A Dieta Cetogênica é Muitas Vezes Melhor do que Medicamentos Para o Tratamento da Epilepsia

menina sendo confortada pela mãe

Resumo da matéria -

  • “Pela Vida do Meu Filho (First Do No Harm)”, um filme dirigido por Jim Abrahams e baseado em uma história real, relata o sucesso do tratamento de um menino com epilepsia usando a dieta cetogênica
  • Crianças com epilepsia muitas vezes permanecem livres de convulsões após interromper a dieta cetogênica e muitas delas chegam a retomar uma dieta normal
  • A dieta cetogênica também se mostrou efetiva no tratamento da ELA, autismo, câncer, doença de Parkinson e diabetes tipo 2, mas você não precisa ter uma doença grave para beneficiar-se dela

Por Dr. Mercola

Este ano marca o 20º aniversário de “Pela Vida do Meu Filho (First Do No Harm)”, um filme dirigido pelo diretor e escritor americano Jim Abrahams. Baseado em uma história real, o filme relata o sucesso do tratamento de um menino com epilepsia severa com o uso da dieta cetogênica.

Antes que a família ficcionalizada descobrisse a dieta, seu filho mais novo, Robbie, recebeu diversos medicamentos, alguns dos quais causavam constipação, febres, erupções cutâneas e outros efeitos colaterais perigosos, incluindo pelo menos um episódio de quase morte.

Muitos aspectos da narrativa refletem a experiência pessoal de Abrahams com seu filho, Charlie, que faz uma breve participação no filme como um dos companheiros de brincadeiras de Robbie no hospital.

Charlie foi diagnosticado com epilepsia quando tinha apenas 11 meses de idade. Semelhantemente à mãe no filme, interpretada por Meryl Streep, depois de ver o filho sofrer várias crises diárias, com os acidentes e lesões que acompanhavam esses episódios, além da enorme quantidade de medicamentos, Abrahams conheceu a dieta cetogênica em uma pesquisa pessoal.

Assim como acontece com o menino no filme, no primeiro mês de implementação da dieta, Charlie ficou livre das convulsões e dos medicamentos. Ele continuou a dieta cetogênica durante cinco anos, em seguida voltou a comer alimentos regulares e, desde então, não teve mais convulsões.

“Pela Vida do Meu Filho” lhe dará uma noção da intensidade e do desespero que costumam acompanhar as doenças graves. Você também terá um vislumbre da carga financeira e emocional imposta às famílias que enfrentam esse tipo de problema.

Além disso, o filme joga luz sobre os danos que são rotineiramente infligidos por médicos e empresas farmacêuticas em um processo que pode parecer ser feito de adivinhações e procedimentos de tentativa e erro no tratamento de doenças complexas.

Se você já duvidou que olhar além da medicina tradicional vale a pena, “Pela Vida do Meu Filho” lembrará novamente que as chamadas “abordagens alternativas”, como a dieta cetogênica, ressaltam de fato o valor do puro e simples bom senso quando se trata de melhorar sua saúde.

Por que os Medicamentos Costumam Ser a Primeira Escolha no Tratamento da Epilepsia?

Como você deve saber, a epilepsia é um distúrbio neurológico no qual ocorrem descargas elétricas anormais no cérebro que desencadeiam convulsões. Esses episódios súbitos e breves podem ser intensos e são geralmente caracterizados por alterações ou diminuição da consciência, convulsões e movimentos involuntários.

A Fundação da Epilepsia (EUA) indica que a doença é a quarta condição neurológica mais comum, com uma estimativa de 65 milhões de pessoas afetadas em todo o mundo.

De acordo com a Clínica Mayo, os medicamentos são o principal e mais utilizado método de tratamento para a epilepsia. Infelizmente, é preciso tempo e várias experiências até que um medicamento adequado seja encontrado, sendo que eles geralmente provocam efeitos colaterais desagradáveis que podem fazer mais mal do que bem.

Alguns dos efeitos colaterais vão desde os menos graves — fadiga, erupções cutâneas e ganho de peso, até os mais sérios — depressão, inflamação de órgãos vitais como o fígado e comportamento suicida.

