Jejuar Regenera o Seu Pâncreas

Jejum

Resumo da matéria -

  • Já foi mostrado que jejuar é benéfico para reduzir o risco de contrair câncer, doenças cardiovasculares e diabetes; além disso, a prática também reforça o sistema imunológico e a capacidade do corpo de combater o envelhecimento
  • Três métodos de jejum que recomendo são: a dieta que imita o jejum (também conhecida pela sigla em inglês FMD), o jejum intermitente e o jejum à base de água

Por Dr. Mercola

O jejum é uma ferramenta poderosa que praticamente qualquer pessoa pode usar para tomar as rédeas da própria saúde. Uma pesquisa em animais indica que uma dieta que imita o jejum pode não apenas ajudar o pâncreas a se regenerar como também reverter sintomas da diabetes.

Em outro estudo, no qual também foram utilizados ratos de laboratório, restringir a ingestão diária de calorias a um intervalo de seis horas reduziu significativamente os níveis de uma proteína mutante específica conhecida por sua relação com a doença de Huntington.

Dados esses resultados, bem como os de outras pesquisas, os benefícios impressionantes do jejum continuam surgindo. Se você ainda não parou para pensar em como jejuar pode melhorar sua saúde, peço que continue lendo e considere adotar um destes três métodos: a dieta que imita o jejum, o jejum intermitente ou o jejum à base de água. O jejum é uma das melhores ferramentas que você pode usar para combater doenças crônicas.

Dieta que imita o jejum regenera o pâncreas e elimina a diabetes em ratos de laboratório

Em um estudo publicado na revista Cell, um grupo de pesquisadores, a maioria afiliada à Universidade do Sul da Califórnia (USC), sugere que o pâncreas pode ser capaz de se regenerar por meio de uma dieta que imita o jejum.

Em experimentos com animais, os cientistas — liderados pelo Dr. Valter Longo, professor de gerontologia (a ciência que estuda o envelhecimento) e de ciências biológicas e diretor do Instituto de Longevidade da USC — conseguiram restaurar o funcionamento do pâncreas usando uma versão modificada da dieta que imita o jejum.

Essa dieta é caracterizada por períodos em que se come normalmente e outros em que a ingestão de alimentos é reduzida. Longo ressalta que a dieta promoveu “a geração de células beta produtoras de insulina, de forma semelhante ao que ocorre durante o desenvolvimento do pâncreas”. (As células beta detectam açúcar na corrente sanguínea e liberam insulina se o nível subir demais.)

Por causa de seus efeitos restauradores sobre o pâncreas, a dieta que imita o jejum também reverteu sintomas de diabetes em ratos de laboratório. “Nossa conclusão é que, ao levar os ratos a um estado extremo e então trazê-los de volta — fazendo com que eles passem fome e depois alimentando-os novamente —, as células do pâncreas são acionadas para utilizar uma espécie de reprogramação do desenvolvimento que reconstrói a parte do órgão que já não funciona mais”, disse Longo.

Os experimentos indicaram benefícios notáveis para ratos com diabetes: ciclos da dieta que imita o jejum restauraram a secreção de insulina e a homeostase da glicose tanto em modelos de ratos com diabetes do tipo 1 quanto do tipo 2.

Como funciona a dieta que imita o jejum?

Diferentemente do jejum tradicional, que consiste em se abster de todo tipo de alimento por um determinado período de tempo, uma dieta que imita o jejum permite que se consuma uma quantidade extremamente reduzida de calorias, geralmente durante um período de cinco dias, de uma forma que permite que sejam alcançados alguns dos mesmos benefícios terapêuticos de um jejum tradicional.

A dieta que imita o jejum utilizada por Longo consiste em restringir o consumo calórico para 800 a 1.100 calorias por dia, cinco dias por mês. Esse método aumenta muito a adesão, já que muitas pessoas achariam um jejum de cinco dias tomando apenas água muito difícil. A estratégia com poucas calorias possui muitos benefícios e ao mesmo tempo reduz as chances de efeitos colaterais adversos.

Nos cinco dias de restrição calórica, deve-se escolher alimentos com poucos carboidratos, poucas proteínas e ricos em gorduras saudáveis. Durante o resto do mês, a alimentação é livre. O objetivo é imitar períodos em que se come bem alternados com períodos de fome.

Ainda que pareça simples, Longo faz questão de afirmar que o melhor é que a dieta seja seguida com acompanhamento médico. “Resumindo: não tente fazer isso em casa”, ele diz. “É [uma dieta] muito mais complicada do que se pensa”.

Restrição calórica também se mostra promissora no combate à doença de Huntington

Uma nova pesquisa realizada por cientistas canadenses, publicada na revista Acta Neuropathologica Comunications, indica que limitar a ingestão de alimentos a um período específico do dia poderia beneficiar portadores da doença de Huntington. Mais de 30.000 pessoas sofrem dessa condição neurológica progressiva, que costuma surgir entre os 30 e os 50 anos.

