as siglas possam ser um pouco confusas, o importante a lembrar é que esta família de produtos químicos (PTFE, PFAS, PFOA, PFOS e PFCs) é tóxica para a saúde.

Embora a maioria das empresas tenha parado de fabricar PFOA e PFOS à medida que seus graves riscos ambientais e à saúde foram descobertos, os produtos químicos são extremamente persistentes no meio ambiente, razão pela qual são freqüentemente chamados de produtos químicos “eternos”.

Eles não se decompõem na água ou no solo e podem ser movidos por grandes distâncias pelo vento ou pela chuva, de acordo com a Agência de Registro de Substâncias Tóxicas e Doenças do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos.

Dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos sugerem que os PFASs estão no sangue de mais de 98% dos americanos, e o PFOA já é objeto de pelo menos 3.500 processos de danos pessoais contra a DuPont. Uma mulher que teve câncer renal após beber água contaminada com PFOA recebeu US$1,6 milhões em um processo.

Em maio de 2015, mais de 200 cientistas de 40 países assinaram a declaração de Madri, alertando sobre os danos dos PFAS e documentando os seguintes efeitos de sua exposição:

Toxicidade hepática

Perturbação do metabolismo lipídico e dos sistemas imunológico e endócrino

Efeitos neurocomportamentais adversos

Toxicidade neonatal e morte

Tumores em diversos sistemas de órgãos

Câncer de testículo e rim

Mau funcionamento do fígado

Hipotireoidismo

Colesterol alto

Colite ulcerativa

Redução do peso e tamanho ao nascimento

Obesidade

Diminuição da resposta imune às vacinas

Redução dos níveis hormonais e atraso na puberdade

Não é apenas a água mineral que é problemática quando se trata de PFAS: de acordo com um estudo de Harvard de 2016, 16,5 milhões de americanos têm níveis detectáveis de pelo menos um tipo de PFAS em sua água potável, e cerca de 6 milhões de americanos estão bebendo água que contém PFAS em níveis iguais ou superiores ao nível de segurança estabelecido pela EPA.

Os microplásticos e a água mineral

A água mineral é uma fonte de contaminação por microplásticos, presente em fontes por todo o mundo.

“Os plásticos tornam-se microplásticos e nanoplásticos, mas são todos plásticos, apenas de tamanho cada vez menor, permitindo que sejam mais facilmente ingeridos e talvez até cruzem o trato gastrointestinal para serem transportados por um organismo vivo”, escreveram pesquisadores na Frontiers in Chemistry, referindo-se ao tamanho cada vez menor que os plásticos assumem durante o processo de degradação no meio ambiente.

Em 2018, pesquisadores do departamento de química da Universidade Estadual de Nova York em Fredonia compraram 11 marcas de água mineral de 19 locais em nove países diferentes. Eles testaram 259 garrafas de água, encontrando contaminação por microplásticos em 93% delas.

“Uma média de 10,4 partículas de microplásticos foram encontradas por litro de água durante a pesquisa", disseram os pesquisadores. Em alguns casos, até 10,000 partículas foram detectadas. As microfibras, um tipo de microplástico, foram anteriormente consideradas o tipo predominante de microplástico encontrado na cerveja, água da torneira e em amostras de sal marinho.

“Com base nas diretrizes do consumidor, nossos resultados indicam que uma pessoa ingere em média mais de 5.800 partículas de detritos sintéticos dessas três fontes anualmente, com a maior contribuição vindo da água da torneira (88 por cento)”, dizem os pesquisadores da PLOS One. Considerando que a água mineral pode ser, em alguns casos, água da torneira engarrafada, esta é uma preocupação significativa.

Não se sabe quais são os riscos à saúde decorrentes do consumo dessas minúsculas partículas de plástico, mas sabe-se que os microplásticos podem agir como esponjas para contaminantes, incluindo metais pesados, poluentes orgânicos persistentes, bifenilos policlorados (PCBs) ou patógenos, além de causar danos em um nível celular ou subcelular.

Além disso, Frederick vom Saal, um distinto professor emérito de ciências biológicas na Universidade de Missouri, disse à Time:

“Em modelos animais e em estudos epidemiológicos em humanos, temos uma correlação entre exposições ao plástico e riscos à saúde conhecidos... A exposição ao plástico está associada à epidemia de obesidade e outras doenças metabólicas como diabetes e doenças cardíacas, bem como câncer e problemas reprodutivos e problemas neurais como transtorno de déficit de atenção.

Se você observar as linhas de tendência das doenças não transmissíveis em todo o mundo, verá que há uma correlação entre a exposição e os plásticos.”

Temperaturas altas podem piorar ainda mais a qualidade da água mineral

Se sua água mineral ficar parada em um carro quente ou depósito, a transferência de contaminantes químicos do plástico para a água pode ser acelerada, aumentando os riscos à saúde.

Por exemplo, o antimônio, um produto químico usado para fabricar plásticos de tereftalato de polietileno (PET) usado em garrafas de água, é conhecido por lixiviar na água, e um estudo descobriu que armazenar as garrafas em temperaturas mais altas aumenta a quantidade de lixiviação.

Especificamente, após permanecer em temperaturas de 65 graus por 38 dias, a água mineral já contém antimônio em níveis acima das recomendações de segurança federais. “Durante o verão, a temperatura no interior de carros, garagens e áreas de armazenamento fechadas podem exceder 65° C em vários locais do mundo e, portanto, podem promover a lixiviação de antimônio das águas minerais”, observaram os pesquisadores.

Julia Taylor, uma cientista que pesquisou plástico na Universidade de Missouri, disse ainda à National Geographic: “Como regra geral, sim, o calor ajuda a quebrar as ligações químicas das garrafas plásticas, e esses produtos químicos podem migrar para as bebidas em seu interior”. Uma solução é escolher água vendida apenas em garrafas de vidro, mas há uma saída ainda melhor e mais barata.

Filtre sua própria água e faça água com gás em casa

A maior parte da água mineral comercializada não é confiável em termos de contaminantes devido às embalagens plásticas. A existência de produtos químicos como PFASs, que não têm sabor ou cheiro, é a razão pela qual eu recomendo um sistema de filtragem de carbono caseiro e de alta qualidade.

A menos que você possa verificar a pureza de sua água para ter certeza de que está tomando a água mais pura possível, filtre a água quando ela sai da torneira e na hora de usar. Feito isso, basta levar a água filtrada com você em uma garrafa de vidro ou metal reutilizável.

Você pode até usar sua própria água filtrada da torneira para fazer água com gás, usando opções como SodaStream. Esta é uma solução mais econômica e ecologicamente correta que protegerá sua saúde.