No filme, após perceber que uma das outras crianças da enfermaria onde seu filho Robbie estava internado havia morrido, possivelmente por causa do tratamento para epilepsia administrado, que havia incluído uma cirurgia no cérebro, a personagem de Streep fica furiosa. Gritando com o médico de seu filho e dois outros funcionários do hospital, ela afirma:

Se os medicamentos são ineficazes, como foram para Robbie, outras intervenções em potencial para portadores de epilepsia incluem:

  • Cirurgia — se as convulsões se originam em uma área pequena e bem definida do cérebro, que não interfere em funções vitais como audição, função motora ou fala, talvez seja possível remover cirurgicamente a área suspeita de ser a fonte delas.
  • Estimulação do nervo vago — é implantado um gerador de impulsos semelhante a um marca-passo que estimula o nervo vago, estabilizando a atividade elétrica anormal no cérebro; esse tratamento mostrou reduzir as crises em 20 a 40%.
  • Dieta cetogênica — uma dieta rica em gorduras saudáveis e pobre em carboidratos que, para epilépticos, é estritamente monitorada e supervisionada por um médico; a dieta funciona para alguns, mas não para todos os epilépticos.

Quando os Tratamentos Convencionais Falham, Alternativas Promissoras Aparecem

Enquanto Streep fazia planos para tirar Robbie do hospital onde ele estava sendo tratado, sem sucesso, com medicamentos tóxicos e incapacitantes durante meses, o médico de Robbie planejava recomendar uma cirurgia no cérebro.

Desesperada, Streep havia passado semanas vasculhando revistas médicas e outras publicações, quando encontrou um livro de Samuel Livingston, publicado em 1972, intitulado “Comprehensive Management of Epilepsy in Infancy, Childhood and Adolescence” (Tratamento Integral da Epilepsia em Bebês, Crianças e Adolescentes, em tradução livre).

O médico, que é claramente contra uma intervenção dietética, responde sarcasticamente a Streep sobre suas descobertas.

Streep não se assusta com a resposta sarcástica do médico e fica ainda mais determinada a viajar até o Hospital Johns Hopkins para que seu filho seja avaliado como candidato ao tratamento com dieta cetogênica. Dentro de alguns dias, Robbie começa a dieta e é retirado do tratamento medicamentoso.

Em pouco tempo, seus ataques diminuem e desaparecem completamente. Seus pais ficam maravilhados com sua recuperação. Streep descobre que o nutricionista que está ajudando Robbie com seu novo método vinha administrando a dieta cetogênica no Johns Hopkins há mais de 40 anos.

Divulgando a Dieta Cetogênica Para Crianças Com Epilepsia

Após descobrir a dieta cetogênica e ver como ela transformou a vida de seu filho, Abrahams e sua esposa lançaram, em 1994, a The Charlie Foundation to Help Cure Pediatric Epilepsy (Fundação Charlie de Combate à Epilepsia Pediátrica, em tradução livre).

Depois que a organização expandiu sua missão e passou a aplicar a dieta em pacientes com doenças como ELA, autismo, câncer, Parkinson e diabetes tipo 2, ela foi renomeada para The Charlie Foundation for Ketogenic Therapies (Fundação Charlie para Terapias Cetogênicas, em tradução livre).

Desde sua criação, a Fundação confirmou:

  • A importância da dieta cetogênica para o sucesso do tratamento da epilepsia por meio de milhares de relatos de caso e também em um estudo controlado randomizado.
  • A melhora das convulsões descontroladas em crianças e adultos, sendo que muitos deles se tornam livres das crises e dos medicamentos e conseguem voltar a uma dieta normal.
  • O desenvolvimento de versões menos restritivas da dieta cetogênica para uso em um segmento maior da população epiléptica global.
  • A presença em mais de 200 hospitais em todo o mundo de programas de dieta cetogênica, incluindo a exigência de que todos os centros de tratamento de epilepsia de nível avançado nos EUA ofereçam dietoterapia cetogênica.
  • A criação de novas aplicações da dieta cetogênica para portadores de ELA, autismo, câncer, doença de Parkinson e diabetes tipo 2.

A Dieta Cetogênica Também é Eficaz Para Adultos Epilépticos

Enquanto a dieta cetogênica tem um histórico de sucesso no tratamento de crianças epilépticas, os estudos com adultos têm sido um tanto escassos. Uma pesquisa realizada em 2014 e publicada na revista Neurology analisou dois tipos de dieta utilizados para tratar adultos portadores de epilepsia:

  • Dieta cetogênica, consistindo de uma proporção de gordura-carboidratos-proteína de 3-1-1 ou 4-1-1, com 87 a 90% de calorias provenientes de gorduras.
  • Dieta Atkins modificada, compreendendo uma proporção de gordura-carboidratos-proteína de 1-1-1, com aproximadamente 50% de calorias provenientes de gorduras.

No geral, os resultados das duas dietas foram muito semelhantes: 32% dos pacientes submetidos à dieta cetogênica e 29% daqueles submetidos à dieta Atkins modificada tiveram suas crises reduzidas aproximadamente pela metade.

