O gengibre é realmente capaz de ajudar no tratamento da colite ulcerativa?

Fatos verificados
Gengibre Colite Ulcerativa

Resumo da matéria -

  • Foi demonstrado que o gengibre, um anti-inflamatório poderoso, é capaz de reduzir a atividade da colite ulcerativa
  • Em pacientes com colite ulcerativa, foi descoberto que o gengibre reduz o malondialdeído (MDA), um biomarcador do estresse oxidativo, de forma considerável após seis e doze semanas
  • O gengibre também levou a reduções na gravidade da atividade da doença e aumentou significativamente a qualidade de vida dos pacientes após 12 semanas
  • Uma pesquisa separada mostrou que o extrato de gengibre é benéfico para a redução de marcadores da colite ulcerativa, provavelmente devido às suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias
  • Os efeitos do gengibre são comparáveis às maiores doses de sulfassalazina, um medicamento anti-inflamatório frequentemente utilizado para tratar a colite ulcerativa

Por Dr. Mercola

Nos EUA, cerca de 3 milhões de adultos têm doenças inflamatórias intestinais (DII), que incluem a doença de Crohn e a colite ulcerativa. As DII são caracterizadas pela inflamação crônica do trato gastrointestinal (GI), que, nos casos de colite ulcerativa, ocorre no intestino grosso (cólon) e no reto.

Os sintomas variam de leves a severos, e embora a maioria das pessoas tenham períodos de remissão nos quais os sintomas desaparecem, a doença pode ser debilitante quando estes reaparecem, causando evacuações urgentes e frequentes, fadiga, náusea, perda de peso, febre e anemia. Em cerca de 10% dos casos, a colite ulcerativa é grave e pode causar evacuações sanguinolentas e cólicas abdominais severas.

Não existe cura para a colite ulcerativa, e muitos pacientes da doença crônica recorrem a medicamentos para aliviar os sintomas, enquanto até um terço deles passam por cirurgias para a remoção do cólon e do reto. No entanto, tratamentos naturais podem ser de grande ajuda, como o gengibre, um poderoso anti-inflamatório que já demonstrou reduzir a atividade da colite ulcerativa.

O gengibre reduz o estresse oxidativo na colite ulcerativa

As causas da colite ulcerativa permanecem desconhecidas, mas acredita-se que elas envolvam uma mistura de fatores genéricos, resposta imunológica, microbiota intestinal e fatores ambientais. A doença está em ascensão mundialmente falando, principalmente em regiões onde a dieta ocidental é predominante, o que sugere que a alimentação é um fator importante. Também sabe-se que o estresse oxidativo é essencial para início e gravidade da doença.

Se houver problemas com o sistema imunológico, metabólitos das espécies reativas de oxigênio (ERO) podem ser produzidos em excesso, causando danos à integridade da mucosa intestinal, além de atrasos em sua cura e reparação. Embora medicamentos possam ajudar, eles estão associados a efeitos colaterais sérios aos olhos, ossos, trato GI, fígado, pâncreas e sistema imunológico, tornando as terapias naturais preferíveis, por causam menos efeitos colaterais.

O gengibre (raiz da planta zingiber officinale), que possui propriedades antioxidantes, vem sendo utilizado desde a antiguidade para o tratamento de problemas GI, inclusive náuseas e vômitos, levando os pesquisadores a investigar se a raiz também poderia ajudar a melhorar a qualidade de vida e da doença em pessoas com colite ulcerativa.

Durante o estudo, 46 pacientes com colite ulcerativa ativa, de leve a moderada, receberam 2.000 miligramas por dia de pó de gengibre ressecado em quatro cápsulas ou cápsulas similares de placebo, por 12 semanas. Os pesquisadores utilizaram amostras de sangue e questionários para medir a atividade da doença, qualidade de vida e estresse oxidativo dos participantes.

Após seis e doze semanas, foi descoberto que o gengibre reduz consideravelmente o malondialdeído (MDA), um biomarcador do estresse oxidativo. O gengibre também causou reduções na severidade da atividade da doença e melhorou significativamente a qualidade de vida dos pacientes após 12 semanas.

Os pesquisadores acreditam que dosagem e a duração da suplementação utilizada no estudo podem ter sido muito baixas para induzir melhoras significativas em geral, o que os levou a sugerir que mais estudos sejam feitos para determinar as melhores dosagens e durações para a suplementação.