Os sintomas da doença de Huntington incluem deterioração cognitiva, movimentos involuntários (coreia) e dificuldades de locomoção. Os tratamentos convencionais consistem na administração de medicamentos como a tetrabenazina para controlar sintomas como a coreia. Utilizando ratos de laboratório, os pesquisadores observaram que limitar a ingestão calórica ao mesmo período diário de seis horas causou a melhora de modelos de ratos com doença de Huntington.

Especificamente, esse esquema rígido de alimentação, que consistia em jejuar durante as 18 horas restantes do dia, resultou em reduções significativas dos níveis de uma proteína mutante específica relacionada à doença de Huntington. A doença é causada por uma mutação hereditária no gene da huntingtina (HTT) que é passada de pais para filhos.

A forma mutante da HTT é conhecida como mHTT; acredita-se que ela interaja com outras proteínas do corpo para acelerar a progressão da doença.

O estudo revelou que a restrição de alimentos desencadeou nos ratos um processo chamado de autofagia — um processo de autolimpeza celular em que são removidos componentes danificados ou desnecessários. Os pesquisadores observaram que a autofagia induzida pelo jejum reduziu os níveis de mHTT nos cérebros dos roedores.

Outra ótima intervenção metabólica: jejum à base de água

Após hesitar no início, considero atualmente o jejum à base de água durante alguns dias uma das melhores formas de interferir no metabolismo que existem.

Digo isso porque esse tipo de jejum faz as células do corpo entrarem em um “modo de segurança antienvelhecimento”. Ele também promove a autofagia — o processo de autolimpeza celular mencionado anteriormente — graças à ativação de células-tronco.

Fiz vários jejuns de cinco dias à base de água nos últimos meses e os recomendo fortemente como prática regular. Partindo do princípio de que esteja preparado, acredito que você poderia se beneficiar realizando jejuns à base de água mensalmente caso tenha problemas de resistência à insulina.

Contanto que você não seja uma pessoa anoréxica, de idade avançada, frágil ou esteja grávida ou enfrentando um problema sério de saúde, jejuar de três a sete dias tem tudo para ser benéfico; um curto jejum certamente não vai te matar, nem causará perda muscular significativa. Com relação aos jejuns à base de água, a ABC Science declara:

“Após dois ou três dias em jejum, seu corpo obtém energia de duas fontes ao mesmo tempo. Uma parte muito pequena de sua energia vem da quebra do tecido muscular — o que pode ser evitado pela realização de exercícios de resistência — e a maior parte da energia vem da quebra de gordura corporal.

Porém, em pouco tempo, o corpo passará a obter toda sua energia apenas da quebra da gordura. As moléculas de gordura são quebradas em dois compostos químicos distintos: glicerol (que pode ser convertido em glicose) e ácidos graxos livres (que podem ser convertidos em outros compostos químicos chamados cetonas). Nosso corpo, incluindo o cérebro, pode funcionar com essa glicose e as cetonas até que não haja mais gordura a ser quebrada.

Em humanos, jejuar parece ter benefícios no combater à hipertensão, diabetes, asma e epilepsia em crianças. Já em animais, o jejum parece reduzir o declínio cognitivo causado por doenças como a de Parkinson e a de Alzheimer”.

Pode ser que você sinta que fazer o jejum intermitente primeiro vai preparar seu corpo (e sua mente) para um jejum apenas à base de água. Simplesmente aumentar o número de horas sem comer pode condicionar seu corpo a passar dias inteiros sem alimentos.

Estou certo de que meu hábito de fazer intermitentemente um jejum de 20 horas ao dia facilitou o jejum à base de água para mim. Mesmo que seu jejum intermitente seja de menos de 20 horas, isso ajudará seu corpo a começar a utilizar gordura como combustível.

Recomendo que você tome um suplemento multimineral de boa qualidade sempre que fizer um jejum à base de água, e você também deve continuar tomando seus suplementos nutricionais regulares. Se você toma suplementos de magnésio, saiba que eles podem deixar o intestino solto durante jejuns sem alimentos. Você também precisa consumir sal de boa qualidade.

Benefícios para a saúde de um estilo de alimentação que imita o jejum

Em seu livro “A dieta da longevidade: para uma vida saudável até aos 110 anos”, Longo sugere que o protocolo que imita o jejum beneficia a saúde e o bem-estar geral por ajudar a manter níveis saudáveis de:

  • Proteína C-reativa, um marcador de inflamação
  • Glicose em jejum
  • Fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1 (IGF-1), um marcador associado ao aumento da mortalidade e danos ao DNA
  • Células-tronco e marcadores de regeneração

Além disso, de acordo com Longo, a dieta que imita o jejum tanto protege quanto rejuvenesce o corpo por causar regeneração e melhorar o desempenho de diversos sistemas corporais. Entre os benefícios para a saúde, Longo afirma que a dieta que imita o jejum:

  • Reduz os casos de câncer em quase 50 por cento
  • Atrasa o surgimento do câncer e resulta em mais tumores benignos que malignos
  • Melhora a cognição e sinais de envelhecimento
  • Fortalece o sistema imunológico, que retorna a um estado mais jovem
  • Diminui fatores de risco associados a doenças cardiovasculares, câncer e diabetes.