Um pequeno subconjunto de pacientes — 9% dos que seguiram a dieta cetogênica e 5% dos que seguiram a dieta Atkins modificada — reduziram a frequência de suas convulsões em mais de 90%.

Como Começar a Dieta Cetogênica

Como você verá abaixo, a dieta cetogênica recomendada para os epilépticos está próxima da forma de alimentação que poderia ser considerada ideal para a maioria das pessoas. Na verdade, acredito que uma dieta cetogênica cíclica pode ser muito benéfica para a grande maioria das pessoas, seja isolada ou em combinação com o jejum intermitente.

A principal diferença entre alguém que luta contra uma doença crônica, como epilepsia ou câncer, e pessoas que ainda não foram diagnosticadas com uma doença crônica resume-se a quão rigidamente você deve seguir a dieta e por quanto tempo precisa mantê-la.

Acredito que as orientações de alimentação a seguir serão benéficas para você — principalmente se estiver tentando perder alguns quilos indesejados. Comece por:

  1. Evitar alimentos processados, açúcar refinado e frutose processada em quantidade superior a 15 gramas por dia.
  2. Comer alimentos integrais, idealmente orgânicos e minimizar ou preferencialmente eliminar todos os alimentos processados.
  3. Substituir carboidratos em grãos por grandes quantidades de vegetais orgânicos, maiores quantidades de gorduras saudáveis e quantidade de baixa a moderada de proteínas de boa qualidade; maiores informações sobre proteínas seguem abaixo.
  4. Consumir em sua dieta cerca de 50 a 85% de gorduras saudáveis e de boa qualidade — gorduras saturadas e monoinsaturadas originadas de fontes animais e óleos tropicais — incluindo as seguintes:

Gordura Ômega-3 de origem animal, como óleo de krill e pequenos peixes gordurosos como anchovas e sardinhas.

Abacates

Manteiga proveniente de leite orgânico de animais alimentados com capim

Manteiga de cacau (bruta)

Coco e óleo de coco

Laticínios (brutos, provenientes de animais alimentados com capim)

Ghee, também conhecida como manteiga clarificada

Banha e sebo

Carne (de animais alimentados com capim, orgânicos)

Nozes (cruas) como macadâmia e noz-pecã

Azeitona e azeite

Gemas de ovos orgânicos

Sementes como gergelim preto, cominho, cânhamo e abóbora

Óleo de nozes orgânicas não aquecidos

Salmão selvagem do Alasca

Você Está Comendo Muita Proteína?

A lógica em limitar o consumo de proteínas é relevante. Quando você consome proteína em excesso, sua via mTOR (alvo da rapamicina em mamíferos) é ativada, o que pode ajudá-lo a obter músculos maiores, mas também pode aumentar o risco de câncer.

Existem também pesquisas que sugerem que o gene mTOR é um regulador significativo do processo de envelhecimento. A supressão desse gene parece estar relacionada a uma vida mais longa.

Duas Considerações Adicionais Sobre a Epilepsia

Embora não necessariamente funcione para todos, endosso sinceramente a cetose cíclica ou direcionada como primeira linha de tratamento para a epilepsia e quase todas as outras doenças crônicas. Ela é particularmente benéfica para quem busca uma alternativa não medicamentosa ou descobriu que os medicamentos são mais prejudiciais que úteis para controlar suas convulsões.

Tendo dito isso, duas outras alternativas para controlar convulsões que gostaria de mencionar são:

  • Óleo de cannabis — crianças com epilepsia encontram muitas vezes um rápido alívio ao utilizar o óleo de cannabis, embora os resultados variem e nem toda criança responda bem imediatamente. A Dra. Margaret Gedde, proprietária e fundadora da Gedde Whole Health, uma empresa fornecedora de serviços médicos de maconha medicinal localizada no Colorado, indica que cerca de 25% das crianças epilépticas experimentam uma redução significativa das convulsões dentro de dias ou semanas ao usar o óleo de cannabis.
  • Vitamina D — uma vez que ter convulsões frequentes pode interferir na capacidade de sair ao ar livre e se expor ao sol, os epilépticos podem ter deficiência de vitamina D. Alguns medicamentos para o tratamento da epilepsia podem interferir no metabolismo dessa vitamina e também levar à deficiência.

Todos nós merecemos tratamento médico individualizado e de boa qualidade. Independentemente do aconselhamento médico ou do diagnóstico que tenha recebido, acredito que você possa melhorar sua saúde hoje simplesmente mudando como e o que você come.