"Nossos dados indicam que a suplementação de gengibre pode melhorar o tratamento de pacientes com CU. São necessários mais ensaios clínicos com diferentes durações da suplementação e dosagens de gengibre ou de seu extrato padrão para obter conclusões firmes", escreveram os pesquisadores.

Os potentes efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios do gengibre

O gengibre possui várias atividades biológicas, inclusive efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios e citotóxicos (potencial anticarcinogênico). Em um estudo em animais com ratos com colite ulcerativa, o extrato de gengibre foi benéfico para a redução dos marcadores da doença, provavelmente devido às suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, e seus efeitos foram comparáveis aos das maiores doses de sulfassalazina, um medicamento anti-inflamatório frequentemente utilizado para tratar a colite ulcerativa.

Em outro estudo em animais, os pesquisadores avaliaram os efeitos do 6-shogaol, um dos componentes ativos do gengibre, sobre a colite ulcerativa.

Nesse caso, os pesquisadores utilizaram nanopartículas capazes de fornecer o 6-shogaol diretamente aos tecidos afetados pela colite, com a intenção de reduzir alguns dos problemas frequentemente encontrados quando o suplemento é consumido oralmente, como a instabilidade das substâncias no trato GI, o baixo direcionamento aos tecidos afetados pela doença e possíveis efeitos colaterais.

A administração oral das nanopartículas carregadas com 6-shogaol atenuou a colite ulcerativa e promoveu a cicatrização de feridas e o alívio dos sintomas, levando os pesquisadores a sugerir que "Este sistema pode representar uma abordagem terapêutica promissora para o tratamento de doenças inflamatórias intestinais [DII]".

As nanopartículas derivadas do gengibre (GDNP) vêm sendo estudadas como uma atraente estratégia de tratamento para as DII, em parte devido às suas capacidades de fornecer medicamentos para a mucosa inflamada no trato GI durante períodos extensos e, uma vez no cólon, absorvidas tanto pelas células epiteliais intestinais quanto pelos macrófagos, oferecendo um direcionamento celular duplo que não foi visto com as nanopartículas derivadas de uva e toranja.

Além do mais, a inflamação intestinal está associada ao câncer, e aqueles que sofrem de colite ulcerativa têm maiores riscos de desenvolver câncer associado à colite (CAC). "O câncer colorretal é, de fato, uma grande causa da morbidade e mortalidade dos pacientes com DII", escreveram os pesquisadores para a revista Nanomedicine. Esta é mais uma área em que o gengibre pode ser de grande ajuda. De acordo com o estudo:

"A administração oral de GDNP em camundongos modelo reduziu a inflamação aguda crônica, reduziu o CAC e promoveu a cicatrização da mucosa intestinal, indicando que as GDNP podem prevenir a colite crônica e o desenvolvimento tumoral.

As GDNP também reduziram os níveis de expressão de citocinas pró-inflamatórias (TNF-α, IL-6 e IL-1β) e aumentaram os níveis de expressão de citocinas anti-inflamatórias (IL-10 e IL-22) em camundongos colíticos, sugerindo que as nanopartículas bloqueiam fatores que danificam o intestino e promovem fatores que o curam."

Os probióticos também são importantes para a colite ulcerativa

Estudos sugerem que alterações na microbiota intestinal podem afetar a gravidade da colite ulcerativa.

Uma pesquisa apresentada no encontro anual do Colégio Americano de Gastroenterologia (ACG) de 2011 por pesquisadores do Colégio Universitário de Cork, da Irlanda, demonstrou que pessoas com doenças inflamatórias como a colite ulcerativa, síndrome da fadiga crônica ou psoríase que tomaram a bactéria probiótica Bifidobacterium infantis por oito semanas apresentaram menores níveis de inflamação do que aquelas que tomaram placebo.

Essa simples estratégia parece reduzir os níveis de inflamação em uma grande variedade de doenças. "A resposta imunológica humana à B. infantis sustenta ainda mais a hipótese de que a manipulação da microbiota com micróbios terapêuticos específicos pode afetar significativamente os processos inflamatórios do hospedeiro", disse o dr. Eamonn M. M. Quigley, que apresentou as descobertas.

"Este efeito anti-inflamatório não é restrito a um estado específico da doença, o que sugere que a B. infantis induz uma resposta celular crítica, que pode incluir a indução de subconjuntos de células reguladoras." Então, além do gengibre, a adição de probióticos pode ser uma medida importante para qualquer pessoa sofrendo de colite ulcerativa.