A dieta que imita o jejum promove a eficácia do tratamento de doenças malignas

Com base em seus anos de pesquisa e experiência, Longo recomenda fortemente que a dieta que imita o jejum seja ativamente incorporada no tratamento do câncer. Isso não apenas melhorará radicalmente a eficiência do tratamento, ele diz, como também diminuirá alguns de seus desagradáveis efeitos colaterais. Ele afirma:

“Essa tem sido uma batalha difícil. Trabalhamos nos melhores hospitais oncológicos do mundo: MD Anderson, Mayo Clinic [e] USC Norris Cancer Center… Não queríamos ser os rebeldes... Lutamos muito, mas também queríamos que eles concordassem conosco. Queríamos que os oncologistas dissessem: ‘Sim, essa [dieta] é uma boa estratégia’.

As preocupações com segurança... São, de fato, mínimas e os potenciais benefícios, muito altos... Em ratos, observamos constantemente sobrevida sem câncer mesmo em modelos com metástase.”

Longo acredita que dietas que imitam o jejum sejam particularmente benéficas em casos de câncer mais avançado, que já desenvolveram metástases, deixando o paciente com poucas opções. Nesses casos, ele incentiva os oncologistas a considerar seriamente a integração da dieta que imita o jejum ao tratamento tradicional contra o câncer.

Até o momento, Longo e sua equipe demonstraram a efetividade da dieta que imita o jejum para inibidores da quinase, quimioterapia e todos os tipos de câncer.

Ele diz que estão em andamento centenas de estudos clínicos envolvendo a dieta que imita o jejum e que novos dados sobre novos tratamentos surgem regularmente. Um deles, sugere Longo, é a imunoterapia. Ela permite que o sistema imunológico veja o câncer e consequentemente o ataque.

Qualquer que seja sua situação em relação ao tratamento do câncer, Longo recomenda que você discuta a dieta que imita o jejum com seu/sua oncologista. Para começar, ele diz que você pode sugerir que ele/ela “ao menos leia os estudos clínicos já publicados”.

Longo acrescenta: “Acredito que é importante conversar com os pacientes [com câncer] a respeito [da dieta] e dar a eles uma oportunidade, principalmente quando eles não têm nenhuma outra opção viável”.

Cuidados importantes ao jejuar

Algumas condições de saúde requerem um acompanhamento médico mais rigoroso para garantir a segurança do jejum. Seja qual for seu estado de saúde, converse com seu médico antes de aderir a qualquer programa de jejum.

Se você tem uma doença crônica, seu médico precisará monitorar de perto seu estado e qualquer possível complicação relacionada ao jejum. Aconselho que você evite jejuar, ou pelo menos avalie com cautela, caso se enquadre em uma das seguintes condições:

É anoréxico(a) ou está muito abaixo do peso ideal

Está gravida ou amamentando

Tem saúde frágil ou está doente

Está tomando algum medicamento, principalmente se ele deve ser ingerido com alimentos

Tem doenças nos rins ou no fígado

Está tomando medicamentos para hipertensão ou hipoglicêmicos, devido ao risco de sobredosagem

Tem mais de 70 anos de idade, a menos que sua saúde seja excepcional

Realizar vários ciclos é fundamental para o sucesso da dieta que imita o jejum

Se você está em boa forma física, provavelmente será capaz de perceber benefícios ao adotar uma dieta que imita o jejum durante cinco dias a cada 90 dias.

Contudo, se tem problemas de saúde como hipertensão, colesterol alto ou obesidade, você provavelmente terá mais sucesso se realizar ciclos mensais da dieta, pelo menos até perceber uma melhora da sua saúde.

Longo reforça que a realização de ciclos é fundamental para o sucesso. A alternância entre jejum e alimentação é uma das chaves para que se alcance os diversos benefícios dessa dieta. Especificamente, realizar ciclos regulares também previne os efeitos negativos associados ao jejum continuo ou à subnutrição crônica.

Se as informações apresentadas neste artigo despertaram sua curiosidade sobre o jejum, você provavelmente está pronto para levar seus hábitos alimentares para o próximo nível. Os benefícios potenciais de jejuar fazem com que valha a pena conferir cada um dos tipos de intervenção, principalmente porque o corpo foi feito para: 1) usar a gordura como seu combustível primário e 2) alternar entre períodos sem comer e períodos com boa alimentação.

Como forma de assumir o controle sobre sua própria saúde, recomendo que você — sob orientação médica — considere seriamente um ou mais dos métodos de jejum a seguir:

  • Jejum intermitente
  • Jejum à base de água
  • Dieta que imita o jejum