Isso também pode ser feito através da alimentação, pois alimentos naturalmente fermentados são excelentes fontes destes micróbios anti-inflamatórios. O interessante é que, quando combinadas com probióticos, as cascas de mirtilo não só reduzem a quantidade de bactérias que induzem a inflamação, como também aumentam a quantidade de Lactobacilos beneficiais à saúde, tornando-as uma adição terapêutica muito útil.

Curcumina, vitamina D e outras opções para a colite ulcerativa

O açafrão-da-terra (Curcuma longa L.) é um membro da família do gengibre que contém o componente ativo curcumina, que possui propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes poderosas. Há pesquisas que sugerem que a curcumina pode ajudar a induzir e manter a remissão em pacientes com colite ulcerativa sem causar efeitos colaterais sérios.

De fato, um estudo comparando a curcumina com placebo descobriu que apenas 4,65% dos pacientes com colite ulcerativa que receberam curcumina sofreram recaídas, comparados a 20,51% daqueles que receberam placebo. Considerando que tanto o gengibre quanto o açafrão/curcumina são adições alimentares seguras para a maioria das pessoas, adicioná-los à sua rotina diária representa uma intervenção simples e de baixo risco para pessoas com colite ulcerativa.

As gorduras ômega-3 de origem animal são outros elementos absolutamente essenciais para a prevenção e controle das DII. As gorduras ômega-3 no óleo de krill, EPA e DHA, fortalecem o sistema imunológico e possuem propriedades anti-inflamatórias benéficas para problemas intestinais, inclusive a colite ulcerativa.

A otimização dos níveis de vitamina D também é uma medida importante, porém frequentemente ignorada. Em um estudo, a suplementação de vitamina D em pacientes com colite ulcerativa e deficiência da vitamina foi associada à redução da inflamação intestinal.

Além do mais, pessoas com colite ulcerativa são mais propensas a ter baixos níveis de vitamina D do que pessoas saudáveis, e os menores níveis da vitamina foram identificados dentre aqueles com casos mais graves da doença. Os níveis de vitamina D a serem almejados estão entre 60 e 80 ng/mL, sendo 40 ng/mL um valor baixo de corte para prevenir com eficiência uma variedade de doenças, incluindo o câncer.

Pesquisas sugerem que seriam necessárias 9.600 UI de vitamina D por dia para que 97,5% da população atingisse 40 ng/mL, mas as exigências individuais podem variar consideravelmente, e você precisa testar seus níveis para garantir a dosagem correta necessária para alcançar o nível ideal. A exposição regular à luz solar é a melhor maneira de otimizar sua vitamina D (além de outros benefícios para a saúde relacionados à exposição ao sol).

Pra que mais serve o gengibre?

Um dos benefícios dos alimentos integrais para a colite ulcerativa é que o gengibre oferece muitos outros benefícios além do alívio da colite ulcerativa. Por exemplo, o gengibre é promissor para:

  • Doenças degenerativas, como a artrite e o reumatismo
  • Saúde digestiva, como a indigestão, constipação e úlceras
  • Doenças cardiovasculares, desde a aterosclerose até a hipertensão
  • Náuseas durante a gravidez e enjoos durante viagens
  • Diabetes mellitus, melhorando o controle de glicose, a sensibilidade à insulina e o perfil lipídico

Se estiver sofrendo de uma doença grave como a colite ulcerativa, consulte um profissional de saúde natural experiente que seja capaz de desenvolver um protocolo de tratamento compreensivo. No entanto, a maioria das pessoas se beneficiariam de mais gengibre fresco em suas refeições ou chás.

Embora seja possível comprar gengibre em pó em saquinhos de chá, também é possível fazer chá de gengibre fervendo pequenas fatias de gengibre em água. Para mais benefícios antioxidantes e anti-inflamatórios, principalmente para a colite ulcerativa e doenças similares, experimente o chá de açafrão com gengibre, que pode ser preparado da seguinte maneira:

Chá de açafrão com gengibre

Ingredientes

  • 2 copos de água
  • 1/2 colher de chá de açafrão em pó
  • 1/2 colher de chá de gengibre fresco picado
  • 1 colher de sopa de mel (opcional)
  • 1 cunha de limão
  • 1/2 colher de chá de canela em pó (opcional)

Modo de preparo

Misture todos os ingredientes, ferva a água em temperatura baixa-média por 10 minutos, e então coe em um copo.